terça-feira, 10 de janeiro de 2012
FÉRIAS
Férias.... Finalmente. Esporadicamente, muito esporadicamente mesmo, postarei algo novo durante este mês de janeiro. Em fevereiro, estarei de volta. Com todo gás.
Um baita texto de antropologia
Edmundo Pereira, professor do Departamento de Antropologia da UFRN, é um Jedi. A classificação não é minha, mas dos estudantes do curso de Ciências Sociais da UFRN. Bueno, o texto abaixo, de sua lavra, foi publicado no número mais recente da prestigiosa revista MANA. Dê uma conferida! É biscoito fino.
Palavra de coca e de tabaco como "conhecimento tradicional": cultura, política e desenvolvimento entre os uitoto-murui do rio Caraparaná (CO)
Edmundo Pereira
Antropólogo, membro do DAN-PPGAS/UFRN.
E-mail: edmundopereira@gmail.com
Artículo 330. De conformidad con la Constituición y las leyes, los territorios indígenas estarán gobernados por concejos conformados y reglamentados según los usos y costumbres de sus comunidades [...] (Título XI. DE LA ORGANIZACIÓN TERRITORIAL, Nueva Constituición Política de Colombia, 1991).
Após a promulgação da nova Constituição colombiana em 1991, o tema do "desenvolvimento" voltou a ganhar especial relevância nos debates nacionais, passando a ser concebido, ao menos em tese, para o caso de muitos dos grupos andinos e amazônicos, a partir de perfis étnicos. Esse novo campo de relações sociais, calcado nos projetos de imaginação da nação (Anderson 2008) que passam a se pretender multiétnicos, acompanha também o aparecimento e o fortalecimento de organizações de representação indígena em diversos níveis, do local ao nacional. Nesse jogo complexo de agendas e práticas políticas, o "desenvolvimento" (O que é? A quem se destina? Sobre que bases se constitui?) torna-se capital simbólico e material negociado, não raro em meio a conflitos de diversas ordens, envolvendo concepções, conhecimentos e dinâmicas de produção de consenso por vezes bastante distintos.
Diante desse quadro, ao longo das últimas duas décadas, em face da diversidade de "projetos" implementados, vem se acumulando um número de experiências malsucedidas1 que ao final se explicam, em grande medida, pela incompreensão- do ponto de vista das agências não índias- do que tem sido chamado de "a dimensão cultural do desenvolvimento" (Grillo & Stirat 1997:6). O caso específico da região analisada, o interflúvio dos médios rios Caquetá e Putumayo, na Amazônia colombiana, habitado pelos grupos autointitulados Povos do Centro (denominação que incorpora sete grupos indígenas, dentre eles os Uitoto e seus subgrupos Murui e Muina),2 é particularmente rentável para a análise de processos de politização da cultura (Linnekin 1990, 1992; Jolly & Thomas 1992; Briggs 1996) em contexto de articulação entre agentes da cooperação internacional e mediadores nacionais e locais.
Entre 2000-2001, um debate mobilizou os aldeamentos uitoto-murui dos rios Caraparaná e Putumayo, na Amazônia colombiana, tendo como tema central a noção de "desenvolvimento alternativo". Alguns deles sediaram reuniões entre indígenas (moradores, representantes locais e de órgãos de representação política nacional) e não indígenas (técnicos de Estado, de ONGs e militares) na produção de "diagnósticos" e "projetos" com financiamento da Cooperação Espanhola e execução através de uma ONG também espanhola (Watu), em articulação com a ONIC (Organização Nacional Indígena da Colômbia) e a OIMA (Organização Indígena Murui do Amazonas). O modelo proposto pela articulação Watu-ONIC-OIMA pretendia, em pouco mais de três meses, atravessar todos os aldeamentos de ambos os rios, promovendo "reuniões participativas" através das quais se passava a um curto processo de investigação por meio de um questionário fechado versando sobre temas como "cultura", "economia", "política", "saúde" e "escolaridade".
Através da produção de uma amostragem em cada aldeamento, ao final, se produziria uma publicação com o "autodiagnóstico" e as propostas de "projetos" elencados pelo grupo, tudo levando em conta os "usos e costumes" locais. Nesse contexto, o aldeamento de San Rafael,3 com articulação entre seu cacique, Don Ángel Ortiz, e o cabildo local, propõe um contraprojeto baseado nos "conhecimentos" das rodas noturnas de diálogo e consumo ritual da coca (Erythroxylon coca var. ipadu) e do tabaco (Nicotiana tabacum), no conjunto de conhecimentos materiais, simbólicos e ético-morais chamado de Palavra de Coca e de Tabaco (jiibina uai diona uai).4
Neste exercício, objetivo refletir especialmente sobre o modo como este corpus de conhecimentos, denominado, dentre outros termos, Palavra de Coca e de Tabaco, passa a ser articulado como conhecimento tradicional, servindo de base para a produção de um modelo de desenvolvimento "indígena" fundamentado em conhecimentos, hierarquias e processos de produção de consensos locais. No calor dos debates, a noção de "desenvolvimento" ganha, então, contornos "indígenas", em consonância com a Constituição de 1991 e sua demanda por modelos de gestão político-administrativos de base étnica. Do mesmo modo, diante das demandas da arena do desenvolvimento, um perfil discreto e acabado do que seja a Palavra de Coca e de Tabaco é também constituído em diálogo com outras tradições de conhecimento locais, em especial o cristianismo católico.
Palavra de Coca e de Tabaco e organização política
Os Povos do Centro (ou Gente do Centro)5 descendem de grupos étnicos que foram vítimas de um dos episódios mais violentos do período de exploração da borracha, entre 1900-1930, na fronteira amazônica entre Peru e Colômbia. Nos processos de reconstrução sociocultural após a escravidão e o quase extermínio pelas empresas gomíferas (Pineda 1985, 2000), teve- e continua tendo- um papel articulador central o conjunto de conhecimentos materiais e simbólicos, organizado em torno do consumo e do uso simbólico das plantas da coca e do tabaco. Este conjunto de conhecimentos (abarcando áreas que vão do mítico-cosmológico ao médico-terapêutico e às formas de governança) é resultante das articulações socioculturais vividas pelos grupos indígenas que habitam o interflúvio dos médios Caquetá e Putumayo e destes com agências não índias (Echeverri & Pereira 2005).
Sua instituição central de transmissão é o cocadero, ou o mambeadero (termo mais usado),6 espaço marcado por etiqueta e comedimento, por convenção ritual, e que pode ser considerado como um dos epicentros de construção de índices de distinção identitária em relação a seus vizinhos indígenas e não indígenas, mesmo para aqueles (homens ou mulheres, jovens ou anciãos) que pouca intimidade têm com o mundo da coca e do tabaco. Aqueles que pouco frequentaram o mambeadero, perguntados sobre em que bases se constitui sua singularidade sociocultural, fazem referência aos usos rituais de ambas as plantas, plantas "sagradas", e aos seus "conhecedores", que podem também ser chamados de "avós" ou, simplesmente, "donos de mambeadero". Para aqueles que se dedicam a esses encontros diários, o processo de aquisição e sistematização de conhecimento pode chegar a um alto grau de complexidade e elaboração, com anos de dedicação e em uma linguagem por vezes bastante formalizada.
Dentre os termos utilizados por Don Ángel Ortiz7 - cacique e dono de mambeadero do aldeamento de San Rafael, rio Caraparaná- para abarcar os conhecimentos expressos, estava o de "Palavra de Coca e de Tabaco". Na prática cotidiana, a expressão aponta para uma forma de diálogo ritual masculino, através da qual conhecimentos de diversas ordens são transmitidos. Este diálogo, iniciado por perguntas dos aprendizes, pode ser expresso de maneira cotidiana, vernacular, ou formalizar-se em gêneros discursivos e de cantos, por vezes herméticos para a maioria do grupo em suas formas de expressão e significados. Os encontros, sempre noturnos, em lugar reservado para tal fim, demarcado pela presença de bancos, pilões e tostadores, organizam-se em uma hierarquia entre conhecedores e aprendizes, marcada por nivelamentos entre estes últimos. Ao mesmo tempo, se um aprendiz segue a etiqueta e oferece coca e tabaco àquele que conduz o diálogo, este é obrigado a responder ao que lhe for demando, sob pena de esquecer o que sabe caso não responda. Sua organização está estritamente relacionada à posição que Don Ángel chamava de nimairama (termo traduzido como "filósofo" ou "sábio"), também conhecido correntemente, em espanhol, como "tradicionalista". Deste, espera-se tanto a "continuidade da tradição" quanto alguma singularidade em seu manejo da Coca e do Tabaco que o diferencie e dê nome diante de outros especialistas.
Mas nas rodas noturnas do mambeadero também se resolvem questões internas aos aldeamentos, organizam-se trabalhos conjuntos, decisões as mais diversas são tomadas. Neste sentido, além de espaço apontado como "sagrado", é também tido como o lugar de onde a chefia tradicional é exercida, é lugar de "governo", razão pela qual outro termo que pode ser utilizado para referir-se a alguns donos de mambeadero é o de iyaima, traduzível por "chefe", "cacique". Assim, é também lugar privilegiado de estabelecimento e administração de relações que articulam aliados (intra e extragrupo, índios e não índios) entre aldeamentos, rios, chegando até Letícia (Departamento do Amazonas) e Bogotá. Não é incomum que um "dono de mambeadero" (ou um dos donos de mambeadero de um aldeamento) seja cacique local, seu mambeadero sendo o mais frequentado.
Durante meu primeiro período de campo,8 em uma de nossas conversas diurnas em seu mambeadero, indaguei a Don Ángel como era a organização política murui, de como, a partir do mambeadero, conseguia relacionar-se com distintos atores indígenas e não indígenas. Nesse momento de nosso trabalho, ele definiu dois papéis de comando, que eram também posições de concentração de conhecimento, como fundamentais e complementares: o de iyaima ("cacique") e o de nimairama ("homem de conhecimento"). A diferença fundamental entre os dois papéis, enfatizou, era o fato de que o iyaima além de dominar o conhecimento tradicional, o põe em "prática", com ele "governa" (yiide) seu povo/filhos (uruki).9 O nimairama, por sua vez, é como um "filósofo", explicou, é quem cuida do mambeadero e do diálogo cotidiano noturno.10 E é nesse e desse sítio de coca, sítio de Palavra, que se governa a partir da lógica e da dinâmica da Palavra deixada por Moo Buinaima ("Pai Criador") "para governar, para fazer multiplicar o alimento e os seres humanos". Este era o esquema ideal11 da organização política considerada como "tradicional" em San Rafael.
Nos fundamentos cosmológicos compilados por Don Ángel, nos seus termos, na "História murui", a organização política do grupo aparece expressa no conjunto de narrativas por ele nomeado de Cesto da Sabedoria (nimaira kirigai), já quase em seu final. É neste conjunto narrativo que se conta desde o aparecimento de Buinaima e a criação do universo até a sua chegada uma noite no mambeadero, quando entregou "aquilo que faltava", a "Lei", a "Palavra". Após apresentar os princípios éticos, os códigos básicos de conduta, as proibições e as penas e os processos jurídicos voltados às suas transgressões, a narrativa do ancião entra, por fim, no tema que chama de "estrutura de governo".
Com essa mesma ciência [Palavra de Coca e de Tabaco], nossos avós seguiam vivendo. Com isso, aquelas pessoas seguiam se desenvolvendo [jebuioikaide]. Assim, chegaram a estruturar sua forma de governo através de um rito em um morro chamado Bokire. Dizem nossos avós que era uma caguana12 que não era espessa, pura manicuera (juiñoi). Se conta que apenas o revolveram um pouquinho com goma. Descascaram amendoim e o puseram na caguana. Dizem que cada um de nossos avós levava um cestinho pendurado no pescoço. Quando se oferecia a cada um, se misturava a caguana. Ao acabar de tomar, ficava só o amendoim que eles chupavam para limpá-lo e o guardavam em seus cestinhos, pois ia servir de semente para cada um.13
Este trecho da narrativa se inicia com um verbo que era central para o projeto político de Don Ángel e os seus em meio aos debates sobre a produção de um plano de vida: "desenvolver" (jebui-oi-kai-de).14 Este é um dos temas centrais que perpassam toda a proposta política do ancião: o desenvolvimento, em particular, o "desenvolvimento ético", segundo uma ética murui, base para o "desenvolvimento de recursos humanos para administrar". Aqui também se refere a uma bandeira política fundamental não só para si e a gente de seu mambeadero, mas para o próprio movimento indígena colombiano como um todo, com o qual ele também dialogava: desenvolver-se econômica, política e socialmente na busca de autonomia em face do Estado e da sociedade colombiana.
(...)
LEIA O ARTIGO COMPLETO AQUI.
Palavra de coca e de tabaco como "conhecimento tradicional": cultura, política e desenvolvimento entre os uitoto-murui do rio Caraparaná (CO)
Edmundo Pereira
Antropólogo, membro do DAN-PPGAS/UFRN.
E-mail: edmundopereira@gmail.com
Artículo 330. De conformidad con la Constituición y las leyes, los territorios indígenas estarán gobernados por concejos conformados y reglamentados según los usos y costumbres de sus comunidades [...] (Título XI. DE LA ORGANIZACIÓN TERRITORIAL, Nueva Constituición Política de Colombia, 1991).
Após a promulgação da nova Constituição colombiana em 1991, o tema do "desenvolvimento" voltou a ganhar especial relevância nos debates nacionais, passando a ser concebido, ao menos em tese, para o caso de muitos dos grupos andinos e amazônicos, a partir de perfis étnicos. Esse novo campo de relações sociais, calcado nos projetos de imaginação da nação (Anderson 2008) que passam a se pretender multiétnicos, acompanha também o aparecimento e o fortalecimento de organizações de representação indígena em diversos níveis, do local ao nacional. Nesse jogo complexo de agendas e práticas políticas, o "desenvolvimento" (O que é? A quem se destina? Sobre que bases se constitui?) torna-se capital simbólico e material negociado, não raro em meio a conflitos de diversas ordens, envolvendo concepções, conhecimentos e dinâmicas de produção de consenso por vezes bastante distintos.
Diante desse quadro, ao longo das últimas duas décadas, em face da diversidade de "projetos" implementados, vem se acumulando um número de experiências malsucedidas1 que ao final se explicam, em grande medida, pela incompreensão- do ponto de vista das agências não índias- do que tem sido chamado de "a dimensão cultural do desenvolvimento" (Grillo & Stirat 1997:6). O caso específico da região analisada, o interflúvio dos médios rios Caquetá e Putumayo, na Amazônia colombiana, habitado pelos grupos autointitulados Povos do Centro (denominação que incorpora sete grupos indígenas, dentre eles os Uitoto e seus subgrupos Murui e Muina),2 é particularmente rentável para a análise de processos de politização da cultura (Linnekin 1990, 1992; Jolly & Thomas 1992; Briggs 1996) em contexto de articulação entre agentes da cooperação internacional e mediadores nacionais e locais.
Entre 2000-2001, um debate mobilizou os aldeamentos uitoto-murui dos rios Caraparaná e Putumayo, na Amazônia colombiana, tendo como tema central a noção de "desenvolvimento alternativo". Alguns deles sediaram reuniões entre indígenas (moradores, representantes locais e de órgãos de representação política nacional) e não indígenas (técnicos de Estado, de ONGs e militares) na produção de "diagnósticos" e "projetos" com financiamento da Cooperação Espanhola e execução através de uma ONG também espanhola (Watu), em articulação com a ONIC (Organização Nacional Indígena da Colômbia) e a OIMA (Organização Indígena Murui do Amazonas). O modelo proposto pela articulação Watu-ONIC-OIMA pretendia, em pouco mais de três meses, atravessar todos os aldeamentos de ambos os rios, promovendo "reuniões participativas" através das quais se passava a um curto processo de investigação por meio de um questionário fechado versando sobre temas como "cultura", "economia", "política", "saúde" e "escolaridade".
Através da produção de uma amostragem em cada aldeamento, ao final, se produziria uma publicação com o "autodiagnóstico" e as propostas de "projetos" elencados pelo grupo, tudo levando em conta os "usos e costumes" locais. Nesse contexto, o aldeamento de San Rafael,3 com articulação entre seu cacique, Don Ángel Ortiz, e o cabildo local, propõe um contraprojeto baseado nos "conhecimentos" das rodas noturnas de diálogo e consumo ritual da coca (Erythroxylon coca var. ipadu) e do tabaco (Nicotiana tabacum), no conjunto de conhecimentos materiais, simbólicos e ético-morais chamado de Palavra de Coca e de Tabaco (jiibina uai diona uai).4
Neste exercício, objetivo refletir especialmente sobre o modo como este corpus de conhecimentos, denominado, dentre outros termos, Palavra de Coca e de Tabaco, passa a ser articulado como conhecimento tradicional, servindo de base para a produção de um modelo de desenvolvimento "indígena" fundamentado em conhecimentos, hierarquias e processos de produção de consensos locais. No calor dos debates, a noção de "desenvolvimento" ganha, então, contornos "indígenas", em consonância com a Constituição de 1991 e sua demanda por modelos de gestão político-administrativos de base étnica. Do mesmo modo, diante das demandas da arena do desenvolvimento, um perfil discreto e acabado do que seja a Palavra de Coca e de Tabaco é também constituído em diálogo com outras tradições de conhecimento locais, em especial o cristianismo católico.
Palavra de Coca e de Tabaco e organização política
Os Povos do Centro (ou Gente do Centro)5 descendem de grupos étnicos que foram vítimas de um dos episódios mais violentos do período de exploração da borracha, entre 1900-1930, na fronteira amazônica entre Peru e Colômbia. Nos processos de reconstrução sociocultural após a escravidão e o quase extermínio pelas empresas gomíferas (Pineda 1985, 2000), teve- e continua tendo- um papel articulador central o conjunto de conhecimentos materiais e simbólicos, organizado em torno do consumo e do uso simbólico das plantas da coca e do tabaco. Este conjunto de conhecimentos (abarcando áreas que vão do mítico-cosmológico ao médico-terapêutico e às formas de governança) é resultante das articulações socioculturais vividas pelos grupos indígenas que habitam o interflúvio dos médios Caquetá e Putumayo e destes com agências não índias (Echeverri & Pereira 2005).
Sua instituição central de transmissão é o cocadero, ou o mambeadero (termo mais usado),6 espaço marcado por etiqueta e comedimento, por convenção ritual, e que pode ser considerado como um dos epicentros de construção de índices de distinção identitária em relação a seus vizinhos indígenas e não indígenas, mesmo para aqueles (homens ou mulheres, jovens ou anciãos) que pouca intimidade têm com o mundo da coca e do tabaco. Aqueles que pouco frequentaram o mambeadero, perguntados sobre em que bases se constitui sua singularidade sociocultural, fazem referência aos usos rituais de ambas as plantas, plantas "sagradas", e aos seus "conhecedores", que podem também ser chamados de "avós" ou, simplesmente, "donos de mambeadero". Para aqueles que se dedicam a esses encontros diários, o processo de aquisição e sistematização de conhecimento pode chegar a um alto grau de complexidade e elaboração, com anos de dedicação e em uma linguagem por vezes bastante formalizada.
Dentre os termos utilizados por Don Ángel Ortiz7 - cacique e dono de mambeadero do aldeamento de San Rafael, rio Caraparaná- para abarcar os conhecimentos expressos, estava o de "Palavra de Coca e de Tabaco". Na prática cotidiana, a expressão aponta para uma forma de diálogo ritual masculino, através da qual conhecimentos de diversas ordens são transmitidos. Este diálogo, iniciado por perguntas dos aprendizes, pode ser expresso de maneira cotidiana, vernacular, ou formalizar-se em gêneros discursivos e de cantos, por vezes herméticos para a maioria do grupo em suas formas de expressão e significados. Os encontros, sempre noturnos, em lugar reservado para tal fim, demarcado pela presença de bancos, pilões e tostadores, organizam-se em uma hierarquia entre conhecedores e aprendizes, marcada por nivelamentos entre estes últimos. Ao mesmo tempo, se um aprendiz segue a etiqueta e oferece coca e tabaco àquele que conduz o diálogo, este é obrigado a responder ao que lhe for demando, sob pena de esquecer o que sabe caso não responda. Sua organização está estritamente relacionada à posição que Don Ángel chamava de nimairama (termo traduzido como "filósofo" ou "sábio"), também conhecido correntemente, em espanhol, como "tradicionalista". Deste, espera-se tanto a "continuidade da tradição" quanto alguma singularidade em seu manejo da Coca e do Tabaco que o diferencie e dê nome diante de outros especialistas.
Mas nas rodas noturnas do mambeadero também se resolvem questões internas aos aldeamentos, organizam-se trabalhos conjuntos, decisões as mais diversas são tomadas. Neste sentido, além de espaço apontado como "sagrado", é também tido como o lugar de onde a chefia tradicional é exercida, é lugar de "governo", razão pela qual outro termo que pode ser utilizado para referir-se a alguns donos de mambeadero é o de iyaima, traduzível por "chefe", "cacique". Assim, é também lugar privilegiado de estabelecimento e administração de relações que articulam aliados (intra e extragrupo, índios e não índios) entre aldeamentos, rios, chegando até Letícia (Departamento do Amazonas) e Bogotá. Não é incomum que um "dono de mambeadero" (ou um dos donos de mambeadero de um aldeamento) seja cacique local, seu mambeadero sendo o mais frequentado.
Durante meu primeiro período de campo,8 em uma de nossas conversas diurnas em seu mambeadero, indaguei a Don Ángel como era a organização política murui, de como, a partir do mambeadero, conseguia relacionar-se com distintos atores indígenas e não indígenas. Nesse momento de nosso trabalho, ele definiu dois papéis de comando, que eram também posições de concentração de conhecimento, como fundamentais e complementares: o de iyaima ("cacique") e o de nimairama ("homem de conhecimento"). A diferença fundamental entre os dois papéis, enfatizou, era o fato de que o iyaima além de dominar o conhecimento tradicional, o põe em "prática", com ele "governa" (yiide) seu povo/filhos (uruki).9 O nimairama, por sua vez, é como um "filósofo", explicou, é quem cuida do mambeadero e do diálogo cotidiano noturno.10 E é nesse e desse sítio de coca, sítio de Palavra, que se governa a partir da lógica e da dinâmica da Palavra deixada por Moo Buinaima ("Pai Criador") "para governar, para fazer multiplicar o alimento e os seres humanos". Este era o esquema ideal11 da organização política considerada como "tradicional" em San Rafael.
Nos fundamentos cosmológicos compilados por Don Ángel, nos seus termos, na "História murui", a organização política do grupo aparece expressa no conjunto de narrativas por ele nomeado de Cesto da Sabedoria (nimaira kirigai), já quase em seu final. É neste conjunto narrativo que se conta desde o aparecimento de Buinaima e a criação do universo até a sua chegada uma noite no mambeadero, quando entregou "aquilo que faltava", a "Lei", a "Palavra". Após apresentar os princípios éticos, os códigos básicos de conduta, as proibições e as penas e os processos jurídicos voltados às suas transgressões, a narrativa do ancião entra, por fim, no tema que chama de "estrutura de governo".
Com essa mesma ciência [Palavra de Coca e de Tabaco], nossos avós seguiam vivendo. Com isso, aquelas pessoas seguiam se desenvolvendo [jebuioikaide]. Assim, chegaram a estruturar sua forma de governo através de um rito em um morro chamado Bokire. Dizem nossos avós que era uma caguana12 que não era espessa, pura manicuera (juiñoi). Se conta que apenas o revolveram um pouquinho com goma. Descascaram amendoim e o puseram na caguana. Dizem que cada um de nossos avós levava um cestinho pendurado no pescoço. Quando se oferecia a cada um, se misturava a caguana. Ao acabar de tomar, ficava só o amendoim que eles chupavam para limpá-lo e o guardavam em seus cestinhos, pois ia servir de semente para cada um.13
Este trecho da narrativa se inicia com um verbo que era central para o projeto político de Don Ángel e os seus em meio aos debates sobre a produção de um plano de vida: "desenvolver" (jebui-oi-kai-de).14 Este é um dos temas centrais que perpassam toda a proposta política do ancião: o desenvolvimento, em particular, o "desenvolvimento ético", segundo uma ética murui, base para o "desenvolvimento de recursos humanos para administrar". Aqui também se refere a uma bandeira política fundamental não só para si e a gente de seu mambeadero, mas para o próprio movimento indígena colombiano como um todo, com o qual ele também dialogava: desenvolver-se econômica, política e socialmente na busca de autonomia em face do Estado e da sociedade colombiana.
(...)
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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Artigo de Tarso Genro
Tarso Genro é um grande quadro político. Abaixo, você lê um artigo de sua autoria. Vale a pena sempre conferir os posicionamentos do atual governador do RS. O texto foi retirado do site CARTA MAIOR.
Explorando os limites de uma esquerda reformada
Tarso Genro
Zygmunt Bauman, na primeira carta do seu livro recentemente publicado no Brasil, "44 cartas do mundo líquido moderno" (Zahar, 2011, 226 pgs.), faz duas perguntas e apresenta uma conclusão provisória: "Como filtrar as notícias que importam no meio de tanto lixo inútil e irrelevante? Como captar as mensagens significativas entre o alarido sem nexo? Na balbúrdia de opiniões e sugestões contraditórias, parece que nos falta uma máquina de debulhar para separar o joio do trigo na montanha de mentiras, ilusões, refugo e lixo."
A pergunta de Bauman tem tudo a ver com a impotência das esquerdas, principalmente nos países capitalistas mais desenvolvidos, para dar respostas a uma crise que vinha sendo prevista por alguns economistas, há mais de dez anos. Vê-se que esta, depois de revelada, apresenta características diferentes, sociais e econômicas, das anteriores. Tanto daquelas do fim do Século XIX, na Europa e na Rússia, como daquelas que ensejaram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, entremeadas pela crise aguda de 1929.
A compreensão destas diferenças é o que permitirá uma renovação do ideário e da estratégia da esquerda, em escala mundial, que atualmente se encontra em recesso conservador, como é caso da social-democracia. Uma outra parte da esquerda está fragmentada em milhares de pequenos grupos de idealistas, com causas confusas ou não raras vezes meramente corporativas.
Ambos os agrupamentos de esquerda identificam-se por estarem afastados dos cenários políticos onde se travam as batalhas pelos rumos da história: os cenários dos movimentos sociais de massas em defesa dos direitos prometidos pelas constituições modernas (teto, lazer, educação, informação livre, inclusão na sociedade de classes de maneira formal); e os cenários das disputas ideológicas com o projeto neoliberal, no âmbito da luta política democrática. A crise de personalidade da social democracia é, por outro lado, também uma crise da sua relevância na luta para ocupar governos e governar com coerência programática.
Suponho que as diferenças significativas para uma estratégia de esquerda, são aquelas que marcam os cenários, tanto nos países do centro do capitalismo como nos países "emergentes": primeiro, a rapidez com que as crises contaminam o cenário global é a mesma rapidez - com fundamento nas mesmas tecnologias informacionais - que permite a manipulação dos seus efeitos e a criação de hegemonias artificiais, para a universalização dos "remédios" anticrise; segundo, os trabalhadores do setor público e os trabalhadores assalariados de boa renda ou renda razoável, estão separados dos pobres das periferias, dos imigrantes, dos favelados criminalizados, desempregados, intermitentes ou precários. Estes constituem "ameaças", originárias de quem está excluído e cujas demandas, se aceitas pelos governos, podem exigir repartição de benefícios sociais e disputa pelos empregos dos que estão protegidos na formalidade.
Finalmente, uma terceira diferença substancial: as representações parlamentares dos partidos de esquerda livraram-se, em regra, daquela posição clássica de mera denúncia do "parlamento burguês". Substituíram, porém, esta ideologia da destruição do Estado por uma ideologia que faz, em regra, das bancadas de esquerda, mais uma soma de posições corporativas do mundo do trabalho ou mesmo de setores empresariais, do que uma síntese programática em defesa de um padrão desenvolvimento alternativo e de um novo conteúdo democrático para a república. Neste sentido, as delegações parlamentares de esquerda aproximam-se, perigosamente, da prática tradicional dos partidos cujo sentido é perpetuar uma burocracia parlamentar-profissional, alheia a princípios programáticos.
As transformações do capitalismo, que "cindiram" o campo dos assalariados e dos pobres, em geral, unificaram os "de cima, a partir da força coercitiva do capital financeiro e da ciranda especulativa. Ao mesmo tempo, estas transformações e a necessidade de manejo da dívida pública de maneira "responsável" aproximaram do estado, em geral, os grandes grupos empresariais de comunicação e os grandes oligopólios privados.
Os estados, premidos pela dívida, e as corporações de empresas em geral (donas ou reféns dos bancos) constituem hoje (unidos todos pelas algemas da dívida pública) um "estado ampliado". Por isso mesmo é, também, um estado que vem crescentemente renunciando as suas funções públicas originárias, inclusive aquelas de dar sustento, com juros subsidiados e aportes de infraestrutura, aos investimentos do setores produtivos estratégicos para o projeto nacional. Aqui, a lógica da globalização financeira e da dívida fala mais alto do que a ideia de nação, seja do ponto de vista do controle das riquezas naturais no território, seja do ponto da vista da formação de uma comunidade de destino que institui o "ethos" da nação.
O exemplo grego é emblemático. Não só no que se refere à "revogação" do referendo, feita pelo Banco Central Europeu, mas também no que refere às distintas reações políticas do mundo do trabalho, com suas diversas hierarquias públicas e privadas, para contestar o sacrifício das novas reformas.
Os trabalhadores, o povo grego em geral, os seus empresários nacionais, os seus setores médios empobrecidos, os seus agricultores, não apresentaram um programa alternativo de reformas, que implicasse numa nova relação com a União Européia. Não se uniram por uma saída alternativa para crise. Apenas "somaram" reivindicações de diversas categorias, públicas e privadas, de aposentados e pensionistas, de setores da indústria, sem compor um todo coerente em defesa de um novo modo de integração européia e de um novo estatuto de força para a comunidade política de esquerda, no âmbito da democracia, contra as tecnocracias financeiras. Os partidos que poderiam fazer isso, ou foram impotentes e fragmentários, ou foram coniventes ou omissos. Lembremos o que ocorreu na Grécia, na Espanha, na Itália, em Portugal...
Ao contrário do que ocorreu em outros períodos da História, nos quais os debaixo "pagavam" as crises com o desemprego e a recessão (na "destruição criativa" de que nos falava Marx), mas cobravam avanços sociais e, no mínimo, compartilhamento nas decisões de estado, no atual período -em cada crise- a esquerda sai mais enfraquecida. Uma parte dela já adotara os valores de uma desigualdade que seria modernizante e que, presumidamente, traria automaticamente melhorias para todos. A outra parte não construiu um programa de respostas, que instituísse uma nova correlação de forças política no plano interno (senão uma nova hegemonia), e ao mesmo tempo protegesse ou pelos menos sustentasse os direitos sociais já conquistados. A primeira parte da esquerda pulou o muro ou ficou encima dele e a segunda fez bravatas corporativas ou não tinha o que dizer.
Uma esquerda reformada não pode sair da tradição socialista, que, no atual período, significa concretamente opor a defesa dos direitos ao sucateamento dos direitos. Significa defender a globalização dos direitos sociais em conjunto com a globalização do capital. Defender a organização do consumo sustentável, combinada com a regulação social do mercado. Significa defender a solidariedade aos ex-países coloniais e a sua gente imigrada, opondo-se ao racismo e à xenofobia. Significa defender a estabilidade da democracia parlamentar e das instituições republicanas, combinadas com a participação direta e virtual da cidadania. Uma esquerda renovada defenderá políticas de desenvolvimento regional que partam da valorização da bases produtivas locais e da valorização das suas respectivas culturas. A esquerda renovada deve, enfim, repor no discurso político e nas ações de governo, a agenda do combate às desigualdades, tão cara à tradição socialista, social-democrata ou meramente republicano-democrática, que o neoliberalismo conseguiu arquivar.
O grande Giovanni Arrighi, falecido em 2009, chegou a ter esperança num mundo "não-hegemônico", cessados os efeitos da crise, em função da emergência da China e da policentralidade mais expressiva, que fatalmente adquiriria o capitalismo no período pós-crise. Tal mundo não se confirmou, lamentavelmente, mas as diferenças sul-norte, hoje, tem novas características políticas. As experiências latino-americanas de não aceitar passivamente as cartilhas neoliberais, embora as campanhas difamatórias contra todos os governos que se opuseram ao "caminho único", abrem novas perspectivas para o discurso e para as práticas de governo da esquerda.
A esquerda, agora, precisa derrotar a direita - além das derrotas eleitorais que já lhe infringiu - no terreno das ideias, no terreno da cultura política. Isso significa salvar a democracia, com um programa aplicável e realista cujo limite, ao mesmo tempo radical e amplo, é dar efetividade às promessas de justiça e igualdade, que estão no âmago das constituições modernas, tão duramente conquistadas ao longo de duzentos anos de lutas.
A derrota da democracia pela manipulação da informação, pela falta de crença popular na efetividade dos direitos que modernamente lhe caracteriza, pela destruição da esfera da política com a desmoralização de todos os partidos e das práticas de gestão democrática, seria a derrota final da idéia do socialismo. A partir daí só poderá sobrevir a anomia e a barbárie. Quem precisa, hoje, apelar para práticas clandestinas, nos obscuros porões das agências de risco, é a direita neoliberal e os seus servos na tecnocracia dos partidos conservadores.
No atual período histórico, finalmente, a democracia política, que era a cortesã escondida do socialismo, passa ser sua única companheira. Democracia e socialismo estão fundidos no programa de direitos e nas oportunidades de luta abertas firmemente pelas constituições democráticas.
(*) Governador do Rio Grande do Sul
Explorando os limites de uma esquerda reformada
Tarso Genro
Zygmunt Bauman, na primeira carta do seu livro recentemente publicado no Brasil, "44 cartas do mundo líquido moderno" (Zahar, 2011, 226 pgs.), faz duas perguntas e apresenta uma conclusão provisória: "Como filtrar as notícias que importam no meio de tanto lixo inútil e irrelevante? Como captar as mensagens significativas entre o alarido sem nexo? Na balbúrdia de opiniões e sugestões contraditórias, parece que nos falta uma máquina de debulhar para separar o joio do trigo na montanha de mentiras, ilusões, refugo e lixo."
A pergunta de Bauman tem tudo a ver com a impotência das esquerdas, principalmente nos países capitalistas mais desenvolvidos, para dar respostas a uma crise que vinha sendo prevista por alguns economistas, há mais de dez anos. Vê-se que esta, depois de revelada, apresenta características diferentes, sociais e econômicas, das anteriores. Tanto daquelas do fim do Século XIX, na Europa e na Rússia, como daquelas que ensejaram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, entremeadas pela crise aguda de 1929.
A compreensão destas diferenças é o que permitirá uma renovação do ideário e da estratégia da esquerda, em escala mundial, que atualmente se encontra em recesso conservador, como é caso da social-democracia. Uma outra parte da esquerda está fragmentada em milhares de pequenos grupos de idealistas, com causas confusas ou não raras vezes meramente corporativas.
Ambos os agrupamentos de esquerda identificam-se por estarem afastados dos cenários políticos onde se travam as batalhas pelos rumos da história: os cenários dos movimentos sociais de massas em defesa dos direitos prometidos pelas constituições modernas (teto, lazer, educação, informação livre, inclusão na sociedade de classes de maneira formal); e os cenários das disputas ideológicas com o projeto neoliberal, no âmbito da luta política democrática. A crise de personalidade da social democracia é, por outro lado, também uma crise da sua relevância na luta para ocupar governos e governar com coerência programática.
Suponho que as diferenças significativas para uma estratégia de esquerda, são aquelas que marcam os cenários, tanto nos países do centro do capitalismo como nos países "emergentes": primeiro, a rapidez com que as crises contaminam o cenário global é a mesma rapidez - com fundamento nas mesmas tecnologias informacionais - que permite a manipulação dos seus efeitos e a criação de hegemonias artificiais, para a universalização dos "remédios" anticrise; segundo, os trabalhadores do setor público e os trabalhadores assalariados de boa renda ou renda razoável, estão separados dos pobres das periferias, dos imigrantes, dos favelados criminalizados, desempregados, intermitentes ou precários. Estes constituem "ameaças", originárias de quem está excluído e cujas demandas, se aceitas pelos governos, podem exigir repartição de benefícios sociais e disputa pelos empregos dos que estão protegidos na formalidade.
Finalmente, uma terceira diferença substancial: as representações parlamentares dos partidos de esquerda livraram-se, em regra, daquela posição clássica de mera denúncia do "parlamento burguês". Substituíram, porém, esta ideologia da destruição do Estado por uma ideologia que faz, em regra, das bancadas de esquerda, mais uma soma de posições corporativas do mundo do trabalho ou mesmo de setores empresariais, do que uma síntese programática em defesa de um padrão desenvolvimento alternativo e de um novo conteúdo democrático para a república. Neste sentido, as delegações parlamentares de esquerda aproximam-se, perigosamente, da prática tradicional dos partidos cujo sentido é perpetuar uma burocracia parlamentar-profissional, alheia a princípios programáticos.
As transformações do capitalismo, que "cindiram" o campo dos assalariados e dos pobres, em geral, unificaram os "de cima, a partir da força coercitiva do capital financeiro e da ciranda especulativa. Ao mesmo tempo, estas transformações e a necessidade de manejo da dívida pública de maneira "responsável" aproximaram do estado, em geral, os grandes grupos empresariais de comunicação e os grandes oligopólios privados.
Os estados, premidos pela dívida, e as corporações de empresas em geral (donas ou reféns dos bancos) constituem hoje (unidos todos pelas algemas da dívida pública) um "estado ampliado". Por isso mesmo é, também, um estado que vem crescentemente renunciando as suas funções públicas originárias, inclusive aquelas de dar sustento, com juros subsidiados e aportes de infraestrutura, aos investimentos do setores produtivos estratégicos para o projeto nacional. Aqui, a lógica da globalização financeira e da dívida fala mais alto do que a ideia de nação, seja do ponto de vista do controle das riquezas naturais no território, seja do ponto da vista da formação de uma comunidade de destino que institui o "ethos" da nação.
O exemplo grego é emblemático. Não só no que se refere à "revogação" do referendo, feita pelo Banco Central Europeu, mas também no que refere às distintas reações políticas do mundo do trabalho, com suas diversas hierarquias públicas e privadas, para contestar o sacrifício das novas reformas.
Os trabalhadores, o povo grego em geral, os seus empresários nacionais, os seus setores médios empobrecidos, os seus agricultores, não apresentaram um programa alternativo de reformas, que implicasse numa nova relação com a União Européia. Não se uniram por uma saída alternativa para crise. Apenas "somaram" reivindicações de diversas categorias, públicas e privadas, de aposentados e pensionistas, de setores da indústria, sem compor um todo coerente em defesa de um novo modo de integração européia e de um novo estatuto de força para a comunidade política de esquerda, no âmbito da democracia, contra as tecnocracias financeiras. Os partidos que poderiam fazer isso, ou foram impotentes e fragmentários, ou foram coniventes ou omissos. Lembremos o que ocorreu na Grécia, na Espanha, na Itália, em Portugal...
Ao contrário do que ocorreu em outros períodos da História, nos quais os debaixo "pagavam" as crises com o desemprego e a recessão (na "destruição criativa" de que nos falava Marx), mas cobravam avanços sociais e, no mínimo, compartilhamento nas decisões de estado, no atual período -em cada crise- a esquerda sai mais enfraquecida. Uma parte dela já adotara os valores de uma desigualdade que seria modernizante e que, presumidamente, traria automaticamente melhorias para todos. A outra parte não construiu um programa de respostas, que instituísse uma nova correlação de forças política no plano interno (senão uma nova hegemonia), e ao mesmo tempo protegesse ou pelos menos sustentasse os direitos sociais já conquistados. A primeira parte da esquerda pulou o muro ou ficou encima dele e a segunda fez bravatas corporativas ou não tinha o que dizer.
Uma esquerda reformada não pode sair da tradição socialista, que, no atual período, significa concretamente opor a defesa dos direitos ao sucateamento dos direitos. Significa defender a globalização dos direitos sociais em conjunto com a globalização do capital. Defender a organização do consumo sustentável, combinada com a regulação social do mercado. Significa defender a solidariedade aos ex-países coloniais e a sua gente imigrada, opondo-se ao racismo e à xenofobia. Significa defender a estabilidade da democracia parlamentar e das instituições republicanas, combinadas com a participação direta e virtual da cidadania. Uma esquerda renovada defenderá políticas de desenvolvimento regional que partam da valorização da bases produtivas locais e da valorização das suas respectivas culturas. A esquerda renovada deve, enfim, repor no discurso político e nas ações de governo, a agenda do combate às desigualdades, tão cara à tradição socialista, social-democrata ou meramente republicano-democrática, que o neoliberalismo conseguiu arquivar.
O grande Giovanni Arrighi, falecido em 2009, chegou a ter esperança num mundo "não-hegemônico", cessados os efeitos da crise, em função da emergência da China e da policentralidade mais expressiva, que fatalmente adquiriria o capitalismo no período pós-crise. Tal mundo não se confirmou, lamentavelmente, mas as diferenças sul-norte, hoje, tem novas características políticas. As experiências latino-americanas de não aceitar passivamente as cartilhas neoliberais, embora as campanhas difamatórias contra todos os governos que se opuseram ao "caminho único", abrem novas perspectivas para o discurso e para as práticas de governo da esquerda.
A esquerda, agora, precisa derrotar a direita - além das derrotas eleitorais que já lhe infringiu - no terreno das ideias, no terreno da cultura política. Isso significa salvar a democracia, com um programa aplicável e realista cujo limite, ao mesmo tempo radical e amplo, é dar efetividade às promessas de justiça e igualdade, que estão no âmago das constituições modernas, tão duramente conquistadas ao longo de duzentos anos de lutas.
A derrota da democracia pela manipulação da informação, pela falta de crença popular na efetividade dos direitos que modernamente lhe caracteriza, pela destruição da esfera da política com a desmoralização de todos os partidos e das práticas de gestão democrática, seria a derrota final da idéia do socialismo. A partir daí só poderá sobrevir a anomia e a barbárie. Quem precisa, hoje, apelar para práticas clandestinas, nos obscuros porões das agências de risco, é a direita neoliberal e os seus servos na tecnocracia dos partidos conservadores.
No atual período histórico, finalmente, a democracia política, que era a cortesã escondida do socialismo, passa ser sua única companheira. Democracia e socialismo estão fundidos no programa de direitos e nas oportunidades de luta abertas firmemente pelas constituições democráticas.
(*) Governador do Rio Grande do Sul
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Fabiano Santos aponta o desafio da oposição em 2012
Fabiano Santos é um dos principais cientistas políticos do país. Analista criterioso, brinda-nos sempre com textos de boa qualidade. Leia abaixo a sua análise sobre os desafios da oposição para 2012. Trata-se de artigo publicado no sempre bom VALOR ECONÔMICO.
O grande desafio da oposição em 2012
FABIANO SANTOS
Várias análises têm mostrado que a disputa partidária no Brasil, sobretudo a que gira em torno das eleições presidenciais, encontrar-se-ia bem estruturada em três blocos. Um primeiro segmento votaria no PT e na esquerda de uma maneira mais ampla. Um segundo segmento corresponderia ao eleitorado conservador, por isso rejeita o PT e tem optado pelos candidatos do PSDB em aliança ou não com o DEM, antigo PFL. O terceiro segmento seria o assim chamado eleitor "pivotal", mediano ou de centro. Mais volátil, decide seu voto ao longo da campanha, sopesando custos e benefícios esperados de cada opção. Sendo a tese correta teríamos, então, um eleitorado dividido em dois blocos, segundo o tipo de decisão de voto: aqueles que votam na esquerda e os que a rejeitam fariam parte de um mesmo grupo, a saber, dos que votam prospectivamente, de acordo com visões de mundo e em programas. O segundo grupo seria formado exclusivamente pelo eleitor de centro, o "pivotal", eleitor que decide seu voto retrospectivamente, com base no desempenho do governo e no que apreende ao longo de campanhas eleitorais.
Uma premissa importante dessa estória repousa no papel ocupado pelas forças que ofertam candidatos e políticas ao eleitor. Pela esquerda, de fato, o PT e partidos aliados de esquerda têm feito sua parte, administrando conflitos internos de maneira a não comprometer seus objetivos primordiais, quais sejam, manter a Presidência e ministérios sob seu comando, além de continuar aplicando políticas de resgate da dívida social brasileira. O problema mora no lado conservador, no bloco anti-esquerda. A disputa fratricida, com desdobramentos editoriais de estrondoso sucesso, além de propostas de CPI, não depõe a favor das lideranças de um projeto de oposição à altura das necessidades do país. Nem, ademais, das legítimas aspirações de sua clientela eleitoral cativa, na qual se inclui boa parte de nossas elites econômicas, além de "formadores de opinião".
Na democracia, tão importante quanto se ter um governo legitimado pelo voto e que tenta verter em políticas prioridades reveladas pela maioria da população é a existência de uma ou várias forças de oposição a este governo. Mais especificamente, é a existência de um partido ou coalizão de forças que se apresente como alternativa crível para o conjunto do eleitorado que distingue um regime político como democrático. Se a disputa entre lideranças é fator inarredável da vida dos partidos, é também verdadeiro que a partir de certo limite o conflito deixa de ser um dos componentes inevitáveis da convivência democrática e passa a comprometer a credibilidade dos atores que dele fazem parte. Passa a comprometer a capacidade destas lideranças em articular interesses e ideias alternativas às que preponderam no governo em torno de uma agenda consistente de políticas. Difícil precisar quando tal limite é ultrapassado; entretanto, há indícios importantes de que o processo vem ocorrendo no âmbito da oposição.
Um exemplo consiste na recente criação do PSD e seu posicionamento de neutralidade que assumiu vis-à-vis o governo. Ora, não é possível dissociar a decisão de políticos de orientação conservadora de criar um novo partido, cujo código de conduta é a possibilidade de vir a fazer parte de qualquer governo, da incapacidade dos tucanos de se manterem como alternativa viável de projeto de poder. Pois bem, se a estória de criação do PSD torna-se um padrão, então, claramente não estaremos mais diante de uma vida partidária estruturada em torno de dois blocos na disputa presidencial, convivendo com uma pluralidade de forças, de oposição e sustentação ao governo, no âmbito legislativo. A dinâmica da política brasileira estaria se aproximando mais dos processos de construção e ruptura de coalizões, tal como teorizada pelo cientista político norte-americano William Riker, em 1963.
Em sua obra clássica, "The Theory of Political Coalitions", Riker apresenta a política como um jogo de soma-zero sendo seu prêmio fundamental a conquista de posições no governo. Como estas posições são limitadas, ou "escassas", os parceiros de hoje podem tornar-se os inimigos de amanhã. Visões de mundo, conflitos em torno de interesses de atores sociais, sejam baseadas em classes ou identidades alternativas, nada mais seriam do que elementos secundários de um mesmo e mais fundamental objetivo, a saber, controlar a máquina governamental. Neste cenário, uma oposição não se torna governo porque vence eleições a partir da articulação de interesses e ideias alternativas as que ocupam o poder. Uma oposição "conquista" o governo por conta de um rearranjo de forças ocorrido no âmbito da coalizão predominante, que eventualmente se torna muito grande. Eleições teriam muito pouco a dizer neste processo, seriam uma espécie de epifenômeno de algo mais essencial - a luta intra-elites pela ocupação de espaço no poder do Estado.
Nenhuma teoria sobre a política representa aquilo que ocorre verdadeiramente no processo de disputa pelo poder. A política resulta das escolhas promovidas pelos atores que participam deste processo, escolhas que são feitas em circunstâncias históricas concretas. Se a política brasileira continuará bem estruturada em torno de dois blocos, que representam alternativas relativamente claras para os eleitores, não sabemos de antemão. Isso dependerá de decisões e cursos de ação adotados pelas lideranças dos partidos que têm protagonizado o conflito político desde meados dos anos 90 do século passado. Pelo lado do governo, não vejo indícios de que esta dinâmica possa vir a ser quebrada. Pelo lado da oposição, não obstante, observo caminho mais tortuoso, no qual personalidades têm se colocado acima das instituições. Isto não é bom para a democracia. Não é bom para o país.
Fabiano Santos é cientista político, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj) e colunista convidado do "Valor".
O grande desafio da oposição em 2012
FABIANO SANTOS
Várias análises têm mostrado que a disputa partidária no Brasil, sobretudo a que gira em torno das eleições presidenciais, encontrar-se-ia bem estruturada em três blocos. Um primeiro segmento votaria no PT e na esquerda de uma maneira mais ampla. Um segundo segmento corresponderia ao eleitorado conservador, por isso rejeita o PT e tem optado pelos candidatos do PSDB em aliança ou não com o DEM, antigo PFL. O terceiro segmento seria o assim chamado eleitor "pivotal", mediano ou de centro. Mais volátil, decide seu voto ao longo da campanha, sopesando custos e benefícios esperados de cada opção. Sendo a tese correta teríamos, então, um eleitorado dividido em dois blocos, segundo o tipo de decisão de voto: aqueles que votam na esquerda e os que a rejeitam fariam parte de um mesmo grupo, a saber, dos que votam prospectivamente, de acordo com visões de mundo e em programas. O segundo grupo seria formado exclusivamente pelo eleitor de centro, o "pivotal", eleitor que decide seu voto retrospectivamente, com base no desempenho do governo e no que apreende ao longo de campanhas eleitorais.
Uma premissa importante dessa estória repousa no papel ocupado pelas forças que ofertam candidatos e políticas ao eleitor. Pela esquerda, de fato, o PT e partidos aliados de esquerda têm feito sua parte, administrando conflitos internos de maneira a não comprometer seus objetivos primordiais, quais sejam, manter a Presidência e ministérios sob seu comando, além de continuar aplicando políticas de resgate da dívida social brasileira. O problema mora no lado conservador, no bloco anti-esquerda. A disputa fratricida, com desdobramentos editoriais de estrondoso sucesso, além de propostas de CPI, não depõe a favor das lideranças de um projeto de oposição à altura das necessidades do país. Nem, ademais, das legítimas aspirações de sua clientela eleitoral cativa, na qual se inclui boa parte de nossas elites econômicas, além de "formadores de opinião".
Na democracia, tão importante quanto se ter um governo legitimado pelo voto e que tenta verter em políticas prioridades reveladas pela maioria da população é a existência de uma ou várias forças de oposição a este governo. Mais especificamente, é a existência de um partido ou coalizão de forças que se apresente como alternativa crível para o conjunto do eleitorado que distingue um regime político como democrático. Se a disputa entre lideranças é fator inarredável da vida dos partidos, é também verdadeiro que a partir de certo limite o conflito deixa de ser um dos componentes inevitáveis da convivência democrática e passa a comprometer a credibilidade dos atores que dele fazem parte. Passa a comprometer a capacidade destas lideranças em articular interesses e ideias alternativas às que preponderam no governo em torno de uma agenda consistente de políticas. Difícil precisar quando tal limite é ultrapassado; entretanto, há indícios importantes de que o processo vem ocorrendo no âmbito da oposição.
Um exemplo consiste na recente criação do PSD e seu posicionamento de neutralidade que assumiu vis-à-vis o governo. Ora, não é possível dissociar a decisão de políticos de orientação conservadora de criar um novo partido, cujo código de conduta é a possibilidade de vir a fazer parte de qualquer governo, da incapacidade dos tucanos de se manterem como alternativa viável de projeto de poder. Pois bem, se a estória de criação do PSD torna-se um padrão, então, claramente não estaremos mais diante de uma vida partidária estruturada em torno de dois blocos na disputa presidencial, convivendo com uma pluralidade de forças, de oposição e sustentação ao governo, no âmbito legislativo. A dinâmica da política brasileira estaria se aproximando mais dos processos de construção e ruptura de coalizões, tal como teorizada pelo cientista político norte-americano William Riker, em 1963.
Em sua obra clássica, "The Theory of Political Coalitions", Riker apresenta a política como um jogo de soma-zero sendo seu prêmio fundamental a conquista de posições no governo. Como estas posições são limitadas, ou "escassas", os parceiros de hoje podem tornar-se os inimigos de amanhã. Visões de mundo, conflitos em torno de interesses de atores sociais, sejam baseadas em classes ou identidades alternativas, nada mais seriam do que elementos secundários de um mesmo e mais fundamental objetivo, a saber, controlar a máquina governamental. Neste cenário, uma oposição não se torna governo porque vence eleições a partir da articulação de interesses e ideias alternativas as que ocupam o poder. Uma oposição "conquista" o governo por conta de um rearranjo de forças ocorrido no âmbito da coalizão predominante, que eventualmente se torna muito grande. Eleições teriam muito pouco a dizer neste processo, seriam uma espécie de epifenômeno de algo mais essencial - a luta intra-elites pela ocupação de espaço no poder do Estado.
Nenhuma teoria sobre a política representa aquilo que ocorre verdadeiramente no processo de disputa pelo poder. A política resulta das escolhas promovidas pelos atores que participam deste processo, escolhas que são feitas em circunstâncias históricas concretas. Se a política brasileira continuará bem estruturada em torno de dois blocos, que representam alternativas relativamente claras para os eleitores, não sabemos de antemão. Isso dependerá de decisões e cursos de ação adotados pelas lideranças dos partidos que têm protagonizado o conflito político desde meados dos anos 90 do século passado. Pelo lado do governo, não vejo indícios de que esta dinâmica possa vir a ser quebrada. Pelo lado da oposição, não obstante, observo caminho mais tortuoso, no qual personalidades têm se colocado acima das instituições. Isto não é bom para a democracia. Não é bom para o país.
Fabiano Santos é cientista político, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj) e colunista convidado do "Valor".
O e-mail de Mr. Perestroika
O texto abaixo provocou algum abalo, se bem não chegou a terremoto, no terreno da Ciência Política. Basicamente, o texto questiona o fechamento cognitivo e a ausência de pluralismo metodológico naquela ciência. Foi publicado há mais de uma década, mas vale a pena dar uma conferida. Até porque, no caso da UFRN, a mensagem abaixo foi a inspiração de uma mensagem igualmente anônima questionando a fossilização do curso.
On Globalization of the APSA and APSR: A Political Science Manifesto
----------------------------------------------------------------------
Questions:
1)Why do people like Benedict Anderson and James C. Scott find APSA and APSR
irrelevant? These are probably the most famous political scientists in the world.
They are equally famous abroad and in other disciplines compared to the "stars" of
Political Science:Hey, Hey, Vee (look at their classic book on literary
methodologies).
2) Related to above is the question: Why do a majority of political scientists who
do comparative politics ignore APSA and APSR and go to their regional meetings and
read regional association journals--such as those associated with East Asia, Latin
America, Hispanic Studies etc?
3) Why does a "coterie" of faculty dominate and control APSA and the editorial board
of APSR--i scratch your back, you scratch mine. I give award to your student from
Harvard and you give mine from Duke or Columbia. In short why do the "East Coast
Brahmins" control APSA?
4) Why are a few men who make poor game-theorists and who cannot for the life-of-me
compete with a third grade Economics graduate student---WHY are these men allowed to
represent the diversity of methodologies and areas of the world that APSA "purports"
to represent?
5) Why are FAILED Africanists and Economists allowed to dominate a discipline which
has a rich history of intellectual contributions from the likes of:James Scott,
Charles Tilly, Aristide Zolberg, Leanard Binder, Benedict Anderson, R. Bendix,
Susanne Rudolph, Theda Skocpol etc.
6)Have we learned any lesson from the thousands of pages of research that was funded
by APSA in the name of political science to examine the former Soviet Union and make
"predictive" models? What happened to those models and why did they fail? How is it
that those esteemed colleagues failed to predict the collapse of the Soviet Empire
while Sovietologists from Korea, Japan, India and even one from Tanzania could
predict the fall of the empire. Are we making the same mistake by ignoring diverse
knowledges and methodologies present in the study of Politics?
7) Why isn't APSR subscription made separate from the APSA membership so that APSR
becomes truly representative of a "coterie" that rules APSA while the rest of the
true political scientists can devote their money to buying the more important
regional journals. Either reform the APSR board and have more political historians,
area specialists, political-sociologists and constructivists on the board or let the
market decide--you will find a sharp drop in APSR's subscription as soon as APSR is
delinked from the membership of APSA.
8) Why are the overwhelming majority of Presidents of APSA or editorial board
members of APSR WHITE and MALE? Where are the African-Americans, Hispanics, Women,
Gays, Asians---in short, where is the diversity of United States and the world that
APSA "pretends" to study--is somebody afraid that APSA will slip out of their
hands???
9) Why are all the articles of APSR from the same methodology--statistics or game
theory--with a "symbolic" article in Political Theory that is often a piece that has
been rejected by the journal "Political Theory. " Where is political history,
International history, political sociology, interpretive methodology,
constructivists, area studies, critical theory and last but not the least---post
modernism. Why can't you have 5 per cent of the articles in APSR allocated under the
category:incomprehensible. Then just go ahead and publish game theory, statistics
and post-modernism under the category.
10) At a time when the free market models of economics are being challenged in IMF
and World Bank, discredited in much of Asia, and protested by numerous groups; why
are simple, baby-stuff models of political science being propogated in our
discipline. If these psuedo-economists know their Maths so well--let them present at
the University of Chicago's Economics Workshop--I assure you every single political
science article will be trashed and thrown into the dustbin. Then why are these
people allowed to throw their weight around based on undergrad maths and stats--an
Econ 101. We are in the business of Political Science and not failed Economics.
Lastly,
11)When are you going to offer the APSA presidentship to Benedict Anderson or
Charles Tilly or Richard Falk or Susanne Rudolph or Ari Zolberg or James C. Scott or
Theda Skocpol who are more representative of our discipline then the "coterie" that
runs APSA.
I hope this anonymous letter leads to a dismantling of the Orwellian system that we
have in APSA and that we will see a true Prestroika in the discipline.
Mr. Perestroika
On Globalization of the APSA and APSR: A Political Science Manifesto
----------------------------------------------------------------------
Questions:
1)Why do people like Benedict Anderson and James C. Scott find APSA and APSR
irrelevant? These are probably the most famous political scientists in the world.
They are equally famous abroad and in other disciplines compared to the "stars" of
Political Science:Hey, Hey, Vee (look at their classic book on literary
methodologies).
2) Related to above is the question: Why do a majority of political scientists who
do comparative politics ignore APSA and APSR and go to their regional meetings and
read regional association journals--such as those associated with East Asia, Latin
America, Hispanic Studies etc?
3) Why does a "coterie" of faculty dominate and control APSA and the editorial board
of APSR--i scratch your back, you scratch mine. I give award to your student from
Harvard and you give mine from Duke or Columbia. In short why do the "East Coast
Brahmins" control APSA?
4) Why are a few men who make poor game-theorists and who cannot for the life-of-me
compete with a third grade Economics graduate student---WHY are these men allowed to
represent the diversity of methodologies and areas of the world that APSA "purports"
to represent?
5) Why are FAILED Africanists and Economists allowed to dominate a discipline which
has a rich history of intellectual contributions from the likes of:James Scott,
Charles Tilly, Aristide Zolberg, Leanard Binder, Benedict Anderson, R. Bendix,
Susanne Rudolph, Theda Skocpol etc.
6)Have we learned any lesson from the thousands of pages of research that was funded
by APSA in the name of political science to examine the former Soviet Union and make
"predictive" models? What happened to those models and why did they fail? How is it
that those esteemed colleagues failed to predict the collapse of the Soviet Empire
while Sovietologists from Korea, Japan, India and even one from Tanzania could
predict the fall of the empire. Are we making the same mistake by ignoring diverse
knowledges and methodologies present in the study of Politics?
7) Why isn't APSR subscription made separate from the APSA membership so that APSR
becomes truly representative of a "coterie" that rules APSA while the rest of the
true political scientists can devote their money to buying the more important
regional journals. Either reform the APSR board and have more political historians,
area specialists, political-sociologists and constructivists on the board or let the
market decide--you will find a sharp drop in APSR's subscription as soon as APSR is
delinked from the membership of APSA.
8) Why are the overwhelming majority of Presidents of APSA or editorial board
members of APSR WHITE and MALE? Where are the African-Americans, Hispanics, Women,
Gays, Asians---in short, where is the diversity of United States and the world that
APSA "pretends" to study--is somebody afraid that APSA will slip out of their
hands???
9) Why are all the articles of APSR from the same methodology--statistics or game
theory--with a "symbolic" article in Political Theory that is often a piece that has
been rejected by the journal "Political Theory. " Where is political history,
International history, political sociology, interpretive methodology,
constructivists, area studies, critical theory and last but not the least---post
modernism. Why can't you have 5 per cent of the articles in APSR allocated under the
category:incomprehensible. Then just go ahead and publish game theory, statistics
and post-modernism under the category.
10) At a time when the free market models of economics are being challenged in IMF
and World Bank, discredited in much of Asia, and protested by numerous groups; why
are simple, baby-stuff models of political science being propogated in our
discipline. If these psuedo-economists know their Maths so well--let them present at
the University of Chicago's Economics Workshop--I assure you every single political
science article will be trashed and thrown into the dustbin. Then why are these
people allowed to throw their weight around based on undergrad maths and stats--an
Econ 101. We are in the business of Political Science and not failed Economics.
Lastly,
11)When are you going to offer the APSA presidentship to Benedict Anderson or
Charles Tilly or Richard Falk or Susanne Rudolph or Ari Zolberg or James C. Scott or
Theda Skocpol who are more representative of our discipline then the "coterie" that
runs APSA.
I hope this anonymous letter leads to a dismantling of the Orwellian system that we
have in APSA and that we will see a true Prestroika in the discipline.
Mr. Perestroika
Estudar as cidades...
Se você está cursando alguma pós nestas plagas e se interessa pela sociologia urbana, não desperdice a oportunide: matricule-se na disciplina CIDADES, ESTRATÉGIAS E PROJETOS, ofertada pela Pós em ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS. Sob a batuta da Professora Soraya Vidal, a disciplina terá a seguinte ementa:
Práticas atuais de planejamento estratégico e aspectos a elas interrelacionados. A cidade do projeto e/ou projeto de cidade. Cidade ideal, cidade real, cidade intencional. Práticas urbanas contemporâneas e metamorfoses da cidade. Planejamento urbano, ambiente urbano, sociabilidade urbana e identidade. Cidade contemporânea, conflitos, diferentes agentes sociais, apropriação e acesso à cidade.
Práticas atuais de planejamento estratégico e aspectos a elas interrelacionados. A cidade do projeto e/ou projeto de cidade. Cidade ideal, cidade real, cidade intencional. Práticas urbanas contemporâneas e metamorfoses da cidade. Planejamento urbano, ambiente urbano, sociabilidade urbana e identidade. Cidade contemporânea, conflitos, diferentes agentes sociais, apropriação e acesso à cidade.
domingo, 1 de janeiro de 2012
Morre um grande jornalista
Daniel Piza era um dos bons jornalistas da nova geração. Trabalhava no ESTADÃO, onde assinava uma coluna inteligente e muito antenada com as questões culturais de nossa época.
Foi um choque quando liguei a internet, há pouco, e me deparei com a notícia de sua morte, ocorrida na sexta-feira, dia 30. Um AVC ceifou-lhe a vida.
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