domingo, 3 de junho de 2012

Malvinas, 20 anos depois


Eu tinha, à época, a mesma idade dos jovens que o país irmão enviava para a guerra. Em uma ilha que reivindicava como sua. Na Residência Universitária II, da UFRN, onde eu residia, a  discussão sobre a Guerra das Malvinas dividia a nossa atenção no já longínquo primeiro semestre de 1982.

A chamada “imprensa alternativa” cobria com frenesi a guerra que arrastava a Argentina para um dos mais dolorosos momentos de sua convulsionada história recente. Os jornais trotskistas apostavam que a guerra colocava o país à beira da revolução. Trata-se, segundo eles, de uma guerra anti-imperialista.

Na época, eu era leitor e vendedor do saudoso “Movimento”. Mas também acompanhava o mundo via Folha de São Paulo. Gastava os meus poucos vinténs comprando o matutino paulista. Daí, em consequência, via a tal guerra com menos vieses ideológicos. Achava que declaração de guerra aos ingleses era uma jogada de uma ditadura militar que pressentia o seu fim. As Malvinas poderiam até ser argentinas, mas a Guerra era inaceitável.

Parte da esquerda latino-americana entrou no jogo. Foram dois ou três meses de transe anti-imperialista. Quando a face da aventura militar argentina começou a aparecer, essa esquerda enfiou a viola no saco. E a face não era nada glorificante: os generais argentinos mandaram jovens recrutas enfrentar os bem-preparados e profissionais militares ingleses, auxiliados por mercenários pagos a preço de ouro, diga-se de passagem. Os valentões, que torturaram compatriotas, mostraram suas faces de mandriões covardes.

Os argentinos acordaram do transe quando os corpos dos jovens imberbes começaram a chegar a Buenos Aires. Leopoldo Galtieri, o general que iniciara a Guerra, cairia, sendo substituído por outro membro da Junta Militar. Bom, o resto da história você conhece.

Por que lembrar do acontecimento? Bueno, porque, duas décadas depois, a retórica militarista ainda encontra eco em algumas mentes neste momento. E relembrar as mortes desnecessárias dos muchachos argentinos é também uma forma de rechaçarmos as aventuras militares patrocinadas por projetos políticos com déficits de apoio popular e de viabilidade política.

Não sei o que os caras da Residência Universitária discutem hoje em dia. Nem se eles se encontram na “Roda de Paulo Pneu”, um círculo de cimento, cheio de árvores e flores, onde nos reuníamos nos primeiros anos da década de 1980. Imprensa alternativa já não há. Mas existe a internet com possibilidades mil de informações consistentes. Espero que esta lhes inspire o pensamento crítico.



Um comentário:

midia rock natal disse...

Professor, não existe esquerda na residência mais, existe um monte de pirralhos preocupados com oque vão ganhar com sua militância.