Para quem se preocupa em ir além da avaliação moral, a análise das transações que ocorrem no mercado de drogas ilegais é uma das temáticas mais espinhosas. Mas, nem por isso, menos excitantes. Como perscrutar os vetores institucionais desse mercado? quais os mecanismos de encaixe social desse mercado? Uma questão como essa demanda o manuseio de dados e informações as mais diversas. Além de uma certa coragem pessoal, o pesquisador dedicado ao tema deve se preparar para enfrentar tanto as ondas politicamente corretas quanto as suas co-irmãs, as patrulhas cada vez mais destrambelhadas dos neo-conservadores.
Pelo que foi dito acima, vale a pena, sempre, dar uma conferida em textos que nos ajudem a contextualizar um pouco os elementos em jogo no mercado de drogas. Assim, aproveito para propor-lhe a leitura do trecho abaixo:
“Grande parte do interesse público foi despertado pelos artigos de jornais que apareciam de vez em quando sobre os males do abuso da maconha, ou haxixe, e foi dada mais atenção do que a necessária a casos específicos relatados de abuso da droga. Essa publicidade tende a exagerar a extensão do mal e dá margem à conclusão de que há uma disseminação alarmante do uso impróprio da droga, enquanto o aumento real de ta uso pode não ter sido desordenadamente grande.”
Então, para você quem é o autor do texto acima? Não, não é do Gabeira, antes da sua conversão à companheiro de viagem dos demos e tucanos. É o Departamento do Tesouro americano, em um relatório de 1931. O título do documento é Traffic in Opium and Other Dangerous Drugs for the Year Ended December 31. E a citação acima foi tomada de empréstimo do livro “Uma teoria da ação coletiva”, de Howard S. Becker. Publicado há mais de três décadas no Brasil, com uma cuidadosa tradução feita por Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes e revisão técnica de ninguém menos que o antropólogo Gilberto Velho, o livro é uma leitura formativa para estudantes de história, ciências sociais, direito e comunicação.
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