domingo, 17 de agosto de 2014

Uma oportunidade perdida: a matéria do suplemento do VALOR sobre o ensino superior

Sofrível. Ou, para ser mais generoso, uma oportunidade perdida. Refiro-me à matéria de capa do suplemento EU & FIM DE SEMANA do jornal VALOR ECONÔMICO. Intitulado “Superior, mas nem tanto”, o texto ambiciona fazer uma apresentação panorâmica dos desafios colocados para o ensino superior brasileiro. Pauta legal! Mais do que atual, registre-se.

Infelizmente, o autor, Eduardo Belo, escolheu o caminho mais fácil e, aparentemente seguro, ouvir alguns medalhões  (dentre eles, nada menos que três ex-reitores da USP) e uns três ou quatro especialistas, também ancorados em São Paulo (Simon Swartzman, Naércio Menezes e Renato Janine Ribeiro. O resultado não poderia ser pior: uma caricatura das caricaturas das críticas caricaturais da política de expansão do ensino superior brasileiro. Tivesse odor, o jornal cheiraria a mofo.

Entre preconceitos e boutades, alguns gráficos comparativos do desempenho das universidades brasileiras em relação aos países do norte e aos brics. Estes dados, de resto, são as coisas mais interessantes. Voltando às boutades, tem uma impagável (mas, sei bem, pode ser reproduzida como verdade nos cafés da Praça Vilaboim), emitida pelo Goldemberg a respeito do Programa CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS. Vou citá-la:  “segundo ele, os estudantes não dominam outros idiomas e, em boa parte, acabam se concentrando em Portugal”. Aí nem o jornalista agüentou e esclareceu num envergonhado parêntese: “A página do programa  na internet mostra que Portugal conta hoje com 623 bolsistas brasileiros do Ciência Sem Fronteiras,  enquanto na Alemanha são 2.318 e nos Estados Unidos, 10.837)”. God Save Goldemberg!


Inacreditável! O incauto que se encantar com a capa do suplemento do VALOR, de resto sempre um bom jornal, vai comprar gato por lebre. Em meio a platitudes, das quais nem um cara sempre crítico e atilado como o Janine escapa, a gente fica se perguntando (e se amedrontando, pois, no fundo já sabemos a resposta) sobre o enraizamento social de visões tão empobrecidas e superficiais sobre a Universidade brasileira, especialmente sobre as IFES. Se gente que se diz especialista e que já foi gestor, tem esse tipo de apreensão das coisas, o que pensará o eleitor médio (existe?) do, sei lá!, Tucuruvi? 

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