quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A biopolítica da gripe

O medo se espalha e contamina as nossas relações. Apertos de mão vacilantes e beijinhos pretendidos, mas não realizados. Os gestos ficam mais contidos e isso nem sempre é tão ruim assim, não é? O problema mesmo reside no fato de que o medo legitima medidas de exceção. Em situações como essa, o controle sobre os corpos aumenta de intensidade. Não raro, o enclausuramento do outro indesejável (que pode ser qualquer um de nós) é visto até com certo alívio.

Eu não sei se vocês lembram, mas no começo da epidemia na América do Sul, aí pelo mês de abril, moradores de uma pequena cidade da Argentina apedrejaram um ônibus vindo do Chile que trazia, para o hospital local, uma pessoa supostamente doente da nova gripe. Pois é, o medo produz monstros intangíveis.

Se você tem alguma alergia e vai viajar de avião, tome cuidado. Após os primeiros espirros, logo alguém virá admoestá-lo sobre o seu estado de saúde. E cabecinhas atentas acompanharão o inusitado diálogo entre você e o fiscal voluntário da H1N1.

O pânico se espalha. Aulas são suspensas, reuniões adiadas e teorias conspiratórias vicejam como ervas daninhas após as chuvas. E começa a emergir relatos de parentes que isolam parentes. Laços são quebrados pelo medo do contágio...

Nessas horas, como em todas as outras, a análise crítica e um mínimo de distanciamento, são requisitos mínimos para a manutenção da lucidez.

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