domingo, 21 de dezembro de 2008

O mau gosto da nação forrozeiro e a derrota da cidadania

Transito em muitos lugares da região metropolitana de Natal. O que me chama a atenção nos bairros populares, ou das classes médias baixas, vá lá!, para continuar no mesmo terreno precário da imprecisão sociológica, é o quanto os decibéis dos aparelhos de som parece subir quanto mais baixo descemos na, digamos, escala social. São carros populares (ou nem tão populares assim, como as onipresentes picapes cabine duplas), com potentes estruturas de som a obrigar transeuntes e vizinhos a ouvir uma barulheira que somente com muita generosidade e espírito pluralista poderíamos definir como “música”. Destacam-se, nessa terra de ninguém, os grupos de forró.

Para além dos carros, nos canteiros das ruas, ou em praças onde deveriam existir equipamentos de uso coletivo para crianças e adolescentes, temos botecos nos quais se vendem cervejas e cachaça. Neles, o som advém de aparelhos de DVD acoplados a pequenos telões. O mesmo som se difunde, com o acompanhamento, na tela, das imagens de loiras de farmácia em suas, como direi?, performances. E as letras? Me parece que, hoje, não se pode mais fazer uma letra de forró sem as palavras “puta”, “raparigueiro”, “cabaré” e “cachaça”. Miséria total!

Em Parnamirim, onde moro, esses elementos dominam a paisagem. Não raro, na proximidade de colégios públicos e privados. No lugar onde deveriam estar crianças brincando, marmanjos e candidatas derrotadas a patricinhas bebendo e se rebolando. De vez em quando, gritos primais e vivas a uma certa “nação forrozeira”. Quem consegue ouvir, uma música que seja, da banda “Aviões do forró”, para ficar aqui só com um exemplar da espécie, sabe que essa é a nação do deboche e do mau gosto. Mas, parece-me, é uma nação vitoriosa. Para a sua supremacia conta com a omissão do ministério público e a cumplicidade demagógica das autoridades municipais.

Se gosto se discute, como nos ensina, por exemplo, a sociologia de Pierre Bourdieu, o mau gosto musical que domina as nossas paisagens merece uma profunda discussão. Se não por outros motivos, pelo menos porque o domínio dessa "nação forrozeira" sobre o espaço público é, com certeza, mais uma expressão da derrota da cidadania entre nós.

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