quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quem são os inimigos da Universidade Pública?

Leia a estarrecedora matéria abaixo, publicada no UOL, e descubra como ocorre, no dia a dia, a destruição da Universidade e da coisa pública no Brasil. Não, não é o tal do neoliberalismo o grande inimigo da Universidade Pública. O inimigo já está dentro da casa...

Com greve de funcionários, equipamentos novos da UnB ficam parados no depósito

Thássia Alves
Da Agência UnB
Em Brasília

Com a greve dos funcionários técnico-administrativos, que já dura 138 dias, o almoxarifado da UnB (Universidade de Brasília) segura em seu depósito equipamentos recém-comprados, mas que não foram distribuídos para as unidades acadêmicas. Como 82 aparelhos de ar-condicionado que foram entregues mas não chegaram ao seu destino final. Em assembleia, nesta terça-feira, 27 de julho, os servidores técnico-administrativos decidiram continuar a paralisação.

Os aparelhos da marca Komeco custam em média R$ 1,5 mil cada. Um total de R$ 123 mil. Seis catracas permanecem encaixotadas desde que foram entregues em 30 de junho. A nota fiscal mostra o valor gasto pela universidade: R$ 95 mil. O descaso não para por aí. Vinte e seis cadeiras estofadas foram entregues na manhã desta segunda-feira, 26 de julho. Mas não há como saber quando vão ocupar as salas de aula. Cada uma custou R$ 189. Caso os equipamentos estraguem, a UnB pode ser responsabilizada por dano ao erário público.

Presos no almoxarifado, os equipamentos sofrem com a ação do tempo e a má acomodação. “O grande motivo é a greve. Nada é entregue desde 17 de março”, conta Eudes Queiroz, chefe do Serviço de Patrimônio Mobiliário da UnB. Ele afirma que o espaço não é ideal para o armazenamento de aparelhos, pois está em reforma. “Estamos ampliando o depósito, então temos que ter cuidado ao armazenar para que não fiquem expostos ao sol ou a chuva”, disse. Segundo ele, até para que os materiais sejam entregues é preciso contar com o apoio do Comando de Greve. “Cada vez que chega alguma coisa temos que ligar para eles. Aí eles abrem o portão do depósito”.

O período de chuva é o que mais preocupa o decano de Administração e Finanças. Pedro Murrieta afirma que durante a seca o risco de danos é menor. “Até agora não tivemos evidências de prejuízo. Porém, quando esses equipamentos forem entregues, caso haja problemas, poderemos enfrentar dificuldades”, afirma.

Os galões de água são os únicos itens que são liberados. Mesmo assim, cada departamento tem que ir até o depósito para buscá-los. Os veículos da universidade, que fazem o transporte da água, estão trancados na garagem. Quem decide qual carro pode ser abastecido e deixar o local é o Comando de Greve. Quem entra na garagem espanta-se com a quantidade de pessoas paradas. Andando de um lado para outro aproximadamente cinco motoristas jogavam conversa fora. Terceirizados, eles vão até a local de trabalho todos os dias. Mas as determinações do Comando de Greve impedem que eles exerçam suas funções.

"Assim como eu, que sou servidor, eles também estão à disposição. Mas não têm como trabalhar”, explica José Carlos Silvestre de Souza, coordenador de transporte da Universidade. Somente veículos do Hospital Universitário de Brasília (HUB), da Reitoria e da Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio (COPP) são liberados. “Não há como os outros carros serem abastecidos nem há maneiras deles deixarem a garagem. As chaves do portão e da bomba de combustível estão com o Comando de Greve”, completa.

Paulo César Marques, prefeito dos campi, afirma que toda parte administrativa da UnB continua parada. Quando há algum serviço que precisa ser feito com urgência é necessário fazer uma negociação com o Comando de Greve. “Muitas vezes a gente não consegue convencê-los da necessidade do trabalho”, explica o prefeito. “No almoxarifado, os equipamentos estão parados e mal acomodados. Não temos tido apoio para realização de eventos. A garagem permanece fechada”, listou o prefeito.

Cosmo Balbino, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de Brasília (Sintfub), explica que há uma preocupação em executar os serviços que são urgentes. Mas que o movimento grevista é caracterizado pela paralisação. “Temos sido flexíveis. Temos tido carinho com os alunos e professores que não estão em greve“, afirma.

Entulhos
Restos de concreto, vaso sanitário, dezenas de papelões, tijolos quebrados, lâmpadas fluorescentes, sacos de cimento, latas de tinta, carteiras e até um sofá quebrado fazem parte do jardim do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP). Os entulhos foram colocados ali após a reforma do Anfiteatro 13. Desde então, não foram removidos. Quem passa pelo local assusta-se com a montanha de lixo. Mosquitos e poeira atrapalham o cotidiano de funcionários, alunos e professores.

Para que o lixo seja removido, o Comando de Greve precisa liberar um caminhão para retirar os entulhos. Paulo César afirma que visitou o departamento na última sexta-feira, 23 de julho. “O que acontece no módulo 20 é um caso de saúde. Tem muitos mosquitos e bichos. A poeira também é constante. Mas dependemos do Comando para retirar essa sujeira”, afirma.

De acordo com a coordenadora do LIP, Enilde Leite de Jesus Faulstich, uma porta, que dá acesso a sala de eventos, não pode ser aberta em razão da sujeira. “Ficamos sem ventilação. A poeira entra e são muitos mosquitos. A cortina, usada no datashow, vive suja de poeira. Minha preocupação é com a saúde das pessoas que trabalham ali. Os professores saem e vão dar aula, mas os funcionários ficam no departamento por todo o dia”, considera Enilde.

Serviços essenciais
Decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou o retorno de todos os funcionários do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e de 80% dos servidores do Bandejão. Segundo Cristiane Costa, diretora do Restaurante Universitário, as refeições estão sendo servidas normalmente. “Eles estão cumprindo a escala de trabalho (leia mais aqui). A greve não é mais um problema”, garantiu. A situação se repete no HUB. “Aqui não tivemos nenhum tipo de problema. Eles estão trabalhando desde a determinação da Justiça”, assegurou Gustavo Sierra Romero, diretor do hospital.

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