Reproduzo mais abaixo artigo de autoria de Ricardo Abramavay, publicado na edição de final de semana do jornal Valor Econômico. Confira!
Responsabilidade social empresarial dois ponto zero
Ricardo Abramovay*
Uma empresa não tem por vocação resolver os problemas de nossa sociedade mas é notável a ampliação do leque de questões que o mundo corporativo se propõe explicitamente enfrentar. A RSE 2.0 (responsabilidade social empresarial dois ponto zero) é uma nova etapa de mudança social que se distingue das anteriores por três traços fundamentais:
o primeiro é que a sustentabilidade está no centro da inovação de produtos e serviços da economia contemporânea. Isso vai além da descarbonização da vida econômica, e refere-se ao uso de energia, de água, de biodiversidade e do conjunto dos recursos materiais de que a reprodução da empresa depende. A marca da inovação contemporânea é que ela se volta a um objetivo muito preciso, que é o de promover um novo tipo de relação entre economia e natureza. É aí que estão os movimentos empresariais mais promissores. É isso que alarga o horizonte intelectual a partir do qual as ciências sociais concebem a empresa privada: os processos contemporâneos de inovação têm objetivos que envolvem uma dimensão política e cultural valorativa que supera a ideia de obter ganhos econômicos. Uma empresa que se defina apenas pela missão de fazer bem feito o que oferece a sua clientela e que não incorpora sua relação com os ecossistemas e com a sociedade a seu processo de tomada de decisões está muito aquém daquilo que os desafios da inovação contemporânea impõem.
O segundo traço dessa nova etapa é que ela traz a marca da participação de organizações da sociedade civil em dimensões básicas da própria vida empresarial. Um exemplo emblemático, nessa direção, é o do Forest Stewardship Council, que reúne ONGs, empresas, trabalhadores, institutos de certificação e representantes de povos da floresta. O Marine Stewardship Council (em que, vergonhosamente, o Brasil não tem qualquer iniciativa) responde ao mesmo princípio, com relação a recursos pesqueiros. Além dessas instâncias organizadas, que se multiplicam hoje em mesas-redondas setoriais, há uma pressão geral à qual respondem as empresas em torno da maneira como utilizam seus recursos.
Daí a importância da terceira característica da RSE 2.0: um aprofundamento impressionante da rastreabilidade e da elaboração de parâmetros que exprimam o ciclo de vida dos produtos (seu uso de materiais e de energia) bem como os efeitos sociais de sua produção e de seu consumo. Estão aí em jogo a razão de ser e as finalidades da empresa privada - duas questões que, no horizonte de Karl Marx e de Friedrich Von Hayek, não teriam sentido para uma economia capitalista e que, no entanto, hoje, dão o rumo da corrida competitiva.
Ricardo Abramovay é professor da FEA/USP.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
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