quinta-feira, 10 de março de 2011

Ainda sobre o voto na eleição do CCHLA

Recebi um e-mail, direcionado a muitas pessoas, de autoria da Isabela Bentes. É pessoa crítica e séria. Admiro-a bastante. Como a mensagem é pública, então, acho que não é nenhum desrespeito destacá-la aqui. Trata-se de uma posição diferente daquela que expressei no post abaixo.

Acho bom o de debate. E quando me criticam, penso melhor sobre o que defendo e sobre mim mesmo. Do contrário, pra quê espaço público, não é?

Infelizmente, tal como Isabela, não estarei presente na reunião do dia 15. Provavelmente, deverei estar em São Luiz, na UFMA, ministrando uma aula inaugural em um curso de pós. De qualquer forma, acreditem, do debate, não fujo. E as críticas, mesmos as mais mordazes (apresso-me em dizer que não é o presente caso), são sempre bem vindas. No mínimo, ajudam-me a calçar as sapatilhas da humildade e a defender com menos ligeireza as minhas posições.

Quando for possível, e os afazeres permitirem, dialogarei com o texto escrito pela Isabela.



Prezados,

Gostaria de compartilhar o link do blog do prof. Edmilson sobre seu posicionamento contra o voto paritário nas eleições do CCHLA (http://blogdoedmilsonlopes.blogspot.com/2011/03/eleicao-no-cchla-os-riscos-do-populismo.html)

Gostaria de dividir com vocês a minha postura sobre a posição do prof. Edmilson neste post em seu blog. Deixar calro, antes de tudo, que admiro bastante as análises do prof. Edmilson, mas essa me fez reavaliar sua postura nesse aspecto. Acho que o que foi escrito reproduz, primeiro de tudo, a estrutura hierarquizada, burocrática e, acima de tudo, antidemocrática nos trâmites administrativos e educacionais da Universidade (isso me lembra o texto do Maurício Tragtemberg "A deliquência acadêmica" - que fala bem dessas relações intra-institucionais, a burocracia e hierarquina nas instituições de educação). Muito me admira esse tipo de postura que me lembra o Stuart Mill e a defesa do voto plural, implicando a perpetuação do poder pelas camadas "culturalmente" superiores. Discursos bem parecidos.

Não entendi bem se a justificativa que ele apresenta realmente condiz com a realidade, mas fazer a defesa de uma lei (algo que pode ser passível de mudanças, não eternas, historicamente construídas...) só porque é lei me faz subestimar, e MUITO, os termos que está sendo colocado no debate. Desobediência civil é um conceito que guia muitas manifestações no mundo inteiro e, apesar dele fazer algum elogio a essa desobediência, ao mesmo tempo minimiza e desqualifica a luta política de muitos, não só dentro da universidade, como fora dela.

Vejo que a defesa dessa postura de não concordar com o voto paritário implica numa tendência em fazer com que os alunos reproduzam as picuínhas departamentais entre professores tão comentada em corredores de aula. Ao pesar o voto de professores mais do que funcionários e alunos, perpetua-se a defesa dos seus desejos particulares em um espaço público (em ainda acredito muito que isso vá acontecer de forma mais expansiva), da participação direta dos alunos nas propostas que eles desejem também, não algo vindo diretamente SEMPRE de uma ordem de cima para baixo dos professores/coordenadores/diretores/reitores/presidentes honorários/ou o que for, aos alunos.

Mas, o que quis dizer com esse populismo e esssas práticas ilegais? Gostaria de exemplos mais concretos, principalmente das práticas ilegais.

Fato é que irá ocorrer uma reunião dia 15.03, às 14:30h, no Consec (reunião é aberta) para decidir o conselho eleitoral e o calendário eleitoral onde o prof. Edmilson estará presente e seria bastante interessante a presença dos alunos no sentido de questionar essa postura, uma vez que essa defesa estará presente em sua fala.

Gostaria muito de estar nessa reunião para fazer esse questionamento diretamente, mas infelizmente não poderei ir (estou viajando e só chego dia 23.03), mas quero ficar a par da situação (quem puder ir me informando...)

Abraços,

Isabela


sexta-feira, 4 de março de 2011

A eleição no CCHLA: os riscos do populismo acadêmico e das práticas ilegais

O que segue abaixo é uma complementação a uma intervenção que fiz em reunião ocorrida no CCHLA, na última quarta-feira, na qual se discutia a eleição para a direção do centro.

Gente bem intencionada, e movida por propósitos nobres, nem sempre produz ações conseqüentes. Muitas vezes, e isso nos explicam os acacianos peritos em investigações sociológicas sobre “composição de resultados”, boas intenções ajudam a produzir cenários não apenas indesejáveis, mas diametralmente opostos aos objetivos pretendidos no início do jogo. Junte a isso o fato de que, nem sempre, a justeza de algumas demandas corporativas torna desejável a sua execução. Pior ainda: a justeza de uma reivindicação particular não a torna universalmente justa. Muito antes pelo contrário: quantas corporações não defendem interesses particularistas em detrimento das instituições ou coletivos nos quais estão inseridas? Essas apreensões comezinhas me orientam na discussão a respeito do voto na Universidade.

Sou contra o voto paritário para as escolha dos dirigentes universitários. Por isso, de vez em quando, sou severamente admoestado por estudantes e funcionários. Tem quem goste de agradar aos ouvintes. Nesses casos, a coerência que vá às favas. Eu prefiro ficar de acordo comigo mesmo. Pago um preço por isso, mas não deixo de dormir tranqüilo. Assim, exponho o que penso, decepciono muitos, mas sigo em paz. Voltando ao voto na universidade, não acho razoável nivelar um professor, que desenvolve, há décadas, atividades de ensino, pesquisa e extensão, com um estudante recém-ingresso na instituição. Ou com um funcionário, que não estabelece uma relação mais universal com a produção universitária.

Muita gente, no íntimo, pensa assim. Mas é sempre mais fácil, especialmente em período eleitoral, agradar aos interlocutores. Pega mal dizer o que eu digo, eu sei. É um tiro no pé para quem tem pretensões políticas. Não é esse o meu caso. E, caso tivesse pretensões administrativas, algo nada ilegítimo, acharia melhor ganhar afirmando valores nos quais acredito do que vencer vendendo idéias e valores com os quais não comungo.

Há demagogia na defesa do voto paritário? Claro que há! Mas também existem colegas sinceros que defendem com convicção o voto paritário. Estes últimos, geralmente, constroem argumentações políticas e ideológicas alicerçadas em valores ditos de esquerda. Discordo deles, mas os respeito. Já em relação aos demagogos, sinto pena. Pena? Sim, porque cultivam os corvos que irão devorar-lhes os olhos amanhã cedo. Eles alimentam um populismo danoso que destrói a possibilidade de uma gestão universitária guiada por critérios acadêmicos e de racionalidade administrativa.

Por outro lado, e não se trata de mero detalhe, o voto paritário fere os preceitos legais estabelecidos pela legislação brasileira para a escolha dos dirigentes universitários. Está bem posto pela Lei Federal nº 9.192/95 que a consulta para a escolha desses dirigentes deve obedecer a uma proporcionalidade na qual os professores têm o peso de 70%. “É uma lei autoritária”, disse-me uma vivaz e bela aluna. Ah, tá! Lei boa, a gente obedece; lei autoritária, não. Tudo bem! Eu acho a desobediência civil um ato político, em muitas circunstâncias, mais do que necessário. Mas quem a pratica tem consciência clara de que está rompendo limites, e deve arcar com as conseqüências.

Um conselho universitário (seja um conselho geral ou conselho de centro ou faculdade) não pode agir dessa forma. Está proibida a consulta paritária na Universidade? Claro que não! Mas, aí que está, ela não pode ser conduzida institucionalmente. Se alguma entidade estudantil ou sindicato quer fazê-la, faça-a. E, depois, tente fazer valer (impor, na verdade, não é?) os seus resultados. Um conselho universitário, se os seus membros não quiserem conscientemente prevaricar, somente pode conduzir uma consulta obedecendo as regras estabelecidas pela legislação em vigor.

O contrário do acima indicado é adentrar naquela zona cinzenta na qual se obedece à lei apenas quando é do nosso interesse. O pior é quando quem assim age encontra-se no exercício de um cargo público, o que, em tese, significa ser pautado pelo zelo ao patrimônio público. E um dos bens públicos mais importantes é exatamente o arcabouço legal que torna a nossa vida (e a gestão das coisas) minimamente previsível e racional. O contrário, sabemos bem, é a barbárie.

Minha coluna de hoje no Terra Magazine

Acesse aqui a minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE

quarta-feira, 2 de março de 2011

Fetichismo

Acho que você vai gostar de ler. O título do artigo é "Dreams that money can buy: Correrías del fetichismo: de la rareza al aburrimiento". O autor é Fernando Castro Flórez e o periódico no qual foi publicado o texto é a sempre excelente Revista de Occidente.

Fique com uma boa música

Artigo de Viviana Zelizer

Clique aqui e tenha acesso um artigo de autoria de Viviana Zelizer, um dos nomes mais importantes da Nova Sociologia Econômica. Intitulado "A economia do Care", o texto é de leitura obrigatória para quem quer se antenar com o debate contemporâneo sobre a análise sociológica da vida econômica. O periódico responsável pela publicação é o CIVITAS, da PUC do Rio Grande do Sul. Boa leitura!

O uso do uniforme na escola

Muito legal o posicionamento do Marcos Rolim a respeito do uso de uniforme por estudantes do ensino básico. Rolim dispensa maiores apresentações, especialmente neste espaço, pois, em outros momentos já fiz referência a esse criativo especialista em segurança pública.

UNIFORMES, POR QUE NÃO?
Marcos Rolim
Jornalista


Já houve tempo em que crianças e adolescentes usavam uniformes escolares no Brasil. Notadamente na rede pública, o uso de uniformes foi mesmo uma regra bastante observada. Passaram-se os anos e a norma foi sendo relativizada e, mesmo, abandonada. Mais recentemente, algumas prefeituras têm implantado programas para o uso de uniformes escolares, a partir de doações e/ou incentivos. Afinal, uniformes escolares são mesmo importantes? Dois argumentos parecem indicar que sim.


Primeiramente, a não exigência de uniformes permite a reprodução dos padrões de consumo oferecidos aos alunos por suas famílias. Esta diferenciação pela roupa, pela marca, pelo Ipod, pela jóia, pelo boné, pelo tênis, evidencia uma característica das juventudes urbanas nas sociedades pós-modernas: elas se movimentam em grupos que existem, antes de tudo, por seus signos visuais. Os jovens se movem a partir de emblemas. Tudo se passa como se, antes da fala, houvesse outra linguagem que precisasse estar escrita sobre seus corpos. O processo de “tribalização” dos jovens, então, é inevitavelmente a dinâmica de estetização de seus valores e preferências culturais. Sem compartilhar esta estetização – vale dizer, sem transformar seu corpo em signo - o jovem sente-se como que apartado do mundo, isolado e sem “parentesco” entre os seus. Sua máxima, por isso mesmo, poderia ser: “Aparento, logo existo.” Estas dinâmicas são relevantes para o percurso de autonomia entre os jovens e devem ser compreendidas, mas carregam para a escola um problema novo: elas dificultam a construção de uma identidade estudantil. Não se trata, então, de reificar o debate sobre os uniformes como se sua equação pudesse oferecer alguma resposta para a crise da educação. Trata-se, singelamente, de reconhecer que o uso de uniformes aproxima simbolicamente os estudantes. Para além disso, é provável que reforce a noção civilizatória de que todos são “iguais”, pouco importando sua origem social, seu sobrenome, a casa onde mora, as viagens que já fez, sua mesada ou a banda de sua preferência.

O segundo argumento surge das pesquisas que têm encontrado, em vários países, fortes correlações entre o uso de uniformes e: a) maiores taxas de presença e aprovação; b) menores taxas de suspensão de alunos e c) expressiva redução nos indicadores de violência nas escolas (Ver, por exemplo, trabalho de Virgínia Draa – “School Uniforms in urban public hight schools”, disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/ED497409.pdf). Além de uma maior proteção nas escolas pela facilidade de identificar intrusos, o uso de uniformes pode oferecer alguma proteção a milhares de estudantes brasileiros que moram nas periferias e que, muitas vezes, são tratados como “suspeitos” pelo simples fato de serem jovens, pobres e/ou negros. Para um garoto negro que more em uma área de exclusão, seu deslocamento pelas ruas pode ser algo especialmente perigoso – notadamente em circunstâncias onde a polícia surge como uma força de intervenção armada e onde há grupos de outros jovens atuando no tráfico de drogas.