Sofrível. Ou, para ser mais generoso, uma oportunidade
perdida. Refiro-me à matéria de capa do suplemento EU & FIM DE SEMANA do jornal
VALOR ECONÔMICO. Intitulado “Superior, mas nem tanto”, o texto ambiciona fazer
uma apresentação panorâmica dos desafios colocados para o ensino superior
brasileiro. Pauta legal! Mais do que atual, registre-se.
Infelizmente, o autor, Eduardo Belo, escolheu o caminho mais
fácil e, aparentemente seguro, ouvir alguns medalhões (dentre eles, nada menos que três ex-reitores
da USP) e uns três ou quatro especialistas, também ancorados em São Paulo (Simon
Swartzman, Naércio Menezes e Renato Janine Ribeiro. O resultado não poderia ser
pior: uma caricatura das caricaturas das críticas caricaturais da política de
expansão do ensino superior brasileiro. Tivesse odor, o jornal cheiraria a
mofo.
Entre preconceitos e boutades, alguns gráficos comparativos
do desempenho das universidades brasileiras em relação aos países do norte e
aos brics. Estes dados, de resto, são as coisas mais interessantes. Voltando às
boutades, tem uma impagável (mas, sei bem, pode ser reproduzida como verdade
nos cafés da Praça Vilaboim), emitida pelo Goldemberg a respeito do Programa CIÊNCIA
SEM FRONTEIRAS. Vou citá-la: “segundo
ele, os estudantes não dominam outros idiomas e, em boa parte, acabam se
concentrando em Portugal”. Aí nem o jornalista agüentou e esclareceu num
envergonhado parêntese: “A página do programa
na internet mostra que Portugal conta hoje com 623 bolsistas brasileiros
do Ciência Sem Fronteiras, enquanto na
Alemanha são 2.318 e nos Estados Unidos, 10.837)”. God Save Goldemberg!
Inacreditável! O incauto que se encantar com a capa do
suplemento do VALOR, de resto sempre um bom jornal, vai comprar gato por lebre.
Em meio a platitudes, das quais nem um cara sempre crítico e atilado como o
Janine escapa, a gente fica se perguntando (e se amedrontando, pois, no fundo
já sabemos a resposta) sobre o enraizamento social de visões tão empobrecidas e
superficiais sobre a Universidade brasileira, especialmente sobre as IFES. Se
gente que se diz especialista e que já foi gestor, tem esse tipo de apreensão
das coisas, o que pensará o eleitor médio (existe?) do, sei lá!, Tucuruvi?