Transcrevo abaixo artigo de autoria de César Maia a respeito de como analisar as pesquisas eleitorais. Acredito que seja do interesse de todos quantos se interessam pela análise eleitoral.
PESQUISAS ELEITORAIS E "JOGO DE COORDENAÇÃO"!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (01).
1. Uma pesquisa de opinião pública, sobre qualquer questão, depende da informação ter chegado às pessoas. Fazer uma pesquisa de opinião no Brasil sobre os conflitos subnacionais na Bélgica neste momento não dará nenhum resultado, mesmo que parte das pessoas marque uma resposta. Da mesma forma, quando a informação a ser pesquisada é restrita, a pesquisa não testa opinião pública. Por exemplo: você acha que o Copom vai aumentar, diminuir ou deixar os juros iguais?
2. O processo básico para que uma pesquisa eleitoral traduza o que pensa a opinião pública é que o "jogo de coordenação" (expressão técnica) tenha se desenvolvido. Num processo eleitoral, a opinião das pessoas vai se formando em contato com a opinião de outras pessoas. Elas recebem informações dos candidatos e dos meios de comunicação e conversam entre si. É esse processo de tomada de decisão, a partir das conversas entre as pessoas, o que se chama de "jogo de coordenação".
3. Longe do processo eleitoral, quando os partidos ainda não iniciaram suas campanhas, sem sua própria TV/rádio e a imprensa ainda não priorizou a cobertura, as informações que chegam aos eleitores ainda são diluídas. Vale a memória dos nomes. No caso da eleição presidencial deste ano, um dos candidatos tem o nome mais conhecido por sua participação em outras eleições e em governos. O presidente da República, por um ano e meio, foi reduzindo essa vantagem, divulgando o nome de sua candidata e buscando colá-la às realizações do governo.
4. Mas quando o processo se abre e a mídia amplia os espaços pré-eleitorais é que se inicia o "jogo de coordenação". Os candidatos procuram colocar seus nomes e propostas no meio desse "jogo", assim como desqualificar os seus adversários. As pessoas passam a tratar do tema progressivamente. As pesquisas, portanto, medem, de início, opiniões frias e vão retratando de forma crescente a tendência efetiva da opinião eleitoral, a meio do "jogo de coordenação".
5. Os fatos eleitorais vão afetando essa opinião pública, mantendo ou alternando tendências. Dessa forma, as pesquisas divulgadas nestes meses falam da opinião pública antes do "jogo de coordenação". Os candidatos, em suas campanhas, vão influenciando esse "jogo" de maneira a que as conversas estimuladas pela propaganda, direta e indireta, produzam, no final, decisões a seu favor. E as pesquisas, que no início apenas faziam diagnóstico, no final passam a fazer prognóstico.
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terça-feira, 4 de maio de 2010
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Miragens pré-eleitorais: um PT mais à esquerda...
Veja abaixo artigo sobre essa miragem pré-eleitoral que é uma fantasmagórica "guinada à esquerda do PT".
O PT à esquerda
Marco Aurélio Nogueira
Circula nos ambientes políticos a informação de que o PT pretende retomar um discurso de esquerda para as próximas eleições, fato que estaria a ser demonstrado por recentes declarações e documentos do partido.
Antes de saudar o fato, que pode contribuir para que se ganhe maior clareza no jogo político, é preciso avaliar a situação. O que indica ela? A presença de um movimento para enquadrar Lula, seu governo e sua candidata à sucessão, que carregam uma imagem centrista e moderada bem consolidada? Ou o desencadeamento de uma operação para reerguer o partido e voltar a inseri-lo nos trilhos originais, de onde escapou nos últimos anos?
Enquadrar Lula é algo de que não se deveria cogitar, pois ele se tornou, com o tempo, maior que o PT. Hoje segue carreira-solo, administrada por um seleto grupo de gestores leais e por uma imponente onda de culto e adoração popular, que impede até mesmo o exercício da ponderação, proíbe críticas e lhe concede oxigênio suficiente para dispensar maiores amarras e compromissos institucionais, incluindo os partidários. Seria como imaginar, mutatis mutandis, o enquadramento de um Fidel, um Jânio ou um Prestes.
Mas partidos de esquerda são seres condenados a explicar e justificar todos os seus passos. Nesse movimento, são sistematicamente tentados a reiterar convicções de antes, com as quais foram batizados e ganharam selo de identidade. Vivem de forma dilemática: precisam renovar-se sempre, mas não conseguem fazer isso com facilidade, pois as tradições pesam e muitos de seus integrantes se recusam a seguir as novas orientações, regra geral decididas e impostas pelas cúpulas.D
á-se algo assim com o PT, que desde o final dos anos 1990 enveredou por um caminho reformista, expulsou parte de suas alas tidas como "radicais", chegou à Presidência da República e se converteu em expoente do universo social-democrata. Ao longo desse percurso, muitos erros foram cometidos, espocaram crises de identidade, diluições ideológicas e regressões fundamentalistas. Seria lógico, portanto, que suas direções se dedicassem a evitar a debandada dos militantes e eleitores saudosos dos velhos tempos, tanto quanto a atrair e soldar a adesão de novos seguidores.
A retomada de um discurso de esquerda pode ser vista como uma resposta a essa situação, uma estratégia direcionada mais ao público interno ampliado (militantes e eleitores) do que à sociedade. É como se as cúpulas partidárias estivessem a dizer: "Continuamos de esquerda, não nos abandonem, não esmoreçam!" - num apelo para que não se multipliquem eventuais fugas rumo ao PSOL ou à candidatura de Marina Silva, por exemplo.
É isso, mas não é somente isso. O PT também deseja se fazer presente nas campanhas de 2010, orientar seus candidatos, dar a eles combustível, recursos de combate e persuasão. Está a se movimentar para isso.Se pensarmos em termos abstratos, típico-ideais, um partido cumpre essa meta em dois planos: olhando para as amplas massas e para o futuro.
No primeiro deles, elabora um kit de sobrevivência, um conjunto de princípios essenciais traduzidos em expressões simbolicamente eloquentes e de fácil manuseio, estilo Estado x mercado, projeto popular e democrático x projeto do Consenso de Washington, governo nacionalista e internacionalista x governo entreguista, o nosso Brasil x o Brasil deles, e assim por diante. É nesse plano que se apresentam as realizações governamentais, as virtudes do líder e de seus sucessores, os planos sórdidos dos adversários. A intenção, aqui, é organizar um guia para a ação e, acima de tudo, formar opinião. Sim, porque os eleitores precisam de formadores de opinião, mesmo quando são de esquerda.
No segundo plano, o partido elabora uma teoria da sociedade e da transformação social que julga a ela corresponder, determinando o lugar que ele próprio, o partido, e seu entorno ocupam nesse processo. É um plano sofisticado, que requer uma análise do mundo, a definição de estratégias de longo prazo e das alianças fundamentais, o reconhecimento claro dos obstáculos e das possibilidades concretas de mudança. Nele a simplificação não tem lugar e a agitação deve ser substituída pela argumentação.
Na dimensão típico-ideal, esses dois planos caminham juntos, retroalimentam-se. O partido fala para as massas com um discurso sustentado pela tradução criteriosa de uma teoria social consistente, que é corrigida e ajustada à medida que se obtém o feedback da sociedade.
Salvo avaliação mais aprofundada, o que parece estar a ocorrer no Brasil expressa uma disjunção desses dois planos, com uma concentração unilateral no primeiro deles. O PT está esquentando as turbinas para oferecer a seu "povo" o empuxo necessário para uma ação vitoriosa em 2010. Está a produzir armas de combate, agitação e identificação. Como seria mesmo de esperar.Não há por que alguém ficar surpreso ou incomodado com isso, que é política em estado bruto, igualmente praticada pelos demais partidos. Os puros de espírito, as almas mais sensíveis poderão torcer o nariz para as acusações infundadas, os autoelogios extremados e passionais, as manobras exclusivamente para prejudicar inimigos e adversários. Terão de entender que política também é feita disso.
É feita disso, mas não só disso. Se o PT se julga ou pretende ser um partido de esquerda de fato, não pode permanecer estacionado no plano da agitação, do discurso fácil para as massas. Precisa ir além e acoplar a esse plano um segundo plano, de elaboração teórica, produção cultural e projeção do futuro, como, de resto, se espera que façam todos os demais partidos. Sem isso ficará no meio do caminho e não se completará como partido de esquerda. Poderá até ter sucesso e vencer em 2010, mas não contribuirá para integrar a sociedade, convencê-la da necessidade de uma reforma social e fornecer-lhe algo mais denso e duradouro do que um sonho para sonhar.
Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp. E-mail: m.a.nogueira@globo.com
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O PT à esquerda
Marco Aurélio Nogueira
Circula nos ambientes políticos a informação de que o PT pretende retomar um discurso de esquerda para as próximas eleições, fato que estaria a ser demonstrado por recentes declarações e documentos do partido.
Antes de saudar o fato, que pode contribuir para que se ganhe maior clareza no jogo político, é preciso avaliar a situação. O que indica ela? A presença de um movimento para enquadrar Lula, seu governo e sua candidata à sucessão, que carregam uma imagem centrista e moderada bem consolidada? Ou o desencadeamento de uma operação para reerguer o partido e voltar a inseri-lo nos trilhos originais, de onde escapou nos últimos anos?
Enquadrar Lula é algo de que não se deveria cogitar, pois ele se tornou, com o tempo, maior que o PT. Hoje segue carreira-solo, administrada por um seleto grupo de gestores leais e por uma imponente onda de culto e adoração popular, que impede até mesmo o exercício da ponderação, proíbe críticas e lhe concede oxigênio suficiente para dispensar maiores amarras e compromissos institucionais, incluindo os partidários. Seria como imaginar, mutatis mutandis, o enquadramento de um Fidel, um Jânio ou um Prestes.
Mas partidos de esquerda são seres condenados a explicar e justificar todos os seus passos. Nesse movimento, são sistematicamente tentados a reiterar convicções de antes, com as quais foram batizados e ganharam selo de identidade. Vivem de forma dilemática: precisam renovar-se sempre, mas não conseguem fazer isso com facilidade, pois as tradições pesam e muitos de seus integrantes se recusam a seguir as novas orientações, regra geral decididas e impostas pelas cúpulas.D
á-se algo assim com o PT, que desde o final dos anos 1990 enveredou por um caminho reformista, expulsou parte de suas alas tidas como "radicais", chegou à Presidência da República e se converteu em expoente do universo social-democrata. Ao longo desse percurso, muitos erros foram cometidos, espocaram crises de identidade, diluições ideológicas e regressões fundamentalistas. Seria lógico, portanto, que suas direções se dedicassem a evitar a debandada dos militantes e eleitores saudosos dos velhos tempos, tanto quanto a atrair e soldar a adesão de novos seguidores.
A retomada de um discurso de esquerda pode ser vista como uma resposta a essa situação, uma estratégia direcionada mais ao público interno ampliado (militantes e eleitores) do que à sociedade. É como se as cúpulas partidárias estivessem a dizer: "Continuamos de esquerda, não nos abandonem, não esmoreçam!" - num apelo para que não se multipliquem eventuais fugas rumo ao PSOL ou à candidatura de Marina Silva, por exemplo.
É isso, mas não é somente isso. O PT também deseja se fazer presente nas campanhas de 2010, orientar seus candidatos, dar a eles combustível, recursos de combate e persuasão. Está a se movimentar para isso.Se pensarmos em termos abstratos, típico-ideais, um partido cumpre essa meta em dois planos: olhando para as amplas massas e para o futuro.
No primeiro deles, elabora um kit de sobrevivência, um conjunto de princípios essenciais traduzidos em expressões simbolicamente eloquentes e de fácil manuseio, estilo Estado x mercado, projeto popular e democrático x projeto do Consenso de Washington, governo nacionalista e internacionalista x governo entreguista, o nosso Brasil x o Brasil deles, e assim por diante. É nesse plano que se apresentam as realizações governamentais, as virtudes do líder e de seus sucessores, os planos sórdidos dos adversários. A intenção, aqui, é organizar um guia para a ação e, acima de tudo, formar opinião. Sim, porque os eleitores precisam de formadores de opinião, mesmo quando são de esquerda.
No segundo plano, o partido elabora uma teoria da sociedade e da transformação social que julga a ela corresponder, determinando o lugar que ele próprio, o partido, e seu entorno ocupam nesse processo. É um plano sofisticado, que requer uma análise do mundo, a definição de estratégias de longo prazo e das alianças fundamentais, o reconhecimento claro dos obstáculos e das possibilidades concretas de mudança. Nele a simplificação não tem lugar e a agitação deve ser substituída pela argumentação.
Na dimensão típico-ideal, esses dois planos caminham juntos, retroalimentam-se. O partido fala para as massas com um discurso sustentado pela tradução criteriosa de uma teoria social consistente, que é corrigida e ajustada à medida que se obtém o feedback da sociedade.
Salvo avaliação mais aprofundada, o que parece estar a ocorrer no Brasil expressa uma disjunção desses dois planos, com uma concentração unilateral no primeiro deles. O PT está esquentando as turbinas para oferecer a seu "povo" o empuxo necessário para uma ação vitoriosa em 2010. Está a produzir armas de combate, agitação e identificação. Como seria mesmo de esperar.Não há por que alguém ficar surpreso ou incomodado com isso, que é política em estado bruto, igualmente praticada pelos demais partidos. Os puros de espírito, as almas mais sensíveis poderão torcer o nariz para as acusações infundadas, os autoelogios extremados e passionais, as manobras exclusivamente para prejudicar inimigos e adversários. Terão de entender que política também é feita disso.
É feita disso, mas não só disso. Se o PT se julga ou pretende ser um partido de esquerda de fato, não pode permanecer estacionado no plano da agitação, do discurso fácil para as massas. Precisa ir além e acoplar a esse plano um segundo plano, de elaboração teórica, produção cultural e projeção do futuro, como, de resto, se espera que façam todos os demais partidos. Sem isso ficará no meio do caminho e não se completará como partido de esquerda. Poderá até ter sucesso e vencer em 2010, mas não contribuirá para integrar a sociedade, convencê-la da necessidade de uma reforma social e fornecer-lhe algo mais denso e duradouro do que um sonho para sonhar.
Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp. E-mail: m.a.nogueira@globo.com
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Coluna de hoje do Alon
Leia abaixo a coluna de hoje do Alon Feuewerker.
Surpresas são difíceis de prever (27/11)
Alon Feuerwerker
De todos os números, qual o mais importante? O mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização entre Dilma e um tucano
Desconfiar da informação que chega é essencial nesta profissão. Daí por que não cabe aos jornalistas torcer o nariz para políticos que desconfiam de pesquisas. Ciro Gomes reagiu à última Sensus/CNT com coerência. Mostrou desdém, mesmo com o resultado supostamente bom para ele. É uma notável exceção.
Políticos adoram pesquisas favoráveis —e detestam as desfavoráveis. O caso mais agudo na minha lembrança é do comecinho de 2006, quando Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez em muito tempo na frente de José Serra, segundo a mesma Sensus/CNT. Tucanos reagiram com fúria, apenas para enfiar a viola no saco um pouco mais adiante.
Desenvolvi meu método para desconfiar das pesquisas: acredito em todas. Há quem busque a pesquisa 100% certa (uma contradição em termos, diante da margem de erro). Eu procuro tentar achar em cada uma o que ela possa ter de verdadeiro. A pesquisa absolutamente errada é tão improvável quanto a completamente fiel. Então sempre há algo que se aproveite. Trata-se apenas de garimpar.
Mesmo a pesquisa fajuta tem sua utilidade. Nem que só para conhecer o que motivou a fabricação. Felizmente, o mercado de pesquisas profissionalizou-se bastante nos últimos anos, especialmente nos períodos eleitorais, quando os levantamentos se submetem a uma legislação algo rigorosa.
A lei dos grandes números também ajuda. Se você olhar para uma quantidade suficiente de pesquisas, acabará chegando a um ponto próximo da realidade. Minha sugestão para quem aprecia o assunto é esta: colecionar e seguir o máximo de pesquisas possíveis.
E o que observar então nos próximos números presidenciais?
Um detalhe é como e quanto Dilma Rousseff vai chegar em José Serra (ou por quanto irá eventualmente ultrapassá-lo) num primeiro turno sem Ciro Gomes. Outro detalhe é o ritmo de crescimento de Aécio Neves, com que velocidade o mineiro chega no potencial de votos mínimo de um candidato da oposição, cerca de 40% dos válidos. Outro ainda é como se estreita a margem entre Serra e Dilma num eventual segundo turno.
São todas coisas que vão acontecer, com alguma certeza, à medida que a taxa de conhecimento efetivo dos candidatos começar a nivelar-se. E à medida que os eleitores começarem a prestar mais atenção na corrida presidencial.
Outra providência boa é cultivar algum ceticismo diante dos motivos apresentados para eventuais oscilações. Dilma deu uma estagnada tempos atrás, depois que mergulhou. Disseram que foi por causa do caso Lina Vieira. A mim soou, com todo o respeito, um chute.
Ela caiu porque sumiu. Tanto que voltou a crescer quando reapareceu. Serra vem perdendo alguma substância, aproximando-se do estoque real de votos dele. Disseram que tem a ver com a associação a Fernando Henrique Cardoso. Outro chute. Mais provável que tenha a ver com o ânimo geral. E o fato é que Serra vinha meio escondido.
A última Sensus/CNT mostrou Dilma em leve alta. Coincide com a melhora no ambiente econômico. Outra coisa útil de acompanhar são os índices de confiança do consumidor. Com algum atraso, sua tendência acaba se refletindo na avaliação do governante. Avaliação que influi nos números da eleição.
O que não é chute para 2010? O óbvio. Que a polarização deve se dar entre um candidato do PT e outro do PSDB. É inimaginável que Lula não leve sua candidata ao segundo turno. E por enquanto nem Ciro nem Marina Silva mostram musculatura para deslocar o tucano que entrar na corrida.
E qual é o número mais importante? Talvez o mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização. Se todo mundo sabe que no fim das contas a parada será decidida entre Dilma e um peessedebista, que se monitore o cenário de uma eventual segunda rodada. É o que vou procurar fazer.
Pode haver surpresas? Sempre pode. Mas se existe algo difícil de prever são as surpresas.
Acacianas
A Venezuela e o Brasil não reconhecerão um eventual governo de Honduras saído da eleição marcada para este fim de semana. Os Estados Unidos reconhecerão. Cada um na sua.
É uma diferença que vai se propagar, especialmente na América do Sul. Com o tempo, todos os países irão alinhar-se. Uns de um lado, outros do outro. A unidade continental terá virado ficção.
Lula e Hugo Chávez liderarão um bloco que vai tratar Honduras como pária. Do jeito que os Estados Unidos se habituaram a tratar Cuba.
Como diria o Conselheiro Acácio —que bem poderia ter sido o autor do título desta coluna—, uma particularidade das consequências é que elas vêm depois.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Surpresas são difíceis de prever (27/11)
Alon Feuerwerker
De todos os números, qual o mais importante? O mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização entre Dilma e um tucano
Desconfiar da informação que chega é essencial nesta profissão. Daí por que não cabe aos jornalistas torcer o nariz para políticos que desconfiam de pesquisas. Ciro Gomes reagiu à última Sensus/CNT com coerência. Mostrou desdém, mesmo com o resultado supostamente bom para ele. É uma notável exceção.
Políticos adoram pesquisas favoráveis —e detestam as desfavoráveis. O caso mais agudo na minha lembrança é do comecinho de 2006, quando Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez em muito tempo na frente de José Serra, segundo a mesma Sensus/CNT. Tucanos reagiram com fúria, apenas para enfiar a viola no saco um pouco mais adiante.
Desenvolvi meu método para desconfiar das pesquisas: acredito em todas. Há quem busque a pesquisa 100% certa (uma contradição em termos, diante da margem de erro). Eu procuro tentar achar em cada uma o que ela possa ter de verdadeiro. A pesquisa absolutamente errada é tão improvável quanto a completamente fiel. Então sempre há algo que se aproveite. Trata-se apenas de garimpar.
Mesmo a pesquisa fajuta tem sua utilidade. Nem que só para conhecer o que motivou a fabricação. Felizmente, o mercado de pesquisas profissionalizou-se bastante nos últimos anos, especialmente nos períodos eleitorais, quando os levantamentos se submetem a uma legislação algo rigorosa.
A lei dos grandes números também ajuda. Se você olhar para uma quantidade suficiente de pesquisas, acabará chegando a um ponto próximo da realidade. Minha sugestão para quem aprecia o assunto é esta: colecionar e seguir o máximo de pesquisas possíveis.
E o que observar então nos próximos números presidenciais?
Um detalhe é como e quanto Dilma Rousseff vai chegar em José Serra (ou por quanto irá eventualmente ultrapassá-lo) num primeiro turno sem Ciro Gomes. Outro detalhe é o ritmo de crescimento de Aécio Neves, com que velocidade o mineiro chega no potencial de votos mínimo de um candidato da oposição, cerca de 40% dos válidos. Outro ainda é como se estreita a margem entre Serra e Dilma num eventual segundo turno.
São todas coisas que vão acontecer, com alguma certeza, à medida que a taxa de conhecimento efetivo dos candidatos começar a nivelar-se. E à medida que os eleitores começarem a prestar mais atenção na corrida presidencial.
Outra providência boa é cultivar algum ceticismo diante dos motivos apresentados para eventuais oscilações. Dilma deu uma estagnada tempos atrás, depois que mergulhou. Disseram que foi por causa do caso Lina Vieira. A mim soou, com todo o respeito, um chute.
Ela caiu porque sumiu. Tanto que voltou a crescer quando reapareceu. Serra vem perdendo alguma substância, aproximando-se do estoque real de votos dele. Disseram que tem a ver com a associação a Fernando Henrique Cardoso. Outro chute. Mais provável que tenha a ver com o ânimo geral. E o fato é que Serra vinha meio escondido.
A última Sensus/CNT mostrou Dilma em leve alta. Coincide com a melhora no ambiente econômico. Outra coisa útil de acompanhar são os índices de confiança do consumidor. Com algum atraso, sua tendência acaba se refletindo na avaliação do governante. Avaliação que influi nos números da eleição.
O que não é chute para 2010? O óbvio. Que a polarização deve se dar entre um candidato do PT e outro do PSDB. É inimaginável que Lula não leve sua candidata ao segundo turno. E por enquanto nem Ciro nem Marina Silva mostram musculatura para deslocar o tucano que entrar na corrida.
E qual é o número mais importante? Talvez o mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização. Se todo mundo sabe que no fim das contas a parada será decidida entre Dilma e um peessedebista, que se monitore o cenário de uma eventual segunda rodada. É o que vou procurar fazer.
Pode haver surpresas? Sempre pode. Mas se existe algo difícil de prever são as surpresas.
Acacianas
A Venezuela e o Brasil não reconhecerão um eventual governo de Honduras saído da eleição marcada para este fim de semana. Os Estados Unidos reconhecerão. Cada um na sua.
É uma diferença que vai se propagar, especialmente na América do Sul. Com o tempo, todos os países irão alinhar-se. Uns de um lado, outros do outro. A unidade continental terá virado ficção.
Lula e Hugo Chávez liderarão um bloco que vai tratar Honduras como pária. Do jeito que os Estados Unidos se habituaram a tratar Cuba.
Como diria o Conselheiro Acácio —que bem poderia ter sido o autor do título desta coluna—, uma particularidade das consequências é que elas vêm depois.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Análise do Alon sobre a popularidade do Lula
O jornalista Alon Feuerwerker, quase sempre, emite opiniões lúcidas e corajosas sobre a realidade política nacional (e, de vez em quando, internacional). Eu indico sempre a leitura do seu sempre ótimo blog (http://www.blogdoalon.com.br/). Transcrevo abaixo a sua análise sobre a mais recente pesquisa da CNT/IBOPE dando contas do crescimento da popularidade do presidente Lula, mesmo em meio à crise. Vale a pena conferir!
E coragem para isso?
As pesquisas CNT e Ibope confirmam a alta popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas como vão ficar os índices de aprovação do presidente quando os sinais da crise estiverem mais evidentes por aqui? Quando a criação de empregos desacelerar? Vamos especular. Assim mesmo, no chutômetro. Pois eu acho que, mantida a atual disposição de forças políticas, Lula tem chances de atravessar a crise sem graves danos na imagem ou na popularidade. Quando as pessoas votam num presidente da República elas escolhem um líder. Um líder para as horas boas e as horas más. Para enfraquecer o líder é preciso que a oposição ofereça alternativas mais vantajosas de liderança. Mais vantajosas para os liderados, não para os candidatos a líder. A oposição brasileira não consegue apresentar uma única idéia substancialmente diferente de como enfrentar o tsunami econômico mundial, para que o Brasil saísse dele melhor do que sairá com Lula. E o cidadão comum que hoje apóia o governo, e que prtanto está potencialmente disposto a votar para que as coisas continuem como estão, fica sem grandes motivos para mudar de lado. A questão dos juros já foi tratada aqui ad nauseam. Outra coisa reveladora são as "medidas de exceção" propostas pelo presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Retirar "temporariamente" direitos trabalhistas para, em troca, supostamente reduzir demissões. O governo flerta com a idéia. Aliás, Lula flerta com essa plataforma "neoliberal" de vez em quando (leia A reforma trabalhista de Lula e o Livro Vermelho de Mao Tsetung). Só para fazer uma média com os empresários. Se Lula estivesse na oposição e alguém propusesse mexer em direitos trabalhistas, o mundo desabaria. Lula aproveitaria para tirar o máximo proveito possível desse ensaio de insensatez do governante. Porque o certo agora não é flexibilizar direitos dos trabalhadores, mas fazer o contrário: reforçá-los. Demitir um empregado, por exemplo, deveria ficar mais caro. Isso desestimularia as demissões e ajudaria a evitar mais desemprego. Crédito em bancos estatais só deveria estar disponível para quem não demitisse. E o governo deveria dar crédito muito barato para empresas que contratassem agora, no meio da crise, uma certa porcentagem adicional de sseu contingente laboral. Quer demitir? Então vai pegar capital de giro nos bancos privados, pagando os juros da livre iniciativa. Capitalismo nos olhos dos outros é refresco. O resumo da ópera: Lula governa gerando benefícios para os pobres e segurança para os ricos. Daí a sua popularidade. Lá atrás, a oposição tentou minar a primeira perna (lembram do "bolsa-esmola"?). O resultado foi ruim. Agora a oposição teria que mirar na segunda. E coragem para isso?
E coragem para isso?
As pesquisas CNT e Ibope confirmam a alta popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas como vão ficar os índices de aprovação do presidente quando os sinais da crise estiverem mais evidentes por aqui? Quando a criação de empregos desacelerar? Vamos especular. Assim mesmo, no chutômetro. Pois eu acho que, mantida a atual disposição de forças políticas, Lula tem chances de atravessar a crise sem graves danos na imagem ou na popularidade. Quando as pessoas votam num presidente da República elas escolhem um líder. Um líder para as horas boas e as horas más. Para enfraquecer o líder é preciso que a oposição ofereça alternativas mais vantajosas de liderança. Mais vantajosas para os liderados, não para os candidatos a líder. A oposição brasileira não consegue apresentar uma única idéia substancialmente diferente de como enfrentar o tsunami econômico mundial, para que o Brasil saísse dele melhor do que sairá com Lula. E o cidadão comum que hoje apóia o governo, e que prtanto está potencialmente disposto a votar para que as coisas continuem como estão, fica sem grandes motivos para mudar de lado. A questão dos juros já foi tratada aqui ad nauseam. Outra coisa reveladora são as "medidas de exceção" propostas pelo presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Retirar "temporariamente" direitos trabalhistas para, em troca, supostamente reduzir demissões. O governo flerta com a idéia. Aliás, Lula flerta com essa plataforma "neoliberal" de vez em quando (leia A reforma trabalhista de Lula e o Livro Vermelho de Mao Tsetung). Só para fazer uma média com os empresários. Se Lula estivesse na oposição e alguém propusesse mexer em direitos trabalhistas, o mundo desabaria. Lula aproveitaria para tirar o máximo proveito possível desse ensaio de insensatez do governante. Porque o certo agora não é flexibilizar direitos dos trabalhadores, mas fazer o contrário: reforçá-los. Demitir um empregado, por exemplo, deveria ficar mais caro. Isso desestimularia as demissões e ajudaria a evitar mais desemprego. Crédito em bancos estatais só deveria estar disponível para quem não demitisse. E o governo deveria dar crédito muito barato para empresas que contratassem agora, no meio da crise, uma certa porcentagem adicional de sseu contingente laboral. Quer demitir? Então vai pegar capital de giro nos bancos privados, pagando os juros da livre iniciativa. Capitalismo nos olhos dos outros é refresco. O resumo da ópera: Lula governa gerando benefícios para os pobres e segurança para os ricos. Daí a sua popularidade. Lá atrás, a oposição tentou minar a primeira perna (lembram do "bolsa-esmola"?). O resultado foi ruim. Agora a oposição teria que mirar na segunda. E coragem para isso?
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Popularidade de Lula dispara
Trancrevo abaixo matéria de hoje publicada na Folha Online.
Aprovação do governo Lula aumenta e bate novo recorde, aponta CNT/Sensus
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em dezembro deste ano a melhor avaliação positiva na história da pesquisa CNT/Sensus, que começou a ser divulgada em 1998. Segundo o levantamento, o governo do petista recebeu avaliação positiva de 71,1% dos entrevistados, contra 6,4% que avaliam negativamente o governo. Entre os entrevistados, 21,6% avaliaram o governo Lula como regular.
A avaliação pessoal do presidente Lula também obteve o a segunda melhor avaliação histórica da pesquisa, subindo de 77,7% em setembro para 80,3% em dezembro. Somente 15,2% dos entrevistados desaprovaram o presidente, enquanto 4,6% não responderam.
Os índices de popularidade de Lula só perderam para as avaliações de sua popularidade registradas em janeiro de 2003 --o ano em que foi empossado no cargo-- quando obteve 83,6% de aprovação.
O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, disse que a popularidade recorde do governo Lula é conseqüência do discurso adotado pelo presidente para tranqüilizar a população em meio à crise econômica.
"Em verdade, o país ainda colhe os resultados econômicos do último trimestre. O país começa a se sentir atingido pela crise financeira e começa a demonstrar preocupações em relação a isto. Junto com isso, o discurso forte do Lula em termos do preparo do país para a crise faz com que o eleitor lhe dê um voto de crédito", disse.
Guedes disse que, embora a avaliação de índices econômicos tenha caído, a imagem de Lula se mantém distante da crise. "Ao mesmo tempo que há avaliação mais negativa de indicadores sócio-econômicos e expectativa em relação a esses indicadores, a popularidade de Lula sobe e a aprovação pessoal também", afirmou.
Na última edição da pesquisa CNT/Sensus, em setembro deste ano, a avaliação positiva do governo era de 68,8% --um crescimento de três pontos percentuais. Desde fevereiro deste ano, o governo Lula vem obtendo recordes sucessivos de popularidade a cada edição da pesquisa.
Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.
A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 8 e 12 de dezembro, em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas, e a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou menos.
Avaliação
A pesquisa ainda mostra que o governo Lula atendeu às expectativas de 42,9% dos entrevistados, enquanto outros 35,6% avaliam que superou as expectativas dos brasileiros.
Somente 18,4% dos entrevistados acreditam que o governo Lula ficou, até agora, abaixo das expectativas da população, e outros 3,1% não responderam.
A maioria dos entrevistados (41,1%) também avalia que Lula está com mais disposição em seu segundo mandato, enquanto 40,3% acham sua disposição similar. Outros 15,4% acreditam que Lula tem menos disposição nos últimos anos do seu governo.
Aprovação do governo Lula aumenta e bate novo recorde, aponta CNT/Sensus
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em dezembro deste ano a melhor avaliação positiva na história da pesquisa CNT/Sensus, que começou a ser divulgada em 1998. Segundo o levantamento, o governo do petista recebeu avaliação positiva de 71,1% dos entrevistados, contra 6,4% que avaliam negativamente o governo. Entre os entrevistados, 21,6% avaliaram o governo Lula como regular.
A avaliação pessoal do presidente Lula também obteve o a segunda melhor avaliação histórica da pesquisa, subindo de 77,7% em setembro para 80,3% em dezembro. Somente 15,2% dos entrevistados desaprovaram o presidente, enquanto 4,6% não responderam.
Os índices de popularidade de Lula só perderam para as avaliações de sua popularidade registradas em janeiro de 2003 --o ano em que foi empossado no cargo-- quando obteve 83,6% de aprovação.
O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, disse que a popularidade recorde do governo Lula é conseqüência do discurso adotado pelo presidente para tranqüilizar a população em meio à crise econômica.
"Em verdade, o país ainda colhe os resultados econômicos do último trimestre. O país começa a se sentir atingido pela crise financeira e começa a demonstrar preocupações em relação a isto. Junto com isso, o discurso forte do Lula em termos do preparo do país para a crise faz com que o eleitor lhe dê um voto de crédito", disse.
Guedes disse que, embora a avaliação de índices econômicos tenha caído, a imagem de Lula se mantém distante da crise. "Ao mesmo tempo que há avaliação mais negativa de indicadores sócio-econômicos e expectativa em relação a esses indicadores, a popularidade de Lula sobe e a aprovação pessoal também", afirmou.
Na última edição da pesquisa CNT/Sensus, em setembro deste ano, a avaliação positiva do governo era de 68,8% --um crescimento de três pontos percentuais. Desde fevereiro deste ano, o governo Lula vem obtendo recordes sucessivos de popularidade a cada edição da pesquisa.
Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.
A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 8 e 12 de dezembro, em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas, e a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou menos.
Avaliação
A pesquisa ainda mostra que o governo Lula atendeu às expectativas de 42,9% dos entrevistados, enquanto outros 35,6% avaliam que superou as expectativas dos brasileiros.
Somente 18,4% dos entrevistados acreditam que o governo Lula ficou, até agora, abaixo das expectativas da população, e outros 3,1% não responderam.
A maioria dos entrevistados (41,1%) também avalia que Lula está com mais disposição em seu segundo mandato, enquanto 40,3% acham sua disposição similar. Outros 15,4% acreditam que Lula tem menos disposição nos últimos anos do seu governo.
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sexta-feira, 31 de outubro de 2008
O gestual na política (matéria traduzida do "El País")
Leia abaixo interessante artigo a respeito do gestual na política. Trata-se de matéria publicada no jornal El País, traduzida pelo Ex-Blog do César Maia. Saiu no ex-blog de hoje. Se você é ou quer ser marqueteiro, não pode deixar de ler. Confira!
A LINGUAGEM GESTUAL É FUNDAMENTAL NA POLÍTICA!
Trechos da matéria "Um abraço é uma mensagem política" no El País de 28/10/2008.
1. Para os peritos em comunicação é certo que a gesticulação e o não-verbal transmitem diariamente mensagens em nada depreciáveis na vida política. Por exemplo, esses modos paternalistas tendem a estar ligados, segundo Rubiales, a uma cultura da "direita". Na opinião de Roberto Izurieta, docente de organização política da Universidade George Washington e assessor de campanhas, “no âmbito das relações internacionais, as relações pessoais desempenham um papel importantíssimo”.
2. Numa reunião de cúpula, num jantar, numa reunião entre representantes de diferentes países ou num debate transmitido pela televisão, o uso do corpo, a postura, o movimento das mãos, um sorriso e inclusive um beijo podem resultar em aspectos decisivos. Tudo está relacionado, segundo peritos, com o caráter, o gênero, a cultura ou a origem de cada um.
3. As investigações do antropólogo britânico Desmond Morris demonstraram, por exemplo, que os árabes, os países mediterrâneos e africanos pertencem a culturas "de contato", e, por outro lado, os norte americanos, escandinavos, anglo-saxãos e asiáticos pertencem a culturas de "não contato".
4. A comunicação não-verbal pode inclusive transcender uma ofensa, quando falamos dos círculos do poder. Porque, entre os políticos, a gesticulação é um traço de caráter que está muito relacionado com o carisma e com uma imagem vencedora. De que depende então esse êxito visual? "O carisma não é de uma só classe”, indica Ricardo Izurieta, que acompanhou de perto a campanha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos da América. “Porque o carisma é a emoção de quem está contente consigo mesmo”. E, para estar contente, o desejável consistiria em adaptar o protocolo, ao caráter de cada um.
5. “Nas campanhas eleitorais, as expressões corporais e os gestos constituem aspectos fundamentais. Não se pode esquecer que o ato do voto é, definitivamente, um ato de confiança, e a confiança é um sentimento, é algo que pertence à esfera emocional. Num debate, por exemplo, encontramos posturas, expressões, caras que ultrapassam muitos conhecimentos racionais e institucionais, explica Izurieta.
6. Mas como conseguir que um candidato projete essa confiança? Além do olhar, são necessários abraços, sorrisos, um choro e uma clara efusão? Depende.
7. "Os bons treinadores de políticos em campanhas eleitorais conhecem uma das regras básicas da comunicação institucional", prossegue Izurieta. "Antes de mais nada, não se deve mudar a forma de ser dos candidatos. É importante levar em conta que os debates, os encontros e as relações internacionais e institucionais se realizam em cenários antinaturais e incômodos por definição. Pois bem, deve-se procurar que o candidato se sinta cômodo. E para sentir-se cômodo, devem-se desenvolver certas habilidades de cada um. Além disso, existem técnicas para desenvolver esse tipo de carisma diante de um público moderno, que percebe cada vez mais a comunicação da imagem como algo decisivo. Aqui se encontra a importância da comunicação corporal".
8. Por esta razão, nas palavras de García Huete, um personagem da esfera pública deveria estar consciente da necessidade de coerência entre as linguagens verbal e não-verbal. Porque tem de haver coerência? Coloquemos um exemplo. “Se alguém, diante de um auditório, diz que ‘vai para a esquerda’ e, ao mesmo tempo, levanta a mão direita, a maioria dos que escutam e observam assumirá esta mensagem: esse senhor caminha para a direita". Por isso, é importante que as palavras sejam acompanhadas de gestos coerentes. Começando pelo olhar.
9. "E é que o contato visual é o fundamental. Se um interlocutor baixa os olhos ou não mantém o olhar, por exemplo, pode-se chegar a acreditar que está mentindo”, acrescenta esse psicólogo acostumado ao treinamento de personagens públicos em questão de comunicação não-verbal. A distância física entre pessoas também desempenha um papel muito importante. “Se, por exemplo, alguém entra em nosso campo de movimento e recuamos, pode-se produzir um ruído capaz de provocar a interrupção da comunicação que estávamos mantendo”.
10. De todas formas, embora sejam evidentes as diferenças culturais e de gênero, também existem algumas exceções à regras. São as expressões do rosto. Em particular, a manifestação pública de alegria pode constituir a chave do êxito de uma mensagem política. Por quê? “Diz-se que em torno de 60% das emoções e do que sentimos podem ser lidos nos gestos e nas expressões dos rostos”, comenta García Huete. "E a gente, por vezes de forma inconsciente, prestará muita atenção nesses aspectos, assim como nos movimentos das mãos”.
A LINGUAGEM GESTUAL É FUNDAMENTAL NA POLÍTICA!
Trechos da matéria "Um abraço é uma mensagem política" no El País de 28/10/2008.
1. Para os peritos em comunicação é certo que a gesticulação e o não-verbal transmitem diariamente mensagens em nada depreciáveis na vida política. Por exemplo, esses modos paternalistas tendem a estar ligados, segundo Rubiales, a uma cultura da "direita". Na opinião de Roberto Izurieta, docente de organização política da Universidade George Washington e assessor de campanhas, “no âmbito das relações internacionais, as relações pessoais desempenham um papel importantíssimo”.
2. Numa reunião de cúpula, num jantar, numa reunião entre representantes de diferentes países ou num debate transmitido pela televisão, o uso do corpo, a postura, o movimento das mãos, um sorriso e inclusive um beijo podem resultar em aspectos decisivos. Tudo está relacionado, segundo peritos, com o caráter, o gênero, a cultura ou a origem de cada um.
3. As investigações do antropólogo britânico Desmond Morris demonstraram, por exemplo, que os árabes, os países mediterrâneos e africanos pertencem a culturas "de contato", e, por outro lado, os norte americanos, escandinavos, anglo-saxãos e asiáticos pertencem a culturas de "não contato".
4. A comunicação não-verbal pode inclusive transcender uma ofensa, quando falamos dos círculos do poder. Porque, entre os políticos, a gesticulação é um traço de caráter que está muito relacionado com o carisma e com uma imagem vencedora. De que depende então esse êxito visual? "O carisma não é de uma só classe”, indica Ricardo Izurieta, que acompanhou de perto a campanha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos da América. “Porque o carisma é a emoção de quem está contente consigo mesmo”. E, para estar contente, o desejável consistiria em adaptar o protocolo, ao caráter de cada um.
5. “Nas campanhas eleitorais, as expressões corporais e os gestos constituem aspectos fundamentais. Não se pode esquecer que o ato do voto é, definitivamente, um ato de confiança, e a confiança é um sentimento, é algo que pertence à esfera emocional. Num debate, por exemplo, encontramos posturas, expressões, caras que ultrapassam muitos conhecimentos racionais e institucionais, explica Izurieta.
6. Mas como conseguir que um candidato projete essa confiança? Além do olhar, são necessários abraços, sorrisos, um choro e uma clara efusão? Depende.
7. "Os bons treinadores de políticos em campanhas eleitorais conhecem uma das regras básicas da comunicação institucional", prossegue Izurieta. "Antes de mais nada, não se deve mudar a forma de ser dos candidatos. É importante levar em conta que os debates, os encontros e as relações internacionais e institucionais se realizam em cenários antinaturais e incômodos por definição. Pois bem, deve-se procurar que o candidato se sinta cômodo. E para sentir-se cômodo, devem-se desenvolver certas habilidades de cada um. Além disso, existem técnicas para desenvolver esse tipo de carisma diante de um público moderno, que percebe cada vez mais a comunicação da imagem como algo decisivo. Aqui se encontra a importância da comunicação corporal".
8. Por esta razão, nas palavras de García Huete, um personagem da esfera pública deveria estar consciente da necessidade de coerência entre as linguagens verbal e não-verbal. Porque tem de haver coerência? Coloquemos um exemplo. “Se alguém, diante de um auditório, diz que ‘vai para a esquerda’ e, ao mesmo tempo, levanta a mão direita, a maioria dos que escutam e observam assumirá esta mensagem: esse senhor caminha para a direita". Por isso, é importante que as palavras sejam acompanhadas de gestos coerentes. Começando pelo olhar.
9. "E é que o contato visual é o fundamental. Se um interlocutor baixa os olhos ou não mantém o olhar, por exemplo, pode-se chegar a acreditar que está mentindo”, acrescenta esse psicólogo acostumado ao treinamento de personagens públicos em questão de comunicação não-verbal. A distância física entre pessoas também desempenha um papel muito importante. “Se, por exemplo, alguém entra em nosso campo de movimento e recuamos, pode-se produzir um ruído capaz de provocar a interrupção da comunicação que estávamos mantendo”.
10. De todas formas, embora sejam evidentes as diferenças culturais e de gênero, também existem algumas exceções à regras. São as expressões do rosto. Em particular, a manifestação pública de alegria pode constituir a chave do êxito de uma mensagem política. Por quê? “Diz-se que em torno de 60% das emoções e do que sentimos podem ser lidos nos gestos e nas expressões dos rostos”, comenta García Huete. "E a gente, por vezes de forma inconsciente, prestará muita atenção nesses aspectos, assim como nos movimentos das mãos”.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Os tucanos no seu labirinto
Reproduzo, abaixo, artigo de autoria de Luiz Weis publicado hoje no Estadão.
Os tucanos no seu labirinto
Luiz Weis
A crise no PSDB é maior do que o rancoroso conflito que se abateu sobre o partido no seu berço paulistano, com o confronto de ambições entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o atual, José Serra. O problema da legenda é a erosão do seu patrimônio político - o que não deixa de ser um paradoxo, quando se considera que a agremiação é a única a exibir não um, mas dois candidatos feitos e viáveis ao Palácio do Planalto: além de Serra, líder nas pesquisas, o mineiro Aécio Neves.
O mal dos tucanos chama-se Lula. Mais precisamente, a decisão que ele encabeçou - primeiro na campanha presidencial de 2002, depois no governo - de deslocar o PT para o território que o PSDB reivindicava para si: o do centro-esquerda modernizador e reformista. Tendo a mudança dado no que deu, é desimportante arrolar o que petistas e tucanos, e as administrações de uns e outros, possam ter de diferente, se não de antagônico.
Não só porque em política o que parece é, mas porque, objetivamente também, do segundo governo Fernando Henrique para cá, a continuidade tem prevalecido de longe sobre a ruptura. Tampouco serve de algo o coro dos ressentidos, para quem Lula se limitou a colher o que o antecessor plantou - como se mesmo isso não exigisse competência - e que o resto foi a sorte sideral do petista. O fato é que o PSDB ficou praticamente afônico. Pior: quando ensaia recuperar a voz, não o ouvem.
No labirinto, os tucanos já pensaram até em encomendar uma pesquisa para saber o que o povo acha que eles deviam fazer para "reatar os fios entre o partido e a sociedade", como escreveu Fernando Henrique na Carta aos eleitores do PSDB, de setembro de 2006. O reatamento, de toda forma, teria de ser precedido por uma reunificação interna em torno da atualização da identidade tucana e dos seus meios de ação política - o que, visto hoje a partir de São Paulo, é uma ofuscante ironia.
Mas os partidos, salvo nas franjas do sistema, não são centros de debates, muito menos, na atualidade, oficinas de ideologias. Podem até debater e ideologizar, mas sempre na perspectiva da conquista ou da conservação do poder a cada novo ciclo eleitoral. Nas democracias de massa, são as eleições que moldam os partidos, porque estabelecem a hierarquia das suas lideranças, e as idéias têm de ser boas de voto para ser assumidas pelos candidatos - políticos profissionais cujo destino depende das urnas.
É claro que, em meio a toda a sua enrascada, tucanos se elegem (e continuarão a se eleger) governadores e prefeitos em Estados e cidades-chaves. Menos, porém, até onde a vista alcança, por sua filiação e trajetória no PSDB do que pelos atributos pessoais e administrativos, conforme a maioria do eleitorado os perceba. A marca tucana passou a ter para muitos eleitores uma carga negativa - sinônimo de inimigo do presidente.
Não foi por outra razão que no horário gratuito Alckmin ressalvou que "Lula tudo bem" no mesmo fôlego com que criticava Marta Suplicy e o PT - o que o presidente não deixou barato ao participar de um comício da ex-prefeita. Já não bastasse, portanto, a dificuldade de ser oposição a um governante a quem acusam de ter-se apropriado de suas bandeiras, como a estabilidade econômica e a redistribuição de renda, os tucanos ainda têm contra si a imensa popularidade deste governo.
Em abril do ano passado, quando as sondagens davam o presidente com 49% de aprovação, parlamentares do PSDB já se diziam "aniquilados". Segundo o noticiário, um deles suspirou: "Dá até desânimo de fazer oposição." E agora, que a Lulolatria bate um recorde depois de outro? Na semana passada, eram 64% os brasileiros que aprovavam a sua gestão e 8% os que a julgam ruim ou péssima, na mais recente pesquisa do Datafolha.
Anteontem, o Instituto Sensus revelou que a aprovação ao governo é a maior já registrada na série histórica dos seus levantamentos para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), iniciados em 1998. São 68,8% os que o aplaudem - um contingente dez vezes superior ao dos seus detratores. Isso significa que, em menos de meio ano, a avaliação positiva da administração lulista deu um salto da ordem de dez pontos porcentuais.
Se sólidos dois terços da população consideram o governo ótimo ou bom, o céu parece ser o limite para o crescimento do prestígio pessoal de Lula, na vizinhança dos 80%. Ele está a caminho de repetir a marca máxima do seu primeiro ano no Planalto (83,6%). É um resultado não apenas sem precedentes desde que se faz esse tipo de pesquisa no País, mas excepcional em todo o mundo democrático. Apoio dessa grandeza só o presidente Bush alcançou, numa nação traumatizada pelo 11 de Setembro, ao declarar a sua guerra ao terror.
Parece haver algo no Brasil de hoje além daquilo que os americanos chamam feel-good factor - no caso, a satisfação com os ganhos objetivos na frente econômica (emprego, renda e capacidade de consumo em alta) e com os efeitos da inclusão social proporcionados pelo Bolsa-Família, engendrando um clima de expectativas otimistas que o proclamado advento da fabulosa era do pré-sal obviamente só exacerba.
Mesmo dando o devido desconto ao fato de Lula ser um presidente em permanente campanha, o que lhe proporciona uma visibilidade que outros chefes de governo só têm a invejar - já se disse que ele é o pauteiro da mídia nacional -, não resta dúvida de que o fascínio pela singularidade de sua figura transborda da ampla parcela da população que naturalmente o vê como um dos seus que não perdeu o senso de suas origens e lealdades.
A últimas barreiras à consagração de Lula começam a ceder. Pela primeira vez, ele conseguiu o apoio da maioria (57%) dos brasileiros do Sudeste, das regiões metropolitanas, com formação superior e renda familiar mensal de dez salários mínimos para cima. Em suma, junto aos setores mais cosmopolitas, abonados, escolarizados - e tucanos - da sociedade. E vá o PSDB dizer que eles estão enganados.
Luiz Weis é jornalista
Os tucanos no seu labirinto
Luiz Weis
A crise no PSDB é maior do que o rancoroso conflito que se abateu sobre o partido no seu berço paulistano, com o confronto de ambições entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o atual, José Serra. O problema da legenda é a erosão do seu patrimônio político - o que não deixa de ser um paradoxo, quando se considera que a agremiação é a única a exibir não um, mas dois candidatos feitos e viáveis ao Palácio do Planalto: além de Serra, líder nas pesquisas, o mineiro Aécio Neves.
O mal dos tucanos chama-se Lula. Mais precisamente, a decisão que ele encabeçou - primeiro na campanha presidencial de 2002, depois no governo - de deslocar o PT para o território que o PSDB reivindicava para si: o do centro-esquerda modernizador e reformista. Tendo a mudança dado no que deu, é desimportante arrolar o que petistas e tucanos, e as administrações de uns e outros, possam ter de diferente, se não de antagônico.
Não só porque em política o que parece é, mas porque, objetivamente também, do segundo governo Fernando Henrique para cá, a continuidade tem prevalecido de longe sobre a ruptura. Tampouco serve de algo o coro dos ressentidos, para quem Lula se limitou a colher o que o antecessor plantou - como se mesmo isso não exigisse competência - e que o resto foi a sorte sideral do petista. O fato é que o PSDB ficou praticamente afônico. Pior: quando ensaia recuperar a voz, não o ouvem.
No labirinto, os tucanos já pensaram até em encomendar uma pesquisa para saber o que o povo acha que eles deviam fazer para "reatar os fios entre o partido e a sociedade", como escreveu Fernando Henrique na Carta aos eleitores do PSDB, de setembro de 2006. O reatamento, de toda forma, teria de ser precedido por uma reunificação interna em torno da atualização da identidade tucana e dos seus meios de ação política - o que, visto hoje a partir de São Paulo, é uma ofuscante ironia.
Mas os partidos, salvo nas franjas do sistema, não são centros de debates, muito menos, na atualidade, oficinas de ideologias. Podem até debater e ideologizar, mas sempre na perspectiva da conquista ou da conservação do poder a cada novo ciclo eleitoral. Nas democracias de massa, são as eleições que moldam os partidos, porque estabelecem a hierarquia das suas lideranças, e as idéias têm de ser boas de voto para ser assumidas pelos candidatos - políticos profissionais cujo destino depende das urnas.
É claro que, em meio a toda a sua enrascada, tucanos se elegem (e continuarão a se eleger) governadores e prefeitos em Estados e cidades-chaves. Menos, porém, até onde a vista alcança, por sua filiação e trajetória no PSDB do que pelos atributos pessoais e administrativos, conforme a maioria do eleitorado os perceba. A marca tucana passou a ter para muitos eleitores uma carga negativa - sinônimo de inimigo do presidente.
Não foi por outra razão que no horário gratuito Alckmin ressalvou que "Lula tudo bem" no mesmo fôlego com que criticava Marta Suplicy e o PT - o que o presidente não deixou barato ao participar de um comício da ex-prefeita. Já não bastasse, portanto, a dificuldade de ser oposição a um governante a quem acusam de ter-se apropriado de suas bandeiras, como a estabilidade econômica e a redistribuição de renda, os tucanos ainda têm contra si a imensa popularidade deste governo.
Em abril do ano passado, quando as sondagens davam o presidente com 49% de aprovação, parlamentares do PSDB já se diziam "aniquilados". Segundo o noticiário, um deles suspirou: "Dá até desânimo de fazer oposição." E agora, que a Lulolatria bate um recorde depois de outro? Na semana passada, eram 64% os brasileiros que aprovavam a sua gestão e 8% os que a julgam ruim ou péssima, na mais recente pesquisa do Datafolha.
Anteontem, o Instituto Sensus revelou que a aprovação ao governo é a maior já registrada na série histórica dos seus levantamentos para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), iniciados em 1998. São 68,8% os que o aplaudem - um contingente dez vezes superior ao dos seus detratores. Isso significa que, em menos de meio ano, a avaliação positiva da administração lulista deu um salto da ordem de dez pontos porcentuais.
Se sólidos dois terços da população consideram o governo ótimo ou bom, o céu parece ser o limite para o crescimento do prestígio pessoal de Lula, na vizinhança dos 80%. Ele está a caminho de repetir a marca máxima do seu primeiro ano no Planalto (83,6%). É um resultado não apenas sem precedentes desde que se faz esse tipo de pesquisa no País, mas excepcional em todo o mundo democrático. Apoio dessa grandeza só o presidente Bush alcançou, numa nação traumatizada pelo 11 de Setembro, ao declarar a sua guerra ao terror.
Parece haver algo no Brasil de hoje além daquilo que os americanos chamam feel-good factor - no caso, a satisfação com os ganhos objetivos na frente econômica (emprego, renda e capacidade de consumo em alta) e com os efeitos da inclusão social proporcionados pelo Bolsa-Família, engendrando um clima de expectativas otimistas que o proclamado advento da fabulosa era do pré-sal obviamente só exacerba.
Mesmo dando o devido desconto ao fato de Lula ser um presidente em permanente campanha, o que lhe proporciona uma visibilidade que outros chefes de governo só têm a invejar - já se disse que ele é o pauteiro da mídia nacional -, não resta dúvida de que o fascínio pela singularidade de sua figura transborda da ampla parcela da população que naturalmente o vê como um dos seus que não perdeu o senso de suas origens e lealdades.
A últimas barreiras à consagração de Lula começam a ceder. Pela primeira vez, ele conseguiu o apoio da maioria (57%) dos brasileiros do Sudeste, das regiões metropolitanas, com formação superior e renda familiar mensal de dez salários mínimos para cima. Em suma, junto aos setores mais cosmopolitas, abonados, escolarizados - e tucanos - da sociedade. E vá o PSDB dizer que eles estão enganados.
Luiz Weis é jornalista
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Sobre as eleições
Tá mesmo uma coisa repetitiva o processo eleitoral em curso. Não dá nem disposição para analisar a mesmice. Aqui em Natal, então, tá, como se diz, "sem a menor graça".
Beuno, mas não é apenas aqui. Veja, abaixo, parte do artigo de Fernando Rodrigues, na Folha.
FERNANDO RODRIGUES
Monotonia eleitoral
BRASÍLIA - A primeira fornada de pesquisas neste início de campanha eleitoral para prefeitos e vereadores mostra uma monótona semelhança com 2004. Agora, como há quatro anos, os partidos mais tradicionais dominam as disputas nas capitais e nos municípios grandes e médios.
Já há pesquisas disponíveis em 61 cidades brasileiras. O eleitorado nessas localidades soma 41,2 milhões, o equivalente a 32% dos que votarão em 5 de outubro.
Quatro partidos são hegemônicos no processo: PT, PMDB, DEM e PSDB. Essas siglas têm 51 candidatos em primeiro lugar isolados ou empatados nas 61 capitais e cidades grandes e médias pesquisadas.
Em 2004, essas mesmas quatro agremiações já haviam sido vitoriosas. Receberam 60,5% dos votos para prefeito em todo o país.
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
Beuno, mas não é apenas aqui. Veja, abaixo, parte do artigo de Fernando Rodrigues, na Folha.
FERNANDO RODRIGUES
Monotonia eleitoral
BRASÍLIA - A primeira fornada de pesquisas neste início de campanha eleitoral para prefeitos e vereadores mostra uma monótona semelhança com 2004. Agora, como há quatro anos, os partidos mais tradicionais dominam as disputas nas capitais e nos municípios grandes e médios.
Já há pesquisas disponíveis em 61 cidades brasileiras. O eleitorado nessas localidades soma 41,2 milhões, o equivalente a 32% dos que votarão em 5 de outubro.
Quatro partidos são hegemônicos no processo: PT, PMDB, DEM e PSDB. Essas siglas têm 51 candidatos em primeiro lugar isolados ou empatados nas 61 capitais e cidades grandes e médias pesquisadas.
Em 2004, essas mesmas quatro agremiações já haviam sido vitoriosas. Receberam 60,5% dos votos para prefeito em todo o país.
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
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quinta-feira, 31 de julho de 2008
Ainda sobre pesquisas eleitorais
Mais vez, e, sinceramente, esperando não estar abusando da paciência de vocês, reproduzo mais abaixo trechos de um análise feita po César Maia, em seu ex-blog, sobre o significado, neste momento das campanhas para vereadores e prefeitos, dos resultados das pesquisas eleitorais. Essas observações são particularmente importantes para quem acompanha a disputa em cidades como Belo Horizonte (MG) e Natal (RN).
QUANDO E POR QUE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NADA TEM A VER COM AS PESQUISAS DE INÍCIO DAS CAMPANHAS!
1. Os períodos anteriores às campanhas eleitorais vão informando ao eleitor sobre os políticos, suas posições e posturas, sobre os governos, as conjunturas que se sucedem... Especialmente nas pré-campanhas isso ocorre com intensidade. Por isso Paul Lazarsfeld dizia que era como uma foto (daquele tempo): impregnava a imagem no celulóide para ser revelada em campanha. Nos EUA a pré-campanha -as Primárias- é uma verdadeira eleição desde um ano antes das eleições. Nos regimes parlamentares -quase sempre binários- com os chefes de governo -atual e potencial de oposição- conhecidos, todo dia é dia de campanha, pois -teoricamente- os governos podem cair a qualquer momento e as eleições serem chamadas em 45 dias.
2. No Brasil além de nada disso ocorrer, ainda há uma legislação eleitoral que proíbe a pré-campanha e a reprime drasticamente com risco de inelegibilidade. Com isso, o eleitor chega ao processo eleitoral, 90 dias antes das eleições, com baixa informação. As exceções existem quando os candidatos são os que já foram governantes ou são para eleição. Exemplo: 2000 no Rio quando os candidatos eram um ex-governador, a vice-governadora, um ex-prefeito e o prefeito. Ou seja: o eleitor estava informado. Esse ano em SP da mesma forma. Os candidatos são um ex-governador/ex-prefeito, uma ex-prefeita, um ex-governador e o prefeito. O eleitor tem todas as informações sobre os atores políticos.
3. Mas quando isso não ocorre o eleitor entra em campanha muito mais desinformado do que deveria estar. Claro, pela ausência de pré-campanha, mas também porque a cobertura política é basicamente a cobertura dos governos. Sobre esses sim há informações. Os que já foram recentemente candidatos majoritários -a governador, prefeito e senador- têm seus nomes mais lembrados e em pesquisas antes da entrada da TV aparecem mais (o eleitor só entra em campo para valer uns 10 dias depois da TV)."
QUANDO E POR QUE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NADA TEM A VER COM AS PESQUISAS DE INÍCIO DAS CAMPANHAS!
1. Os períodos anteriores às campanhas eleitorais vão informando ao eleitor sobre os políticos, suas posições e posturas, sobre os governos, as conjunturas que se sucedem... Especialmente nas pré-campanhas isso ocorre com intensidade. Por isso Paul Lazarsfeld dizia que era como uma foto (daquele tempo): impregnava a imagem no celulóide para ser revelada em campanha. Nos EUA a pré-campanha -as Primárias- é uma verdadeira eleição desde um ano antes das eleições. Nos regimes parlamentares -quase sempre binários- com os chefes de governo -atual e potencial de oposição- conhecidos, todo dia é dia de campanha, pois -teoricamente- os governos podem cair a qualquer momento e as eleições serem chamadas em 45 dias.
2. No Brasil além de nada disso ocorrer, ainda há uma legislação eleitoral que proíbe a pré-campanha e a reprime drasticamente com risco de inelegibilidade. Com isso, o eleitor chega ao processo eleitoral, 90 dias antes das eleições, com baixa informação. As exceções existem quando os candidatos são os que já foram governantes ou são para eleição. Exemplo: 2000 no Rio quando os candidatos eram um ex-governador, a vice-governadora, um ex-prefeito e o prefeito. Ou seja: o eleitor estava informado. Esse ano em SP da mesma forma. Os candidatos são um ex-governador/ex-prefeito, uma ex-prefeita, um ex-governador e o prefeito. O eleitor tem todas as informações sobre os atores políticos.
3. Mas quando isso não ocorre o eleitor entra em campanha muito mais desinformado do que deveria estar. Claro, pela ausência de pré-campanha, mas também porque a cobertura política é basicamente a cobertura dos governos. Sobre esses sim há informações. Os que já foram recentemente candidatos majoritários -a governador, prefeito e senador- têm seus nomes mais lembrados e em pesquisas antes da entrada da TV aparecem mais (o eleitor só entra em campo para valer uns 10 dias depois da TV)."
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