Malthus na moda novamente. O acerto de contas feito, dentre outros, por Karl Marx, parece que não conseguiu enfrentar o desafio do tempo. E o tempo está mais para Malthus, dizem-me não poucos. Voltaremos a conversar sobre isso. Por enquanto, leia abaixo texto publicado na edição de hoje do sempre muito bom VALOR ECONÔMICO.
Ainda é cedo para descartar o ideal malthusiano
Autor(es): Por Javier Blas Financial Times, de Cingapura
Valor Econômico - 01/11/2011
Ontem, chegamos "oficialmente" a um marco histórico para a população mundial - agora somos 7 bilhões de pessoas no planeta.
A projeção do Fundo de População da Organização das Nações Unidas (ONU) é artificial, mas indica uma tendência muito mais importante: o crescimento da população do planeta nos últimos 50 anos foi assustadoramente alto, com o acréscimo de 1 bilhão de pessoas a cada 13 anos.
Isso importa de alguma forma para o mercado mundial de commodities? A questão é importante porque o forte aumento populacional é muitas vezes apontado como motivo para os preços das matérias-primas estarem tão altos.
Desde que Thomas Robert Malthus escreveu "Ensaio sobre o Princípio da População", em 1798, uma sucessão de estudos, incluindo "The Population Bomb", de Paul Ehrlich, centrou-se em cenários de destruição relacionando o alto crescimento populacional à escassez e custo cada vez maior dos recursos naturais. Ainda assim, o preço das commodities, em termos reais, ajustados à inflação, em certas ocasiões mal reagiu ao aumento na população.
Os anos 90 foram paradigmáticos. A década viu um período de baixa nas commodities, mesmo enquanto a população mundial exibia seu maior crescimento - em apenas 11 anos, houve aumento de 1 bilhão na população, que passou de 4 bilhões em 1987 para 5 bilhões em 1998.
A frágil relação entre o crescimento da população e o preço das commodities na década de 80 e 90 levou o economista conservador Julian Simon a ganhar aposta de US$ 1 mil contra o ecologista Ehrlich quanto ao impacto da população sobre as matérias-primas. Simon e Ehrlich fizeram a famosa aposta no início de 1980, tendo como alvo o preço em termos reais de cinco metais - cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio - durante um período de dez anos. Em 1990, Ehrlich mandou um cheque a Simon de US$ 567,07, representando o declínio no valor dos metais ao longo dessa década.
Para os cornucopianos (que acreditam na capacidade da ciência em avançar o suficiente para alimentar o mundo), a aposta encerrou o debate: os malthusianos, que relacionavam o alto crescimento da população aos altos preços das commodities e à escassez de recursos naturais, estavam errados.
A última década, no entanto, provou que o debate está longe de ter terminado. Se Simon e Ehrlich tivessem apostado em um período maior, de 30 em vez de 10 anos, Ehrlich teria vencido. Em termos reais, o preço de uma cesta composta por cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio, hoje vale mais do que nos anos 80.
Então, por que o comportamento dos preços na década de 2000 revelou-se tão diferente dos anos 80 e 90? A simples resposta é que o preço das commodities reage a fatores múltiplos, sendo que a população é apenas um deles.
Os anos 80 e 90 viram outras grandes forças em jogo: o efeito recessivo dos altos preços do petróleo, a reação de crescimento da oferta aos altos preços anteriores e o impacto das mudanças tecnológicas. A agricultura mostrou-se um exemplo paradigmático dos avanços tecnológicos. A Revolução Verde, que desencadeou o aumento na produtividade agrícola, reduziu os preços das commodities agrícolas mesmo em meio à duplicação da população mundial entre 1959 e 1998.
O que realmente importa para as commodities não é o tamanho da população, mas sua riqueza.
O que tornou a década de 2000 tão diferente foi o fato de uma parcela maior da população mundial ter se beneficiado de um forte aumento de renda. Um mundo de 7 bilhões de pessoas pode gozar de preços moderados nas commodities apenas se metade da população continuar pobre e quase 20% estiver cronicamente passando fome. De outra forma, o aumento na população mostrará que Ehrlich, no fim das contas, estava certo. (Tradução de Sabino Ahumada)
Mostrando postagens com marcador Demografia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Demografia. Mostrar todas as postagens
terça-feira, 1 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Um ótimo blog sobre saúde coletiva, medicina e produção científica em geral
São tantos os blogues... Tem gente que me diz que nem tem mais disposição para olhar nada. É o cansaço com a internet. Mas, acreditem, vale a pena navegar por alguns desses "veículos". Paulo Lotufo, professor de medicina da USP, mantém um blog que é, segundo a sua apresentação, um "espaço destinado à informação e ao debate de assuntos relacionados à demografia, epidemiologia, história da medicina, indústria farmacêutica e economia em saúde no Brasil e no mundo". Eu acesso diariamente e garanto a sua qualidade e nível de informação. Dê um olhada aqui.
Marcadores:
Demografia,
Epidemiologia,
Medicina
Assinar:
Postagens (Atom)