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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ainda sobre corrupção... intelectual.

Leia, mais abaixo, matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo sobre a ingerência da CIA na vida cultural da segunda metade do século XX.

Corrupção intelectual
Em Quem Pagou a Conta?, a pesquisadora Frances Stonor Saunders detalha como a CIA financiou artistas para combater o comunismo durante o pós-guerra.

Ubiratan Brasil

A excursão de Louis Armstrong e Duke Ellington pela União Soviética e Leste Europeu, nos anos 1950; as revistas Encounter, Kenyon Review, New Leader e Partisan Review, todas seguidoras da esquerda democrática; a dificuldade do poeta chileno Pablo Neruda em ganhar o Nobel de Literatura - o que fatos tão distintos têm em comum? Uma participação secreta mas eficiente da Agência Central de Inteligência dos EUA, a CIA. Entre 1950 e 67, durante o auge da Guerra Fria, a agência investiu vastos recursos em um projeto com a intenção de afastar a intelectualidade, especialmente européia, de seu fascínio remanescente pelo marxismo e comunismo, buscando atraí-la para uma visão mais receptiva do “estilo norte-americano”.

Assim, a CIA financiou apresentações de Armstrong e Ellington em terras comunistas disposta a erradicar a suspeita de que americanos eram racistas; garantiu o borderô daquelas revistas influentes para que divulgassem o estilo mais eficaz de propaganda, ou seja, aquele em que “o sujeito se move na direção que você deseja por razões que acredita serem dele”; e eliminou qualquer possibilidade de intelectuais contrários a essa doutrina receberem prêmios merecidos por sua obra - como o Nobel para Neruda. “Gostassem ou não, soubessem ou não, poucos foram os intelectuais da Europa do pós-guerra que não se ligaram de algum modo a essa iniciativa secreta”, observa, em entrevista ao Estado, a historiadora inglesa Frances Stonor Saunders, que pesquisou a ação da CIA na cultura para escrever Quem Pagou a Conta?, livro recentemente lançado pela Record (560 páginas, R$ 68).

Trata-se do fruto de um trabalho árduo, que consumiu vários anos. Até ver a obra publicada em 1999, Frances enfrentou a dificuldade imposta pela CIA para liberar o acesso a seus documentos. “Enviei um primeiro pedido em 1992 do qual não tive resposta até hoje. No segundo, fui informada que o custo total para a liberação dos documentos seria de aproximadamente US$ 30 mil. E o responsável por essa liberação me confidenciou que, mesmo assim, as chances de eu ter acesso aos papéis eram praticamente zero.”

Frances sabia que cutucava um vespeiro, mas se aproveitou dos arquivos da iniciativa privada - instituições filantrópicas, como a Fundação Ford e a Rockefeller, aceitaram financiamentos da CIA, assim como outras organizações testas-de-ferro, criadas para oferecer a face em relação a contas e registros - para encorpar seu trabalho. Era o caminho aberto para descobrir que a agência de inteligência ocultava seu financiamento na cultura atrás de uma série de frentes de atuação.

O componente central da campanha foi o Congresso pela Liberdade Cultural, dirigido por Michael Josselson, um agente da CIA, entre 1950 e 67. Em seu apogeu, segundo a autora, o Congresso tinha escritórios em 35 países, empregava dezenas de pessoas, publicava mais de 20 revistas prestigiosas, realizava exposições artísticas, contava com um serviço de notícias e reportagens, organizava conferências internacionais amplamente divulgadas e recompensava músicos e artistas com premiações e apresentações públicas. “Não tenho notícia de uma ação específica no Brasil”, responde Frances à pergunta do Estado. “Infelizmente, como não leio em português, não pude me aprofundar nas ramificações latinas da CIA. Mas, ainda que indiretamente, tal ação pôde ser sentida nessa região.”

A intenção da agência de inteligência era vacinar o mundo contra o contágio do comunismo e facilitar a aceitação dos interesses americanos na política de outros países. A lista de pessoas cooptadas, segundo Frances, era imensa: entre outros, destacavam-se Isaiah Berlin, Hannah Arendt, Mary McCarthy, Arthur Koestler, Raymond Aron e George Orwell. Deste, Frances conta como foi modificado o fim da adaptação em desenho animado de A Revolução dos Bichos.

Foi pouco depois da morte de Orwell, em 1950 - os direitos foram cedidos pela viúva a uma empresa inglesa e o roteiro foi minuciosamente examinado pela Diretoria de Estratégia Psicológica da CIA, que concluiu ser o final nebuloso demais. Os problemas foram resolvidos com uma modificação no roteiro. No texto original, os porcos comunistas e os homens capitalistas formam uma mesma massa na podridão. “Quem viu o filme assistiu a uma conclusão diferente, em que permaneceram apenas os porcos, incitando os outros animais a invadirem a fazenda”, comenta Frances. “A fusão da corrupção comunista com a decadência capitalista foi desfeita.”

Outro tema de grande destaque tratado em Quem Pagou a Conta? é o apoio financeiro da CIA na divulgação da obra de pintores expressionistas abstratos. O que a agência via de produtivo no expressionismo era sua aposta na liberdade de expressão. “Sendo não figurativo e politicamente silencioso, ele era a própria antítese do realismo socialista”, observa a autora. Com isso, diversas exposições foram organizadas, críticos de arte foram mobilizados e inúmeras revistas especializadas foram inundadas com artigos valorizando esse tipo de arte. “O expressionismo tornou-se uma poderosa arma na Guerra Fria cultural.”

E quem se elevou como principal representante foi o pintor Jackson Pollock - encarnação da virilidade (eterno objetivo americano), ele usava uma técnica conhecida como pintura de ação, que envolvia deitar uma imensa tela no chão e derramar tinta sobre ela. “No nó extravagante e aleatório das linhas que se entremeavam pela tela e ultrapassavam as bordas, ele parecia empenhar-se no ato de redescobrir a América”, escreve Frances.O financiamento da CIA continuou até 1967, quando o jornal New York Times publicou uma série de artigos revelando tal estratégia. Intelectuais envolvidos reagiram raivosos, negando participação. Um membro da própria CIA, no entanto, Tom Braden, não só confirmou como detalhou como cada um recebia seu salário.

As ciências sociais francesas comeram na mão da CIA

A Professora Julie Cavignac, do Departamento de Antropologia da UFRN, enviou-me uma mensagem com um link para um artigo publicado no site francês http://www.voltairenet.org/. O artigo trata da, digamos, flexibilidade política e ideológica de uma plêiade de intelectuais franceses das ciências socias. Eles teriam, como vou dizer?, sido bancados pela CIA. Encontrei tradução de parte do artigo site resistir. Transcrevo abaixo. Vale a pena conferir!

As ciências sociais francesas
& as injecções de dinheiro da CIA

por Bertrand Chavaux


Desde os começos da Guerra Fria, a CIA tem tido a preocupação de assumir o controle do ensino das ciências sociais em França para subtraí-lo à influência dos comunistas. Apoiando-se no físico Pierre Auger, então director do ensino superior, a Agência promoveu a criação de uma nova secção na Escola Prática de Altos Estudos, à margem do CNRS. Depois, financiou novas instalações, a Casa das Ciências do Homem, e conseguiu, em 1975, transformá-la na École des hautes études en sciences sociales (EHESS), presidida pelo historiador anticomunista François Furet.

A história oficial da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais (EHESS), escrita por François Furet e seus fiéis, insiste no percurso que teria permitido à instituição emancipar-se da influência dos seus mecenas estado-unidenses.

A escola, resultado de meio século de ingerência cultural estado-unidense, foi criada graças a créditos distribuídos, durante a Guerra Fria, pelas fundações Ford e Rockefeller. Apesar das suas origens diplomáticas, a instituição teria sabido “ultrapassar a ideia que a criou”, renovando “uma disciplina (a História) nas antigas tradições europeias” [1] e, tornando-se assim, segundo esta versão oficial, um pólo intelectual independente, liberto dos constrangimentos impostos pelos mecenas.

Tal tese, destinada a fazer face a possíveis acusações [2] , encobre os objectivos políticos e culturais ligados à criação da EHESS. Este controle da escola pelos historiadores, longe de exprimir qualquer emancipação da instituição, esclarece as opções estratégicas da Fundação Rockefeller, que, a partir dos anos 50, faz da História um dos instrumentos privilegiados da diplomacia cultural estadunidense.

A INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS SEGUNDO ROCKEFELLER

A partir de 1901, John D. Rockefeller (1839-1937), seguindo os conselhos do seu amigo Frederik Gates, um pastor baptista, investiu uma parte da sua colossal fortuna no financiamento de projectos filantrópicos. Assim, cria em Nova Iorque, em 1901, o Rockefeller Institute of Medical Research (que se torna em 1965 a Rockefeller University), depois, em 1902, o General Education Board e, em 1909, a Rockefeller Sanitary Commission. Estas acções viradas para a medicina e a educação levam à criação da Fundação Rockefeller. A história oficial retém apenas a vontade de “promover o bem-estar da Humanidade”, inspirada nas ideias de Andrew Carnegie que, em 1889, publica O Evangelho da Riqueza . Na realidade, a Fundação Rockefeller foi essencialmente um meio de contornar as leis “antitrusts”. Em 1911, a Standard Oil é fragmentada em várias filiais. Supostamente, esta decisão política poria fim ao monopólio que a companhia detinha nos mercados estado-unidenses do petróleo. Desde 1910, John D. Rockefeller propõe o projecto de uma Fundação, “ sob a protecção do Congresso ”, que é criada em 1913. Tal cobertura permite à família Rockefeller controlar as diferentes filiais resultantes da fragmentação ordenada pelo Tribunal Supremo em 1911. A Fundação, por exemplo, possui sozinha três milhões de acções da Standard Oil de New Jersey, a primeira empresa petrolífera do mercado.

As actividades filantrópicas da Fundação estão frequentemente ligadas aos interesses económicos e sociais da família Rockefeller [3] . Assim sendo, as ciências sociais são consideradas como um instrumento de controle social, uma aposta cultural na luta contra o socialismo. A finais de 1913, uma greve de vários meses numa filial da Standard Oil acabou, em 20 de Abril de 1914, no massacre de Ludlow, um dos episódios mais trágicos da repressão da classe operária estado-unidense.

A Fundação havia tentado estudar o movimento no quadro de um inquérito sobre as “ relações industriais ” para melhor poder canalizá-lo. Fiel a esta concepção instrumentalista das ciências sociais, a Fundação favorece, nos Estados Unidos, o seu desenvolvimento em diferentes universidades (Yale, Harvard, Chicago, Columbia) e, na Europa, assegura uma grande parte do financiamento de organismos como a London School of Economics que acolhe economistas comprometidos com a Société du Mont-Pèlerin [4] (nomeadamente Fredrich von Hayek e o seu mestre Ludwig von Mises) e, em Berlim, a Deutsche Hochschule für Politik. Estes centros intelectuais servirão, na altura da Guerra Fria, de bases europeias aos ideólogos anticomunistas financiados pelos Estados Unidos (Congrès pour la Liberté de la Culture, Société du Mont-Pèlerin...).

A FUNDAÇÃO ROCKEFELLER EM FRANÇA

Em 1917, a Fundação Laura Spellman Rockefeller (do nome da mulher do patriarca) instala-se em Paris no quadro de um programa de luta contra a tuberculose. Nessa época, em França, o financiamento privado das ciências sociais é uma prática muito marginal. Só Ernest Lavisse, director da Escola Normal Superior (ENS) de 1906 a 1919, tenta a experiência do mecenato, criando, com a ajuda de um rico banqueiro, Albert Kahn, na rua Ulm, o Comité Nacional de Estudos Sociais e Políticos (CNESP). O CNESP, oficializado pelo sucessor de Ernest Lavisse na ENS, Gustave Lanson, torna-se o “Centro de Documentação Social”, organismo dirigido por Célestin Bouglé, onde jovens investigadores iniciam a sua carreira.

Em 1931, a Fundação Rockefeller responde favoravelmente aos pedidos de financiamento de Charles Rist, professor de economia, vice-governador do Banco de França, que pretende criar um Instituto Científico de Investigações Económicas e Sociais. Ao mesmo tempo, a organização filantrópica recusa-se a apoiar um projecto mais ambicioso de Marcel Mauss. Preocupada já com a situação política francesa, a Fundação Rockefeller considera Mauss, sobrinho do sociólogo Emile Durkheim, “ muito à esquerda ”. Em 1932, o Centro de Documentação Social consegue créditos para financiar dois postos de investigador a tempo inteiro. Raymond Aron e Georges Friedman [5] serão, durante certo tempo, titulares desses postos.

De 1933 a 1940, o Instituto Científico de Investigações Económicas e Sociais, dirigido por Charles Rist, recebe 350 000 dólares; o Conselho Universitário da Investigação Social, presidido pelo reitor Charléty, 166 000 dólares; o Centro de Estudos de Política Externa, um outro organismo dirigido pelo reitor Charléty, 172 000 dólares.

Durante a Segunda Guerra Mundial, membros das fundações Ford e Rockefeller organizam o exílio do sociólogo Gurvitch, do antropólogo Lévi-Strauss e do físico Auger. Georges Gurvitch cria em Nova Iorque um instituto de sociologia. Em França, nas instalações da Fundação Rockefeller, alguns investigadores, entre os quais Jean Stoetzel [6] , continuam os seus trabalhos no seio de um organismo criado pelo regime de Vichy, a Fundação Alexis Carrel (do nome de um biólogo, Pémio Nobel em 1912, reputado pelas suas teses eugenistas) [7] .

DA 6ª SECÇÃO À CASA DAS CIÊNCIAS DO HOMEM

Em Junho de 1948, o Conselho Nacional de Segurança formaliza a criação da rede de ingerência anticomunista dos Estados Unidos nos estados aliados, o staybehind [8] . Aquando das reuniões preparatórias, John D. Rockefeller III apresenta a sua Fundação como mais apta que a organização do Plano Marshall para intervir em certos meios universitários onde dispõe de antigos contactos e onde age de novo, não obtendo luz verde senão para determinados alvos.

Ele já havia lançado na Áustria um “ Plano Marshall do Espírito ”, particularmente com o seminário de estudos americanos de Salzbourg, dirigido por Clemens Heller. A Fundação volta-se naturalmente para os intelectuais franceses, que há muito patrocina. Pierre Auger foi nomeado Director do Ensino Superior logo no seu regresso a França em 1945.

Durante a guerra, ele tinha ensinado, primeiro, na Universidade de Chicago, onde descobrira um departamento de Ciências Sociais dinâmico que servia de base aos neoconservadores [9] .

Depois, participara nos trabalhos da bomba atómica com britânicos e canadianos. Nas suas novas funções, ele enfrentou-se, no controle do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) com a obstrução do Prémio Nobel Frédéric Joliot, comunista e pacifista, que se opunha à bomba. Elaborou, então, o projecto de tirar ao CNRS, por um lado, o Centro de Energia Atómica (CEA) e, por outro lado, um pólo de Ciências Sociais, que devia ficar ligado à Escola Prática de Altos Estudos (EPHE) [10] , com o qual teria constituído a 6ª Secção. Para animar esse pólo, escolheu intelectuais do grupo dos Annales [11] (Morazé, Friedmann, Braudel, Labrousse, Le Bras...).

E lá está a Fundação Rockefeller, evidentemente, para financiar esta experiência, quando em França apenas os institutos privados recorriam habitualmente ao mecenato privado.

Foram estabelecidos contactos prévios por intermédio de Claude Lévi-Strauss, na altura adido cultural da embaixada de França em Washington, depois por Charles Morazé, que se encontra com John Marshall [12] na primeira conferência da UNESCO, verdadeiro espaço de recrutamento para a constituição de redes pro-Estados Unidos na Europa. Charles Morazé, professor de História, colaborador dos Annales , membro da Fundação Nacional das Ciências Políticas, dispõe de todas as características políticas e intelectuais requeridas pela Fundação Rockefeller. Ele torna-se um dos actores-chave da criação da 6ª Secção, cujo primeiro conselho teve lugar em 1948. Um quarto dos fundos provém da Fundação Rockefeller [13] . No contexto ideológico da Guerra Fria, as organizações filantrópicas servem de biombo a operações de intervenção cultural, por vezes directamente conduzidas pelos serviços secretos dos Estados Unidos. Assim, em 1950, membros da CIA permitem a criação, em Berlim, do Congresso para a Liberdade da Cultura, organização que agrupa intelectuais hostis ao comunismo [14] . Durante 17 anos, a CIA mascara as origens do seu financiamento, utilizando a Fundação Ford. Em 1952, a Fundação Rockefeller entra com 4 500 000 francos para que Febvre e Morazé prossigam na organização da 6ª Secção.

Em 1945, graças a Clemens Heller [15] , agora instalado em Paris, a 6ª Secção obtém novos créditos a fim de organizar um programa de estudos por “ áreas culturais ” [16] .

Em 1959, é a Fundação Ford [17] que intervém por sua vez: financia maciçamente os trabalhos de Pierre Auger, a começar pelo Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN), depois entregando um milhão de dólares para a construção de uma Casa das Ciências do Homem, que possa albergar a 6ª Secção da Escola Prática de Altos Estudos e facilitar o seu desenvolvimento [18] .

Acabada a construção definitiva dessa Casa, a 6ª Secção aspira a autonomizar-se definitivamente. O decreto de 23 de Janeiro de 1975 cria oficialmente a Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais (EHESS), instituição à margem da universidade francesa, que vai acolher inúmeros ideólogos pró-estado-unidenses. Desde 1977, François Furet, historiador anticomunista, torna-se o seu presidente. Recruta, assim, o seu amigo Pierre Rosanvallon, com quem, anos mais tarde, lançará a Fundação Saint-Simon [19] . Em 1980, Furet cria um Centro de Estudos Norte-Americanos no seio da Escola. Resultado de um longo processo de ingerência cultural estado-unidense, a EHESS é uma instituição híbrida, financiada simultaneamente pelo Estado dos Estados Unidos (bolsas Fulbright) e pela Fundação Franco-Americana de Nova Iorque [20] , uma nova cobertura da CIA criada expressamente em 1976.

NOTAS
[1] Brigitte Mazon, Histoire de l'École des hautes études en sciences sociales, Le rôle du mécénat américain (1920 – 1960) , Cerf. Tese de Brigitte Mazon sob a direcção de François Furet, presidente da EHESS de 1977 a 1985.
[2] « La richesse est suspecte. Et l'argent américain suscite des amalgames : on y voit la « main de l'étranger », on soupçonne l'impérialisme, on accuse la CIA ». Ibid, p. 13.
[3] A Fundação Rockefeller também financia organizações, como a Population Council, encarregadas de pôr em prática políticas de limitação dos nascimentos.
[4] Hayek é nomeado professor na London School of Economics em 1931. «Friedrich von Hayek, pape de l'ultra-libérisme», Voltaire , 4 de Março de 2004.
[5] Georges Friedmann (1902 – 1977), professor de filosofia de origem burguesa, torna-se, a partir dos anos 20, especialista pseudo-marxista da condição operária e dos problemas ligados ao progresso técnico («a mecanização»). Contrariamente aos filósofos de entre as duas guerras (Politzer, Nizan, Aron, Lefebvre), a especulação filosófica parece-lhe insuficiente. Segundo ele, o estudo da classe operária requer um trabalho empírico (mais próximo do jornalismo do que da investigação sociológica no terreno). Em 1925, visita as fábricas da Toscânia, reunindo testemunhos de operários. A recolha de dados, em França, nos Estados Unidos e União Soviética, alimenta o seu inquérito acerca da organização do trabalho industrial, realizado no quadro do Centro de Documentação Social da Escola Normal Superior, dirigido por Célestin Bouglé.
[6] Jean Stoetzel, discípulo de Lazarsfeld, é o fundador do IFOP, o primeiro instituto francês de sondagens. Ele contribuiu, ao arrepio da tradição francesa representada por Emile Durkheim, para a importação dos métodos da sociologia empírica estado-unidense.
[7] Alexis Carrel foi membro da conspiração de “La Cagoule”. Faz parte do comité executivo animado por Coutrot do Centro de Estudos dos Problemas Humanos, de que Georges Friedmann é um dos conselheiros. Também é membro do Conselho Geral do Centro Francês de Síntese, grupo sediado em Vichy, sob a protecção de Philippe Pétain.
[8] « Stay-behind: les réseaux d'ingérence américains » por Thierry Meyssan, Voltaire , 20 de Agosto de 2001.
[9] Este departamento será financiado em breve pela Fundação Olin e acolherá François Furet nos anos 80.
[10] A EPHE é fundada em 1868 por Victor Duruy, então ministro da Instrução Pública. Vários projectos que visavam criar uma 6ª Secção (projecto Mauss, projecto Tabouriech) fracassam por falta de créditos suficientes.
[11] A escola dos Annales designa um grupo de historiadores cujas personalidades mais célebres são Fernand Braudel, Marc Bloch, Lucien Febvre e, em menos medida, Charles Morazé.
[12] John Marshall faz parte da divisão das Ciências Humanas da Fundação Rockefeller e é encarregado, com John Willits e Robert T. Crane, de encontrar em França os futuros beneficiários das subvenções. John Willits, director do departamento das Ciências Sociais da Fundação, contacta nomeadamente, por seu lado, Jacques Rueff, membro da Sociedade de Mont-Pèlerin.
[13] Estes fundos permitem subvencionar o Centro de Investigação Histórica, dirigido por Braudel, e o Centro de Estudos Económicos, dirigido por Morazé.
[14] « Quand la CIA finançait les intellectuels européens » por David Boneau, Voltaire , 27 de Novembro de 2003.
[15] Clemens Heller (1917 – 2002), diplomado por Harvard, de origem austríaca, filho do editor de Freud em Viena, organiza o seminário de Salzbourg, depois chega a França em 1949. A sua casa, na rua Vaneau, foi lugar de encontros de intelectuais. Este salão parisiense acolheu Claude Lévi-Strauss e Margaret Mead, nomeadamente.
[16] Em Outubro de 1955, Kenneth W. Thompson pede que o projecto de Angelo Tasca (conhecido por Angelo Rossi) de uma História da Internacional Comunista seja integrado no programa das «áreas culturais» da 6ª Secção. Rossi, fundador do Partido Comunista Italiano, funcionário do regime de Vichy, é o candidato apoiado por Raymond Aron para contrabalançar as teses políticas de Jean Chesneaux. É pai de Catherine Tasca, ministra da Cultura e da Comunicação do governo Jospin (2000 – 2002). Kenneth Tompson foi membro dos serviços de contra-espionagem estado-unidenses de 1944 a 1946 e participou na fuga de responsáveis nazis, depois foi professor na Universidade de Chicago em 1948, antes de fazer parte da Fundação Rockefeller em 1953.
[17] «La Fondation Ford, paravent philanthropique de la CIA» e «Pourquoi la Fondation Ford subventionne la contestation», Voltaire , 5 e 19 de Abril de 2004.
[18] Este projecto é apoiado por Febvre, Braudel e Gaston Berger, Director Geral do Ensino Superior.
[19] « La face cachée de la Fondation Saint-Simon», Voltaire, 10 de Fevereiro de 2004.
[20] De 1997 a 2001, a Fundação Franco-Americana é presidida por John Negroponte, que passa a dispor de um gabinete nas instalações da EHESS.