Guru, ex-aluno do curso de Ciências Sociais, atualmente brilha como discente do Mestrado em Antropologia da UFPE. E eu, cá no meu canto, imaginava tê-lo perdido como leitor, agora que o mesmo flana pela veneza brasileira. Pois, que coisa boa!, descubro que ele não apenas ainda freqüenta este blog, mas, o que é mais importante, ainda se preocupa em marcar posições e contribuir, com o debate, para a a afirmação deste espaço. Só posso repetir o meu bordão: maravilha! Ah!, e mais abaixo, o que vale a pena neste post, a posição crítica do Guru.
Lucidez?
Por Augusto Max
Discordo que seja a melhor forma de caracterizar esta análise seja "lúcida". É difícil falar de desenvolvimento com lucidez, já que se trata de objetivar algo bastante enraizado no imaginário. Mas é possível, veja o exemplo de Lévi-Strauss tratando da problemática atual do totemismo. Para caracterizar numa palavra essa discussão de Alon, usaria a palavra "honesta", e fico feliz de assim lê-la porque facilita meu trabalho (pesquiso desenvolvimento). Permita-me ressaltar alguns pontos de minha leitura:Afirmar que investir em extrativismo é recriar a comunidade primitiva demonstra algumas doses de preconceito, acho que não precisa ser antropólogo para confirmar isso. Muito me lembra os discursos do DEM contra as políticas quilombolas, em especial no tocante ao que Alfredo Wagner B. Almeida chama de "visão frigorificada".Ademais, não vejo como reproduzir diversos elementos do discurso de expansão amazônica de Médici e Geisel configure uma "mudança de mentalidades" (quem abrir o 'Vítimas do Milagre' de Shelton Davis e procurar os discursos desses generais não poderá negar as semelhanças). Já o "esforço heróico português" me parece uma noção alimentada pela mesma simbologia que inspirava setores da elite brasileira do início do século passado, quando defendiam a expansão amazônica nos moldes fetichizados do Oeste norte-americano (Davis também fala deles). Trazendo para uma representação mais cotidiana, seria um modelo de desenvolvimento estilo "corrida do ouro", uma aspiração antiga de transformar a Amazônia no Klondike do Tio Patinhas. Quanto aos esforços para de desconstruir a identidade nacional, emergidos pelo que Alon chama de sub-historiografia recente, desconheço essa objetivação (ou subjetivação, que seja) em expiar os pecados. Pelo menos no teor das análises que leio e nos círculos acadêmicos que frequento! As reinterpretações da história podem ser objetivadas de diversas formas, não apenas pelos seus elaboradores com por qualquer ser reflexivo que com seus trabalhos interaja. Se é possível afirmar numa forma padrão de intervenção dessas reinterpretações, acredito que seria muito mais no sentido de evitar a re-edição de atitudes autoritárias, contrárias aos direitos humanos ou algo do gênero; que no estabelecimento de um remorso coletivo. Enfim, achei oportuna a leitura do texto porque apresenta, de uma forma bastante direta, os lugares-comuns dessa perspectiva de desenvolvimentismo nacionalista. Fica evidenciado que dela discordo em seus fundamentos, mas a forma direta como Alon põe seus argumentos (no texto da semana passada não consegui captá-los bem, pois me parecia muito mais uma disputa por hegemonia partidária do que uma análise do problema do desenvolvimento) é um bálsamo para qualquer pesquisador que toma para si a tarefa de destrinchar os "discursos cordiais" da intelectualidade brasileira em geral.
domingo, 14 de junho de 2009
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