Há alguns anos conheci uma intelectual brilhante. Inovadora e competente, ela impulsionou todo um campo de pesquisas em um inóspito terreno das ciências sociais. Jovem, bonita e dotada de uma inteligência invulgar, ela era (e é), no entanto, o avesso de certos tipos "intelectuais" que vicejam no ambiente acadêmico brasileiro. Nela, a seriedade no trabalho caminha ao lado de uma generosidade muito grande com os iniciantes. Convivendo com ela, você percebe que ela tem um mal-estar quase físico em relação aos salamaleques e pavonices dos convescotes intelectuais.
Hoje, ao saber dela, fiquei com a alma dolorida. Na conversa com uma amiga em comum, soube que ela está mal, recebendo tratamento especializado e distante de tudo. Os sofrimentos da alma torturam-lhe os dias. A depressão, esse "demônio" que chega inesperadamente para um número cada vez maior de pessoas, está, espero que momentanemante, derrotando-a.
Todos que convivem com pessoas com depressão sabem o quanto é díficil a luta a ser travada. Quem está do lado, na maioria das vezes, é tomado por um doloroso sentimento de impotência... E, no geral, o doente, destituído das habilidades sociais correntes (como manter uma conversação ou fazer o "social"), é condenado ao abandono e à solidão.
Mas ainda tem quem ache que gente não é algo descartável como uma bolsa de boutique. Que você não pode abandonar os que estão se perdendo porque, sabe-se lá!, amanhã será você mesmo a precisar da presença de outrem para suportar a sua companhia na sua descida aos porões aterradores a que nos levam os sofrimentos da alma. Por isso, a minha amiga tem uma colega de trabalho que está acompanhando-a no seu trajeto no labirinto. Pelo menos isso...
A minha amiga Eliana Louvison, alguém com quem aprendo sempre um bocado sobre psicologia, costuma dizer que "viver não é bolinho, não". Ela atende em uma clínica e resiste a essa constatação de aumento descontrolado da depressão. Ela acha que o que estamos vivendo é uma situação na qual a depressão é o rótulo para um sentimento humano e radical, que está se espraiando velozmente com o aumento da reflexividade social: a melancolia. Prá ela, é muito fácil (e perigoso!) ficar empurrando cada vez mais gente para o "admirável mundo novo do Prozac"... O abismo é bem maior do que o que estamos acostumados a aceitar.
Bueno, eu não sei muito sobre isso. Mas eu sei que quero que a minha amiga se (re)encontre e que ela volto a ser o que sempre foi. Fico aqui na torcida...
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Um comentário:
Acho que deveriamos explorar outras formas de se escapar desse terrível mal, que assola nossa civilização, que é a depressão. Em vez de ficarmos prezos nesses remédios que a indústria farmacêutica nos impõe, deveríamos abrir outras possibilidades de explorar outros "adimiráveis mundos", como os mundos das plantas enteógenas que o Estado abomina, porque sabe que é um perigo o conhecimento que pode-se extrair delas. Por isso a proibição de suas pesquisas, e o discurso de que são nada mais que simples "drogas". Mas o que é uma droga?
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