sábado, 6 de junho de 2009

Carlos Minc e a insustentabilidade do ambientalismo petista

O Alon Feuerwecker, com a argúcia de sempre, aponta, no texto abaixo, publicado no jornal Correio Brasiliense, os erros do ambientalismo praticado por alguns setores ditos de esquerda no Brasil. É especialmente crítico em relação ao midiático Ministro Carlos Minc. Toca, ao meu ver, em questões centrais do debate sobre o desenvolvimento brasileiro. Vale a pena conferir!


Peixes ornamentais

O mais recente refúgio de Carlos Minc é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica.

E deu errado. Os produtores de etanol trouxeram ao Brasil o ex-presidente americano Bill Clinton, para ele falar bem do produto. Digamos que o marido de Hillary não chegou a falar mal do nosso álcool, mas deu o recado: os Estados Unidos (e a Europa) acham que uma explosão da demanda mundial pelo combustível de cana brasileiro vai pressionar a fronteira agrícola em direção ao norte, à Amazônia. A pressão virá da cana, do boi e da soja. Ou dos três juntos. Ninguém vai deixar de comer só para andar de carro a álcool.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de repetir que no Brasil há terra sobrando para plantar cana-de-açúcar. Onde está essa "terra sobrante", ninguém sabe, ninguém viu. Se temos áreas ociosas e improdutivas (os tais "pastos degradados") em grande quantidade, então talvez seja o caso de demitir o ministro do Desenvolvimento Agrário, que deveria estar fazendo as devidas desapropriações, como determina a lei. Mas isso é só um floreio verbal meu. Guilherme Cassel pode dormir tranquilo. Essa terra toda só existe nos discursos de Lula.

São os limites do marketing. Clinton não é político brasileiro, não está mesmerizado pelo "cara". Nem parece interessado nas rentáveis parcerias -inclusive eleitorais- com o nosso setor sucroalcooleiro. Daí que tenha, para tristeza dos anfitriões, repetido o óbvio. As terras agricultáveis aqui são finitas, e ainda está por ser demonstrado que o aumento da produtividade da cana brasileira pode atender o mercado mundial sem elevação significativa da área plantada.

No front ecológico, tem sido inviável para o presidente da República fazer o costumeiro: acender uma vela a Deus, outra ao diabo e seguir em frente na base da conversa. Em 2003, o governo praticamente entregou a área aos movimentos do setor. Para, na sequência, iniciar um sistemático desmonte da agenda ambiental brasileira de matriz global. Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, a ex-ministra e senadora Marina Silva (PT-AC) registrou o fato. Não foi contestada.

Onde está o problema? Como tem sido dito aqui, é impossível a um país com as nossas desigualdades e a nossa demanda por progresso aceitar o cardápio do "nada pode", que nos é servido como a quintessência da responsabilidade ambiental. Hidrelétricas, especialmente na Amazônia? Não pode. Usinas nucleares? Não pode. Estradas? Muito difícil. Hidrovias? Nem pensar. Déficit de casas? A solução depende de licença dos órgãos ambientais. E por aí vai. Nenhuma nação com autoestima e ciosa de sua soberania pode se dobrar diante de uma lógica assim. Muito menos um país com nossa quantidade de pobres. Um governo brasileiro que acolha a pauta do "nada pode" estará condenado à morte política.

Risco que corre o ministro Carlos Minc. Quando substituiu Marina, o perigo estava bem claro. A senadora pediu o boné para não virar um peixinho ornamental no aquário da Esplanada. No caso de Minc, talvez o cálculo de Lula embuta a suposição de que o ministro dá mais valor ao cargo do que à biografia. Verdade que Minc tem procurado lutar no terreno verbal. Seu mais recente refúgio é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica. O que, de quebra, ajuda a segurar um pouco mais a cadeira.

Desde o início de seus já seis anos e meio no terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula decidiu a favor do agronegócio todas as disputas internas. Começou lá atrás, com as medidas provisórias da soja transgênica e com a nova Lei de Biossegurança. E a tendência se consolida a cada episódio, a cada divergência.Mas por que Lula segue esse caminho? Talvez porque do outro lado não lhe ofereçam uma agenda factível, compatível com o projeto nacional de desenvolvimento. Ou pelo menos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a plataforma eleitoral da candidata dele à sucessão. Lula é obcecado por soluções intermediárias, por consensos, por meios-termos. Mas não tem vocação para o suicídio político.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

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