Transcrevo abaixo matéria publicada no Estadão sobre o plano de investimentos da Petrobrás para o próximo período. Como você pode verificar, a estatal está na contramão do que apregoam os conselheiros econômicos. Cá do meu canto, confesso a vocês, dei um suspiro de alívio. Caso queira, acesse diretamente o site do jornal aqui.
O otimismo da Petrobras
Com atraso de quatro meses, a Petrobrás anunciou investimentos de US$ 174,4 bilhões no quinquênio 2009-2013, 55% mais do que os US$ 112,4 bilhões projetados para 2008-2012, o que exigirá decisivo apoio do governo, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Este ano, para investir US$ 28,6 bilhões, a Petrobrás empregará US$ 10,5 bilhões de recursos próprios e terá de tomar, no mercado, US$ 18,1 bilhões, dos quais o BNDES responderá por quase dois terços, ou US$ 11,9 bilhões. Mais de US$ 5 bilhões virão de um pool de bancos privados. Para 2010, quando a empresa terá de ir ao mercado para obter US$ 18,9 bilhões, o BNDES deverá comparecer com até US$ 10 bilhões, se faltarem fontes alternativas - afirma o seu diretor-financeiro, Almir Barbassa.
A estatal terá prazo de 30 anos para pagar ao banco. Apenas em 2009 o BNDES destinará à Petrobrás mais de 25% de toda a verba adicional de R$ 100 bilhões recentemente anunciada pelo governo. E, se tiver que atender às necessidades da estatal até 2010, comprometerá metade dos seus novos recursos.
O especialista em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), considerou o plano 2009-2013 um exercício acadêmico. "Politicamente, o governo deve cumprir o papel de anunciar à sociedade que a crise não afetou a Petrobrás", disse ele. Outro analista, Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe, da UFRJ, enfatizou que o governo federal quer transmitir à sociedade, "por meio da estatal, que o momento é de investir mais".
Os investimentos da Petrobrás em exploração e produção - de US$ 104,6 bilhões - representam 60,7% mais do que os US$ 65,1 bilhões do plano anterior. Neste item, os dois grandes destaques são os investimentos no pré-sal, de US$ 28 bilhões, e em gás natural, que passam de US$ 6,7 bilhões para US$ 11,8 bilhões (+76,1%), evidenciando que o Brasil pretende se tornar autossuficiente. Para o abastecimento - que inclui as refinarias de Pernambuco e do Maranhão e o complexo petroquímico Comperj - estão previstos US$ 43,4 bilhões, 46,6% mais do que os US$ 29,6 bilhões do quinquênio anterior.
Os planos da Petrobrás preveem uma produção de 2,68 milhões de barris de petróleo por dia em 2013, passando a 3,34 milhões em 2015 e a 3,92 milhões em 2020. Do pré-sal virão 219 mil barris/dia, em 2013, e 518 mil barris/dia, em 2015, chegando a 1,81 milhão de barris/dia, em 2020.
O plano foi debatido pelos diretores da Petrobrás com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, na presença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A sua motivação política é evidente.
Os diretores da Petrobrás justificam a visão otimista que nele transparece com o fato de que são investimentos de longo prazo, que não devem levar em conta dados de conjuntura, como a queda dos preços do petróleo e a escassez de crédito no mercado internacional.
O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, procurou ser ainda mais otimista, afirmando que houve uma desaceleração geral dos custos na área do petróleo - por exemplo, do transporte da commodity - e que a estatal pretende se beneficiar disso, pagando menos pelos insumos que comprará.
Em seus planos, a Petrobrás trabalhou com um preço do petróleo tipo Brent de US$ 40 o barril em 2010, muito próximo do preço corrente. Neste caso, a estatal foi prudente, pois é provável que os preços se recuperem quando a economia mundial retomar o crescimento - mas não há prazo para isto.
Um analista, Eduardo Roche, do Modal Asset, observou que a Petrobrás "está indo na contramão das empresas do setor de commodities, que estão reduzindo seus investimentos". O aspecto mais negativo da política da Petrobrás é que ela só pode ser executada com o apoio indireto do Tesouro, que venderá títulos para capitalizar o BNDES, que só assim terá recursos, em 2009 e 2010, para emprestar à Petrobrás. E, se o BNDES cobrar da estatal um juro inferior ao que o Tesouro paga para colocar seus títulos, haverá um custo a mais para os contribuintes.
sábado, 31 de janeiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário