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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre Pipa, quilombolas e meio ambiente

Recebi uma mensagem que faço questão de transcrevê-la aqui. Aborda questões importantes e que não podem ficar circunscritas às listas de e-mails. A autora é a Professor Julie Cavignac, do Departamento de Antropologia da UFRN.

Prezados,

Recebi a informaçao do site do Resort "Nova Pipa" a ser implantado na
comunidade quilombola de Sibauma que entrou com processo junto ao INCRA em
2005 e cuja area a ser titulada ainda encontra-se em discussao.

Nova Pipa

Além disso, me parece que o projeto em questao a ser instalado na orla
maritima e na embocadura do RIo Catu fere o Código Florestal (Lei no.
4.771, de 15 de setembro de 1965), artigo 2o, alínea “a”, item 1, que
estabelece como área de preservação permanente as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer
curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, com largura
mínima de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura.

Vejam o parecer conclusivo do relatorio antropologico elaborado em 2006:

"A titulação coletiva da terra foi vista, após haver várias reuniões
públicas, como uma necessidade, em primeiro lugar, para consolidação do
grupo cuja integridade encontra-se hoje ameaçada. Entre as razões
evocadas, precisa ser destacada a importância do território tradicional na
vida cotidiana, pois a coesão social passa necessariamente por um
compartilhamento de um espaço comum, permitindo a inscrição material da
história do grupo e o uso comum da terra; como vimos, o uso coletivo do
espaço natural e cultivado foi, durante o passado, uma estratégia
escolhida para que o grupo se mantivesse no local, a terra aparecendo como
essencial para a subsistência das famílias e a reprodução dos valores
comuns.


Para as famílias quilombolas, a titulação irá assegurar o domínio e a
posse de suas terras tradicionais. Além de suprir as necessidades
econômicas do grupo, a terra tem um valor histórico-cultural inestimável:
o território sustenta os processos que visam o reconhecimento e a
elaboração de uma história diferenciada em nível local. Garante a
continuidade das famílias quilombolas, sua reprodução física, além de
permitir o reconhecimento político e a valorização de um grupo
historicamente marginalizado e que continua ser alvo de preconceitos.
Como já mostramos, a identidade coletiva deve ser levada em conta na
questão fundiária: elementos diferenciais como a identidade étnica, a
ancestralidade comum, as formas de organização social e política
distintas, os elementos lingüísticos e religiosos devem entrar em
consideração na discussão da demanda territorial a ser realizada pelos
quilombolas.


Como mostra a pesquisa histórico-documental e com referências à memória
genealógica, Sibaúma é ocupada de maneira contínua desde, pelo menos, os
meados do século XIX, com contínuos conflitos territoriais. Temos,
também, documentos declaratórios de cadastro de imóvel rural datados de
1978 e 1981, em nome de moradores da comunidade, atestando uma ocupação
agrícola que foi que historicamente interrompida a partir dos anos 1980.
A titulação do território da comunidade quilombola de Sibaúma se adequa
ainda aos objetivos do Programa Brasil quilombola, que visa a melhoria
das condições de vida e ao fortalecimento da organização das comunidades
remanescentes de quilombos por meio da promoção do acesso aos bens e
serviços sociais necessários ao desenvolvimento, considerando os
princípios sócio-culturais dessas comunidades. As políticas públicas a
serem implementadas devem ser voltadas para o desenvolvimento da
comunidade, respeitar a singularidade cultural do grupo e as práticas
sociais tradicionais e comunitárias.
Das razões para titulação:

1. A ocupação ancestral do território pelo grupo foi comprovada
documentalmente e pela pesquisa etnográfica. Apesar de não haver títulos
de propriedades emitidos em nome dos quilombolas, existe um uso contínuo
do território requerido; o que tem como conseqüência a aplicação do
direito constitucional. Até a década de 1980, a população tirou seu
sustento do rio (água potável e pesca), dos terrenos cultiváveis e das
matas nativas. A partir dessa época, os moradores sofreram pressões por
parte do atual proprietário da “Agro Comercial de Bovino ldta.” (Milson
dos Anjos) para sair dos seus lugares tradicionais de moradia e foram
impossibilitados de ocupar certas áreas indispensáveis à reprodução de um
modo de vida tradicional, o que acelerou a desintegração do grupo;

2. Existem registros orais comprovados documentalmente apontando que,
desde a década de 1920, houve uma pressão por parte dos herdeiros de
Miguel Soares Raposo da Câmara (1838-1923) para vender partes do
território ocupado pelas famílias quilombolas. Por outro lado, nos anos
1980, há comprovação do uso de má fé na cessão das terras por parte de
compradores, entre outros, de Walter Soares de Paula;

3. A população local não pode usufruir plenamente dos recursos naturais
necessários para o seu sustento (rio, mar, mata). Há mais de vinte anos, a
comunidade sofre com as conseqüências de um desenvolvimento predatório,
com o desmatamento da maior parte do seu território tradicional (Milson
dos Anjos), de danos irrecuperáveis no mangue e no rio após a construção
de viveiros de Camarão (Francisco de Assis Medeiros) e de uma exploração
imobiliária desenfreada, o que representa um perigo para a integridade do
grupo e sua reprodução. De fato, os quilombolas foram lesados com esses
danos ambientais e por diversos compradores que cercaram os terrenos e o
acesso ao rio. Devem ser indenizados;

4. As terras que foram cedidas por membros da comunidades e que
encontram-se de posse de indivíduos externos à comunidade não atendem à
função social da terra, pois não são produtivas e servem à especulação
imobiliária. Por tanto, recomenda-se a aplicação da legislação em vigor
para o benefício de uma população que encontra-se numa situação de risco
social;

5. São necessárias ações urgentes visando a preservação do meio ambiente
que encontra-se seriamente degradado e a aplicação das diferentes
legislações ambientais, pois parte da comunidade esta situada num parque
estadual, numa APA e em terras da União (mar e rio). Também, recomenda-se
que haja uma aplicação firme das leis ambientais no sentido da melhoria
das condições de vida atuais e futuras das populações locais;

6. São necessárias ações urgentes de preservação de uma história e de uma
cultura diferenciada, sendo do dever do Estado em preservar um patrimônio
histórico nacional (sítios arqueológicos) e, conforme a legislação em
curso, sobretudo àquele pertencendo a remanescentes de quilombolas ;

7. Recomenda-se que o processo em curso deve ser acompanhado por
representantes de órgãos governamentais, no que diz respeito a discussão
da proposta do território a ser identificado bem como elaboração de
projetos coletivos. Também, é necessário que haja um empenho do poder
público na aplicação das decisões judiciais já tomadas;

8. Finalmente, medidas devem ser tomadas para impedir que se continue a
venda de terrenos na área em discussão, para frear a especulação
imobiliária já importante."


"E agora?" Quem pergunta é a professora Julie.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Entrevista na TV

Hoje, prá variar, comecei cedo. O dia nem bem tinha amanhecido e eu estava a postos, na TV Bandeirantes, concedendo uma entrevista para o Jornalista Osair Vasconcelos. O tema: Desigualdade racial e ações afirmativas. Gostei da conversa. E espero que não apenas o pessoal da emissora e eu tenhamos acordado naquele horário e alguma alminha tenha assistido à nossa conversa.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Turismo étnico em alta.

Leia abaixo notícia publicada no Estadão.

Negros americanos impulsionam turismo na BA
Tiago Décimo

Diretor da Tatour, agência de turismo de Salvador especializada na recepção de visitantes americanos, Connor O’Sullivan é uma exceção entre os colegas do mercado de viagens na Bahia. Em plena crise econômica mundial, ele mantém o otimismo e faz planos para a ampliação dos negócios, enquanto o resto do mercado amarga queda no número de clientes.
Segundo o Ministério do Turismo, entre 2007 e 2008, o número de visitantes na Bahia encolheu 7,9%, de 193.867 para 178.571. Os principais países emissores de turistas registraram queda. O único mercado a apresentar crescimento expressivo entre os principais emissores de turistas para a Bahia foi o americano: aumento de 333% entre 2007 e 2008, de 3.478 visitantes para 15.085. Entre 2002 e 2006, os Estados Unidos haviam mandado, em média, 2.600 turistas à Bahia. Os EUA saltaram da 10ª posição no ranking de turistas para a 5ª.


A principal ação para incentivar a chegada de visitantes americanos foi a institucionalização de um patrimônio cultural da Bahia: as tradições africanas mantidas pelos descendentes de escravos - legado que os negros americanos passaram a explorar mundo afora, em especial na última década. Na Bahia foi criado, no fim de 2007, departamento específico para desenvolver esse nicho na Empresa de Turismo da Bahia S.A. (Bahiatursa), o de Turismo Étnico-Afro.
O maior impulso para a divulgação foi a viagem da então secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, a Salvador, em março do ano passado. Ela havia manifestado o desejo de conhecer a cidade quando foi visitada pelo governador baiano, Jaques Wagner, em Washington, meses antes. Disse ter curiosidade de estar na que chamou de “maior cidade africana fora da África”.


O impacto da divulgação se refletiu já na edição seguinte da centenária Festa da Irmandade da Boa Morte, celebrada em agosto, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano. No ano passado, 250 negros americanos acompanharam a festa, promovida por descendentes de escravos. Este ano, são esperados 500 americanos no evento.

O?Sullivan prepara-se para receber os conterrâneos com um roteiro que inclui, além da participação na festa, passeios a bairros como Pelourinho e Liberdade e visitas a igrejas, terreiros de candomblé, além de aulas de música e percussão.

Segundo o secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, apenas para ações promocionais do governo nos EUA foi aplicado R$ 1 milhão nos últimos dois anos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O ingresso dos negros na UFRN

Como se já não estivesse com muitas coisas prá fazer, movido pelo resultado de uma pesquisa que concluí recentemente sobre a inserção da população negra no SUS do Rio Grande do Norte, fui dar uma conferida nas estatísticas que a COMPERVE (a gerenciadora do vestibular na UFRN) coloca à disposição de qualquer um (basta visitar o site e solicitar os dados que você quiser - claro que você tem que estar disposto a mastigá-los...)... Bom. Um dado me chamou particular atenção: o número de candidatos que se declaram negros e quantos desses candidatos são aprovados no vestibular. Adianto para vocês (vou colocar o estudo completo aqui, espero, dentro em breve) que o resultado é, no mínimo, preocupante. Especialmente quando você olha o conjunto. Ou faz uma comparação com o desempenho dos brancos. É como se a Universidade ainda continuasse vedada aos afro-descendentes. Vou voltar a esse assunto. Prometo!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A instigante e questionadora arte de Kara Walker


Ela foi apontada pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo, em 2008. Nascida em 1969, a artista plática Kara Walker se notabilizou pela produção de obras que tematizam a violência contra os negros e as mulheres. Veja mais abaixo alguns dos seus quadros!






quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Afro-americado, acusado sem provas, está para ser executado nos EUA

Troy Davis, um afro-americano de 42 anos, está para ser executado nesses dias no estado da Geórgia, nos EUA. Pesa contra ele a acusação de ter assassinado, em 1989, um policial branco na cidade de Savanah. Ele nega veementemente a autoria do crime. Foi condenado em um tribunal no qual provas materiais não foram apresentadas. A condenação foi baseada nos depoimentos de testemunhas que, disseram depois, foram coagidas pela polícia local. Há, nesse momento, uma intensa campanha nos EUA pela suspensão dessa execução. Postei , aí abaixo, um vídeo com a campanha em defesa de Troy Davis. Assista-o e reflita sobre o significado da pena de morte.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sobre cotas e bolsas para negros

Matéria publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo coloca elementos para uma reflexão sobre a defesa de cotas nas universidades.


Cota não altera nº de negros na universidade
Participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos alunos para 38,2%

Número de estudantes negros nas universidades particulares passou de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007; Prouni dá bolsas desde 2005

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As políticas de ações afirmativas adotadas até agora por universidades públicas e pelo governo federal, por meio do Prouni, tiveram pouco impacto sobre a participação dos pretos e pardos no ensino superior.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostram que, de 2002, quando as universidades começaram a instituir programas de cotas, a 2007, a participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos estudantes de graduação do setor para 38,2%. De 2001 a 2002, a variação foi de 2,8 pontos percentuais.
Pretos e pardos são nomenclaturas usadas pelo IBGE para a classificação de raça/cor, a partir da autodeclaração dos entrevistados.
Na rede particular, a presença do grupo passa de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007. A principal ação afirmativa no setor é o Prouni, que desde 2005 concede bolsas a estudantes carentes de escola pública na proporção igual à de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
(...)
No Prouni, os 197 mil pretos e pardos que entraram pelo programa desde sua criação correspondem a 45% dos bolsistas. Considerando os que entraram em 2006, porém, o ingresso representou apenas 1% do total de matrículas no ensino superior.
O impacto de cotas em universidades públicas também é restrito considerando-se que três quartos dos estudantes estão em instituições privadas.
Desde 2002, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33 universidades públicas, de ao menos 250, passaram a adotar algum tipo de cota racial.
O projeto de lei que o governo quer aprovar no Congresso prevê que 50% das vagas nas federais sejam reservadas a alunos de escolas públicas, e que esse percentual seja dividido de acordo com a proporção de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
Mesmo se aprovada, porém, a lei terá reflexo pequeno sobre o quadro geral, embora de fato aumentem a presença de pretos e pardos nas instituições federais em que as cotas forem instituídas.
(...)
Caso as vagas para pretos e pardos correspondessem à sua representação na população brasileira -ou seja, 49,8%-, haveria uma reserva correspondente a 3,1% das matrículas no ensino superior.
"Há todo um engodo em torno desse assunto [lei que cria cotas]", diz José Luiz Petrucelli, pesquisador do IBGE, favorável às cotas. "Mesmo se essa lei tivesse sido aprovada e estivesse sendo cumprida, ela não tem um efeito prático muito importante. Tem um efeito simbólico muito importante, por isso tanta polêmica."
(...)
Segundo frei David, da ONG Educafro, essa reivindicação é planejada para daqui a cerca de três anos, já que, na atual lista de prioridades, vêm antes a aprovação do projeto de lei pelo Senado, a criação de bolsas para os alunos cotistas conseguirem se manter nos cursos e o monitoramento do desempenho acadêmico deles, para, segundo afirma, divulgar os benefícios da política para a população como um todo. A idéia não deve encontrar apoio no Ministério da Educação.

Crescimento
Mesmo com baixo impacto de ações afirmativas, a presença dos pretos e pardos no ensino superior, contando tanto o público como o particular, tem uma trajetória crescente na última década. Em 1998, pretos e pardos eram 18% dos estudantes de graduação. Em 2007, o número já era de 31,5%.
(...)
Isso aconteceu no ensino médio. A participação dos pretos e pardos nessa etapa passou de 42% para 50,5%, aumentando o número de pessoas aptas a cursar o ensino superior.
A qualidade da educação é um fator apontado para melhorar o acesso à universidade pela população mais pobre -e, conseqüentemente, de mais pretos e pardos, geralmente associados a essa faixa econômica.

(...)
ASSINANTE DA FOLHA OU DO UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Deu no Blog do Frederico Vasconcelos: Juiza negra no TRT de Santa Catarina



O blog do Frederico Vasconcelos é um bom lugar para você obter informações sobre os acontecimentos relacionados ao judiciário. É dele que colho a boa notícia abaixo transcrita. Para acessar diretamente o blog, clique aqui.

TRT de Santa Catarina tem primeira juíza negra


O Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina informa que tomará posse, nesta quarta-feira (17/12), a primeira juíza negra do TRT: Maria Aparecida Caitano.

A juíza togada vai ocupar a vaga deixada pela morte do juiz Marcus Pina Mugnaini, em setembro, quando ele ainda ocupava a Presidência do TRT-SC.

Segundo a assessoria de imprensa do TRT-SC, a data da posse foi escolhida pela própria magistrada para coincidir com o aniversário do juiz Marcus, que completaria 60 anos na quarta-feira. A indicação, pelo critério de antigüidade, foi feita pelos juízes do Pleno em 20 de outubro. Na ocasião, Maria Aparecida declarou sentir muito "orgulho por ser a primeira juíza negra a fazer parte do Pleno do TRT", que é composto por 18 juízes.

Currículo

Paranaense de Cambará, graduou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1970. Orientada pelo jurista Sérgio Pinto Martins, concluiu mestrado em Direito do Trabalho pela mesma universidade em 2002, com a dissertação "Direito do Trabalho x Direito ao Trabalho: Crise de Desemprego".

Ingressou na magistratura em 1987 no TRT do Pará e posteriormente, mediante novo concurso, passou a judicar em Santa Catarina em novembro do mesmo ano. Antes de ingressar na magistratura exerceu o magistério de 1º Grau, a advogacia e, por fim, a função de Oficial de Justiça na 9ª VT de São Paulo. No TRT-SC, atua como juíza convocada há 16 anos. Desde 1993, vinha exercendo a titularidade da 3ª VT de Florianópolis.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Negros cubanos estão entusiasmados com Obama



A Obamania varre a Ilha. Leia abaixo reportagem publicada hoje no jornal espanhol El País. A matéria faz um retrato não muito animador da situação dos negros em Cuba. Vale a pena conferir!


El 'efecto Obama' sacude la isla

La victoria del demócrata Barack Obama en Estados Unidos ha tenido considerable repercusión en Cuba, y no sólo por razones políticas. Que el presidente electo norteamericano sea negro y descendiente directo de un emigrante keniano ha tocado la sensibilidad de muchos cubanos que desde hace años vienen denunciando que el racismo es todavía un problema grave en su país, aunque no se refleje en los medios oficiales.

Medio siglo después del triunfo de la revolución, que convirtió en bandera de la lucha contra la discriminación racial, los negros en Cuba siguen ocupando los peores trabajos, viviendo en las peores casas y llenando las cárceles, según diversos estudios.

El poeta y ensayista cubano Víctor Fowler escribía a los pocos días del triunfo de Obama: "Todavía siento un susto en pleno pecho. Lo que se empoza en mis ojos son lágrimas de orgullo y de un profundo alivio. Oigo a Barack Obama. (...) Miro mi piel, miro las de mis hijos, lloro y sonrío".

Las palabras de Fowler, de 48 años y ganador de varios premios literarios en su país, resumen el sentimiento de buena parte de la población negra y mestiza de Cuba, y probablemente de todo el mundo. La elección de Obama ha servido de revulsivo antirracista en todas partes, también en la isla.

"Nada va a cambiar, es sólo un símbolo. Pero saca a la luz un problema que en este país sigue siendo un gran tabú, pues supuestamente la discriminación acabó con la revolución", dice Ana, una profesional negra que asegura tener amigos que han sido rechazados en trabajos de responsabilidad en el sector turístico "por el color de su piel". "Por supuesto, sin que nadie lo admita", dice.

La denuncia es dura, pero no tan difícil de demostrar. Las estadísticas oficiales confirman que entre los dirigentes, profesionales y técnicos del sector turístico las proporciones de negros y mestizos no superan el 5%. Y lo mismo sucede en otros sectores emergentes de la economía, en los que hay mayores posibilidades de conseguir dólares y pocos directivos de piel oscura.

En el año 2006, los investigadores Rodrigo Espina y Pablo Rodríguez Ruiz, del Centro de Antropología, publicaron en la revista Temas uno de los pocos trabajos científicos conocidos sobre el asunto del racismo en la Cuba actual. Arrojaron datos reveladores: en el turismo, los negros se ubican principalmente en puestos de trabajo no relacionados directamente con el turista, hacia el interior de las instalaciones, y reciben 1,6 veces menos propinas que los blancos; la población negra y mestiza ocupa las peores viviendas, y trabajan fundamentalmente como obreros; y las remesas de dinero que envían familiares del extranjero llegan 2,5 veces más a blancos que a negros.

Según el más reciente censo de población, realizado en 2002, de los 11,2 millones de cubanos, 65% son blancos, 10% negros y 25% mestizos. Muchos investigadores cuestionan la confiabilidad de estos datos -obtenidos mediante la simple declaración de los encuestados- y colocan muy por encima la proporción de la población de raza negra y mestiza: la elevan al 50% del total. "Aquí casi todo el mundo tiene la sangre mezclada, pero el que sólo tiene una pintica se declara blanco", asegura la antropóloga Natalia Bolivar.

En el Parlamento cubano, cerca del 65% de los diputados son blancos, el 19% negros y el 16% mestizos. En el Consejo de Estado, máxima instancia del Gobierno, 11 de sus 31 miembros son negros y mestizos, mientras que en el Buró Político del Partido Comunista la proporción es 5 de 24.

Según Bolívar, "en Cuba no existe racismo institucional, pero no es fácil borrar 300 años de historia". Cuba fue la última colonia en abolir la esclavitud, en 1886, hay que recordarlo. Esteban Morales, investigador del Centro de Estudios de Estados Unidos, publicó este año Desafíos de la problemática racial en Cuba, un libro en el que plantea que si bien desde las instituciones del Gobierno se ha luchado activamente contra el racismo, todavía sobrevive "la discriminación, apoyándose en los estereotipos negativos sobre los negros y las formas de supervivencia de estos prejuicios".

En Cuba, cuando un negro destaca en su trabajo o es elegante, se bromea: "Parece blanco". Y las profesiones que la sociedad parece reservar a negros y mulatos son las de músicos, deportistas y policías, aunque hay decenas de miles de médicos y profesionales de raza negra. En la televisión prácticamente no aparecen presentadores negros, y los papeles que realizan los actores negros o mulatos en las telenovelas casi nunca son protagónicos.

"La limitada presencia de cuadros de dirección, negros sobre todo, y mestizos, en las estructuras de dirección del Estado y de las empresas, en particular dentro de las corporaciones y el turismo, es preocupante", asegura Morales en su libro. A juicio de este autor, la crisis económica de la década de 1990, tras el derrumbe de la Unión Soviética, fue un golpe demoledor que perjudicó a los sectores más desfavorecidos, sobre todo a los negros, e hizo rebrotar la discriminación.

Ello puso en evidencia que los que "idealistamente" creían resuelto el problema del racismo en Cuba estaban equivocados. Morales y otros investigadores, como Fernando Martínez Heredia, señalan que durante demasiado tiempo el tema se ha eludido precisamente por considerar que las heridas raciales podían suponer una "debilidad" y un "riesgo" de división para la revolución.

Ahora se trata de que el problema del racismo se discuta abiertamente, a la luz pública y sin edulcorantes, pues es muy serio. El Partido Comunista creó a principios de este año una comisión -que preside Heredia- para rescatar la memoria histórica de los que siempre, hasta hoy, han llevado la peor parte. Pero aún falta mucho camino por andar.

domingo, 9 de novembro de 2008

Artigo de Peter Burke sobre a eleição de Barak Obama

Peter Burke dispensa apresentações. Um dos mais importantes historiadores da atualidade, escreve regularmente para o caderno MAIS, do jornal Folha de São Paulo. Seus textos, bem escritos e leves, são sempre instigantes e provocativos, sem que, para tanto, precise escorregar para agressões baratas e xingamentos, como está se tornando lugar-comum no Brasil. Reproduzo abaixo trechos de seu artigo de hoje. Trata, ninguém pode escapar do tema, da eleição de Barak Obama para presidente dos EUA.


MESTIÇO BELEZA

Na noite em que Barack Obama foi eleito, eu estava numa festa no Harlem [em Nova York]. A festa era mista sob um aspecto -os convidados eram de todas as cores-, mas uniforme sob outro: éramos todos partidários de Obama.
Quando os resultados foram anunciados, a reação de nosso anfitrião, um americano branco, de meia-idade, do Tennessee, foi: "Recebi meu país de volta!". Pela primeira vez em oito anos ele pôde sentir orgulho de ser americano. Foi libertado do peso de uma vergonha, e, nesse sentido, seu imaginário cultural, e o de pessoas como ele, foi transformado.

Por outro lado, a visão de mundo ou o imaginário cultural de americanos de pequenas cidades do interior, de cujos contingentes são recrutados muitos dos partidários de John McCain e Sarah Palin [republicanos], deve ter recebido um golpe duro com sua derrota, obrigando essas pessoas a tomar consciência do fato de que a maioria dos americanos -embora essa maioria seja relativamente pequena- não compartilha suas opiniões.

(...)

Vinte anos atrás, quando o pastor Jesse Jackson tentou pela segunda vez obter a indicação a candidato presidencial pelo Partido Democrata, algumas pessoas comentaram que "o país ainda não estava preparado" para um candidato afro-americano.
Agora, ficou claro que está. Numa cultura em que as pessoas admiram os "vencedores" e desprezam os "perdedores", a vitória de Obama tem conseqüências culturais ainda maiores do que poderia ter em outros lugares -embora a imagem vista na TV americana de quenianos comemorando a eleição de um "deles" foi um lembrete vívido do impacto global deste acontecimento.
Mesmo assim, para um observador de fora, seja ele inglês ou brasileiro, pode muito bem parecer que a eleição de Obama não teve -ou ainda não teve- as conseqüências culturais que se poderiam prever.

Desse ponto de vista, o fato significativo é que Obama não é "negro", como os norte-americano o descrevem, mas mulato. Ele tem familiares brancos, além de negros.

(...)
A posição de Obama de chefe de Estado também contesta a percepção tradicional dos EUA como sendo divididos em duas partes, uma branca e uma negra. Se sua eleição puder ajudar a dissolver essa percepção, será a maior transformação de todas no imaginário cultural dos norte-americanos.


PETER BURKE é historiador inglês, autor de "O Que É História Cultural?" (ed. Zahar). Escreve na seção "Autores", do Mais! .
Tradução de Clara Allain.

ASSINANTE UOL LÊ O TEXTO COMPLETO AQUI.