segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Marina vitoriosa

Marina é a grande vitoriosa destas eleições. Não apenas deixou de seguir o script de Heloísa Helena, que, como você lembra, teve uma subida inicial razoável, fez muito barulho, para derrapar, no final para algo em torno dos 6% dos votos. Marina abiscoitou 20% dos votos e terá grande peso na disputa política que se avizinha. Fez por merecer, convenhamos. Agora é esperar para ver como ela vai tratar o grande capital político alcançado.

Tentando entender a "onda verde" I: a análise de Azenha

Tentar entender o por quê da grande votação de Marina será o esporte preferiado da rapaziada por um tempo enorme (uns três dias...). Depois, virão outros temas efêmeros. Veja aí abaixo a posição do Azenha, do site Viomundo.

Tentando entender a onda verde que provocou o segundo turno Por Luiz Carlos Azenha

Houve onda verde, sim. E a onda verde, que pegou de surpresa a todos os institutos de pesquisa, é que está levando a eleição presidencial para o segundo turno.

Dito isso, é preciso tentar entender o que alimentou essa onda verde.

Sinceramente, não acredito que isso se deva apenas à sórdida campanha movida por religiosos católicos e evangélicos contra a candidata governista.

Isso jamais renderia a Marina Silva mais de 18 milhões de votos!

Por dados anedóticos, colhidos aqui e ali, é possível notar que Marina respondeu a uma aspiração dos jovens, que se mostraram fartos com a polarização PT/PSDB.

Se assim for, a proposta do presidente Lula de promover a campanha em seus termos, ou seja, num confronto bipolar, fracassou nas urnas neste domingo.

Os eleitores de Marina querem saber mais. Querem mais que as produções de alta qualidade do marqueteiro João Santana.

Quem é leitor do blog sabe que já tratei mais de uma vez da falta de politização da campanha no primeiro turno.

Foi uma opção do PT, que parecia acreditar que bastava propagandear os feitos econômicos do governo — o que foi feito com competência na campanha televisiva — para garantir a vitória em primeiro turno.

Marina Silva se projetou, em minha modesta opinião, justamente nesse buraco negro da falta de politização.

Outra observação necessária: um presidente com 80% de aprovação nas pesquisas conseguiu transferir pouco mais da metade disso para a sua candidata.

Reflexo, em minha opinião, da falta de politização que acompanhou a ascensão social de milhões de brasileiros para a classe média. Vários comentaristas já trataram disso. Seria o “fator Berlusconi”. Ou seja, uma ascensão social que promove um eleitorado conservador, cuja lealdade não reflete compromisso político com um projeto e muito suscetível às questões morais — o boato de que o vice de Dilma é satanista, por exemplo. O “melhorismo” de Lula, na definição de Plínio de Arruda Sampaio, se assenta sobre bases mais frágeis do que se imaginava?

O segundo turno, em minha opinião, é resultado de um conjunto de fatores.

Sem qualquer sombra de dúvida, a mídia desempenhou um papel relevante, disparando balas de prata que reduziram sensivelmente a vantagem da candidata petista nas últimas semanas de campanha.

Acima de tudo, a mídia cumpriu a tarefa a que se propôs, de desviar o foco da eleição das questões econômicas para os escândalos.

Serra não recolheu os escombros, que cairam no colo de Marina Silva.

Acima de tudo, no entanto, é preciso colocar todos os pingos nos is dos erros na campanha da candidata governista:

1. Como todos sabíamos antecipadamente do papel que a mídia iria desempenhar em 2010, ninguém detectou o potencial explosivo dos negócios em torno de Erenice Guerra?

2. Por que a campanha de Dilma Rousseff não se antecipou aos boatos de forma didática, como Barack Obama fez nos Estados Unidos, criando um site específico para combatê-los?

3. Por que a campanha de Dilma não rebateu as promessas de José Serra e não politizou a campanha?

De qualquer forma, a votação expressiva de Marina Silva indica uma mudança significativa no quadro político brasileiro e, portanto, nos próximos 30 dias de campanha.

Acredito que a campanha de José Serra vai dar alguns passos em busca do centro político, representado agora pela “terceira via” de Marina. Ficará muito mais difícil, nestas circunstâncias, fazer agora a polarização politizada que o PT poderia ter feito durante a campanha do primeiro turno.

Mineiro lá, de novo

Mineiro conseguiu! Ufa! E em uma chapa puro-sangue. Esse é um aconteciemento que merece uma celebração.

Sacudir a poeira e ir prá luta

Não deu. Para ser sincero, eu suspeitava disso. A onda verde, como postei aqui, era perceptível no ar. Não esperava que tivesse tanta força. Mas, fazer o quê? Chorar o leite derramado não vai trazer de volta os votos perdidos. Agora, é se recompor, sacudira a poeira e dar a volta por cima.

Dilma obteve 46% dos votos. Bem menos do que o que apontavam os institutos de pesquisa. Mas, sabes bem, não é motivo para se ficar agachado. Ah, não é não. Agora, é lutar por pelo menos 30% dos votos de Marina. E garantir que o pessoal que passou um mês sofrendo com as denúncias contra a Dilma e mesmo assim digitou o seu nome na urna eletrônica, não mude de lado.

Dá prá conseguir, sim. Mas, como quem fica para é poste, vale a pena se movimentar um pouco aí. Especialmente aqui em Natal, onde a votação de Dilma foi bem aquém daquela prevista pelos institutos de pesquisa.

domingo, 3 de outubro de 2010

Reveja o primeiro programa da Dilma

13 razões para votar Dilma

Idelber aponta as razões para o seu voto. Confira!

13 razões para votar em Dilma Rousseff

1. Dilma é a continuação do governo Lula. Esta é a mãe de todas as razões. O governo Lula é aprovado por mais de 80% dos brasileiros e acumula, em todas áreas, uma coleção de números de fazer inveja a qualquer outro governo da nossa história republicana. A pobreza caiu pela metade. Mais de 30 milhões de brasileiros se juntaram à classe média. O salário mínimo subiu 74% sobre a inflação. Mais de 14 milhões de empregos foram criados. Dilma Rousseff foi parte deste governo desde o primeiro minuto e é a legítima herdeira desse legado (pdf).

2. Dilma continua a política de fortalecimento do patrimônio público. Uma das razões pelas quais o PSDB foge da figura de Fernando Henrique Cardoso como o diabo foge da cruz é a categórica opção, feita pela esmagadora maioria da sociedade brasileira, contra o privatismo, a desregulamentação e a venda do patrimônio público na bacia das almas. Somos um país de centro-esquerda, neste sentido. Nada foi privatizado no governo Lula e empresas como a Petrobras deram um salto gigantesco, de combalida candidata a ser “desmontada osso por osso” à condição de quarta maior empresa do mundo, responsável pela maior capitalização da história da humanidade. É Dilma, não nenhum outro candidato, quem representa a continuação desse fortalecimento.

3. Com Dilma sabemos que nossos irmãos mais pobres continuarão a ter acesso ao Bolsa-Família. Mais de 12,6 milhões de famílias foram beneficiadas pelo maior programa de transferência de renda do mundo. Não somente nós, de esquerda e centro-esquerda, mas também economistas liberais e instituições como o Banco Mundial concordam que o Bolsa-Família é parte essencial da redução da desigualdade. O principal candidato da oposição, José Serra, não conseguiu unificar sequer sua campanha ao redor de uma posição sobre esse tema. Chegou-se, inclusive, à bizarra situação de que enquanto o candidato prometia dobrar o BF, seus correligionários e sua própria esposa davam declarações que associavam o programa à “vagabundagem”. Com Dilma não tem erro: continuaremos a reduzir a desigualdade no Brasil.

4. Dilma representa uma política externa altiva, soberana e baseada no diálogo. A política externa é um dos grandes êxitos do governo Lula. Passamos de uma situação subordinada, em que discutíamos a entrada numa órbita estritamente controlada pelos EUA, que trouxe consequências tão desastrosas para os nossos irmãos do México, à condição de país internacionalmente respeitado, ouvido nos fóruns mundiais e líder incontestável da América Latina. A campanha do principal candidato da oposição foi marcada por desastrosas declarações, cheias de insultos aos nossos vizinhos. Traduzidas em política externa, seria uma fórmula certa para que o Brasil perdesse o lugar que conquistou no mundo. A opção pelo diálogo, pelo respeito às instâncias multilaterais e pela autodeterminação dos povos foi um sucesso no governo Lula e está em sintonia com as melhores tradições do Itamaraty. É Dilma quem representa essa opção.

5. Dilma provou ser uma verdadeira democrata. Nenhuma candidata à Presidência no período pós-ditatorial—nem mesmo Lula—sofreu bombardeio midiático comparável ao que foi lançado sobre Dilma Rousseff nesta campanha. Acusações falsas sobre seu passado; grosseiras infâmias sexistas; falsas notícias; manipulação de declarações suas; mentiras sobre suas contas; fichas policiais adulteradas: tudo foi lançado contra ela. Em nenhum momento Dilma moveu um dedo para calar ou censurar qualquer jornalista. Por outro lado, José Serra, tratado de forma infinitamente mais dócil pela imprensa brasileira, demonstrou amplamente que não é confiável no quesito democracia. Exigiu cabeças de jornalistas nas redações; confiscou fitas de vídeo; deu-nos uma patética coleção de pitis. Mostrou que não convive bem com a crítica. É com Dilma, não com Serra, que garantiremos a continuação da nossa condição de um dos países com mais ampla liberdade de expressão do mundo.

6. Dilma dá show de conhecimento numa das áreas mais importantes da atualidade, a energia. Em 2003, quando Dilma assumiu o Ministério das Minas e Energia, o Brasil vivia uma situação periclitante. Acabávamos de viver um vergonhoso racionamento. Dilma arrumou a casa, garantiu a segurança no abastecimento e a estabilidade tarifária. Participou diretamente da implantação do Luz para Todos, cuja meta original era 2 milhões de ligações, mas que em abril de 2010 já havia realizado 2,34 milhões de ligações, beneficiando 11,5 milhões de pessoas. Nossa produção de petróleo passou a 2 milhões de barris por dia. O pré-sal, descoberta possibilitada pelo trabalho de Dilma, dobrou nossas reservas de petróleo. Além de tudo isso, Dilma já provou ser conhecedora profunda das fontes limpas e renováveis de energia. Faça uma enquete entre os engenheiros da Petrobras. As intenções de voto em Dilma, entre eles, deve andar em torno dos 90%. Eles sabem o que fazem.

7. Dilma é a mais equipada para expandir e melhorar a educação no Brasil. Neste quesito, a comparação entre o histórico petista e o histórico tucano é uma surra de proporções inomináveis. Enquanto em São Paulo, alunos e professores sofrem com a falta de investimento e, acima de tudo, com a falta de respeito, emblematizada nas frequentes pancadarias policiais a que são submetidos, o Brasil criou, durante o governo Lula, 16 novas universidades, mais de 100 novos campi, mais de 200 novas escolas técnicas, mais de 700.000 novas vagas para pobres, a maioria negros e mulatos, através do ProUni. Os professores da rede federal saíram da situação de arrocho salarial em que viviam e agora têm um plano de carreira digno (que ainda pode e deve melhorar, sem dúvida, mas que representou um salto gigantesco em relação ao governo FHC). Se você é aluno, professor ou funcionário do ensino, ou tem filhos na escola, basta olhar para o histórico dos dois principais candidatos e você não terá dúvidas sobre em quem votar.

8. Dilma não criminalizará os movimentos sociais. O histórico tucano na relação com os movimentos sociais é péssimo. Professores espancados no Rio Grande do Sul e em São Paulo; os ativistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra tratados como criminosos durante o governo de Fernando Henrique Cardoso; o funcionalismo público submetido a arrocho salarial e a uma total recusa ao diálogo em Minas Gerais. Sem misturar movimento social com governo, sem transigir na aplicação da lei, quando de aplicar a lei se tratava, Lula e Dilma estabeleceram com as manifestações políticas da sociedade brasileira uma relação de respeito e diálogo. É assim que deve ser. As declarações de José Serra sobre, por exemplo, o MST, são profundamente preocupantes. É com paz e negociação que se resolvem os embates entre movimentos sociais e governo, não com porrada. Dilma é a garantia de que essa política continuará sendo seguida.

9. Dilma representa um novo reencontro do Brasil com seu passado. Notável na sua capacidade de falar sobre um passado traumático, admirável na tranquilidade com que se refere às torturas a que foi submetida, Dilma teve o dom de não transformar o rancor e o ressentimento em arma política. O Brasil está anos-luz atrás dos seus vizinhos do Cone Sul naquele processo para o qual os alemães cunharam essa belíssima palavra, Vergangenheitsbewältigung, que poderíamos traduzir como o dom de acertar as contas com o passado. É Dilma quem nos pode guiar na revisão desse pretérito ainda tão recente e tão pouco saldado. Sem rancor, sem revanche, sem ódio, mas sem transigir na aplicação da lei.

10. Dilma tem com quem governar, tem equipe. Este blog respeita o voto verde e respeita Marina Silva. Mas a afirmativa, tantas vezes feita por Marina nesta campanha, de que governaria com “os melhores do PT e do PSDB”, como se não existisse um pequeno detalhe chamado política, só se explica pela ingenuidade ou pela manipulação da ingenuidade. Um político governa com a equipe política que conseguiu montar, e é a equipe de Dilma quem botou Brasília para funcionar de acordo com os interesses dos mais pobres durante os últimos oito anos. Com todos os seus problemas, é o PT, não o PV, quem tem quadros experimentados o suficiente para a gestão de um país complexo como o Brasil. Isso não é por acaso. Mais de 50% dos brasileiros que têm alguma opção partidária preferem o PT. Por volta de 30% da população escolhe o PT como o partido de sua preferência. PMDB e PSDB seguem de longe, muito longe, com 6%.

11. Dilma é mais internet para todo mundo. O principal candidato da oposição, José Serra, pertence a uma força política que já demonstrou não ter compromissos com a expansão da internet para as camadas mais pobres da população. Expressão privilegiada dos grandes conglomerados midiáticos do país, o tucanato é responsável por desastres como o AI-5 Digital, uma coleção de inomináveis asneiras destinadas a cercear, censurar e controlar a liberdade da internet. Sob o governo Lula, o acesso à rede mundial de computadores aumentou muito e é Dilma, não qualquer outro candidato, quem tem histórico e compromisso com a implementação do Plano Nacional de Banda Larga, uma verdadeira de carta de alforria informativa no país. Quanto mais gente tiver acesso à internet, mais democrática e bem informada será a nossa sociedade. Os pobres sabem disso e estão com ela, em sua esmagadora maioria.

12. Dilma tem uma bela, impecável história de vida. Representante da geração que correu risco de morte para lutar contra a ditadura com os recursos que tinha, Dilma jamais renegou seu passado. Com serenidade, ela sempre explica que o contexto mudou, que o mundo é outro, e que agora ela luta com outros instrumentos, dentro da normalidade democrática. Mas ela nunca fez as penitências meio patéticas, as autocríticas confortáveis a que nos acostumamos ao ouvir, por exemplo, Fernando Gabeira. Representante também da geração que acompanhou Leonel Brizola na recomposição do legado varguista na pós-ditadura, ela jamais renegou a herança do trabalhismo. Dilma Rousseff é a ponte entre o que de libertário e popular havia no trabalhismo brasileiro e o que de novo e transformador trouxe o Partido dos Trabalhadores. Sua presença já na administração Olívio Dutra em Porto Alegre mostrou que ela estava consciente de que essa ponte era possível. Muitos petistas—este atleticano blogueiro incluído—adotaram, especialmente nos anos 80, posturas sectárias e intolerantes ante o trabalhismo, incapazes que fomos de ver qualquer característica positiva no movimento que conferiu cidadania à classe trabalhadora pela primeira vez. Dilma é a possibilidade de aprofundamento desse diálogo entre o lulismo e tradição trabalhista que ele transforma.

Agora, está em nossas mãos...