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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A elite como objeto sociológico


Estudo sobre os pobres abundam nas ciências sociais. Essa escolha de objeto revela tanto opção política e ideológica quanto os obstáculos metodológicos de se tomar os de cima como alvos de investigação social. Até porque, sabemos bem, os dados a respeito dos atores e das práticas sociais das elites de todos os quadrantes são pouco confiáveis. E, assim sendo, temos referentes pouco seguros para análises mais robustas.


Pensemos, por exemplo, na dimensão demográfica das elites (falo no plural, pois, não me refiro apenas ao caso brasileiro, e, mesmo se tomarmos o caso nacional, como baliza analítica, ainda assim, o uso do plural é mais do que necessário). Os censos realizados pelos organismos estatais geralmente se traduzem em dados pouco substanciais a respeito do mundo dos ricos.


Antes que algum acaciano passe a me admoestar, adianto que não confundo “ricos” com “elite”, muito embora entenda que os recursos escassos controlados pelas elites (sejam esses recursos tão intangíveis quanto o “reconhecimento” ou tão palpáveis quanto uma, sei lá!, Ferrari) têm o dinheiro com o seu conversor universal.


Bom. Se, nem sempre, a conversão em dinheiro é o que hierarquiza socialmente tais recursos não deixa de ser uma coisa um tanto óbvia a constatação de que, sem nenhuma possibilidade (ou potencialidade) de conversão naquele, o recurso geralmente não é tão escasso assim... Situação na qual, quem o detém não é tão de elite assim. Não por acaso, a classe média, que se pensa elite, reclama tanto quando os de baixo começam a ter acesso a bens e recursos que, antes, eram objetos de distinção social.


As digressões acima devem ser tomadas como um introito para a conversa realmente que me interessa: quais os impactos da globalização e, mais particularmente, da financeirização da economia no formato das elites?


Parte das anotações abaixo derivam da leitura do ótimo texto de revisão de literatura sobre o tema escrito pelo Professor Shamus Rahman Khan, professor do Departamento de Sociologia da Columbia University. Intitulado prosaicamente “The Sociology of Elites”, o texto foi publicado nesse periódico que é tão bom quanto uma cerveja gelada no calor de Petrolina (PE): Annual Review  of Sociology.


Khan assume uma definição simples, elegante e sintética de elite: esta é constituída por aqueles e aquelas que ocupam uma posição social que lhes possibilita o acesso e o controle de recursos que potencializam vantagens aos seus detentores. Um complemento a essa definição, e aqui a digressão já é responsabilidade minha, é sua conversibilidade não apenas em recursos monetários, mas em recursos monetários facilmente deslocáveis para qualquer parte do mundo.


O suporte da proposição é fornecido pelas noções de campo e de capital, que emergem dos estudos empíricos desenvolvidos exemplarmente por Pierre Bourdieu nas suas investigações sobre áreas tão distintas (e exóticas, aparentemente) quanto a alta costura, o mercado de casamento entre os camponeses ou o mundo acadêmico das instituições formadoras da elite francesa.


Voltemos ao texto do Professor Khan. Não esqueçamos o título do periódico no qual foi publicado e nem da intenção do autor: trata-se de um paper de revisão, de apresentação de um “estado da arte”, não de formulação de uma nova senda teórica. Sim, mas voltado ao texto, o que me parece mais interessante é a indicação de que devemos (os sociólogos interessados no estudo da elite) dedicar um cadinho de tempo ao estudo das formas (e das marcas nacionais, eu acrescentaria) de conversibilidade dos recursos detidos pela elite.


Essa direção nos levaria a pensar, dentre outras questões, nos regimes de argumentação (aí a proposição é minha) que legitimam (ou buscam legitimar) as diversas taxas de conversão entre os capitais (o acadêmico, por exemplo, em econômico). Esse tipo de objeto somente pode despertar algum interesse quando alicerçado em referentes empíricos substantivos. Ou seja, em um cansativo e longo processo de escavação de dados. Algo difícil de ser realizado por quem se subordine à lógica do publish or perish e à necessidade de justificar, a cada ano, a inserção no seu programa de pós.


As elites, na verdade “super-elites”,  estão engajadas fortemente no setor de finanças. Ao bater nessa tecla, o Professor Khan nos diz uma velha novidade. Não é fortuita, portanto, a sua referência a um autor que, para discutir elites no mundo globalizado, leve em conta as elaborações de ninguém menos do Vladimir Lenin a respeito do capital financeiro...


Por que super-elites? Porque as elites nacionais, na grande maioria dos países, estão imersas em circuitos de transações e de formação de coalizões e posturas políticas e culturais que, há muito, deixaram de ter como referentes os limites territoriais nacionais.


Esse revisar de velhas questões é interessante, mas não é o mais interessante do artigo do Professor Khan. O que me parece mais importante sociologicamente é a ideia, que não é dele, mas retirada por ele de um artigo intitulado “Women, Wealth and mobility”, de Edlund & Kopcuk (2009), de que a riqueza (e, acréscimo meu, o lugar na super-elite) é cada vez menos dinástico e menos vinculado a uma grande riqueza familiar (como aqueles indivíduos pertencentes àquelas épicas famílias de banqueiros da primeira metade do século XX).


Larry Page e Graça Foster, dois jogadores globais, espécimes exemplares dessa super-elite representam bem essa remodelação sociológica. O primeiro, embora seja filho de professores bem situados no universo acadêmico (Pai e mãe acadêmicos destacados de uma univesidade da Ivy League), não se pode dizer que o fato de ele ser hoje bilionário e influente na vida social tenha alguma relação com riqueza familiar. Se o fundador do Google não se enquadra no velho figurino, o que dizer da Presidente da Petrobrás? Além de não pertencer a uma “dinastia”, é mulher. Pois é,  o recorte de gênero é fundamental para entender a super-elite. Esta é hoje, como nunca antes na história (peguei o bordão!), marcada pela presença de mulheres e por uma abertura étnica. Pessoas brancas e do sexo masculino deixam de ser os únicos membros do clube. Essa reconfiguração é irrelevante do ponto de vista sociológico? Acredito que não!


Bom. O post ficou maior do que eu queria. Para não cansá-los, eu fico por aqui. E vou voltar, puxando outros fios da meada do artigo do Professor Khan.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A crise financeira sob a ótica da NOVA SOCIOLOGIA ECONÔMICA

Roberto Grün é um dos expoentes da NOVA SOCIOLOGIA ECONÔMICA no Brasil. Deve-se ao seu trabalho no NESEFI (Núcleo de Estudos em Sociologia Econômica e das Finanças), dentre outras tantas conquistas, a constituição de um espaço aglutinador de reflexões inovadoras sobre as questões econômicas brasileiras. Inovação que se deve aos aportes teóricos mobilizados e às questões de pesquisa investigadas.

Bueno, por isso, vale a pena sempre acompanhar os escritos do mestre. Então, confira abaixo, uma análise sobre a crise financeira escrito por Roberto no calor da hora, mas sem deixar cair a bola. Por "bola", entenda-se o compromisso com a perspectiva sociológica.

Confira!

Crise financeira 2.0: controlar a narrativa & controlar a desfecho*
Roberto Grün

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador do Núcleo de Estudos em Sociologia Econômica e das Finanças (NESEFI), da mesma instituição. São Carlos, SP, Brasil (e-mail: rgrun@uol.com.br)


A CRISE E A SUA SOCIOLOGIA

Como era de se esperar, a crise financeira deflagrada em 2008 provocou a Sociologia. Há uma demanda expressiva, uma verdadeira sede de compreensão por parte da sociedade, que procura respostas sobre o evento que globalmente tornou piores as condições de vida e expectativas de enormes parcelas da população. As diversas disciplinas acadêmicas rivalizam e tentam diminuir a assimetria de popularidade a favor da economia ortodoxa que vigorou até a eclosão da crise. As novas vertentes das Ciências Sociais que se ocupam dos fenômenos econômicos e financeiros estão no topo dessa fila, já que tudo indica que seu objeto é o mesmo da disciplina hegemônica. É assim que a lógica social que rege o espaço acadêmico e também as pressões mais diretas de outros setores da sociedade, em especial a mídia e a política, incitam à produção de respostas. E que sejam aquelas com as quais a sociedade sabe e pode lidar: quem são os culpados? Quem facilitou a sua ação? Quem foram os sábios ou heróis que tentaram impedir a desgraça, mas que não foram ouvidos? Por quais razões ocorreu a (aparente?) falta de atenção das autoridades e participantes dos mercados para o desastre que se avizinhava? Como fazer para prevenir novos desastres como esse? E, por fim, o que a disciplina pode responder sobre as causas do desastre?

A demanda social foi evidentemente preenchida por diversas vertentes da Sociologia contemporânea a partir de focos e tradições diferentes. Entre muitos outros, Donald Mackenzie e Neil Fligstein, dois sociólogos bem conhecidos da área, apresentaram suas respostas circunstanciadas em textos que foram bastante debatidos na esfera acadêmica. E, não por acaso, no ambiente excitado pelo turbilhão de más notícias econômicas e suas inevitáveis repercussões sociais, essas contribuições migraram para outros ambientes. Dado a polaridade dessas duas explicações e o renome dos autores na comunidade científica que se ocupa do tema, podemos usar suas análises para balizar o espaço teórico da reflexão sobre o assunto, sobre as respostas possíveis e, ao mesmo tempo, também para avançar algumas possibilidades de análise que aparecem de maneira mais nítida a partir da investigação do espaço empírico representado pela situação da economia, e da sociedade, brasileira.

Mackenzie, que tem publicado recentemente uma sequência extensa e dificilmente contornável de análises sobre o desenvolvimento das ferramentas financeiras contemporâneas, traça o seu caminho a partir da sua área de atuação original nos (SSS) - estudos sociais sobre a ciência (Grün, 2004b; MacKenzie, 2006; MacKenzie, 2009a). Ele analisa a questão a partir de um ponto de vista interno ao mundo das finanças definindo-a como um problema que pode ser tratado a partir da sociologia do conhecimento inspirada em Fleck (1979) e Kuhn (1962). Diversas famílias de agentes financeiros, uns mais preparados para avaliar questões institucionais e outros mais entrados em modelos quantitativos formais de avaliação de ativos, acabaram desenvolvendo conceitos de risco diferentes para avaliar os papéis que produziam, emitiam e comercializavam. Essa dissonância cognitiva acabou produzindo possibilidades de arbitragem e com elas uma acumulação agregada de riscos muito maior do que cada grupo avaliava a partir dos condicionamentos sociais e culturais de suas posições no espaço e levou ao desastre geral deflagrado pelos derivativos "compostos" produzidos a partir das subprimes, as hoje famosas hipotecas de alto risco (MacKenzie, 2009; Mackenzie, 2009b).

A arbitragem - o ato de comprar um título num mercado onde seu valor é mais baixo ou tem expectativa de baixa para vendê-lo num ponto no qual esses parâmetros têm sinalização contrária - é o ato mais basilar da atividade financeira desde pelo menos as feiras de comércio medievais, passando pela modernidade protocapitalista até desembocar nos mercados financeiros internacionais contemporâneos (Penso de la Vega, 1977; Braudel, 1979a e 1979b; Le Goff, 2005). Desde o alvorecer histórico de seu ofício, os financistas desenvolvem sistematicamente a habilidade de perscrutar essas oportunidades como uma espécie de calo funcional que os acompanha desde a iniciação profissional e que vai se apurando no decorrer de suas carreiras. E mais recentemente também o progresso da informática e das comunicações produziu uma série de algoritmos e aparelhos capazes de realizar essas pesquisas em sistematicidade e abrangência cada vez maiores e com amplitude infinitamente superior à mente humana. Observar os agencements, essa janela em que se desenvolvem conjuntamente tecnologias recentes e novas sociabilidades, umas retroalimentando as outras na produção dos mercados financeiros internacionais, é o terreno privilegiado da vertente animada pelo autor (Callon et alii, 2001). O nexo privilegiado por ela são os encadeamentos de sensibilidades e possibilidades que surgem quando novos instrumentos ampliam ou alteram as formas de exercício da profissão e por isso não é por acaso que a ideia de performatividade ocupa um lugar privilegiado nas análises produzidas pelos cientistas sociais engajados nesse caminho (MacKenzie, 2003; Knorr-Cetina e Preda, 2005).

Fligstein é um nome consagrado da vertente neoinstitucionalista da sociologia das organizações que, como outros da sua especialidade, foi levado a se interessar pelas finanças nessa última década de predomínio financeiro na esfera interna das empresas e posteriormente também do setor financeiro sobre elas (Fligstein, 1990; Fligstein, 2001). Ele dá ao problema um tratamento mais explicitamente político. Na sua visão, o relevante é que as hipotecas de alto risco não são um desenvolvimento endógeno do espaço das finanças, mas antes são a resposta encontrada pelos financistas para dar conta de um objetivo político maior dos governos norte-americanos desde, pelo menos, o período Johnson na década de 1960 (Fligstein, 2009). Por razões políticas e ideológicas diversas, os governos democratas e republicanos desejavam que os Estados Unidos se tornassem uma nação de "proprietários de suas próprias casas" e, para isso, precisavam contar com instrumentos financeiros capazes de financiar as parcelas economicamente menos capazes de conseguir empréstimos hipotecários.

Os subprimes foram o instrumento que, ao mesmo tempo, possibilitava as aquisições e fomentava a emissão de novos papéis comercializáveis. E esses títulos, na verdade a sua multiplicação constante, são a verdadeira matéria-prima básica das finanças, a fonte principal dos lucros do setor nos países centrais, que são advindos das comissões sobre papéis transacionados1 .

Do outro lado do tabuleiro da oferta e demanda por títulos financeiros, o período pode ser descrito como um momento de "fome de papéis". No espaço das economias maduras do "Primeiro Mundo", uma das consequências de anos seguidos de taxas básicas de juros muito baixas na última década do século XX e na primeira do XXI foi a necessidade dos investidores buscarem alternativas cada vez mais diversificadas de títulos com rendimentos superiores àquele básico fornecido pelos juros dos títulos governamentais. Entre outros problemas, essa remuneração "de piso" excessivamente baixa tornara praticamente impossíveis as aposentadorias privadas e outros pecúlios fundamentais da economia, que só se viabilizavam (e essa situação não mudou substancialmente depois da deflagração da crise) com taxas de retorno do capital investido muito maiores (Froud, Haslam et alü, 2000). Por outro lado, títulos de remuneração alta também carregam taxas de risco mais elevadas e a sabedoria financeira convencional manda que um portfólio seguro diversifique as aplicações em numerosos tipos de títulos com expectativas de risco o menos correlatas possíveis. O bom portfólio inspirado pela ortodoxia combina, por exemplo, ações e outros títulos de empresas que se dedicam ao mercado interno dos países com de outras que se dedicam à exportação, supondo que os fatores que incentivam ou prejudicam o desempenho do mercado interno sejam independentes daqueles que causam os mesmos efeitos nos mercados externos.

Havia, portanto, uma procura constante de novos títulos de alto rendimento que, dada a magnitude e importância relativa do mercado imobiliário, podia em grande parte ser atendida a partir do aprofundamento da "securitização", a criação de diversos tipos de papéis, ditos "sintéticos", adequados a diferentes investidores, formados por diversas agregações e divisões de certificados financeiros derivados das hipotecas residenciais e/ou a partir de outros "ativos reais" vorazmente transacionados em escala internacional, como os das matérias-primas minerais e agrícolas e outras mercadorias básicas (Lordon, 2008). E, para ampliar o efeito de permitir a aquisição de mais residências, fomentar os negócios agroindustriais, a prospecção de petróleo e outros minerais e atrair mais capitais externos para essas atividades, foram sendo concebidos novos tipos de papéis securitizados - que agregavam hipotecas de diversos níveis de riscos e depois os dividiam em novas unidades de risco, que iam do muito baixo ao muito alto. Nessa versão, a cumplicidade dos governos interessados na política habitacional e de fomento econômico em geral, bem como dos agentes não diretamente financeiros cujas estratégias de negócio utilizam os mercados financeiros, é muito mais evidenciada do que na primeira análise e não pode ser deixada de lado (Fligstein, 2009).



A DANÇA E A ORQUESTRA

Nesse espaço onde a oferta de títulos apenas se sustenta quando há demanda, não parece razoável simplesmente culpar os financistas pela proliferação de títulos. A ciranda das finanças só continua a ser dançada porque a orquestra, composta pelos diversos grupos que se utilizam dos mercados financeiros, não para de tocar. E notável como no debate norte-americano recente sobre a regulação dos títulos derivados as grandes empresas que usam matérias-primas básicas, em especial as da cadeia agroalimentar, se posicionaram pela continuidade desses mercados que a crítica considera inúteis e perigosos (Farrell, 2010). No caso brasileiro, assistimos às altamente visíveis dificuldades de grandes empresas, como a Votorantim, Aracruz, Sadia e Vicunha pegas no contrapé da valorização do dólar no início da crise. Nessa nossa situação doméstica não foram os bancos, mas as grandes empresas da "economia real", cujas falências poderiam representar golpes duros para a atividade econômica em geral, que chegaram ao limite da inviabilização e assim, indiretamente, mostraram que a cadeia das finanças abarca muito mais setores da sociedade do que os financistas propriamente ditos (Ninio, 2008).

Na verdade, estamos diante de uma típica configuração "eliasiana": a presença de campos gravitacionais, nos quais a atuação de um grupo de atores só é compreensível quando levamos em conta suas diversas restrições e os outros membros da configuração (Elias e Schröter, 1991).

Entretanto, como se eles mesmos estivessem tomados pela ficção do homo economicus, grande parte dos críticos das finanças analisam a situação contemporânea como se os financistas fossem capazes de vender qualquer tipo de papel simplesmente porque eles existem, sem se perguntar por que há demanda para os produtos dessa expressão marota intitulada "indústria financeira". Esta suposição inadvertida carrega uma constatação implícita sobre a capacidade dos financistas imporem a necessidade dos produtos que transacionam e, de alguma forma, configuram a aceitação tácita da dominação financeira como um fato natural e indisputado.

Como afirmou repetidas vezes o famoso, e exitoso, financista Warren Buffett, a multiplicação de papéis financeiros é uma verdadeira bomba atômica de efeito retardado (BBC, 2003). Mas, ainda assim, ela se mantém e amplifica. Delineia-se então um problema sociológico mais geral, a nossa grande questão: os mecanismos através dos quais os pontos de vista financeiros acabam sendo aceitos como o interesse geral das coletividades mais amplas. Torna-se assim necessário investigar as relações de força simbólicas que impelem não só os agentes institucionais, mas também os mais diversos elos da cadeia econômica, a se manterem nesse quadro de referência que favorece a criação e emissão contínua de mais e novos títulos. Em suma, calibrarmos as hipóteses sobre uma possível dominação cultural das finanças na definição dos critérios "corretos" de dar conta e em seguida medir o presente, o passado e as tendências do futuro, além de indicar os caminhos de cada sociedade e também das relações entre o conjunto dos países participantes do circuito (Grün, 2009a).

O mundo e a realidade

Nas suas lógicas, as análises de Mackenzie e de Fligstein não são excludentes, mas cada uma delas dirige a atenção para um universo empírico diferente e assim produz um programa de pesquisas que leva a investigação a procurar lógicas e condicionantes diversos. Mackenzie nos encaminha para o coração mesmo da atividade financeira, os profissionais inovadores que aproveitam qualquer possibilidade de conceber novos títulos e fazer dinheiro com eles. Já Fligstein nos empurra para a interface entre o universo financeiro propriamente dito e a esfera política em senso estrito da sociedade. Mackenzie nos chama a atenção para o espaço interno das finanças enquanto Fligstein nos encaminha para a relação entre o espaço financeiro e o político. Cada uma das abordagens termina por produzir uma (re)apresentação diferente da crise. E cada uma dessas formulações extrai elementos específicos do mundo para se construir, deixando de lado, evidentemente, muitos mais pontos do que aqueles que ele leva em conta.

A rigor, é impossível descartar uma explicação a partir da outra. Como quer a sociologia da sociologia desenvolvida, entre outros, por Boltanski (2009), as diversas sociologias constroem realidades mais ou menos estruturadas e convincentes, mas não esgotam as possibilidades de representação social disponíveis no mundo. Só podemos sair dessa indecisão objetiva sobre o mundo se fizermos as realidades passarem pelo famoso "teste do pudim". Como nos indica a filosofia das ciências naturais, o teste das construções da realidade é justamente a capacidade de elas se naturalizarem como "evidentemente corretas" ao servirem de base para intervenções satisfatórias ou eficientes sobre a realidade no instante (t-1) e, performaticamente, se naturalizarem como verdadeiras no instante (t) (Hacking, 1983; Hacking, 1999). Nesse sentido, pelo menos no âmbito interno da Sociologia enquanto disciplina, a versão dos SSFs é mais bem-sucedida no sentido de suscitar um programa de pesquisas. Ela tende a se naturalizar pelo prosseguimento da sua inspiração por um conjunto expressivo de jovens pesquisadores que têm criado nos últimos anos um verdadeiro aparato institucional de redes de pesquisas, sites, congressos e publicações. Trazendo o argumento da sociologia do conhecimento empregado por Mackenzie para o seu próprio colo, podemos verificar que essa institucionalização científica é tão mais interessante já que, inclusive, seus praticantes são capazes de produzir "naturalmente" um anátema contra as interpretações sociológicas rivais, e justamente a de Fligstein (2009) e outras heteronômicas (em relação ao canónico recém-estabelecido) são o alvo principal2 . Mas ela só seria eficiente, no sentido de se tornar a base para alterar o comportamento dos atores financeiros e/ou governamentais, na medida em que, por exemplo, suas interpretações sobre a percepção de risco se incorporem em novos instrumentos ou institucionalidades, como algoritmos de medição de risco ou mecanismos legais de prevenção do conluio entre agentes governamentais e financistas3.

No teste, é evidente que o possível aporte da Sociologia na formulação de alguma política pública é pouco provável. Na hierarquia social das disciplinas a Sociologia tem um status inferior ao da Economia. A Sociologia costuma ter alguma influência sobre a chamada "mão esquerda" do Estado, aquela que cuida das políticas sociais voltadas às populações menos favorecidas. Quando ela se debruça sobre questões que afetam mais diretamente as elites constituídas, a chamada "mão direita" do Estado, a sua luz se eclipsa diante do "bom senso" tradicional vocalizado pela teoria econômica mainstream ou pelo Direito (Bourdieu, 1998). E claro que o resultado acima não é definitivo e, justamente nesse momento e tópico, observamos algumas tentativas de incorporar a explicação sociológica, em especial a versão representada por Mackenzie, nas promessas de autocorreção e prevenção de riscos produzidas internamente aos mercados financeiros4 . Não podemos descartar liminarmente essas tentativas. Mais do que isso, devemos registrar nessas relações entre os SSF e o mercado financeiro que estamos diante de um início de sucesso mundano dos SSF5 . Mas a experiência do passado nos permite manter o ceticismo em relação à incorporação dessa crítica pelos agentes do mercado e a subsequente correção de rumos. Assim como em outros espaços econômicos, no financeiro também opera a "indústria do sucesso", que enviesa para cima as expectativas das iniciativas econômicas, de maneira a induzir ao descarte das apreciações cautelosas e conservadoras sobre as suas possibilidades de sucesso (Grün, 2003c). A sociologia do sub-ramo recente das finanças, a "análise de riscos", demonstra a mecânica sociológica e cultural que produz os descartes dos alarmes e demais instrumentos de "controle de risco". Os financistas, agentes que criam os novos títulos e impulsionam as vendas são fartamente remunerados, incensados pela mídia como as figuras mais proeminentes do momento e coroados com uma aura de sucesso que lhes autoriza opinar legitimamente sobre os diversos assuntos da sociedade, muito além daqueles que adviriam da definição estrita do seu ofício. Mais presente no chamado "Primeiro Mundo", vemos essa legitimação se espraiar também no Brasil (Dias, 2000). Já os contadores e auditores encarregados de registrar as operações, aferirem seus riscos e deflagrar eventuais alarmes, aqueles atores que no espaço dos mercados financeiros cuidam do BackOffice, esses são caracterizados como burocratas sem imaginação e, diante dessa violência simbólica evidente para a Sociologia, mas invisível para os participantes do jogo, ou seus avisos são descartados ou, mais provavelmente, eles mesmos acabam duvidando de seus cálculos e terminam por se calar espontaneamente (Power, 2007; Power, 2009; Sinclair, 2010). Não por acaso, o animal símbolo de Wall Street é o touro impetuoso que sinaliza os mercados otimistas em alta, e não o urso sonolento, que chama a atenção para a necessidade de resguardo em épocas de pessimismo.

Nesse ponto é interessante considerar que, no arrazoado que pretendo desenvolver, uma definição definitiva da crise financeira é intrinsecamente impossível de ser alcançada. Uma ou duas definições podem, evidentemente, gerar construções culturais mais ou menos robustas, no sentido de resistirem e permanecerem quando submetidas aos testes dos debates acadêmicos, econômicos, financeiros e políticos. Mas é claro que estamos assim diante de aproximações e não da crise "em si", cujo significado é disputado e - ouso dizer - inesgotável, e não poderia ser diferente como mostra a polêmica permanente sobre a crise de 1929 que até hoje divide os economistas e aqueles que se servem de sua produção intelectual na política ou na mídia. Salta aos olhos que definições diferentes levam a sociedade a injetar recursos em alguns setores e retirá-los de outros, consagram ou desgraçam autoridades acadêmicas e demais participantes do debate público, em especial nos universos da mídia e da política. Mas, principalmente, o jogo social no qual a definição "correta" da crise está inserida está no centro do conflito distributivo das sociedades contemporâneas. E por isso cada estado provisório de consenso ou de consentimento gera e apazigua ganhadores e perdedores materiais e morais pelo período correspondente e é da natureza do conflito que as dinâmicas sociais e culturais acabem rompendo os equilíbrios provisórios, alterando os entendimentos e os critérios de justiça distributiva que vigorava nos momentos imediatamente anteriores.

A sedução da descrição densa

No espaço interno às Ciências Sociais em senso estrito, a abordagem de Mackenzie tem mais adeptos entre aqueles que investigam o universo das finanças e não é por acaso. Baseada nas evoluções do método etnográfico que caracterizam os estudos sociais sobre as ciências (SSS), nos quais se evidenciam razões e interações não só entre humanos, mas também entre esses e as extensões de sua ação, essas análises aprofundadas de grupos de agentes e equipamentos que povoam o espaço financeiro, ela seduz pela riqueza de detalhes que o sociólogo revela e que são diferentes dos dados normalmente apontados pelos economistas como relevantes para explicar a dinâmica da atividade que ambos procuram explicar (MacKenzie, 2001). Além disso, e especialmente na zona empírica do universo financeiro, a etnografia é um instrumento praticamente específico do cientista social, que lhe confere cidadania científica e o próprio Mackenzie lembra esse "fundo de comércio específico" quando, nas páginas do tradicional Financial Times, ele se dirige a um público mais provavelmente próximo das profissões financeiras. E, se pensarmos no business as usual, será difícil encontrar na sociedade um grupo mais distante e menos interessado na Sociologia. Portanto, a simples publicação de sua análise naquele espaço é um evento sui generis. Num quadro como esse a etnografia, a famosa "descrição densa" de Geertz, se reforça como uma ferramenta profissional e intelectual difícil de ser descartada, ou mesmo relativizada. Entre outros motivos porque, uma vez conhecida e disponibilizada, ela tende a fornecer descrições da realidade econômica e financeira em níveis de detalhe apropriados para os jornalistas construírem as narrativas "interessantes" que caracterizam a boa prática do seu ofício (Manoff e Schudson, 1986). E dado o papel central da mídia na consagração profissional dos nossos tempos, se realmente tivermos um uso mais intenso das descrições densas, a proximidade da abordagem dos SSFs com o campo do poder tende a aumentar, pelo menos no subespaço ocupado pelo poder intelectual.

A abordagem etnográfica que os SSFs herdaram dos SSS enfatiza os acordos, os consensos entre os diversos envolvidos em transações (espaço no qual essa nomeação normalmente tem uma conotação denunciatoria) científicas e, por extensão, as transações financeiras6. E a tentação de operar ou de ter voz sobre a "mão direita" talvez aumente a tendência a enfatizar as convergências e através desse enfoque "construtivo e otimista", rivalizar com as postulações tradicionalmente positivas e normativas da teoria econômica ortodoxa. Num quadro institucional em que a Sociologia é inferiorizada diante da Economia, mas no qual os praticantes da sociologia econômica, bem como seus predecessores da sociologia das organizações disputam espaços nas business schools, não chega a ser surpresa a tentativa de buscar respostas sociológicas que disputem com a disciplina dominante o terreno do prestígio junto aos governos e à mídia. Até porque é bastante evidente o incômodo não só institucional como teórico dos sociólogos diante do imperialismo economicista que ficou claro a partir de Becker e que só cresce desde então (Becker, 1981). De um lado o (quase) monopólio da teoria econômica nas questões que dizem respeito à mão direita. Do outro, as diversas tentativas de "colonização" da mão esquerda por enfoques econômicos. Há uma clara disputa pelo espaço dos objetos empíricos que se corporifica nas disputas pelo "bom método" de dar conta dos fenômenos sociais e econômicos7. É, portanto, sociologicamente necessário dar conta dessa disputa de fronteiras para entender minimamente a sociologia que rege a sociologia das finanças e as razões que impelem os pesquisadores a desenvolver ou adotar uma dentre as diversas abordagens (Bourdieu, 1997).

Em termos mais substantivos, como a inspiração dos SSFs vem diretamente dos SSS, é relevante pontuar algumas diferenças entre os objetos de cada uma delas. Desde o trabalho de Garfinkel (1981), vemos como, no mundo científico, se cria um consenso em torno da existência "real" de uma partícula subatômica "teórica" e como esse consenso gera uma representação específica da realidade natural e, em seguida, instrumentos de análise que reiteram a existência da partícula e um programa de pesquisas que parte desse princípio (Gigerenzer, 1996; Douglas, 1998; Hacking, 1999; Staley, 2004). Os SSFs replicam esse programa para os instrumentos financeiros. Ora, no mundo da ciência pode ser razoável subordinar a importância das disputas de poder. Evidentemente elas também existem nessa esfera, mas são bastante eufemizadas pela ideologia do progresso científico e da existência de uma comunidade intelectual acadêmica regida pela cooperação entre seus participantes, democraticamente descritos como "pares". E por isso o efeito subsequente dos consensos obtidos em torno dos conceitos científicos e depois "performatizados" nos instrumentos e programas de pesquisa acaba escondendo o traço das disputas, os tornando verdadeiras "páginas viradas" e a sequência irreversível. A ciência tomou um determinado caminho e só uma revolução interna poderá alterá-lo (Hacking, 1983; Douglas, 1998).

Mas quando caminhamos para o explicitamente competitivo mundo das finanças esse pressuposto e esse curso, razoáveis no espaço anterior, ferem de morte a realidade empírica. Nesse sentido creio que no espaço financeiro, um dos principais subespaços do campo do poder, essa abordagem conduz a uma armadilha. Convivem dinamicamente nesse espaço diversas comunidades de agentes e cada uma delas disputa o cetro de grupo mais importante. Essa disputa é, como sempre, implícita na sua dimensão identitária, mas é também explícita e muito diretamente econômica e política, já que a importância reconhecida de cada grupo lhe confere maior ou menor remuneração, possibilidade de inserção profissional e capacidade de influenciar outras esferas de sociabilidade, em especial os diversos níveis e agências governamentais. Direta, através da regulamentação e seus detalhes pelas agências reguladoras e da aceitação pela clientela, ou indiretamente através da sanção legal, os instrumentos financeiros são, ou deixam de ser, viabilizados na interface com os governos ou com os atores institucionais formalmente fora da esfera dos mercados8. E mais do que isso, já que os diversos tipos de títulos concorrem pela predileção dos investidores, se uma família de papéis se destaca positivamente, outros se eclipsam ou perdem a importância relativa. E em consequência também ganham ou perdem os grupos de profissionais que os emitem e negociam. Logo, como o peso relativo de cada papel depende do beneplácito dos governos e de suas agências e da capacidade de influenciar os intermediários os quais, por sua vez, influenciam os consumidores e reguladores de títulos, o jogo que se joga no espaço financeiro é intrinsecamente heteronômico. Assim, o ponto estruturante da realidade é a competição perpétua, jamais apaziguada, não só entre os diversos grupos de financistas propriamente ditos, mas também pela diferenciabilidade na influência sobre outros agentes e agências que possam condicionar suas disputas. Essa realidade não é a mais fácil para a etnografia. Reapresenta-se no nosso espaço o problema mais geral da etnografia das elites econômicas sistematizado por Marcus e Hall (1992). Elites têm, por definição, a capacidade de seduzir os seus observadores e conduzi-los a aceitar suas teodiceias e a entender & constituir o espaço social como um todo a partir de suas razões e interesses. Concretamente, a sedução faz naturalizar os comportamentos desses agentes dotados de poderes tanto econômicos quanto simbólicos e tornar "autoevidentes" suas visões de mundo e em especial da economia. Afinal, se de um lado não podemos deixar de concordar com Boltanski (2009) que o mundo comporta diversas realidades, também não podemos esquecer que as diversas versões de mundo estão em competição permanente e que essa disputa é a base mesma da atividade política e da dinâmica social de qualquer sociedade (Duby, 1978; Bourdieu, 1997).

Ainda que os nossos instrumentos de objetivação nos ajudem a evitar a armadilha, eles não podem ser considerados antídotos totalmente seguros contra a sedução das elites. Etnografias podem ser apropriadas socialmente como narrativas que irão contribuir/construir sentido para a crise. Evidentemente esse resultado indireto da atividade intelectual não pode ser controlado ou coibido no que diz respeito aos usos sociais da escritura científica. Mas cabe a ressalva sobre a sua própria performatividade. Assim como os estudos da sociologia da educação dos anos 1960 e 1970 acabaram se incorporando aos discursos oficiais sobre esse importante tema da sociedade gerando uma reflexão sociológica sobre esses usos, com muito mais propriedade podemos esperar uma análise das consequências sociais dos seus estudos por parte dos promotores da performatividade como eixo condutor dos estudos sociais sobre as finanças.

Aos meus olhos, a falta (pelo menos até o momento) de uma sociologia da sociologia da performatividade pode estar relacionada com o pressuposto não trabalhado, mas implícito na metodologia e nas estratégias intelectuais, da autonomia praticamente absoluta da esfera financeira, aqui reduzida aos mercados no seu sentido estrito. Deixando implícito que o espaço é autônomo, uma afirmação que pode ser considerada trivial no sentido de corroborar o senso comum sobre o tema, o poder explicativo da descrição densa das suas populações resgata a dinâmica social que move o espaço. Tudo se passa como se o campo do poder pudesse ser reduzido ao espaço específico das interações produzidas nos mercados financeiros e, portanto, sua etnografia pudesse restituir a dinâmica mais geral desses processos de decisão cujos contenciosos são tão importantes que alteram sensivelmente a ordem das prioridades imperantes na sociedade. Mas, creio eu que a crise, ao desnudar a relatividade da autonomia, nos obriga a repensar a capacidade analítica do instrumento quando aplicado ao objeto "crise financeira" e questionar a ilusão intelectual que ele pode produzir (Grün, 2010).

Há duas razões para a ressalva. Em termos empíricos elas estão interconectadas, são os dois lados da mesma moeda, mas analiticamente têm de ser tratadas de forma separada. Em termos concretos e cronologicamente situados, o principal resultado da dominação financeira é que ela não só implica, em tempos "normais", uma enorme transferência de renda para os financistas e seus aliados como também, durante a crise, obriga a sociedade a pagar a conta dos seus desenvolvimentos negativos. E esse resultado deve ser apreciado tanto no espaço propriamente empírico quanto na capacidade dos diversos setores da sociedade de dar conta do jogo em que estão engajados. Por isso, ainda que os dois problemas sejam "gêmeos" em termos da sua economia política ou da dinâmica da distribuição do produto social, sociologicamente eles precisam ser tratados de maneira separada, por causa das sutilezas da dimensão cognitiva na apreensão das consequências da dominação financeira sobre o corpo social.

O socorro concedido ao mundo financeiro envolve cifras gigantescas, muito distantes da compreensão cotidiana, não só na magnitude, mas também no significado dos fluxos de recursos para o funcionamento da sociedade: eles serão entregues às entidades financeiras como empréstimos com condições razoáveis de ressarcimento? Eles representam algum tipo de doação a fundo perdido? Eles alteram as prioridades normais e acordadas da vida política e social, normalmente estabelecidas a partir dos processos democráticos de escolha de representantes? A estatização do sistema financeiro, evitada até agora pelo setor, pode voltar como alternativa legítima? Em que medida a linguagem cifrada das finanças que envelopa o debate público sobre a crise financeira, suas causas e consequências são compreensíveis para o "cidadão comum"?

A consistência empírica da abordagem nominalista

Diante do quadro nuançado, até onde podemos nos satisfazer com esse "banho de realidade interna"? Poderíamos contrapor uma das visões sociológicas com as quais iniciamos a reflexão à outra ou aumentar o nível de generalidade e tentar dar conta das duas ao mesmo tempo. A análise contrastada do caso brasileiro, país que foi apenas moderadamente tocado e principalmente pelo lado do choque exógeno, com o caso norte-americano, posicionado no seu centro, permite fazer essa composição mais facilmente. Nesse sentido, minha pretensão é mostrar que uma análise dos esforços para fazer prevalecer uma das diferentes versões para a "crise" pode realizar essa convergência. Aos meus olhos, esse caminho eleva o grau de conhecimento sociológico da configuração que a sociedade chama de "crise" e constrói um ponto de vista especificamente sociológico sobre o fenômeno que resgata o essencial de suas linhas de força, reconstituindo analiticamente a sua dinâmica. Vemos que, no que diz respeito à "crise", nomear é dividir e instituir o mundo (Bourdieu, 1980a). Na lógica dessa operação sociológica, Bourdieu (1997) incorpora a ideia do "nominalismo dinâmico" desenvolvida por Hacking (2002) a partir de Foucault e de alguma forma contida em Goodman (1988) e vai mais adiante, insistindo no caráter cultural dessas disputas e sobre suas enormes consequências na instalação, reiteração ou mudança dos sensos comuns que guiam as sociedades, suas inércias e ações (p. 221).

Assim, a própria denominação "crise" deveria ser problematizada para resgatar as linhas de força que regem o contencioso. Nos dois pólos, a declaração da "crise" permite aos governos e eventuais setores que deploram o predomínio financeiro das sociedades pretenderem níveis de intervenção naquela esfera que estariam descartados liminarmente em tempos ditos "normais". Já para o setor financeiro, a declaração de crise permite a busca de socorro econômico extraordinário, que em outras circunstâncias seria questionado, contingenciado e sujeito a contrapartidas dolorosas. No curto prazo, tudo indica que os antípodas se tocam, convergindo para uma zona de interesse comum. Mas é claro que, como observamos acima, essa situação é passageira e evolui para um contencioso praticamente aberto. E, nesse sentido, um dos maiores pontos de interesse são justamente as formas e coalizões através das quais as finanças procuram restabelecer o predomínio ao mesmo tempo econômico e cultural existente antes da eclosão da crise.

LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Por uma sociologia do escândalo

Na novo número da REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, você encontrará um ótimo artigo do Professor Roberto Grün, da UFSCAR. Reproduzo parte aí embaixo. Confira!

Escândalos, tsunamis e marolas: apontamentos e desapontamentos sobre um traço recorrente da atualidade*
Roberto Grün


Segundo a Wikipédia, o Brasil passou por 97 escândalos políticos e financeiros na década de 1990. Na primeira década do novo século, foram registrados 125 eventos "dessa natureza".1 Essa catalogação parece comprovar a crença popular de que "o Brasil não tem jeito". Um exercício sociológico talvez ajude a discutir essa crença arraigada, qualificá-la numa perspectiva analítica e, oxalá, também ajudar a sociedade a controlar seus efeitos nefastos que se propagam em diversas esferas da sociabilidade.

Num primeiro momento, poderíamos coonestar o dito popular, segundo o qual "o Brasil é um escândalo". Numa segunda reflexão, menos conjuntural e sanguínea, talvez seja interessante invocar a sociologia para complicar um pouco o senso comum. Nesse sentido, a tarefa é mostrar que os escândalos podem ser alguma coisa maior e mais complexa do que a simples manifestação de descalabros (Thompson, 2000; Chaia e Teixeira, 2001; De Blic, 2003; Neckel, 2005; Adut, 2008). Nessa linha, sugiro que os escândalos podem ser utilmente tratados como uma forma de ação, de controle e também, por vezes, como um mecanismo de mudança social. Através dos escândalos, a sociedade abandona, reitera, altera ou cria normas de convívio e de legitimação.

Os escândalos fazem transparecer mudanças sociais mais ou menos profundas, que foram gestadas na longue durée, sem que a percepção social as tivesse acompanhado e, quando eles explodem, nos damos conta súbita e dramaticamente das transformações em questão. O corolário dessa hipótese é que os nossos escândalos, pelo menos analiticamente, deveriam ser vistos não como uma manifestação da danação eterna do Brasil e dos brasileiros, mas antes uma evidência do vigor com que a sociedade discute, preserva ou altera as normas que ela reputa corretas ou erradas. Nesse caso, estaríamos diante de uma variação, ou generalização, daquela afirmação mil vezes repetida por todo o Ocidente, sobre a "fragilidade da democracia". Ainda que os percalços aconteçam aqui e ali, e que sejam dolorosos, na maior parte das vezes o brado sobre a democracia como "plantinha frágil" mostra que ela se preserva, apesar de sua fragilidade. Mas então, o que quer dizer esse bordão tantas vezes evocado e cuja "não facticidade" não impede o seu uso continuado? Com Douglas (1986) lembramos que o uso continuado de bordões é uma técnica social conhecida de reiteração de convenções cognitivas. Alhures, a autora nos permite sugerir mais diretamente que essa é a forma específica como a democracia se enraíza cada vez mais e se torna incontornável como norma de convívio das sociedades contemporâneas (Idem, p. 17). Respirando a mesma inspiração na análise que agora apresento, trata-se de explorar uma abordagem durkheimiana sobre as formas dos ciclos de ação/imposição/reiteração/transformação da consciência coletiva das sociedades, de maneira análoga àquela que diversos autores empregaram para dar conta de fenômenos aparentemente tão díspares como escândalos em sociedades pré-modernas e em comunidades científicas (Gluckman, 1963; Fleck, [1935] 1979).

LEIA O RESTANTE DO ARTIGO AQUI.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Economia e religião

Confira abaixo matéria publicada na edição on line do EL PAÍS.

La economía entiende muy poco de dioses
Un estudio rebate la clásica identificación entre protestantismo y capitalismo - ¿Influyen las diferencias culturales en el desarrollo? - ¿Por qué triunfan o fracasan los países?
M. ANTONIA SÁNCHEZ-VALLEJO

Si el sociólogo Max Weber (1864-1920) viviera, puede que hoy hubiera titulado de otro modo uno de sus libros más importantes, La ética protestante del capitalismo. Porque el desafío económico de los países asiáticos, por un lado, y la emergencia de potencias que poco o nada tienen que ver con la tradición de Lutero configuran un panorama alejado del maniqueísmo protestantes-católicos en que se inscribe la obra de Weber, cuya tesis viene a ser que el talante industrioso, emprendedor e individualista de los protestantes es un factor más acorde con el mercado que el de los católicos, supeditados a la jerarquía y contrarios a la usura.

Ni el capitalismo es lo que era cuando Weber escribió esa obra, ni las sociedades occidentales (protestantes o católicas, tanto da) son las únicas que rigen los destinos del mundo, y mucho menos en el contexto de la actual crisis. Si a ello se añade que algunos expertos refutan la tesis de la obra de Weber, el debate sobre el triunfo o el fracaso de las naciones debería formularse en términos globales, y, por mor de la corrección política, con independencia de cualquier mención religiosa, capaz de encender hogueras como bien ha podido comprobar Barack Obama al apoyar públicamente la construcción de una mezquita en la zona cero de Nueva York.

Averiguar si los países protestantes -o los confucionistas o los sintoístas, en el siglo XXI- son más prósperos que los católicos por la influencia de distintos factores culturales es una pretensión, por general, demasiado equívoca. Bélgica, de mayoría católica, es un país desarrollado, por no hablar de la católica Italia, que pertenece al G-8. Los economistas, en general, niegan la mayor: no hay hecho cultural que influya en la cuenta de resultados. Sociólogos y antropólogos, por no hablar de los teólogos, sostienen en su mayoría lo contrario: que es posible hallar la influencia que una fe o, por llamarlo de otro modo, un hecho cultural, tiene en aspectos tan cuantificables como el déficit o el PIB de una nación.

El doctorando de la Universidad de Harvard Davide Cantoni se ha atrevido a matar al padre de la sociología moderna refutando en parte su tesis de que protestantismo es igual a riqueza. Con un estudio titulado Los efectos económicos de la reforma protestante, Cantoni analiza el crecimiento económico de 272 ciudades alemanas (162 luteranas, 88 católicas y 21 calvinistas) de 1300 a 1900, llegando a la conclusión de que la diferencia de religión no explica las diferencias de crecimiento entre unas y otras.

Interpelado sobre la osadía que supone para un científico social llevarle la contraria a Weber, Cantoni advierte contra la tentación de sacar "demasiadas conclusiones" de los resultados de su trabajo. "Mi investigación es una comparación de largo recorrido, desde 1300 a 1900, de ciudades alemanas. Su relevancia es, ante todo, local, en el sentido de que responde a este planteamiento: ¿Cuál ha sido el impacto de la reforma protestante en el crecimiento de las ciudades alemanas entre 1300 y 1900?". Ante la tentación de extrapolar algún dato, Cantoni pide extremar la cautela: "En un sentido más amplio, el estudio podría servir para pronunciarse, cum mica salis, sobre la importancia del protestantismo en el crecimiento económico de Europa en general. Pero usarlo en un contexto distinto, como por ejemplo la Latinoamérica actual, no es de recibo".

Eso por lo que hace a la hipotética influencia del protestantismo en la economía. Porque el contexto en que Weber pergeñó su obra era ajeno a la actual pujanza -demográfica y política- del islam; al desafío económico de los tigres asiáticos y al mestizaje sociocultural -es decir, también religioso- de algunas de las potencias emergentes: Brasil, por ejemplo. El desempeño económico de India o China -que ya es la segunda potencia mundial, por delante de Japón- y su éxito global merecen capítulo aparte. Pero como sustrato del debate, el influjo de las diferencias culturales en los distintos modos de desarrollo de las naciones sigue teniendo cierto aliento, pese a las reticencias economicistas. A modo de ejemplo, aun políticamente incorrecto, para suscitar a las bravas la cuestión: ¿Puede triunfar económicamente un país -cualquiera de los musulmanes- que se detiene cinco veces al día para rezar? ¿Suponen las religiones orientales, del confucionismo al sintoísmo, una patente de éxito para el desarrollo económico, pese a las condiciones de precariedad de la clase trabajadora -menores incluidos en algunos casos-, o en aquel solo influyen circunstancias objetivas, cuantificables?

"Cantoni compara alemanes con alemanes; según su tesis, lo importante es ser alemán, no protestante o católico", explica José Ignacio Torreblanca, del FRIDE, que se hizo eco de la tesis de Davide Cantoni en un artículo publicado en EL PAÍS (Prejuicios, 5 de abril de 2010). "Lo interesante del debate de las teorías del desarrollo es averiguar qué circunstancias objetivas influyen en el triunfo. Y, al revés, cuáles están detrás del subdesarrollo. Hay una estructura de oportunidades: los países más que pobres son desiguales. Todas las periferias, por definición, son más pobres que el centro, donde se concentran las oportunidades. Y eso puede verse incluso en la Unión Europea. ¿Quiénes son los países que están a la cola de la UE? Irlanda, Portugal, España y Grecia", explica Torreblanca. De los cuatro, tres (Irlanda, Portugal y España) comparten tradición cultural, y profundas raíces católicas.

Para Iliana Olivié, investigadora principal de la Fundación Elcano y profesora de Teoría del Desarrollo Internacional en la Universidad Complutense de Madrid (UCM), tras el éxito de muchos países asiáticos no hay que ver la velada o la patente influencia de las religiones que sus poblaciones profesan, sino políticas integrales de desarrollo. "Aunque hay muchos casos diversos, hay elementos comunes: una política integral de desarrollo en la que todo se supedita a ese modelo, que además es un modelo nacional; y una apropiación del mismo por parte de la población. La sociedad ha metabolizado ese modelo, lo ha hecho suyo con un patriotismo bien entendido. ¿Se puede concluir de ahí que las filosofías orientales conducen al éxito económico? De ninguna manera. Lo que diferencia a Asia es ese proyecto nacional y coherente de desarrollo, que incluye al conjunto de la sociedad y que va a ir adaptándose a los tiempos". Ahora bien, aunque Olivié se niega a aceptar que en el desarrollo influya factor cultural alguno, "si hay una cierta homogeneidad cultural, social, étnica, puede que sí ayude...". Pero sin inferir de ello que las filosofías orientales empujen al éxito. "De ninguna manera", sentencia.

Desde los tiempos de Adam Smith y Karl Marx, el debate sobre el desarrollo de las naciones se formula en torno a tres puntos básicos: "Mayor o menor intervención del Estado; si es necesaria o no una industrialización, un eje de discusión que se ha revitalizado con el extraordinario desarrollo de China, y mayor o menor apertura de los mercados, algo que está relacionado con el primer punto. Este esquema sustenta todas las teorías de desarrollo", explica Olivié.

La investigadora señala, no obstante, que, al pensar en clave de eficacia, competitividad o éxito, "lo hacemos influidos por la cultura dominante, que es la anglosajona". Y, a la inversa, si repasamos el panorama económico iberoamericano -con la excepción de Brasil, o del despegue económico chileno de los años noventa-, lo hacemos enfocando a países que se emanciparon sobre la base -las ruinas- de un sistema ajeno, el colonial. "España exportó un modelo de burocracia institucionalizado, y es verdad que ha podido dejarlo como legado en América Latina", señala Olivié. No obstante, en un debate como este "no hay síes ni noes, todo es una amplia gama de grises".

Federico Steinberg, también investigador principal de la Fundación Elcano y profesor de Economía en la Universidad Autónoma de Madrid, comparte con su colega el rechazo inequívoco a la influencia cultural como determinante del éxito o el fracaso económico de una nación. "A los economistas no nos gustan las explicaciones culturalistas, parte del desarrollo asiático se puede explicar sin recurrir a ellas. La gente responde a incentivos, esta es la base de la teoría económica. Si todo fuera [influencia] cultural, estaríamos abocados a un determinismo trágico". Pero concede: "No negamos que la ética protestante esté detrás de gente más ahorradora o inversora, pero lo que importa es que las políticas públicas se hagan bien o mal". Así, si la religión -la diferencia cultural, en suma- no es determinante, ¿influye más el contexto? ¿Puede un país sustraerse a la crisis con un buen rumbo económico? "Los países con buenas políticas internas, por ejemplo Brasil, siguen desarrollándose pese a que el marco internacional no es favorable. En suma: el desarrollo consiste en buenas políticas públicas internas; el subdesarrollo, en lo contrario, y esto sucede tanto en dictaduras como en democracias...".

El sociólogo Enrique Gil Calvo defiende a capa y espada la influencia de factores culturales en los distintos grados de desarrollo. En el ámbito occidental, dice, "hay tres mundos del bienestar: el nórdico, que equivaldría a la socialdemocracia; el anglosajón, o liberal, y el continental, o democristiano. Así que por un lado estarían los modelos nórdico y anglosajón, y por otro, todos los demás, es decir, lo que ahora llamamos PIGS [acrónimo de Portugal, Irlanda, Grecia y España]. Esta división se puede apreciar también en las políticas públicas, incluso en el mayor o menor grado de corrupción", en la que, no hay que decirlo, los países meridionales de la UE sacan peor nota que los del norte.

Pero ¿dónde está la explicación? ¿En qué hunde sus raíces la diferencia entre los tres bloques? Gil Calvo no lo duda: "En la religión. Los nórdicos son luteranos; los anglosajones, calvinistas, y los PIGS, católicos, salvo Grecia". A los tres modelos de desarrollo citados podría añadirse un cuarto, el renano, un híbrido "donde se mezclan protestantes y católicos", explica Gil Calvo.

Para el sociólogo, las diferencias culturales lo empapan todo. "También los distintos sistemas jurídicos vigentes en Occidente, la common law frente a la civil law, que se basan en distintos modelos de familia, el autoritarista frente al igualitario, o el troncal, donde todo lo hereda el primogénito".

Ciñendo el debate al contexto occidental, Gil Calvo considera que la influencia de la cultura en la economía se puede demostrar empíricamente, "incluso a través de las encuestas". Por ejemplo, la desigual respuesta de las sociedades frente a la corrupción. En el Barómetro de enero de 2010 del CIS, la corrupción y el fraude solo constituían la undécima preocupación de los españoles, muy por detrás de cuitas como la economía o la inseguridad. "A los católicos se nos perdona la corrupción como se nos perdonan los pecados, basta con confesarse. Por el contrario, entre los calvinistas impera el sálvese quien pueda, la insolidaridad y la desigualdad: los ciudadanos quieren ser desiguales. El igualitarismo es el rasgo del luteranismo, con un Estado de bienestar muy completo en el que los ciudadanos quieren ser iguales".

Aunque este reportaje no tenga pretensiones científicas, queda demostrado, grosso modo, que la benedictina regla del ora et labora (reza y trabaja) ha tenido a lo largo de la historia muy desiguales manifestaciones según a qué punto del mapa se mire. Pero de ahí a que la cuenta de resultados de las naciones se incline más por el haber que por el debe, o viceversa, en función de una creencia determinada, es algo que pocos científicos, una vez muerto -y rematado por obra y gracia de Davide Cantoni- Weber, van a defender.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Geografia empresarial em mutação

Notícia publicada hoje no jornal Folha de São Paulo informa-nos da aquisição da Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açúcar. Trata-se de uma transação com grandes impactos na configuração do capitalismo no país. Confira abaixo trechos da matéria.

GIGANTE DO VAREJO
Grupo Pão de Açúcar adquire o controle da Casas Bahia
União dos dois gigantes do varejo cria o maior empregador privado do paísConcorrentes temem concentração em eletrônicos, principalmente em SP; para Diniz, todos saem ganhando com negócio.

MARIANA BARBOSADA REPORTAGEM LOCAL

O Pão de Açúcar adquiriu ontem o controle da Casas Bahia, em uma transação que não envolveu desembolso de dinheiro. A operação, que depende de aprovação dos órgãos de defesa da concorrência, transforma o grupo na quinta maior empresa do país em faturamento bruto, com R$ 40 bilhões. Perde apenas para Petrobras, Vale, Gerdau e AmBev.
(...)
Ele reforça a atuação do grupo Pão de Açúcar no segmento de bens duráveis (móveis, eletrônicos e linha branca) e amplia sua presença junto ao consumidor de baixa renda. Com a forte presença da Casas Bahia em São Paulo, concorrentes temem que a concentração em eletrônicos possa chegar a 70% no Estado."Essa é uma operação em que todos ganham", declarou o presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz. "Somos originários de alimentação, estamos crescendo em não alimentos. A Casas Bahia é uma grande oportunidade para nós, e essa é também uma grande oportunidade para eles", afirmou.
(...)
Para ficar com o controle (51%) da nova empresa, o Pão de Açúcar entrou com a rede Ponto Frio, avaliada na operação em R$ 1,23 bilhão, e com a rede Extra Eletro, avaliada em R$ 120 milhões.A Casas Bahia entrou com ativos e passivos operacionais, incluindo 25% da fábrica de móveis Bartira e uma dívida líquida de curto prazo no valor de R$ 950 milhões. Já contabilizada a dívida, a parte da Casas Bahia (49%) foi avaliada em R$ 1,290 bilhão. A nova empresa nasce avaliada em R$ 2,6 bilhões. Não entraram na operação, permanecendo com a família Klein, a propriedade dos imóveis (lojas) e dos centros de distribuição, 75% da Bartira e mais quase R$ 1 bilhão em créditos recebíveis.
A família Klein vai receber pelos aluguéis das 513 lojas por um prazo de dez anos prorrogável por mais dez (que renderão R$ 130 milhões/ano) e também ficou com um contrato de fornecimento de móveis por três anos, uma conta de R$ 18 milhões/ano. A conclusão da operação deve levar seis meses. A Globex é listada na Bovespa, mas só 4,5% de seu capital é negociado em pregão; destes, cerca de 70% pertencem à Fundação Pão de Açúcar. A empresa fez uma oferta de aquisição dessas ações para poder estruturar a operação. A empresa continuará listada na Bovespa.A expectativa é que faça uma oferta pública de ações, que não deve acontecer antes de 2011.Iniciativa de DinizAs conversas duraram menos de três meses e começaram por iniciativa de Diniz. "Eu liguei para o Michael [Klein] e fiz a proposta", afirmou.
(...)
Segundo Diniz, a integração da Casas Bahia deve seguir o exemplo da incorporação da rede de atacado e varejo Assai, adquirida pelo Pão de Açúcar há dois anos. O fundador do Assai, Rodolfo Nagai, permaneceu um ano e meio na gestão.Michael Klein ficará na presidência do Conselho de Administração da nova empresa, e seu filho Raphael Klein será o presidente-executivo, com mandato de dois anos.O Conselho de Administração terá nove integrantes, cinco indicados pelo Pão de Açúcar e quatro pela Casas Bahia. Pelo acordo, os donos da Casas Bahia não poderão se desfazer das ações pelo prazo de 12 meses. A partir desse prazo, eles poderão vender parte das ações progressivamente, chegando a 100% a partir do sexto ano. Já o Grupo Pão de Açúcar pode vender ações a partir do terceiro ano.

Com PAULO ARAÚJO , colaboração para a Folha.

Assinante Uol lê a matéria completa aqui.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A morte de Cecile e essa dor que invade a alma

O Marcelo Carneiro, querido amigo, professor da UFMA, acabou de passar a triste mensagem: morreu, terça-feira da semana passada, em Florianopólis, Cecile Raud.

Cecile era professora da UFSC e uma das principais animadoras do campo da sociologia econômica no Brasil. Eu a conheci em um dos encontros da ANPOCS. Intelectual brilhante e uma figura humana cativante, Cécile conseguia articular personalidades diversas para produzir um bom e produtivo debate. A encontrei pela última vez em maio passado, no Seminário Nacional sobre Sociologia Econômica.

Hoje é um dia de luto para todos nós que a conhecemos e que a admirávamos tanto. Leia abaixo a nota da agência de comunicação da UFSC.

Cecile era francesa de nascimento e faleceu na tarde desta terça-feira, dia 27, em Florianópolis. Integrava o corpo docente do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC.
Autora de primeira grandeza da Sociologia Econômica no Brasil, seus temas de estudo eram Estado, Mercado, Empresariado e Sistema Financeiro, Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural e Urbano.


Coordenava o Núcleo de Estudos Sociológicos do Mercado (Nusmer) www.nusmer.ufsc.br e integrava o corpo docente da Pós-graduação em Sociologia Política (PPGSP). Também era pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar em Sustentabilidade e Redes Agroalimentares.
Graduou-se em Ciências Econômicas e Comerciais pela École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales (ESSEC), França, onde também obteve o mestrado. Seu doutorado foi em Sociologia do Desenvolvimento pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), França.


Fez dois Pós-Doutorados: em Sociologia, na Université de Paris IX, Paris-Dauphine (U.P. IX), França, e em Sociologia Econômica e Política, na Wageningen University (WUNI), Holanda.

Fonte: Agecom/UFSC

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Reproduzo mais abaixo artigo de autoria de Ricardo Abramavay, publicado na edição de final de semana do jornal Valor Econômico. Confira!

Responsabilidade social empresarial dois ponto zero
Ricardo Abramovay*


Uma empresa não tem por vocação resolver os problemas de nossa sociedade mas é notável a ampliação do leque de questões que o mundo corporativo se propõe explicitamente enfrentar. A RSE 2.0 (responsabilidade social empresarial dois ponto zero) é uma nova etapa de mudança social que se distingue das anteriores por três traços fundamentais:

o primeiro é que a sustentabilidade está no centro da inovação de produtos e serviços da economia contemporânea. Isso vai além da descarbonização da vida econômica, e refere-se ao uso de energia, de água, de biodiversidade e do conjunto dos recursos materiais de que a reprodução da empresa depende. A marca da inovação contemporânea é que ela se volta a um objetivo muito preciso, que é o de promover um novo tipo de relação entre economia e natureza. É aí que estão os movimentos empresariais mais promissores. É isso que alarga o horizonte intelectual a partir do qual as ciências sociais concebem a empresa privada: os processos contemporâneos de inovação têm objetivos que envolvem uma dimensão política e cultural valorativa que supera a ideia de obter ganhos econômicos. Uma empresa que se defina apenas pela missão de fazer bem feito o que oferece a sua clientela e que não incorpora sua relação com os ecossistemas e com a sociedade a seu processo de tomada de decisões está muito aquém daquilo que os desafios da inovação contemporânea impõem.

O segundo traço dessa nova etapa é que ela traz a marca da participação de organizações da sociedade civil em dimensões básicas da própria vida empresarial. Um exemplo emblemático, nessa direção, é o do Forest Stewardship Council, que reúne ONGs, empresas, trabalhadores, institutos de certificação e representantes de povos da floresta. O Marine Stewardship Council (em que, vergonhosamente, o Brasil não tem qualquer iniciativa) responde ao mesmo princípio, com relação a recursos pesqueiros. Além dessas instâncias organizadas, que se multiplicam hoje em mesas-redondas setoriais, há uma pressão geral à qual respondem as empresas em torno da maneira como utilizam seus recursos.

Daí a importância da terceira característica da RSE 2.0: um aprofundamento impressionante da rastreabilidade e da elaboração de parâmetros que exprimam o ciclo de vida dos produtos (seu uso de materiais e de energia) bem como os efeitos sociais de sua produção e de seu consumo. Estão aí em jogo a razão de ser e as finalidades da empresa privada - duas questões que, no horizonte de Karl Marx e de Friedrich Von Hayek, não teriam sentido para uma economia capitalista e que, no entanto, hoje, dão o rumo da corrida competitiva.

Ricardo Abramovay é professor da FEA/USP.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um livro para referenciar o debate sobre violência e economia


No edição do último final de semana do jornal Valor Econômico, o Professor Ricardo Abramovay (FEA-USP) fez uma competente resenha de um livro do qual Douglas North é um dos autores. Com a verve de sempre, Abramovay nos convence da necessidade de comprar e ler imediatamente a obra.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Novas fronteiras do mercado: a internet e a guerra publicitária



Parece pornô, mas é guerra... publicitária


A internet potencializa novas formas de publicidade. O mercado publicitário, aos poucos e de forma um tanto assustada, vai se dando conta das novas fronteiras abertas. Os sites nos quais se pode postar vídeos, como o you tube, vão se transformando em espaços para a exposição de bens e serviços. Não raro, propagandas que seriam vedadas na TV são encaminhadas para a internet. E, muitas delas, viram fenômenos. Esse, me parece, será o caso da peças abaixo, produzida para divulgar o refrigerante sprite. Esse tipo de truque revela a imoralidade ou a amoralidade das transações de mercado? Bueno, eís aí um dos mais importantes tópicos de discussão da chamada Nova Sociologia Econômica.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

As redes sociais do crime organizado no Brasil

Confira, na Revista Brasileira de Ciências Sociais, texto de minha autoria intitulado "As redes sociais do crime organizado: a perspectiva analítica da NSE". Acesse-o aqui.

domingo, 22 de março de 2009

Uma ótima análise do dinheiro

Lembrei-me da socióloga Viviane Zelizer (já postei comentários sobre os seus trabalhos neste blog) ao ler um artigo de autoria de João Sayad tecendo comentários sobre o dinheiro, publicado no jornal Folha de São Paulo de hoje (no caderno Mais!). Leia alguns trechos abaixo.

O mito do capital
Ponto central da crise econômica, moeda é convenção social tomada como valor absoluto
Dinheiro é um mito; não é uma mentira; é história de origem esquecida que organiza a vida social
JOÃO SAYAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Claude Lévi-Strauss encontrou apenas cadáveres dos nhem-nhens, pintados de preto e amarelo, ornados com cocares de pena e espalhados em torno dos restos de uma fogueira.Morreram todos.Mais tarde, descobriu o ocorrido. No outono, os nhem-nhens montam fogueira muito alta. Se a fogueira queimar de alto a baixo, é sinal de ano farto e próspero. Se desmoronar, mau presságio. A fogueira desmoronou. O pajé não conseguiu controlar o desespero da tribo, que se suicidou com veneno de urutu.Não havia ameaça real -seca, invasão do território de caça ou doença. Tragédia produzida no mundo mítico. Um absurdo.O evento terrível assombrou o etnólogo. Uma comunidade bárbara e primitiva?Este artigo fala da crise financeira. Milhões perdem o emprego. Produziremos menos soja, celulares, remédios. A democracia será ameaçada pela radicalização.Nenhum problema real visível -excesso de produção, falta de demanda ou impasse político intransponível. Crise produzida no mundo do dinheiro.Dinheiro é um mito. Não é uma mentira. É história de origem esquecida que organiza a vida social -fala da criação do mundo ou de heróis que transmitem os valores da sociedade. O mito é um discurso.Dinheiro é o mito que organiza a atividade econômica, a escolha entre diferentes alternativas, custos, receitas, lucros. Tudo o que existe natural e pacificamente gera mais dinheiro do que gasta. O resto tem existência atribulada -requer subsídios, é político, efêmero, artificial, não sustentável: geleiras, florestas, orquestras sinfônicas, rios, literatura. (...)

Assinante UOL lê o artigo completo aqui.

sábado, 14 de março de 2009

Marcos Lanna, Delfim Netto e um dia que valeu a pena na UFRN

Ontem foi um daqueles dias em que a gente sente que a Universidade ainda vale a pena. Após um período de reuniões departamentais mais parecidas com terapias grupais de inimigos fidagais, tivemos, aqui na UFRN, um dia de discussões de altíssimo nível sobre a antropologia e a sociologia. O tema central foi a dádiva. De quebra, discussões sobre Lévi-Strauss, Marcel Mauss, Pierre Clastres, Gilberto Freyre e outros. O responsável por esse dia foi o Professor Marcos Lanna, da UFSCAR. Tivemos uma aula inaugural da pós de Ciências Sociais, pela manhã, e, no finalzinho da tarde, uma conversa descontraída sobre os trabalhos mais recentes que o professor vem desenvolvendo.

No meio da conversa, ao enfocar os desafios colocados para uma análise sociológica da vida econômica no Brasil, Lanna chamou a atenção para as análises qualificadas que o Delfim Netto vem produzindo nos últimos tempos. Por isso, para satisfazê-lo, coloco aqui um texto do famoso (e um tanto quanto controverso) economista e ex-ministro.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O crime organizado e a sociologia: o caso do roubo de cargas

O roubo de cargas é uma das principais expressões do crime organizado no Brasil contemporâneo. Diferente de outras atividades criminosas, como o tráfico de drogas, trata-se de um tipo de atividade que propicia uma articulação profunda com o mundo econômico formal. Enquanto em outras atividades criminosas, os laços com a economia formal se concretizam mais fortemente quando da legalização do dinheiro obtido através de atividades delituosas, no roubo de cargas, essa conexão é parte constitutiva mesma do empreendimento. Assim, o roubo de cargas pode ser apreendido como uma espécie de “sistema”, no qual os assaltos e roubos de cargas são apenas a parte “submersa” de um campo de ação que se alastra largamente pela vida social brasileira, particularmente nas transações econômicas.

Por isso mesmo, entendo que tomar essa atividade como objeto de reflexão sociológica exige-nos, em primeiro lugar, a ruptura com as narrativas insinuantes a respeito de uma engenhosa máquina criminosa, geralmente legitimada pela imaginação cinematográfica sobre a máfia. Assim, ao invés de se buscar super-organizações, dirige-se o olhar para as redes que conectam atividades legais (venda de remédios, combustíveis e produtos eletrônicos, por exemplo) com práticas claramente delituosas.

Esse caminho possibilita uma investigação sociológica mais fecunda, dado que pode fornecer elementos para uma compreensão a respeito das bases sociais do desenvolvimento dessa atividade criminosa. Isso porque direciona o nosso olhar sobre as demandas sociais que produzem, em grande parte como efeitos não-intencionados, os contornos do mercado de cargas roubadas.

Por outro lado, do ponto vista da sociologia, trata-se de ter como objetivo analítico não o desvendamento da natureza mesma da atividade do roubo de cargas no Brasil, mas a apreensão mesma da configuração do mercado de cargas roubadas tal qual este se estruturou no país a partir do início da década de noventa.

Essa questão central expressa, sobremaneira, a perspectiva epistemológica subjacente ao projeto da chamada “sociologia relacional”. A sua tradução concreta é a superação da tentativa de impor, a priori, uma estrutura à realidade e aos atores. Assim, tomando o mercado de cargas roubadas (e o “sistema” maior que o engloba que é o do “roubo de cargas”) como uma configuração social que é tanto resultado previsível de ações deliberadas de atores quanto o resultado não-previsto de ações realizadas por atores que, embora tenham competência para articular discursivamente uma resposta a respeito de porque fazem o que fazem, não têm nunca o controle do resultado de tais ações.

E essas ações dizem respeito não a atributos (elementos que antecipadamente definiriam tais atores), mas a resultados das suas interações. Interações que também não são realizadas por unidades atomizadas, mas por atores situados em redes sociais mais ou menos flexíveis. Esse tipo de apreensão aponta para uma outra questão que funcionará como um complemento daquela anunciada mais acima como central. Refiro-me à natureza dessas redes. Entender como esse mercado se configura e os elementos que o instituem deve necessariamente ser complementado por interrogações também sobre as redes que o atravessam e as posições dos atores dentro delas. Qual o padrão de estruturação das mesmas? São marcadamente hierárquicas ou se articulam de forma precária e flexível tendo como suporte os recursos à violência física (assassinatos, intimidações, seqüestros) para, nas situações limites, garantir a execução dos contratos?

Finalmente, questionar sobre o que é, como se configura e o que constitui o mercado do roubo de cargas implica em aposta numa perspectiva analítica distinta daquela que têm sido normalmente seguida por alguns dos mais importantes pesquisadores da violência no Brasil. Assim, trata-se de procurar cá no chão social tido como formal as bases e os elementos que dão forma e legitimidade àquelas ações e transações econômicas tidas como submersas.

Casamento e mercado

Ainda no terreno da sociologia do mercado, sugiro a leitura do texto Finding the Strength to Surrender Marriage, Market Theocracy and the Spirit of America, de autoria de Linda Kintz. Acesse o artigo aqui.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A NSE e a prostituição

Em artigo publicado na revista Caderno CRH, a professora Gláucia Helena Russo (UERN), expõe, desde uma perspectiva similar àquela assumida pela Nova Sociologia Econômica, o singificado do dinheiro nas relações de prostituição. O artigo de Gláucia é um resumo de sua tese de doutorado, orientada pelo Professor Orlando Miranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN. Intitulado No labirinto da prostituição: o dinheiro e seus aspectos simbólicos, o artigo pode ser acessado aqui.

domingo, 23 de novembro de 2008

Um tema fundamental para a NSE: as emoções nas transações econômicas

Uma das possibilidades de desenvolvimento da Nova Sociologia Econômica é investir na análise do papel das emoções nas tomadas de decisões na vida econômica. Se você se interessa por essa temática, aconselho-te a procurar mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos pelo cientista social norte-americano Paul DiMaggio.

A “economia da grandeza”: um filão teórico para a análise da globalização

Não raro, as análises sobre a chamada globalização, mesmo aquelas que se pretendem sociológicas, escorregam em duas armadilhas comuns: a denúncia ou o discurso profético. Por isso, o empreendimento sociológico desenvolvido por Luc Boltansky e Laurent Thévenot, centrado na explicitação das gramáticas políticas e dos mundos morais nos quais estão encaixadas as transformações econômicas contemporâneas, é uma alternativa aos lugares-comuns. Unindo pesquisa empírica e refinadas referências teóricas, além de um sofisticado conhecimento filosófico, a “empresa” sociológica dos dois cientistas sociais franceses é um aporte fundamental para os que querem adentrar na seara da análise sociológica da vida econômica. Sem jogar os valores para debaixo do tapete, ou descartá-los como próprios da individualidade ou das normas, como é usual para muitos sociólogos e economistas, Boltansky e Thévenot fazem um exercício radical: tomam os valores que referenciam as práticas para compreender as transações efetuadas entre os atores. A idéia é a de que, especialmente nas disputas desenvolvidos pelos agentes sociais nas mais diversas esferas, estão em jogo valorações de si e dos outros (“grandezas”) que necessitam ser levadas em conta na análise sociológica. Essa “economia da grandeza”, posso afirmar sem medo, é o que há de mais promissor na sociologia contemporânea.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

GT de Sociologia Econômica na SBS

O XIX Congresso Brasileiro de Sociologia, promovida pela SBS, ocorrerá de 28 a 30 de junho de 2009. Um dos Grupos de Trabalho do referido congresso é o de "Sociologia Econômica". Coordenado pelos professores Cecile Raud (UFSC), Cristiano Monteiro (UFF) e Marcelo Carneiro ( UFMA), o GT será um importante espaço para as discussões sobre os avanços teóricos e as aplicações empíricas da Nova Sociologia Econômica. O período de inscrição de trabalhos se encerra no dia 17 próximo. Para acessar o site do evento, clique aqui.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A sociologia e as políticas de transferência de renda na AL

No último número de uma das mais importantes publicações acadêmicas na área de sociologia, o Annual Review of Sociology, foi publicado um estudo sobre as políticas de transferência de renda na América Latina. De autoria de Enrique Valencia Lomelí, professor titular da Universidade de Guadalajara (México), o artigo, intitulado "Las Transferencias Monetarias Condicionadas Como Política Social en América Latina. Un Balance: Aportes, Límites y Debates", está em espanhol, algo raro no prestigiado periódico. Você pode acessá-lo aqui.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A NSE e o vinho

Mondovino, o filme-documentário produzido por Jonathan Nossiter, é uma boa aula de sociologia econômica. Com um certo verniz bourdieusiano, vá lá. Trata-se de uma abordagem leve sobre a construção social do gosto (do vinho) e de como o seu consumo é encaixado em processos de distinção social. Há também quem o "leia" como uma investigação sobre o processo de globalização. É assim, inclusive, que a obra é apresentada na Wikipedia. Acho essa última abordagem meio convencional.

Bom. Mas o que eu queria mesmo era te chamar a atenção para alguns dos campos de aplicação das ferramentas analíticas da Nova Sociologia Econômica (NSE), como aquele do mercado do vinho. Aproveito, então, para colocar a sua disposição um texto de autoria de Mauro Roese e Laura de Oliveira Neis intitulado "A construção Social do Vale dos Vinhedos: tradição e inovação na indústria vinícola de Bento Gonçaves -RS". Mauro é professor do Departamento de Sociologia da UFRGS e foi meu colega de estudos em Porto Alegre na agora tão longíqua década de 80. O texto foi apresentado no Encontro Anual da ANPOCS de 2007, no GT de Sociologia Econômica. Acesse-o aqui.