sexta-feira, 10 de outubro de 2008

NANOTECNOLOGIA E SOCIEDADE



Coloco logo aí abaixo um artigo do Paulo Roberto Martins sobre nanotecnologia e sociedade. O Paulo é o coordenador nacional do V Seminário Internacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente, que ocorrerá no Auditório B do CCHLA, a partir da próxima segunda-feira.

ANOTECNOLOGIA E SOCIEDADE: UM DESAFIO PARA TODOS NÓS

Nanotecnologia está sendo apontada como a fonte de uma possível 5ª revolução industrial. Também denominada tecnologia atômica , refere-se a uma gama de novas tecnologias que operam em nano escala, o que equivale a uma bilhionésima parte de um metro. Isto certamente significará um forte impacto nas sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, bem como, no planeta que habitamos.

A introdução e disseminação de nova tecnologia carrega consigo seus benefícios e riscos para a sociedade, configura também a possibilidade de materializar novos segmentos sociais de incluídos e excluídos e a construção de uma “nova natureza” inédita em relação a história recente da humanidade, com repercussões nos ecossistemas naturais deste planeta.

Os cientistas produtores da Nanociência e da Nanotecnologia encontram-se numa posição central no que se relaciona ao futuro de nossas sociedades. Enquanto produtores de conhecimento e de tecnologia poderão contribuir para a transformação das mesmas, mas, ao mesmo tempo, estarão sofrendo os impactos desta nova tecnologia enquanto cidadãos de suas comunidades.

Mas, a nanotechnologia não está acima das críticas. Entre as diversas incertezas sobre esta tecnologia podemos apontar a toxicidade das partículas nano e sua necessidade de uma específica regulação. Embora possa ser entendida como uma nova tecnologia, ela porta questões éticas já observadas na biotecnologia. Assim a questão que se coloca é se poderemos trabalhar as coisas de forma diferente as ocorridas com a biotecnologia. Ou a nanotecnologia inevitavelmente se tornará o “GMO”? Será que iremos romper com o ciclo dos transgênicos em termos de propaganda, segredo ( falta de transparência) , medo e conflito, levando-se em consideração as preocupações sociais e ambientais desde o início?

Vário são os relatórios produzidos neste século por entidades governamentais como a National Science Foundation/USA European Commission, ou não governamentais como Royal Society/uk e ETCGroup/Ca que apontam para a necessidade de se incorporar, desde o início, pesquisas que visam apresentar os impactos sociais, econômicos, ambientais, políticos, éticos, bem como, a percepção do público sobre a introdução da nonotecnologia em nossas sociedades.

Uma das maiores lições da biotecnologia é que não são só os riscos atrelados a novas tecnologias é que causam preocupações na população. Controvérsias crescem quando não se permite a participação do público neste processo. A este não é dada a oportunidade de perguntar: para que serve esta tecnologia??? Quem será seu proprietário ou irá e apropriar dela? Quem irá se responsabilizar se as coisas não derem certo? Em quem nós podemos confiar? Quem serão os incluídos e os excluídos??? Presentemente já é comum ouvirmos a expressão “exclusão digital” e programas governamentais de “inclusão digital”. Será que no futuro próximo ouviremos falar dos “nanoexcluídos”?

Claro que todas estas questões pontuadas acima não devem ser resolvidas exclusivamente pelos técnicos, por aqueles que “entendem do assunto” pois não são questões técnicas. Para resolve-las, o público deve ser envolvido deste o início. Exatamente enquanto a nanotecnologia esta dando seus primeiros passos é que deve-se começar o debate com o público, colocando todas estas questões na mesa, de forma transparente.

É Justamente isto que ira ocorre na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que sediará, de 13 a 17 de outubro, a quinta edição do Seminário Internacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (V Seminanosoma). Presencialmente ou por meio de videoconferências, o evento em Natal reunirá especialistas de todas as regiões do Brasil, assim como de outros 12 países, como Argentina, México, Estados Unidos, Espanha, França e Austrália. Em dez mesas-redondas, os participantes discutirão o desenvolvimento da nanotecnologia e seus impactos em áreas como economia, agricultura, meio ambiente, ética, comunicação, artes, segurança do trabalhador e saúde.

Promovido pela Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma), o encontro visa incentivar um debate transdisciplinar, colocando lado a lado químicos, físicos, médicos, biólogos, engenheiros e cientistas sociais, além de engajar toda a sociedade nessa discussão. Isso inclui não só pesquisadores e dirigentes de órgãos públicos, mas também estudantes, representantes de ONGs e sindicatos, e qualquer cidadão que queira contribuir para essa reflexão acerca da nanotecnologia – definida como as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação obtidas graças às especiais propriedades da matéria organizada a partir de estruturas nanométricas, isto é, com alguns bilionésimos de metro.
A nanotecnologia se apresenta como uma revolução tecnológica, que pode ter impacto em todos os setores e grupos sociais. O tema, portanto, suscita muitas perguntas. Qual será o lugar de regiões periféricas no mundo pós-revolução da nanotecnologia? Esta revolução aprofundará as desigualdades? Ela poderá contribuir para uma maior democratização? As regiões que não participaram da revolução informacional terão uma segunda chance na revolução nanotecnológica? Elas serão apenas consumidoras ou também fabricarão os incríveis produtos que a nanotecnologia promete? Que impactos econômicos e ambientais esses produtos causarão? Que tipo de intervenção política se fará necessária?

Essas e outras questões serão analisadas durante o V Seminanosoma, cuja programação está disponível em http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site ou então pelo e-mail seminanonatal@gmail.com. O evento ocorrerá no Auditório B do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da UFRN. Quem não puder comparecer terá a oportunidade de acompanhar o seminário ao vivo pela ALLTV, no endereço http://www.alltv.com.br/nanotecnologia, e enviar perguntas aos palestrantes por meio de um chat.

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