O conjunto dos atores envolvidos com o trabalho policial – agentes da Polícia Civil, PMs, ministério público, juízes, jornalistas, gestores públicos e políticos – conformam um campo social. Com uma certa licenciosidade, poderíamos defini-lo como o campo policial. Em realidade, esse é um campo que se apresenta nos mais diversos países ocidentais. O desafio é apreender a sua configuração em cada contexto nacional.
O campo policial é, como todos os outros campos sociais na elaboração do cientista social francês Pierre Bourdieu, um espaço de conflito e disputa por ganhos (capital) e recompensas posicionais. No geral, esse campo tem alguns elementos básicos estruturais que necessitam ser levados em conta se quisermos produzir análises substantivas sobre a sua configuração.
Quais os elementos do campo policial no Brasil que devem ser destacados?
1) É um sub-campo em que, apesar das força e do enraizamento das redes sociais que lhe dão sustentação, ocupa uma posição subordinada no vasto campo do poder;
2) Os seus agentes, com as exceções daqueles que se situam na zona fronteiriça com o campo judiciário, ocupam posições de status relativamente baixas;
3) Os ganhos legítimos dos seus operadores, também com a exceção dos que se situam na zona fronteiriça acima mencionada, são relativamente baixos;
4) Contraditoriamente, trata-se de um campo no qual os recursos econômicos (em termos de salários legítimos, como mencionado acima) relativamente baixos coexistem com uma grande força junto aos atores propriamente políticos;
5) Trata-se de um campo com força simbólica decisiva na medida em que detém o poder de nomear a normalidade (ou não) de uma determinada ordem social;
6) A posição dos agentes no campo não é determinada apenas pelo capital expresso nos cargos formais (nas patentes dos PMs, por exemplo), mas do quantum de capital social acumulado (e esse é um capital, sabemos bem, diretamente relacionado ao lugar ocupado por cada agente em redes sociais detentores de acesso a recursos culturais e materiais centrais em um determinado contexto).
Em uma próxima postagem, postarei alguns insights sobre a pertinência de se mobilizar a noção de habitus para a análise do trabalho policial.
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