Escrevo este post no aeroporto de Brasília. Trabalhei até o final da tarde na Capes, e deveria continuar por aqui até amanhã. Questões familiares fizeram-me antecipar o retorno. O tempo por aqui está seco. E a aridez da paisagem parece retratar a aridez política que viceja na capital do país. Nestes tristes tópicos, o realismo político coloca por terra todas as ambições mudancistas assentadas em princípios. Mas, não, não vou fazer parte da alegre corrente que, ao espinafrar o Sarney ou Renan, sente-se moralmente superior. Comigo, não. Não que eu tenha submergido no realismo político, longe disso. Mas é que, chegando perto dos cinqüenta anos de idade, começo a ter um cansaço danado do farisaísmo moral de nossos bem-pensantes de classe média (aquelas pessoas que adoram espinafrar o Lula porque ele não freqüentou uma universidade, mas que têm na revista Veja a sua única fonte de “análise” da realidade nacional). Tampouco simpatizo com o pragmatismo tosco de alguns dos petistas. Estes, em geral, conformam-se rapidamente em serem mais realistas do que o rei.
Mas também não jogo todos no mesmo saco (essa postura cômoda e conveniente). Estou cansado e me sentido só e velho, mas acho que existem pessoas e coisas boas acontecendo nestas plagas. E o Governo Lula, apesar de tudo, é o melhor governo que tivemos neste país em décadas (embora eu seja um “senhor”, como teimam em me dizer, apesar dos meus protestos veementes, as belas atendentes do Café Santa Clara do Midway Mall, não, eu não vivi o segundo Governo Getúlio Vargas para fazer uma comparação...). Mas basta olhar ao redor. Quem está na universidade pública, não sendo completamente blindado pela adesão a alguma seita exotérica marxista-leninista ou um bolchevique de playground, vai, sim, dar-se conta da diferença entre o que temos hoje e a situação de 2002, no final da infeliz era FHC, quando, por exemplo, a UFRN contava os tostões para pagar a conta de luz. E isso é algo que não podemos simplesmente menosprezar ou diminuir. E olha que eu não estou me referindo à reconstrução da capacidade de intervenção do Estado (com a re-equipagem do aparelho administrativo, através de concursos públicos) e nem das políticas de investimento em infra-estrututura e das políticas sociais.
Estou ficando velho, mas, não, não me apeei do trôpego cavalo da análise crítica da realidade. Por isso, como diria o Zé Simão, colunista da Folha, “vão indo que eu não vou...”
quinta-feira, 2 de julho de 2009
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2 comentários:
Caro professor:
Conheci hoje seu blog, através do post "minha solidão política" enviado por uma amiga. Você não está só. Há muitas outras pessoas de boa vontade que se sentem frustradas com o pragmatismo dominante. É verdade que este governo tem seus tropeços, mas é, de longe, infinitamente melhor do que o de FHC, quando eu ainda estava na Universidade (estou aposentada) e tínhamos dificuldades para pagar luz e telefone. Nosso país está em fase de construção positiva, e não podemos esperar ver, no curto tempo de uma vida, tudo o que desejaríamos para ele. Resta apenas fazer a nossa parte, o melhor que pudermos.
Marta Guerra
Caro Professor Edmilson,
apesar de não estar chegando aos 50 (estou chegando aos 40), me sinto exatamente assim como vc. E acredite, também considero que esse governo apresenta avanços significativos. Tem lá seus pontos fracos, é verdade, mas a crítica fácil da direita e da esquerda não me seduzem. Esse governo exige uma reflexão muito mais complexa.
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