quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Apodi, 1974: Guerrilha do Araguaia, doce de goiaba e as meninas da terceira série ginasial

Primeira metade da década de 1970. A ditadura militar estava em pleno auge. Nas grandes cidades, a repressão silenciara ou jogara para a clandestinidade a militância de esquerda. O movimento estudantil submergira e os sindicatos eram controlados com mãos de ferro pelos interventores indicados pelos generais. Nas pequenas cidades, sem história de militância política organizada, paradoxalmente, jovens estudantes sentiam-se mais livres para atiçar a curiosidade sobre o que ocorria no mundo mais além.

Assim, em 1974, quando a Guerrilha do Araguaia ainda não havia sido totalmente destroçada e era um acontecimento ignorado pela esmagadora maioria da população brasileira, em Apodi, no sertão nordestino, um grupo de jovens sabia da existência do movimento. E não só. Discutiam animadamente o que iriam fazer quando o Brasil todo se tornasse comunista (alivie um pouco, não comece a rir ainda, éramos o que hoje se chama de “adolescentes”...)

Quem passava-nos as notícias era um entusiasmado ouvinte da Rádio Tirana da Albânia, Carlos de Zé Cabral. Guiados por Carlos, mais três ou quatro colegas, todos com idade entre 12 e 14 anos, alunos do que então se chamava “segunda série do ginásio”, passamos a ouvir as locuções noturnas (em português) da rádio de um país que, segundo nos dizia Carlos, tinha o único e verdadeiro “comunismo” do mundo. “O resto, incluindo Cuba e a URSS, é só embromação”, dizia, com convicção de um crente, o nosso Carlos.

No horário do recreio, na calçada do anexo onde funcionava a nossa turma, em uma área externa à Escola Estadual Professor Antônio Dantas, discutíamos política e as letras das músicas de Chico Buarque. Sim, porque a Rádio Tirana tinha uma programação musical na qual só tocavam músicas do Chico e de mais uns dois ou três (Geraldo Vandré, Vila Lobos, Elis Regina e João do Vale).

Sonhávamos com a Revolução e com as meninas do 3ª série ginasial. Se possível, faríamos comícios para que elas nos notassem...

Mas também adorávamos doce de goiaba. Próximo à nossa escola, havia um bar no qual se podia comprar uma fatia de doce de goiaba (“de lata”). Os felizardos que tinha dinheiro para saborear essa oitava maravilha da culinária, podiam se refestelar com água gelada a gosto. E aquela água era um drink dos deuses! Um privilégio para poucos, dado que, naqueles tempos, em poucas casas de Apodia havia uma geladeira.

Araguaia, Revolução, Chico Buarque, meninas da 3ª série e doce de goiaba. Não sei exatamente a ordem, mas essas eram as nossas paixões naquele agora já longínquo ano de 1974.

Não fizemos a Revolução e nem as meninas (pelo menos àquelas da 3ª série) nos deram bolas. Dispersamo-nos pelo mundo. E ocorreu conosco o que ocorre com as amizades de infância: tornam-se irreconhecíveis quando os amigos de outrora crescem.

Nunca mais revi os companheiros de sonhos, delírios e discussões. Mas, ainda hoje, quando como um doce de goiaba (coisa que ocorre cada vez como menor freqüência, dado que devo seguir conselhos médicos e controlar o açúcar no sangue, coisa da idade), lembro de Revolução e meninas. E alguma música de Chico Buarque me vem à cabeça.

Um comentário:

SOS DIREITOS HUMANOS disse...

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA...




"As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão
têm direito inalienável à Verdade, Memória,
História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado




O MASSACRE APAGADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA


No município de CRATO, interior do CEARÁ, BRASIL, houve um crime idêntico ao do “Araguaia”, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará no ano de 1937, contra a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que tinha como líder religioso o beato "JOSÉ LOURENÇO", paraibano de Pilões de Dentro, seguidor do padre Cícero Romão Batista, encarados como “socialistas periculosos”.



O CRIME DE LESA HUMANIDADE


O crime iniciou-se com um bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como metralhadoras, fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como se fossem juízes e algozes.



A AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA SOS DIREITOS HUMANOS


Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará foi de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO / CRIME CONTRA A HUMANIDADE é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira bem como pelos Acordos e Convenções internacionais, e por isso a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - Ceará, ajuizou no ano de 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que: a) seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) sejam os restos mortais exumados e identificados através de DNA e enterrados com dignidade, c) os documentos do massacre sejam liberados para o público e o crime seja incluído nos livros de história, d) os descendentes das vítimas e sobreviventes sejam indenizados no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos



A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO


A Ação Civil Pública inicialmente foi distribuída para o MM. Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, redistribuída para a 16ª Vara Federal na cidade de Juazeiro do Norte/CE, e lá chegando, foi extinta sem julgamento do mérito em 16.09.2009.



AS RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5


A SOS DIREITOS HUMANOS apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife, com os seguintes argumentos: a) não há prescrição porque o massacre do Sítio Caldeirão, é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos das vítimas do Sítio Caldeirão não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do Czar Romanov, que foi morta no ano de 1918 e encontrada nos anos de 1991 e 2007;



A SOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA


A SOS DIREITOS HUMANOS, a exemplo dos familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, pelo desaparecimento forçado de 1000 pessoas do Sítio Caldeirão.


QUEM PODE ENCONTRAR A COVA COLETIVA


A “URCA” e a “UFC” com seu RADAR DE PENETRAÇÃO NO SOLO (GPR) podem encontrar a cova coletiva, e por que não a procuram? Serão os fósseis de peixes procurados na Chapada do Araripe mais importantes que os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO?



A COMISSÃO DA VERDADE


A SOS DIREITOS HUMANOS solicita apoio técnico para encontrar a COVA COLETIVA, e também que o internauta divulgue esta notícia em seu blog, e o envie para seus representantes na Câmara municipal, Assembléia Legislativa, Câmara e Senado Federal, solicitando um pronunciamento exigindo do Governo Federal que informe a localização da COVA COLETIVA das vítimas do Sítio Caldeirão.



Paz e Solidariedade,



Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br