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segunda-feira, 30 de março de 2009

Começa amanhã a Semana de Antropologia da UFRN

Amanhã, dia 31 de março, tem início a VIII Semana de Antropologia da UFRN. Confira abaixo a programação do evento.

VIII Semana de Antropologia, 31 de março a 03 de abril de 2009. UFRN.
"Corpo, Saúde e Sexualidade".
Informações e inscrições:
Secretaria do Departamento de Antropologia/CCHLA: (084) 3215-3547.
secant@cchla.ufrn.br
Endereço da home page: www.cchla.ufrn.br/semantr.
Horário: 8:00-12:00/14:00-18:00.

Dia 31 de Março de 2009.

Conferência de abertura - Corpo, sexualidade e cultura: o horizonte antropológico:
Prof. Dr. Luiz Fernando Dias Duarte (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ).
Coordenação: Prof. Dr. Carlos Guilherme do Valle (DAN/PPGAS/UFRN)
Local Auditório B, 19:00 h.

Dia 01 de abril,

Mesa Redonda – Corpo, Sexualidade e Biomedicina:
Profa. Dra. Naara Luna (NUTES/UFRJ) – “Fabricação de embriões e acusações de infidelidade na reprodução sem sexo".
Profa. Dra. Jane Russo (IMS/UERJ) – “Medicalização da sexualidade:classificando pessoas e produzindo identidades”.
Coordenação: Prof. Dra. Eliane Tânia Freitas (DAN/PPGAS/UFRN)
Local Auditório B, CCHLA, 9:00 h..


Mesa Redonda – Antropologia e Sociologia da Saúde e da Doença:
Profa. Dra. Esther Jean Langdon (UFSC) – “O desafio da ética na pesquisa antropológica”.
Prof. Dr. Russel Parry Scott (UFPE) – “A construção epidemiológica do risco para mães adolescentes”.
Prof. Dr. Paulo César Alves (UFBA) – “Saúde, medicina e literatura. Uma perspectiva antropológica”.
Coordenação: Prof. Dra. Francisca Miller (DAN/PPGAS/UFRN)
Local Auditório B, CCHLA, 19:00.


Dia 02 de abril,

Sessão Coordenada de pesquisas I – alunos do PPGAS e de pós-graduação.
Coordenação: Gretel Echazú (PPGAS/UFRN) e Elisa Paiva de Almeida (PPGAS/UFRN)
Local: Auditório A, 9:00;

Mesa Redonda – Saúde Indígena.
Prof. Dr. Renato Athias (UFPE) – “Práticas Tradicionais de Cura entre os Pankararu de Pernambuco”.
Prof. Dra. Carla Costa Teixeira (UNB) – “Autonomia em saúde indígena: sobre o que estamos falando?”
Coordenação: Prof. Dr. Edmundo Pereira (DAN/PPGAS/UFRN)
Local Auditório B, CCHLA, 14:30 h.

Dia 03 de abril,

Sessão Coordenada de pesquisas II – alunos do PPGAS e de pós-graduação.
Coordenação: Gretel Echazú (PPGAS/UFRN) e Elisa Paiva de Almeida (PPGAS/UFRN)
Local: Auditório A, 9:00 h.

Exibição de Filme – “O Rebeliado”. Direção, argumento e roteiro de Bertrand Lira. Vídeo documentário, com 70 min de duração, captado em mini-DV, core e p&b.
Coordenação: Profa. Dra. Lisabete Coradini (UFRN) com a presença do Prof. Bertrand Lira (UFPB).
Sinopse: A história de vida de um ex-travesti: de uma infância miserável, marcada pelo trabalho semi-escravo e pela mendicância, à prostituição nas ruas da capital da Paraíba e sua conversão em pastor evangélico. Com a construção do seu próprio templo, ele realiza um trabalho assistencialista na comunidade pobre onde vive, além de se dedicar àquela que considera a sua missão maior: a de converter gays, lésbicas e travestis à heterossexualidade.
Local Auditório B, CCHLA. 17:00.


Mesa Redonda – Homossexualidades.
Prof. Dr. Sérgio Carrara (IMS/UERJ) – “Homossexualidade e violência”.
Prof. Dr. Júlio Simões (USP) – “Uma visão da trajetória do movimento LGBT no Brasil”.
Profa. Dra. Adriana Vianna (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ) – “Homossexualidades e direitos sexuais: enunciados, diferenciações e produção de sujeitos morais”.
Comentário: Prof. Dr. Alípio Souza Filho (CCHLA/UFRN).
Coordenação: Carlos Guilherme do Valle (DAN/PPGAS/UFRN)
Local Auditório B, CCHLA, 19:00.

O ódio homofóbico

Leia abaixo matéria publicada no Estadão sobre o ódio homofóbio.

A máquina do ódio homofóbico não para de moer
Todos os dias, mais de um homossexual masculino é assassinado no País. Travestis são maiores vítimas

Vagner de Almeida* - O Estado de S.Paulo

- Desde que iniciei o trabalho sobre violências estruturais, no início dos anos 80, com o surgimento da aids e o crescente número de vítimas do ódio homofóbico, assassinatos praticados com altíssimo grau de violência contra homossexuais ainda crescem no Brasil. No Parque dos Paturis, em Carapicuíba (SP), um suposto serial killer matou, entre julho de 2007 e o último dia 15, nada menos do que 14 pessoas, a maioria homossexuais. Em 2009, também foram assassinados dois travestis de 20 anos no Altiplano Cabo Branco, em João Pessoa. Em todo o País, de janeiro a junho de 2008 foram registrados mais de 50 homicídios contra essa comunidade, tendo o número duplicado até o início de dezembro. Esses dados referem-se apenas aos casos registrados nas delegacias de polícia, nos laudos dos hospitais e por instituições como o Grupo Gay da Bahia, o qual, com tremenda dificuldade, consegue obter informações precárias. Estatísticas comprovam que, por dia, mais de um homossexual é morto em nosso território.



Muitas das vítimas nem sequer chegam a ser reconhecidas após a morte, pois seus corpos são mutilados, queimados e esquartejados, por vezes retirados com pás pelos bombeiros. Outras entram em coma ou ficam com sequelas como paralisia facial, das pernas ou dos braços para o resto de suas vidas.

Os travestis são as maiores vítimas dessa violência urbana. Estão mais expostos do que qualquer outro homossexual. Quando se ouve um pai dizer ao filho adolescente, remetendo-se a um travesti, "nesse tipo de viado você pode dar porrada", entende-se onde esse ódio contra a comunidade LGBT costuma ser gerado.

Ao trabalhar em uma das regiões mais violentas do Estado do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense, foi possível constatar o descaso das políticas públicas em se tratando de descobrir e averiguar crimes frequentes contra essa população. Num cinturão de miséria, ignorância e racismo, os travestis viram alvos fáceis. Raramente a mídia traz esses crimes hediondos em suas manchetes e, quando o faz, muitas vezes os trata de forma desrespeitosa, como nesta manchete do jornal Hora H, da Baixada Fluminense, de 18/10/2006: "Uma quase mulher executada na Dutra". Ou então nesta, do mesmo jornal: "Trava apedrejada até a morte".

Em março de 2005, quando 30 pessoas sucumbiram à chacina em Queimados e em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, dois jovens travestis foram brutalmente assassinados nesse "pacote" e, ironicamente, tratados pela mídia de forma diferenciada. Escreveu-se: "L.H.S., 23 anos, seria travesti e ficava próximo ao Motel Las Vegas, enquanto A.M.V., 15 anos, também seria travesti". Relatos posteriores contam como outros conseguiram sobreviver naquela noite escapando de balas, mas os jornais não se importaram com suas histórias de vida.

O crime ganhou destaque nos maiores veículos de comunicação do planeta, como o jornal The New York Times e a revista The Economist. O presidente Lula pediu apuração rápida do caso. No entanto, um dos travestis assassinados nem sequer passou pela autópsia, sendo enterrado com placas de sangue pelo corpo, o tronco retorcido e a face ainda suja de terra. O outro, apesar de autopsiado, só teve enterro menos indigno porque ativistas, pessoas simples da comunidade, conseguiram uma cova rasa em um cemitério de um bairro pobre da periferia da cidade do Rio de Janeiro. Tanto o poder público quanto os familiares não reconheceram o corpo do travesti como de um cidadão pleno. Mas ao menos os PMs envolvidos, homens que compõem o poder paralelo, não raro contratados para fazer "limpeza da área", foram mais tarde presos e sentenciados a mais de 500 anos de prisão.

A questão é que, mesmo quando há crimes no atacado, como vem ocorrendo no Parque dos Paturis, a investigação, quando existe, é tardia. E os crimes no varejo, como se disse, passam despercebidos. Não existe apenas um único assassino matando pessoas da comunidade LGBT, mas um exército de intolerantes, que precisam ser punidos com leis severas. Projeto de lei da Câmara nº 122/2006, que criminaliza a homofobia e a iguala ao racismo, tramita pelo Congresso há dois anos. Está à espera de passar pelo corredor do conservadorismo, no qual a comunidade homossexual tem apenas obrigações e nenhum direito.

No filme Borboletas da Vida, concluído em 2004, procurei desvendar a realidade de jovens homossexuais que vivem na periferia tanto em capitais como São Paulo, Recife, Fortaleza, Salvador, Vitória, quanto em cidades menores. São meninos, transformistas, borboletas da vida brasileira que "carregam a mulher na bolsa", expressão usada para poderem se transformar no gênero feminino longe de suas comunidades, pois lá seria impossível saírem na rua trajando roupas femininas. Testam as possibilidades da sexualidade, lutam pelo direito de serem diferentes e exigem, de diversas maneiras, que suas diferenças sejam respeitadas.

Já o documentário Basta um Dia, de 2006, aborda a vida de habitantes da Baixada Fluminense que enfrentam o preconceito, a agressão física e a morte social às margens da Rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre as duas mais ricas metrópoles do País. O filme busca registrar o movimento entre a esperança e o desespero com os quais essas pessoas são obrigadas a organizar suas vidas individuais e coletivas. M., jovem travesti que levou um tiro nas costas após sair do carro de um cliente sem receber pagamento, conta ter passado cinco horas à beira da rodovia até alguém levá-lo para o Hospital da Posse, em Nova Iguaçu.

Finalizando a trilogia, Sexualidade e Crimes de Ódio, de 2008, recém-lançado no Brasil, busca resgatar a história de amigos e conhecidos, vários deles participantes dos filmes anteriores, que foram assassinados em todo o Brasil nos últimos anos e meses, cujos algozes se encontram livres. É o memorial de um quadro social que silenciosamente extirpa milhares de vidas de homens e mulheres homossexuais.

* Dirigiu os filmes Borboletas da Vida, Basta um Dia e Sexualidade e Crimes de Ódio. É assessor de projetos na Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e staff associate na Universidade Colúmbia, EUA

DOMINGO, 15 DE MARÇO
O morto número 14

O homossexual Ivanildo Sales Neto é encontrado morto, com sinais de pauladas, no Parque dos Paturis, em Carapicuíba, São Paulo. Foi o 14º crime ocorrido no local desde 2007 em circunstâncias semelhantes. A polícia cogita tratar-se de um serial killer de gays.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Milk, o preço da liberdade

Não, não, ainda não assiti ao filme. Infelizmente! Tenho a expectativa de fazê-lo o mais breve possível. Enquanto isso, coloco, mais abaixo, um artigo de Contardo Caligaris sobre o mesmo. Confira!

MILK", O PREÇO DA LIBERDADE
Contardo Calligaris


Para continuarmos livres, é preciso defender a liberdade do vizinho como se fosse a nossa


ASSISTINDO a "Milk - A Voz da Igualdade", de Gus Van Sant (extraordinário Sean Penn no papel de Harvey Milk), lembrei-me de um e-mail que recebi em abril de 2008. Era uma circular de www.boxturtlebulletin.com (um site sobre os direitos das minorias sexuais), que "comemorava" os 55 anos de um evento sinistro: em 1953, Dwight Eisenhower, presidente dos EUA, assinou um decreto pelo qual seriam despedidos todos os funcionários federais que fossem culpados de "perversão sexual". Essa lei permaneceu em vigor durante mais de 20 anos: milhares de americanos perderam seus empregos por causa de sua orientação sexual.

Fato frequentemente esquecido (um pouco como foi esquecida, durante décadas, a perseguição dos homossexuais pelo nazismo), nos anos 50, no discurso do senador McCarthy, a caça às bruxas "comunistas" se confundia com a caça às bruxas homossexuais. Por exemplo, uma carta do secretário nacional do Partido Republicano (citada na circular) dizia: "Talvez tão perigosos quanto os comunistas propriamente ditos são os pervertidos escusos que infiltraram nosso governo nos últimos anos". Essa não era uma posição extrema: na época, a revista "Time" defendeu o projeto de despedir todos os homossexuais que trabalhassem para o governo federal.

É nesse clima que, nos anos 70, em San Francisco, Milk se tornou o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público.

Poderia escrever sobre as razões que, quase invariavelmente, levam alguém a querer esmagar a liberdade de seus semelhantes. O segredo (de polichinelo) é que muitos preferem odiar nos outros alguma coisa que eles não querem reconhecer e odiar neles mesmos. E poderia contar a história de Roy Cohn, braço direito de McCarthy, que morreu, em 1984, odiando e escondendo sua homossexualidade e gritando ao mundo que a causa de sua morte não era a Aids (ele foi imortalizado por Al Pacino na peça e no filme "Anjos na América", de Tony Kushner).

Mas, depois de assistir a "Milk", estou a fim de festejar o caminho percorrido em apenas meio século: o mundo é, hoje, um lugar mais habitável do que 50 anos atrás. Aconteceu graças a milhares de Harvey Milks e a milhões de outros que não precisaram ser nem homossexuais nem comunistas nem coisa que valesse: eles apenas descobriram que só é possível proteger a liberdade da gente se entendermos que, para isso, é necessário defender a liberdade de nosso vizinho como se fosse a nossa. Nos anos 70, quase decorei a carta aberta que James Baldwin (escritor, negro e homossexual) endereçou a Angela Davis (jovem filósofa, negra e militante), quando ela estava sendo processada por um assassinato que não cometera, e o risco era grande que o processo acabasse em uma condenação "exemplar". Baldwin lembrava as diferenças de história, engajamento e pensamento entre ele e Davis, para concluir: "Devemos lutar pela tua vida como se fosse a nossa - ela é a nossa, aliás - e obstruir com nossos corpos o corredor que leva à câmara de gás. Porque, se eles te pegarem de manhã, voltarão para nós naquela mesma noite".

Os direitos fundamentais não são direitos de grupo, eles valem para cada indivíduo singularmente, um a um. É óbvio que grupos particulares (constituídos por raça, orientação sexual, ideologia, etnia etc.) podem e devem militar coletivamente pelos direitos de seus membros, mas, em uma sociedade de indivíduos, a liberdade de cada um, por "diferente" que ele seja, é condição da liberdade de todos. Por quê?

Simples: se meu vizinho, sem violar as leis básicas da cidade, for impedido de ter a vida concreta que ele quer, então meu jeito de viver poderá ser tolerado ou até permitido, mas ele não será nunca mais propriamente meu direito. "Milk" é um filme sobre um momento crucial na história das liberdades, mas não é um filme "arqueológico". A gente sai do cinema com a sensação renovada de que a militância libertária ainda é a grande exigência do dia. Ótimo assim.

Um amigo me disse recentemente que eu dou uma importância excessiva à contracultura dos anos 60/70. Acho, de fato, que ela foi a única revolução do século 20 que deu certo e, ao dar certo, melhorou a vida concreta de muitos, se não de todos. Acho também que suas conquistas só se mantêm pelo esforço cotidiano de muitos. Afinal (quem viu o filme entenderá), surge uma Anita Bryant a cada dia.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Parada gay, respeito à diferença e violência

Em Israel, os religiosos ultra-ortodoxos têm tentado, nos últimos anos, impedir a realização de paradas gays no país. Há até um projeto de lei, proposto pelos parlamentares representantes dos partidos religiosos, proibindo a realização das manifestações gays.

Já em Natal, capital do Rio Grande do Norte, no ano passado, a parada gay reuniu cerca de 70 mil pessoas. Quase 10% da população local esteve participando do evento. E tem sido assim em quase todas as edições do evento. Com a exceção de Joacy Pascoal, os políticos locais têm disputado um lugar nos palanques do evento. O prefeito se faz presente. Algumas vezes, a governadora também.

Além da parada Gay, durante o carnaval, Natal realiza o famoso "desfile das Kengas". É mais uma festa gay na cidade. Eu já ia dizendo, e sendo impreciso, como se verá mais adiante, da "comunidade gay da cidade". Travestis são celebrados nessas ocasiões. Os políticos aparecem. O prefeito faz discursos.

O que podemos concluir? Em Natal, há respeito à diferença e existe uma saudável cultura de tolerância. Já em Israel, somos obrigados a concluir, há um obscurantismo religioso. Assim, em Natal, os gays sofrem menos violência, têm apoio para enfrentar situações de restrição à sua cidadania. Em Israel, não. Travestis devem ser molestados nas ruas. E os crimes contra homossexuais devem ser elevados.

Perdoe-me, mas as conclusões acima estão completamente equivocadas. Nos últimos dois anos, a violência contra gays em Natal tem sido crescente. Já chega a uma dezena o número de homicídios contra homossexuais. E, caso se tenha curiosidade, basta conversar com os travestis da cidade, especialmente com aqueles que atuam na Avenida Roberto Freire, para se tomar conhecimento de uma assustadora escalada de violência. Experimentados, os travestis não procuram mais a polícia para denunciar os maus-tratos e o não cumprimento de contratos pelos seus clientes. E em Israel? Lá, um homicídio é um homicídio e é tratado e investigado enquanto tal pela polícia. No país em que são feitas manifestações contra as paradas gays, a idéia de que o assassinato de um gay mereça menos atenção investigativa da polícia seria tomada como uma afronta, um escândalo. No Brasil, aparentemente tão cioso do respeito à diferença, infelizmente, isso é a coisa mais comum do mundo.

O que podemos depreender dessa realidade? Uma primeira e importante constatação é a de que a diferença, no Brasil, é muito mais canibalizada do que realmente aceita, reconhecida. A aparente pluralidade sublima uma perigosa intolerância para com o(a) outro(a). É bom que tenhamos festa, mas, enquanto celebramos a beleza das paradas, podíamos e, cá do meu canto atrevo-me a propor, devíamos fazer algo mais. E esse algo mais, no que diz respeito ao mundo acadêmico, seria apontar dados, fazer levantamentos sobre a violência contra gays e lésbicas em cidades como Natal e construir análises substantivas corroboradas por referentes empíricos razoáveis. Trata-se, por certo, de coisa trabalhosa e desagradável. Especialmente para quem é acostumado a resolver tudo com base na retórica e no recurso aos lugares-comuns pseudo-críticos de sempre.

E aí fico me perguntando: existem acadêmicos nas instituições universitárias de Natal preocupados com a violência contra gays em Natal? O que eles têm produzido a respeito? Existem teses, dissertações e monografias que tomam gays e lésbicas como referentes, reconheço. Mas, diga-me você se connhece, quantos desses trabalhos fizeram levantamentos exaustivos de casos de violência contra gays e lésbicas da cidade? E mais importante: quantos apontaram, a partir de um criterioso levantamento empiríco, os fios condutores que unem os crimes contra os homossexuais? Sem esse "dever de casa", como municiar os atores políticos e sociais com indicações seguras sobre como atuar propositivamente para enfrentar uma violência que diminui a cidadania no Brasil? Ou, ao contrário, alguém pensa que já tem a resposta e esse tipo de pesquisa não é importante?

Me vem à mente o exemplo da academia nos EUA. Conheço não poucos trabalhos, de boa qualidade científica, dedicados a analisar os crimes contra os homossexuais naquele país. Trata-se de uma outra cultura acadêmica, tá certo. Lá, apenas conversa bonita não resolve. Como faz falta essa disposição entre nós!

Voltando à Natal. Certamente existem personalidades que têm empenhado suas vidas na luta pelo direito à diferença. São pessoas combativas, que denunciam a violência homofóbica, e, procuram, com os recursos de que dispõem, enfrentar a intolerância. Mas são eles expressões de uma "comunidade"? Tenho minhas dúvidas. Uma comunidade pressupõe laços fortes e redes sociais extensivas. Em situações de cercamento por um mundo hostil, é uma fortaleza a proteger o indíviduo. Ora, caso tal comunidade realmente existisse em Natal, ela já teria cobrado dos acadêmicos locais algo mais do que belas demonstrações de retórica.

Cá no meu canto, modestamente e sem alarde, tenho tentado construir um banco de dados sobre a violência homofóbica na Grande Natal. Mas é um trabalho dentre outros que desenvolvo. Sem apoios, vagaroso. E a realidade está a exigir respostas rápidas. Seria muito bom saber que existe algum grupo de pesquisa sistematizando dados e processando informações sobre essa realidade. Bom para cidadania. Bom para a pluralidade.

Para concluir, penso que, paradoxalmente, um gay talvez esteja mais seguro em Israel do que em Natal. Mesmo com as paradas sendo aceitas aqui e tão rejeitadas lá.