domingo, 24 de janeiro de 2010

As eleições e a intenet

É possível controlar a rede? A judicialização da vida política ameaça a liberdade de informação, é o que podemos depreender de algumas das proposições formuladas por membros do judicário. Essa é uma discussão que ainda vai render. Por isso, transcrevo abaixo artigo do Alon Feurwerker abordando esta e outras questões. Confira!

O futuro esmurra a porta (24/01)
Alon Feurwerker

É passadismo tentar restringir o fluxo de informação na rede a partir de formas orgânicas de “controle”. A tendência é outra. É a disponibilidade “universal” de canais, banda e conexões

A transmissão pelo YouTube do Teleton “Hope for Haiti Now”, sexta à noite, foi uma antevisão do futuro, em meio à tragédia do presente. Talvez o terremoto tenha convertido o destroçado Haiti num ícone das dificuldades para universalizar o progresso e o bem-estar. No outro polo, a tecnologia permite a transmissão de um show daqueles pela internet, em alta definição, com qualidade excepcional.

Assim como é apenas questão de tempo as novidades de um Fórmula 1 chegarem ao carro zero que você vai comprar na concessionária, também tem data para chegar o mundo dominado pela convergência digital, que, batida, virou chavão. O que embute um risco: de tanto ouvir falar e nunca ver, você começa a achar que ela não virá mais. Pois ela chegou aos nossos computadores e celulares na sexta. Se você não viu, perdeu.

Toda inovação tende a universalizar-se, ainda que o processo não seja linear e sem buracos na estrada. Quais os principais obstáculos à convergência: a oferta de “banda”, o canal que conduz a informação distribuída em pequenos pacotes na rede, e a disponibilidade de conexões simultâneas ao servidor. No Teleton do Haiti, a conta de ambos foi para os veículos digitais e as empresas de tecnologia, que arcaram com os custos de oferecer uma infraestrutura “ilimitada” para que tudo corresse bem.

Foi um pool gigantesco, que virou conceitualmente a rede pelo avesso. Internet é pulverização, mas na sexta o “pool” inverteu a equação. Precisou apenas de massa crítica, atingida com a mobilização em torno do Haiti.

O que isso tem a ver conosco, com a política? Tudo. Se já éramos um país com milhões de técnicos de futebol, agora, além de milhões de cientistas políticos (Lula vai transferir os votos para Dilma ou não?), nos últimos tempos universalizamos também o debate sobre a democracia na comunicação.

Aqui há um problema: nossas discussões parecem focadas no passadismo, enquanto o futuro esmurra a porta pedindo desesperadamente para entrar. O que é o passadismo? Alguém imaginar que vai restringir o fluxo de informação na rede a partir de formas orgânicas de “controle social”, de restrições. O cenário do futuro é outro. É a disponibilidade “universal” de canais, banda e conexões. É a universalização da capacidade de dizer as coisas e ser ouvido.

A polícia e a Justiça irão adaptar-se para combater o crime na nova esfera, mas fora isso —e a não ser que se esteja a falar em censura— o controle será necessariamente distribuído, pulverizado. Não vai ser refém da esfera estatal, ou paraestatal, como acontecia na época em que predominava o broadcast, a radiodifusão. Ou em que era necessário um capital volumoso para bancar os custos fixos do impresso.

Talvez uma parte, a maior parte, da energia nacional investida no tema devesse então ser canalizada para encontrar meios de prover abundância tecnológica, para baixar radicalmente os custos de distribuição digital. Quem sabe não é um bom tema para a campanha eleitoral?

Brasileiro

Escrevi no passado que a fúria legiferante produziu entre nós algumas bizarrices, entre elas o estabelecimento de data oficial para o início das campanhas eleitorais. O Resultado prático? Violência contra os pequenos, impunidade para os grandes. Bem brasileiro.

Um candidatozinho a deputado pode ser punido pelo juiz se postar no Twitter que vai concorrer. Já os detentores das máquinas estatais usam-nas à vontade para buscar o voto.

Como escreveu ontem Fernando Rodrigues na Folha de S.Paulo, melhor acabar de vez com essa cláusula. Seria uma providência para a justiça social.

Rotina

Os arrufos entre brasileiros e americanos no Haiti só surpreendem quem não conhece a tradição de relações complicadas entre aliados nas guerras. Especialmente no campo de batalha.

O caso mais famoso envolveu o general americano Dwight Eisenhower e seu colega britânico Bernard Montgomery, parceiro no desembarque na Normandia e ao longo de toda a campanha subsequente contra a Alemanha nazista na Europa Ocidental. Como acabou a história? Ambos ganharam a guerra. Que é o que interessa.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (24) no Correio Braziliense,

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