O deputado Fernando Mineiro é um dos grandes quadros políticos do Rio Grande do Norte. Como poucos no nosso estado, conjuga competência técnica com visão política. Suas atuações parlamentares, seja como vereador de Natal ou como deputado estadual, foram sempre alimentadas por iniciativas afirmativas. Basta lembrar que foi ele, como vereador, que retomou a questão ambiental como ponto de pauta do debate político institucional (renovando atuação anterior, e historicamente injustiçada em Natal, do saudoso vereador Sérgio Dieb).
Os atributos acima, mais o destacado trabalho de construção partidária, credenciariam esse filho do município mineiro de Curvelo a ocupar um papel de maior destaque nas decisões estratégicas do PT no RN. Mas, como o mundo é estranho!, não tem sido assim. Pelo menos, não até agora. Mineiro, na hora agá, sai de cena e o jogo é dominado pela Deputada Fátima Bezerra. Foi assim em 2004 e, em especial em 2008, quando a deputada petista, para garantir espaço para a sua obsessão pessoal (a prefeitura de Natal), impôs um desastre político e eleitoral ao partido.
Nestas eleições, Mineiro propõe, desde já, que o PT se alinhe à candidatura do vice-governador, Iberê Ferreira de Sousa, ao governo do Estado. Goste-se ou não do candidato, para o PT, faz todo o sentido. O partido participa do governo e conta com o PSB local para desinflar a candidatura de Ciro Gomes ao Planalto. Nada mais lógico para os petistas locais, portanto, do que garantir um lugar ao sol na caravana pessebista.
Ocorre que, embora a deputada Fátima faça juras de amor ao Governo Vilma, a candidatura de Iberê pode não ser a melhor arrumação de palco para garantir a sua reeleição. É mais conveniente par ela manter algum flerte com a improvável candidatura do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves. Noviço no PDT, Carlos também sonha com o Palácio Potengi. E, para complicar o lance, faz parte da base de apoio de Vilma e de Lula. Entretanto, dificilmente sua candidatura será apoiada pelo PSB. Resta-lhe buscar a companhia do PT. E aí a cobrança da fatura vai direto para Fátima. Afinal, em 2008, apesar de se dar conta do desastre anunciado, o ex-prefeito entrou de armas e bagagens na malograda campanha petista à prefeitura de Natal. Agora, cobra reciprocidade. Nada mais justo, pois não?
Aí é que a coisa se torna, como diria minha prima, "complexa". Não há esfera da vida social mais distante da idéia cristã de justiça do que a política. Ora, seria "justo" o PT apoiar Carlos Eduardo. Mas, convenhamos!, seria politicamente desastroso. E a política, sabem até as pedras de qualquer universidade na qual os alunos tenham aprendido duas ou três coisinhas escritas por um alemão chamado Max Weber, é um campo com regras próprias. Portanto, gostemos ou não, a política tem a sua própria, como direi?, "moral". Nela, quase nunca há glória na derrota...
Assim, volta à questão: por que seria desastroso o PT apoiar Carlos Eduardo ao governo do estado? Porque esse apoio pesaria pouco ou quase nada no xadrez político nacional. E a eleição de Dilma, para os petistas, está acima de tudo em 2010.
Apoiar Iberê insere-se plenamente na tática eleitoral petista de priorizar o reforço à candidatura presidencial. No mínimo, no mínimo, com o apoio a Iberê, o PT consegue neutralizar (ou, na situação ideal, garantir ao seu lado) uma máquina partidária e estatal regional - o vilmismo.
É esse o jogo... E Mineiro deicidiu jogá-lo. E, até agora, está indo bem. Pagou prá ver. Sem ter muito a oferecer ao partido, os seguidores de Fátima refugiaram-se nas reclamações. Desta vez, ao que tudo indica, "a força que vem de cima", isto é, do Planalto, não parece destinada a garantir uma arrumação de cartas que seja da conveniência da experiente política petista.
O Deputado Fernando Mineiro decidiu jogar. E, como não é de fazer salamaleques, joga pesado. Na arquibancada, resta-nos ficar na espreita, espiando a arrumação de suas cartas, para ver se ele tem mesmo a alma de jogador...
sábado, 13 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
O partido bem que poderia fazer uma avaliação dos seus anos de aliança com a antiga elite potiguar. Não consigo encontrar muito ganho... Os poucos cargos ocupados não foram lá muito empolgantes, e eleitoralmente houve queda. Não que eu particularmente deseje tudo de bom e melhor para o partido, mas gostaria que o o PT no RN servisse para algo mais que apoiar o jogo das eleições presidenciais... Mesmo porque nosso estado tem um peso político e eleitoral no "cenário nacional" muito menos relevante do que gostamos de acreditar. Se o PT estadual sempre deposita todas suas fichas nas eleições para presidente, bem que poderiam extinguir o diretório e montar no lugar um escritório de marketing. Uma opção coerente com esse pragmatismo todo.
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