Eu tinha, à época, a mesma idade dos jovens que o país irmão
enviava para a guerra. Em uma ilha que reivindicava como sua. Na Residência
Universitária II, da UFRN, onde eu residia, a discussão sobre a Guerra das Malvinas
dividia a nossa atenção no já longínquo primeiro semestre de 1982.
A chamada “imprensa alternativa” cobria com frenesi a guerra
que arrastava a Argentina para um dos mais dolorosos momentos de sua
convulsionada história recente. Os jornais trotskistas apostavam que a guerra
colocava o país à beira da revolução. Trata-se, segundo eles, de uma guerra
anti-imperialista.
Na época, eu era leitor e vendedor do saudoso “Movimento”.
Mas também acompanhava o mundo via Folha de São Paulo. Gastava os meus poucos vinténs
comprando o matutino paulista. Daí, em consequência, via a tal guerra com menos
vieses ideológicos. Achava que declaração de guerra aos ingleses era uma jogada
de uma ditadura militar que pressentia o seu fim. As Malvinas poderiam até ser
argentinas, mas a Guerra era inaceitável.
Parte da esquerda latino-americana entrou no jogo. Foram dois
ou três meses de transe anti-imperialista. Quando a face da aventura militar
argentina começou a aparecer, essa esquerda enfiou a viola no saco. E a face
não era nada glorificante: os generais argentinos mandaram jovens recrutas
enfrentar os bem-preparados e profissionais militares ingleses, auxiliados por
mercenários pagos a preço de ouro, diga-se de passagem. Os valentões, que
torturaram compatriotas, mostraram suas faces de mandriões covardes.
Os argentinos acordaram do transe quando os corpos dos
jovens imberbes começaram a chegar a Buenos Aires. Leopoldo Galtieri, o general
que iniciara a Guerra, cairia, sendo substituído por outro membro da Junta
Militar. Bom, o resto da história você conhece.
Por que lembrar do acontecimento? Bueno, porque, duas
décadas depois, a retórica militarista ainda encontra eco em algumas mentes
neste momento. E relembrar as mortes desnecessárias dos muchachos argentinos é
também uma forma de rechaçarmos as aventuras militares patrocinadas por
projetos políticos com déficits de apoio popular e de viabilidade política.
Não sei o que os caras da Residência Universitária discutem
hoje em dia. Nem se eles se encontram na “Roda de Paulo Pneu”, um círculo de
cimento, cheio de árvores e flores, onde nos reuníamos nos primeiros anos da
década de 1980. Imprensa alternativa já não há. Mas existe a internet com
possibilidades mil de informações consistentes. Espero que esta lhes inspire o
pensamento crítico.
Um comentário:
Professor, não existe esquerda na residência mais, existe um monte de pirralhos preocupados com oque vão ganhar com sua militância.
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