quinta-feira, 3 de abril de 2014

JORNALISMO, CULTURA POLÍTICA E DROGAS

Artigo publicado na revista SOCIOLOGIAS interessa não apenas aos cientistas sociais, mas a todos quantos nos preocupamos com os desdobramentos políticos e culturais da "guerra às drogas". Abaixo, um trecho inicial. Mas, tenho certeza, você vai querer lê-lo na íntegra. Por isso, acho melhor você clicar aqui.

O panorama das Drogas no México: da margem da sociedade ao centro da cultura1



Diana Palaversich
Universidade de Nova Gales do Sul, Sidney, Austrália


Enquanto nos anos 1970 era possível argumentar que os traficantes de drogas constituíam uma subcultura minoritária que existia à margem da sociedade mexicana - limitada à região norte, tradicionalmente envolvida na produção e tráfico de entorpecentes - este não tem sido o caso na última década, quando a visibilidade do poder financeiro, político e de fogo dos traficantes por todo país aponta para o fato de que eles representam uma força excepcional que, ao longo do tempo, conseguiu passar da margem da sociedade para o centro. 
Enquanto nos anos 1970 e 1980 as manifestações culturais mais divulgadas e comercializadas desse fenômeno eram os narcocorridos e o narcocine - consumidos principalmente à margem da cultura dominante na região norte e entre os imigrantes mexicanos do outro lado da fronteira - desde o início desse século esses temas se deslocaram para o centro do mainstream cultural mexicano, chegando a se estabelecer de maneira destacada nos meios de comunicação, nas artes visuais e na literatura. 

1 O jornalismo diante do fenômeno das drogas
Deve-se observar que o fator mais óbvio a contribuir para a proliferação de obras que tratam do fenômeno das drogas, tanto no jornalismo como no campo das letras e artes visuais, é o aumento da violência, desde que o presidente Felipe Calderón iniciou a luta contra o narcotráfico, em 2006, poucos meses depois de assumir o comando do país.  À medida que cresce a representação desse tema em diversos meios do mainstream cultural, aumentam também as críticas à atual comercialização e representação do tema.  Alega-se que o interesse exagerado pelo fenômeno das drogas e de sua comercialização legitima esse negócio ilegal, promove a violência e contribui para uma imagem ruim do país no exterior.
Quanto aos comentários sobre a cobertura da mídia, o renomado historiador mexicano Enrique Krauze, em seu artigo Em defesa da nossa imagem, publicado na revista Proceso em 2009, critica a mídia impressa do país por sua cobertura sensacionalista do tema, especialmente a ênfase nas imagens sangrentas, a qual, de acordo com o autor, fornece publicidade gratuita para os cartéis. Embora não haja dúvidas de que não faltam meios de comunicação e jornalistas no país abordando o tema de maneira sensacionalista e pouco analítica, como advertiu Krauze, alimentando o interesse mórbido do público ante as imagens de corpos decapitados e desmembrados, seria errado concluir que este é o caso do jornalismo mexicano como um todo. Em primeiro lugar, devemos reconhecer a existência de diferenças consideráveis entre a relativa liberdade desfrutada pelos meios de comunicação na capital e a intensa (auto)censura aplicada aos meios de comunicação ao norte do país, devida ao clima de intimidação e inquietação gerado pelas ameaças e execuções de jornalistas por parte dos traficantes. Esse silenciamento é, certamente, mais evidente nas zonas controladas pelos Zetas e pelo Cartel do Golfo, como Tamaulipas, por exemplo, onde, segundo investigação da Fundação Mexicana de Jornalismo realizada em 2010, são relatados apenas 0-5% dos crimes relacionados com o tráfico de drogas. 
Em segundo lugar, é necessário observar que, além da cobertura sensacionalista da narcoviolência, no México também ocorre o que o jornalista de Monterrey, Diego Enrique Osorno, chamou de "jornalismo infrarrealista" para se referir à prática de um jornalismo comprometido, urgente e de trincheira, dedicado à tarefa de revelar pontos fracos das grandes notícias da mídia; de contar histórias não contadas de homens e mulheres comuns, cuja experiência de vida e de morte não interessa ao discurso oficial:
O jornalismo infrarrealista sabe que a retórica de guerra é diferente da guerra. O jornalismo infrarrealista não conta mortos, conta as histórias dos mortos. O jornalismo infrarrealista busca a versão daqueles que não têm porta-voz nem departamento de comunicação, de quem nunca convocou uma coletiva de imprensa.
Na verdade, esse termo poderia também definir o trabalho de todo um grupo de jornalistas mexicanos, entre os quais se destacam, por sua audácia, as mulheres.  Só durante o ano de 2011, cinco delas abordaram temas atuais e de alto risco: Lydia Cacho, o tráfico e abuso de meninas e mulheres; Ana Lilia Pérez, as ligações sombrias entre o chamado crime organizado e a empresa mais importante do México, Petróleos Mexicanos (Pemex); Anabel Hernández, a estreita relação entre diferentes instituições do governo mexicano, o mundo empresarial e o tráfico de drogas; enquanto Marcelas Turatti e Sanjuana Martínez mostram a experiência das pessoas atingidas pela violência das drogas e dão voz à dor dos familiares dos mortos. É importante dizer que todas tiveram suas vidas ameaçadas, o que já levou, até o momento, duas delas para o exílio: Lydia Cacho e Ana Lilia Pérez.2

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