Alysson Thiago é um cara brilhante. Formado em Ciências Sociais, ex-petiano, é um cara com uma formação invejável. Vale a pena, sempre, levar em conta o que ele escreve.
DEIXEM O STUART EM PAZ!
Alysson Thiago
Continuar um debate em termos moralistas, para saber quem é melhor pra casar se Marx ou Mill, não nos levará muito longe. Essa moral de estado civil é mais do que infrutífera. Ela é perigosa, pois caímos num jogo arriscado de classificações, no qual o discurso se encontra subsumido a uma política de identificação de amigos e inimigos, no qual o interesse principal é tratar os interlocutores como inimigos e adversários a serem desqualificados moralmente, derrotados, assim como desqualificar as pressuposições das quais partem. Isso mais bloqueia o diálogo do que o abre ou o faz avançar. Então, esqueçamos o “diga-me seus autores prediletos, que te direi quem és” ou o xeretamento intelectual sobre os "podres" da vida particular dos autores.
Da mesma maneira, penso ser pouco produtivo, pra não dizer irresponsável, reduzir o debate a uma questão de princípios; de saber quem está a favor da democracia e quem não está, quem adota posições “progressistas” e quem adota posições “reacionárias”; como se as posições contrárias ao voto paritário estivessem unicamente sustentadas na oposição ou rejeição à democracia como valor ou processo político em geral. Essas simplificações obscurecem o mais importante a ser debatido: quais os interesses políticos envolvidos na divergência de posições quanto ao voto paritário? A quem interessa e por que? Quais projetos de universidade, de cultura e política acadêmica, professores, alunos e funcionários estão debatendo ou apresentando à comunidade universitária e em geral?
A meu ver, o uso inapropriado e descontextualizado de princípios políticos, morais e autores são sintomáticos, nesse debate. Não são apenas naturalizações e substancializações, que esquecem as especificidades do campo social – a universidade – em que se está inserido, a desigual distribuição de responsabilidades e expectativas de professores, alunos e funcionários quanto à função primordial da universidade – a produção de conhecimento – e às exigências da sociedade em geral com respeito a cada segmento. Há aí também, uma preocupante finalidade de comprometer e avaliar caráteres determinando seu valor segundo as posições sustentadas, deixando de lado os verdadeiros alvos; as ideias, os projetos, os interesses, as possíveis conseqüências.
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2 comentários:
Da série de comentários,ou deveria dizer troca de farpas?!, este foi o que me pareceu o mais sensato na tentativa de por as coisas em seus devidos os lugares. Pelo jeito a coisa tá pegando fogo!
Esta novela sobre Stuart Mill se iniciou a partir de uma comparação que Isabela fez com Tragtenberg. Comparação válida, pois ambos os falecidos autores tinham argumentações radicalmente opostas sobre intelectualidade e poder, cuja leitura será de grande valia para quem quer que se interesse pelo tema.
Entendo que nesta comparação não estavam comportadas as discussões de Tragtenberg quanto a disciplina estatal do período Han chinês, tampouco as defesas de Stuart Mill à liberdade feminina. Infelizmente, pipocaram tergiversações ao ponto de discutir a assiduidade de Karl Marx em ritos fúnebres.
Alysson, não sei dizer se vi tantas naturalizações e substancializações quanto ranço. Há centenas de autores pertinentes, diversos princípios políticos invariavelmente presentes (democratização e meritocracia em seus níveis institucionais) e um punhado de posturas menos louváveis em jogo (demagogia, desqualificação mútua entre as categorias). Se não estamos conseguindo articular tudo isso direitinho, paciência, aqui somos apenas corpos incomodados em frente a um computador... Mas todos esses pontos devem ser atentados.
Mas sua proposta de uma análise mais rico, duvido que possamos ver. Para isso seria necessário que alguém se debruçasse sobre a dinâmica interna do centro, e analisasse o "cchla realmente existente", o cchla-rex. Isso não costuma acontecer na academia.
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