Mostrando postagens com marcador Mercado financeiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mercado financeiro. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Grécia...

A Grécia é o saco de pancadas dos tais analistas de mercado.

Vítima do apartheid europeu
Autor(es): Victor Martins
Correio Braziliense - 06/10/2011



Deputada grega diz que seu país, principal alvo da crise global, sofre preconceito econômico dos maiores integrantes da Zona do Euro

Enquanto a Grécia vivia, ontem, mais um dia de caos e a população enfrentava a polícia nas ruas devido à crise da dívida nacional e das limitações dos direitos trabalhistas e sociais, a deputada grega Sofia Sakorafa discursava na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília. A parlamentar denunciou o que classificou de "apartheid econômico" entre os países centrais e os periféricos da Europa. Em um evento que reuniu entidades e economistas da América Latina, ela defendeu uma auditoria da dívida pública de seu país e aconselhou que, do lado de cá do Atlântico, também seja feito o mesmo, a fim de evitar surpresas desagradáveis.

Sofia foi convidada de um seminário internacional que tinha como objetivo debater formas de combater ou amenizar a crise financeira. A deputada afirmou que os problemas vividos na Grécia não foram causados apenas pelos gregos. Ela culpou também o sistema político e econômico da Zona do Euro. Preguiça"Precisamos mudar a forma como o mundo tem visto os gregos nesta crise. Não somos preguiçosos, somos trabalhadores", afirmou. "Esta crise não é oriunda apenas do sistema financeiro. Também tem como causa a corrupção", disse.

Os participantes do evento fizeram coro à deputada e defenderam a criação de comitês de auditoria para a dívida pública dos países. Marcelo Carcanholo, professor de economia da Universidade Federal Fluminense, destacou que o Brasil tem todas as condições de enfrentar a crise e que, com as ferramentas certas, qualquer país pode superar os problemas atuais. "Por mais limitada que as políticas monetária e econômica sejam, sempre é possível fazer algo frente às crises. Se não dá para dissipá-las, dá para protelar ao máximo seus efeitos. No Brasil, nós nos gabamos de não termos mais dívida externa e esquecemos de olhar para a interna, que tem crescido expressivamente", alertou.

sábado, 16 de maio de 2009

Para entender a crise

Para você se divertir um pouco, e, de quebra, refletir um pouco sobre alguns lugares-comuns da produção discursiva comum sobre os mercados finaneiros, postei um engraçado vídeo aí abaixo. Confira!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Artigo de Mercadante

Transcrevo abaixo artigo de autoria do Senador Mercadante (PT-SP), publicado hoje no jornal O Estado de São Paulo. Vale a pena conferir!

Wall Qaeda

Aloizio Mercadante*


No dia 11 de setembro de 2001, um bando de dementes fundamentalistas derrubou as torres gêmeas de Nova York, centro econômico e financeiro mundial, matando covardemente milhares de pessoas. A poucas centenas de metros dali, Wall Street tremeu duas vezes. A primeira vez, literalmente, a segunda, metaforicamente. Com efeito, houve um princípio de pânico financeiro que obrigou o Federal Reserve (Fed) a injetar US$ 300 bilhões no sistema bancário em apenas três dias para prover a liquidez necessária. Quando a bolsa reabriu, em 17 de setembro, o Índice Dow Jones desceu 7,1%, durante a sessão de abertura, e 14,3% ao longo da semana. O dólar caiu e os preços o ouro e do petróleo subiram rapidamente.

Esses efeitos, contudo, foram de curto prazo. Em fins de outubro a situação já tinha voltado ao normal. As medidas fiscais e monetárias funcionaram e no quarto trimestre de 2001 a economia norte-americana apresentou um aumento de 2,7%, iniciando um ciclo de crescimento que só se interrompeu de fato neste ano. Do ponto de vista econômico e financeiro, Osama bin Laden tinha fracassado.

Mas havia bombas muito mais poderosas que as de Bin Laden que vinham sendo armadas contra a economia norte-americana. Dois anos antes, em 1999, a maioria republicana no Congresso dos EUA havia praticamente imposto ao presidente Bill Clinton a revogação da Lei Glass-Steagall. Implementada em 1933, com o intuito de separar bancos comerciais de bancos de investimentos e regular o sistema financeiro no pós-crash de 1929, essa lei vinha sendo questionada desde meados da década de 80 pelos interesses de financistas e investidores ávidos em participar mais intensamente da crescente financeirização da economia mundial. A revogação dessa lei e várias outras medidas de desregulamentação financeira facilitaram aos bancos dos EUA alavancar extraordinariamente o mercado de crédito. Essa alavancagem, associada ao crescimento especulativo do mercado imobiliário e dos preços dos imóveis, ensejou forte emissão de títulos lastreados em hipotecas. Como conseqüência, houve uma explosão da expansão de ativos bancários lastreados em títulos financeiros, por sua vez lastreados em hipotecas. Tal florescente e sofisticado mercado de derivativos cresceu muito além do necessário para sustentar empréstimos de hipotecas, constituindo-se em fonte especulativa de ganhos de curto prazo. Durante algum tempo essa autêntica e gigantesca pirâmide financeira invertida, construída sob as barbas do Fed, permitiu aos bancos dos EUA, bem como a outros bancos do mundo inteiro, operar com garantias descoladas do seu capital, burlando as exigências das Convenções de Basiléia.

Ao final do processo, esse descomunal mercado de derivativos já concentrava 75% da liquidez mundial e equivalia a oito PIBs mundiais. Bin Laden, gênio financeiro fosse, não poderia ter concebido plano mais pérfido e insidioso para pôr os EUA e o mundo de joelhos. Quando os preços dos imóveis começaram a cair e as taxas de juros, a aumentar, ao final de 2006, o frágil castelo de cartas dessa nova arquitetura financeira principiou a desmoronar. Em poucos meses, cerca de 10 milhões imóveis passaram a valer menos do que suas hipotecas e a inadimplência disparou. A bomba financeira explodiu com toda a sua fúria destrutiva, em 2008. O resto já é história. Triste história que ameaça repetir a crise de 1929. Os EUA e o mundo mergulham numa recessão cujas intensidade e duração ninguém ainda consegue prever.

Onde o fundamentalismo demente da Al-Qaeda fracassou, a exuberância irracional da "Wall Qaeda" teve êxito retumbante. É preciso considerar, todavia, que essa exuberância irracional e a desregulamentação do mercado financeiro foram fortemente estimuladas por políticas equivocadas do governo dos EUA, pela omissão irresponsável do Fed e, acima de tudo, por um padrão de desenvolvimento da economia norte-americana que é absolutamente insustentável. Os EUA, que "desterritorializaram" boa parte da sua produção industrial, absorvem 60% dos fluxos mundiais de capital e 80% da poupança planetária, financiando, dessa forma, os seus gigantescos déficits gêmeos e um consumo doméstico incompatível com seu PIB. De fato, o consumidor norte-americano deve 140% da sua renda anual disponível. Esse padrão de acumulação baseado num forte endividamento e na importação crescente de capitais financeiros, particularmente da China, tem limites estruturais que a crise tornou amargamente óbvios.

Assim, o presidente eleito Barack Obama terá pela frente a dupla e hercúlea tarefa de retirar os EUA da recessão e, ao mesmo tempo, implantar os fundamentos de um novo e mais racional padrão de financiamento da economia norte-americana. É provável que esse processo implique mudanças geoeconômicas significativas e que a economia dos EUA se torne um pouco menor, em relação a algumas economias emergentes, como a chinesa, a indiana e a brasileira. Mas é algo que terá de ser feito, sob pena de as crises se repetirem num ritmo célere.

John K. Galbraith, canadense e civilizado, afirmou, na sua obra Uma Breve História da Euforia Financeira, que a euforia especulativa que antecede a crise ocorre, entre outros fatores, porque a memória financeira é notavelmente curta e há o "direito adquirido ao erro" por parte dos investidores, que ganham muito nas fases do pico especulativo. Controlar esse bárbaro capitalismo bipolar não é fácil, especialmente nos EUA de hoje, que têm ojeriza à regulação estatal e vivem de financiamentos especulativos. Obama, contudo, tem a seu favor um bom capital político e a grande memória de Franklin Delano Roosevelt.

É um começo promissor.


* Aloizio Mercadante, economista, professor licenciado da
PUC-SP e da Unicamp, é senador da República (PT-SP)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Elmar Alvater e a crise



Elmar Alvater é um dos mais importantes pensadores contemporâneos. É díficil defini-lo do ponto de vista disciplinar. Economista? Sociólgo? Cientista Político? Bom, você escolhe. O importante é que ele tem produzido análises, digamos sociológicas, instigantes e provocadoras sobre a vida econômica. Leia aqui uma crítica feita por José Eli da Veiga a um de seus livros.

Bom, mas o que eu queria mesmo era chamar a atenção para uma matéria, publicada no Estadão, com um posicionamento dele a respeito da atual crise dos mercados.

"O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a climática"
Para economista alemão, futuro do capitalismo está relacionado com combate ao aquecimento global

Márcia Vieira, RIO


Há 15 dias, a Agência Americana de Oceanos e Atmosfera soou o alarme: a temperatura no Ártico está 5°C acima da média, um recorde que demonstra uma forte diminuição do banco de gelo, provocada pelo aquecimento global. O fenômeno, divulgado em meio a crise econômica americana, preocupa o economista e cientista político alemão Elmar Altvater, de 70 anos. "Nenhum cientista imaginou aumento da temperatura nesse patamar. E todo mundo só fala da crise financeira", lamenta. Segundo ele, "o fenômeno é tão terrível quanto a questão econômica e ninguém está dando atenção", completa. Altvater está no Rio até amanhã para uma série de palestras.

Não que a crise não seja preocupante. Mas o professor de ciência política da Universidade Livre de Berlim e autor do livro O fim do capitalismo como nós o conhecemos, lançado em 2006, ainda sem edição no Brasil, defende que os governos e a sociedade tenham a mesma atenção com a crise climática. Altvater prega uma mudança radical na produção econômica e no estilo de vida moderno para reverter o aquecimento global. "Não há dúvida que precisamos nos adaptar rápido a um novo tipo de vida. O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a crise climática. As duas estão interligadas", defende Altvater, um estudioso das relações entre economia e ecologia.

Ele defende um sistema de produção baseado no uso progressivo de energias alternativas, não poluentes, como a solar. "O que vai acontecer com o capitalismo depois desta crise ninguém sabe. Mas a única saída para a humanidade é o uso de energias renováveis." O etanol é uma das possibilidades. Altvater compartilha a opinião de uma corrente de ambientalistas que ataca o uso do etanol porque as plantações de cana-de-açúcar, beterraba, milho e trigo roubam espaço da produção de alimentos.

"Se continuarmos com estilo de vida com base no carro, se nossa arquitetura não se adaptar ao clima de cada região e se não reduzirmos o uso de energia, nosso futuro não será bom. São mudanças que se fazem ao longo de 30 anos. Mas só depende de nós. Nós somos os arquitetos do nosso futuro."

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre certeza na era das incertezas

Pesco, na praia do UOL, artigo de Sérgio Malbergier sobre certezas e incertezas diante da crise.

Na era das incertezas, cuidado com as certezas
Por Sérgio Malbergier

A única certeza nessa crise é a incerteza. E a velocidade. E a velocidade estimula respostas rápidas das autoridades. E aí uma marola pode virar um tsunami.

O secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, por exemplo, deixou o banco de investimentos Lehman Brothers quebrar, gerando um big bang que abateu de conglomerados russos a bancos suíços, com escalas no balanço da Sadia e sabe-se lá onde mais.

As conexões globais nunca tão intensas e desreguladas disseminam perdas e dúvidas. Ninguém sabe o que está acontecendo nem o que vai acontecer. Com o câmbio. Com o crédito. Com o consumidor. Com o que sobrar do mercado.

Infelizmente, quem mais acertou até aqui foram os pessimistas, especialmente o economista iraniano-turco-israelense-americano Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York e dono da consultoria RGE Monitor.

Em entrevista a Denyse Godoy, publicada no caderno Dinheiro de 7 de Setembro, o profeta do apocalipse falou: "Acho que a previsão de que o Brasil crescerá entre 3% e 3,5% [em 2009] é muito otimista, eu acredito em 2%".

Naquela época, nosso ministro do Otimismo, Guido Mantega, falava de PIBão de até 4,5% no ano que vem.
Vamos torcer para que Mantega, no comando da Fazenda, saiba mais do que Roubini de Nova York. O governo precisará dessa expansão porque está pendurando o país em mais gastos num momento em que a arrecadação deve cair e a necessidade de investimentos, aumentar.

Só um dos pacotes lulistas de aumento salarial ao funcionalismo eleva em estimados R$ 7,6 bilhões as despesas com pessoal neste ano e em R$ 10,7 bilhões em 2009. Já o socorro urgente do governo ao essencial setor da construção civil ainda não chega a R$ 4 bilhões.

Pode faltar ao governo dinheiro para investir ou para manter seu relativo equilíbrio fiscal. Ou ambos. Perdemos valiosos anos na lentidão institucional, para dizer o mínimo, de Brasília. O crédito até recentemente farto que poderia ter ajudado a financiar as imprescindíveis obras de infra-estrutura do PAC sumiu.

Numa era financeira e ideologicamente maluca, quando EUA e Reino Unido lideram intervenções estatais pesadas na economia, é preciso muito mais cuidado e critério com o gasto público. Ele pode ser o único gasto na cidade, e deve atender primeiro às emergências. Não parece ser o caso hoje dos crescentes gastos do governo com pessoal.

Depois de anos de domínio conservador na economia brasileira, justamente seus melhores anos, nossos keynesianos de carteirinha surfam na onda intervencionista importada do Norte. Suas renovadas certezas podem gerar problemas ainda maiores no meio desse furacão de dúvidas.

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
Acesse diretamente o artigo e leia outras colunas do jornalista aqui.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mais um artigo de Washington Novaes

Sempre que possível, coloco aqui os artigos de autoria de Washington Novaes. Trata-se de um dos poucos jornalistas que escreve na grande imprensa e consegue emitir uma opinião própria. Se fosse somente isso, já merecia ser lido. Mas tem mais: é crítico, analítico e não faz jogo de cena com a platéia. Bom, tudo isso é para te convidar à leitura do artigo dele publicado hoje no Estadão. Está aí embaixo. Caso queira ir direto, faço questão de fornecer o link do Estadão, esse jornal que facilita a vida dos internautas permitindo livre acesso ao seu conteúdo.

A crise do dinheiro no mundo da mandioca

Washington Novaes

Por menos que o mercado financeiro o deseje, a cada dia a crise nos mercados mundiais traz à luz mais discussões sobre o descompasso entre o terreno das finanças, a realidade concreta e os limites do planeta; entre os valores em jogo nesse mercado (fala-se em mais de US$ 500 trilhões) e o valor da produção efetiva (o produto bruto mundial é calculado em cerca de US$ 60 trilhões por ano); entre os formatos de calcular esse produto e as realidades que eles ignoram; entre as possibilidades reais em termos de recursos e serviços naturais e o consumo insustentável, já além desses limites concretos.

Algumas manifestações nas últimas semanas puseram ainda mais em evidência o tema. A começar pela prestigiada revista britânica New Scientist, que dedicou sua capa a uma discussão entre cientistas e estudiosos do "desenvolvimento sustentável". Ela conclui pela afirmação de que "a ciência nos diz que se for para levarmos a sério a tentativa de salvar o planeta temos de remodelar nossa economia", já que esta, hoje, busca o "crescimento infinito", enquanto os recursos naturais são finitos. Uma das opiniões citadas é do respeitado economista Hernan Daly, da Universidade de Maryland e ex-Banco Mundial, segundo quem "a Terra já não está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo (...); o mundo caminha para desastres ecológico e econômico (por falta de recursos naturais); é preciso mudar".

Na mesma direção vai entrevista do professor Paul Singer, da USP e da Secretaria da Economia Solidária do Ministério do Trabalho, a uma publicação da Unisinos, sobre o consumo além da capacidade de reposição planetária (um dos exemplos por ele citados é o da produção de carnes). Ele lembra que em O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974) o economista Celso Furtado já comentava a impossibilidade de o mundo todo chegar ao padrão de consumo dos EUA - por falta de recursos e serviços naturais. Também o professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia da USP, observa (Valor Econômico, 9/10) que "a maneira de medir a riqueza está ultrapassada", sem levar em conta vários fatores e ignorando a urgência de "descarbonizar a matriz energética global", hoje dependente, em 80%, de combustíveis fósseis, e que tem graves conseqüências na área do clima.

Ainda uma vez, é preciso ressaltar neste momento:

A ausência de uma estratégia adequada brasileira diante desse quadro, levando em conta o privilégio de ser um País bem dotado de recursos e serviços naturais, que são exatamente o fator escasso no mundo - como já se escreveu tantas vezes neste espaço.

O contra-senso de quase toda a discussão sobre a crise atual deixar de lado uma evidência: enquanto os governos direcionam trilhões de dólares para salvar instituições financeiras, este ano o movimento da ONU contra a fome só conseguiu 10% dos US$ 22 bilhões de que precisava para enfrentar o problema no mundo - o número de pessoas nessa situação aumentou de 850 milhões para 925 milhões, disse o diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Jacques Diouf. Segundo a FAO, nada menos que 33 países estão em "situação alarmante", sem produção interna de alimentos suficiente. No Brasil, com uns 30% da população abaixo da linha da pobreza, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, os 20% mais pobres da população gastam 34,5% de sua renda total com alimentos.

Diz ainda a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que a atual crise financeira já aumentou em 20 milhões o número de desempregados no mundo, que pela primeira vez passa de 200 milhões - são agora 210 milhões. O contingente de pessoas que vive com menos um dólar por dia subiu de 480 milhões para 520 milhões; com mais 100 milhões de pessoas que têm menos de dois dólares diários, este contingente soma agora 1,4 bilhões de pessoas. E o temor é de que venha a aumentar muito a criminalidade, com a ampliação do desemprego entre jovens.

Diante das incertezas na área dos alimentos e da necessidade de importar trigo, parece estranho o presidente da República vetar projeto, aprovado pelo Congresso Nacional (Estadão Online, 10/10), que exigia a adição de amido de mandioca à farinha de trigo comprada pelo poder público, sob a alegação de que seria difícil comprovar as porcentagens (quando em outras épocas no País toda a farinha de trigo recebeu a mistura). Estranho, em primeiro lugar, porque limita caminhos a um dos principais produtos da agricultura familiar, que responde por 70% do abastecimento interno de alimentos (82% da mandioca, 59% dos suínos, 58,9% do feijão, 55,4% do leite, 47,9% das aves, 43,1% do milho, 41,3% do arroz, 28,4% da soja) e pela quase totalidade dos postos de trabalho na zona rural, onde ainda vivem uns 20% dos brasileiros. Segundo, porque a mandioca é a mais adequada de todas as culturas aos solos brasileiros - não precisa de "corretivos" nem de outros insumos químicos. Quanto não vale isso, quando o valor das commodities de exportação caiu 30% em média (Estado,17/10) este ano, enquanto o preço internacional dos fertilizantes fosfatados subiu de US$ 250 para US$1.230 a tonelada, como lembra o professor Abramovay; o de adubos à base de potássio subiu de US$ 172 para US$ 500; o de nitrogenados, de US$ 277 para US$ 450?

Há quase 20 anos, o cientista Paulo Tarso Alvim sentenciava: "Se a mandioca fosse norte-americana, o mundo todo estaria comendo tapioca flakes e mandioca puffs." Não terá chegado a hora de rever estratégias, adequar a economia a realidades maiores, antecipar-se a efeitos da crise global, que poderão ser ainda mais danosos - em lugar de dizer, como nos mais altos níveis da República, que "a crise na oferta de alimentos é passageira, não é coisa perigosa" (Estado, 26/4)?


Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

sábado, 4 de outubro de 2008

Bush e a crise do mercado financeiro




Finalmente, após uma semana de vai-e-vem, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou o “pacote” de ajuda financeira aos bancos norte-americanos, proposto pelo Governo Bush. Este, nos seus estertores. Pela reação das bolsas, nesta sexta-feira, parece que o tal do “mercado”, esse ente fantasmagórico sempre mobilizado pelo jornalismo econômico, quer mais. Dessa forma, Bush, que defendeu tão ardorosamente o plano, fica como aquele cara que nadou, nadou e morreu na praia.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O historiador Eric Hobsbawn,Marx e a crise do mercado financeiro




O historiado Eric Hobsbawn, o cientista social mais vivo com mais citações em publicaçõe científicas, em entrevista, analisa o renovado interesse pela obra de Karl Marx e fornece alguns elementos para a reflexão sobre a crise dos mercados financeiros. Acesse aqui a matéria.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

1929 - o ano que não terminou...



Daqui a 27 dias completam 79 anos daquele fatídico dia. O dia do crash. Na foto acima, operadores da bolsa de Nova York naquele dia. Se você é chegado em numerologia ou joga na loteria, quem sabe, esses números não o inspirem. Aos defensores do liberalismo radical, ao que tudo indica, eles ensinaram pouco.