Em uma aula em curso de pós uma grande universidade brasileira, um professor de antropologia indicou a leitura de CASA GRANDE & SENZALA, de Gilberto Freyre. De bate-pronto, uma aluna disse que discordava da leitura e que o professor deveria retirar o livro da bibliografia da disciplina. A justificativa da aprendiz de Torquemada? "Gilberto Freyre é racista (sic)". O professor reagiu mantendo a indicação de leitura e afirmando que aluna estava sendo preconceituosa. Para quê! O professor agora está sendo alvo de um abaixo-assinado dos alunos para descredencia-lo do programa de pós, pois, o fato comprovaria que o mestre seria autoritário. Autoritário e "violento". Estaria violentando os estudantes ao impor-lhes leituras das quais eles discordam. É mole?
Quando o uso irrefletido das palavras se espraia, tudo parece perder sentido. Nos corredores de nossas universidades, tudo pode virar sinônimo de violência. E os professores, em alguns delírios de revolucionários de playground, seriam algo como a encarnação dos soldados do Czar.
É o tempo das invasões bárbaras. Para sobreviver nesse ambiente, rasteje diante da mediocridade e dê trela a todos os discursos de (ufa!) desconstrução em moda. Do contrário, você não passará de um autoritário. Outra coisa: não indique bibliografia nas disciplinas, pois, você pode indicar algo que se encontra no index dos politicamente corretos.
Temos que ter um manual para sobreviver nesses tempos de invasões bárbaras!
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
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3 comentários:
O professor perdeu uma excelente oportunidade de fazer uma discussão construtiva sobre o assunto em sala. As pessoas ainda não aprenderam a conviver com o exercício crítico que vai se construindo no antes amontoado de silêncio do mundo dominado pelo professor (em sua maioria, claro, há uma parte de professores que dialoga de forma propositiva e formuladora).
É claro que eu discordo do comportamento da aluna, mas tanto quanto o do professor que acusa a menina de "preconceituosa" e pronto. Que tipo de educador é esse também?
Sim vivemos tempos difíceis. Concordo.
As palavras devem ser medidas? of course!!!
Há uns vinte ou trinta anos, o docente podia chamar o aluno de burro e ficava por isso mesmo.
Tive um professor (anos 90) que toda aula fazia bullyng com um colega declaradamente homossexual que aguentou pacientemente o semestre inteiro.
Hoje não é mais assim. O que está em julgamento não é a clássica obra de Gylberto Freire e sim a postura autoritária de um docente.
Estou fazendo uma leitura das poucas palavras que li em seu blog a respeito. É possível que a história seja mais complexa, por isso vou me limitar a esse comentário.
Entendi, professor. Concordo que os tempos são difíceis e vejo que muitas vezes a democracia é utilizada enquanto revestimento para práticas autoritárias. Mas acho também que é desafiador. No julgamento pela esfera pública, movimentos que se expressam dessa maneira perdem a capacidade de aglutinar e de conquistar novos ativistas. Posso estar enganado, mas é o que está acontecendo na universidade, particularmente no setor 2. E acho que no meio dessa polêmica, temos ganhado, no seio da maioria, maior tolerância, exercício do diálogo, compreensão da complexidade do processo político e de ensinamento sobre o valor do outro. Espero não estar sendo otimista demais ao considerar que temos mais a ganhar do que a perder, apesar de eu mesmo concordar com o pessimismo de Saul Bellow, em Dezembro Fatal (minha interpretação): qualquer que seja o modelo para o qual mirarmos, ele tem um defeito de fábrica, o ser humano.
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