sexta-feira, 25 de setembro de 2009

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Reproduzo mais abaixo artigo de autoria de Ricardo Abramavay, publicado na edição de final de semana do jornal Valor Econômico. Confira!

Responsabilidade social empresarial dois ponto zero
Ricardo Abramovay*


Uma empresa não tem por vocação resolver os problemas de nossa sociedade mas é notável a ampliação do leque de questões que o mundo corporativo se propõe explicitamente enfrentar. A RSE 2.0 (responsabilidade social empresarial dois ponto zero) é uma nova etapa de mudança social que se distingue das anteriores por três traços fundamentais:

o primeiro é que a sustentabilidade está no centro da inovação de produtos e serviços da economia contemporânea. Isso vai além da descarbonização da vida econômica, e refere-se ao uso de energia, de água, de biodiversidade e do conjunto dos recursos materiais de que a reprodução da empresa depende. A marca da inovação contemporânea é que ela se volta a um objetivo muito preciso, que é o de promover um novo tipo de relação entre economia e natureza. É aí que estão os movimentos empresariais mais promissores. É isso que alarga o horizonte intelectual a partir do qual as ciências sociais concebem a empresa privada: os processos contemporâneos de inovação têm objetivos que envolvem uma dimensão política e cultural valorativa que supera a ideia de obter ganhos econômicos. Uma empresa que se defina apenas pela missão de fazer bem feito o que oferece a sua clientela e que não incorpora sua relação com os ecossistemas e com a sociedade a seu processo de tomada de decisões está muito aquém daquilo que os desafios da inovação contemporânea impõem.

O segundo traço dessa nova etapa é que ela traz a marca da participação de organizações da sociedade civil em dimensões básicas da própria vida empresarial. Um exemplo emblemático, nessa direção, é o do Forest Stewardship Council, que reúne ONGs, empresas, trabalhadores, institutos de certificação e representantes de povos da floresta. O Marine Stewardship Council (em que, vergonhosamente, o Brasil não tem qualquer iniciativa) responde ao mesmo princípio, com relação a recursos pesqueiros. Além dessas instâncias organizadas, que se multiplicam hoje em mesas-redondas setoriais, há uma pressão geral à qual respondem as empresas em torno da maneira como utilizam seus recursos.

Daí a importância da terceira característica da RSE 2.0: um aprofundamento impressionante da rastreabilidade e da elaboração de parâmetros que exprimam o ciclo de vida dos produtos (seu uso de materiais e de energia) bem como os efeitos sociais de sua produção e de seu consumo. Estão aí em jogo a razão de ser e as finalidades da empresa privada - duas questões que, no horizonte de Karl Marx e de Friedrich Von Hayek, não teriam sentido para uma economia capitalista e que, no entanto, hoje, dão o rumo da corrida competitiva.

Ricardo Abramovay é professor da FEA/USP.

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