quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O PT desliza na maionese em relação à Israel

Que viceja em certos ambientes da auto-proclamada esquerda brasileira um mal-disfarçado anti-semitismo, essa é uma constatação que qualquer pessoa mais crítica pode chegar ao ler os posicionamentos produzidos a respeito do conflito entre Israel e palestinos. Não é raro, mesmo aqui na Universidade, ouvir colegas proferindo boutades ao expressar sua solidariedade aos palestinos. Sempre reajo a isso e digo-lhes que nenhuma solidariedade pode ser fundamentada na negação radical do outro, como é o caso do anti-semitismo. Pois não é que o Partido dos Trabalhadores, em nota publicada no dia 04 de janeiro (leia-a aqui), desliza para uma posição que pode alimentar o anti-semitismo já existente em alguns (poucos, felizmente) de seus militantes. Basta chamar a atenção para o fato de que a existência do Estado de Israel não é ali claramente defendida. Em reação a essa pisada de bola, um grupo de destacados militantes e dirigentes do partido publicou uma carta à direção partidária colocando as coisas nos seus devidos termos. É irretocável! Leia-a abaixo.

Ao companheiro Ricardo Berzoini,
Presidente Nacional do PT,

Nós aqui subscritos, na qualidade de militantes do PT profundamente consternados com a tragédia que vem se desenrolando no Oriente Médio e com o número crescente de vítimas, inclusive de crianças, gostaríamos de manifestar publicamente desacordo com o teor da nota do Partido sobre o conflito, divulgada a 4 de janeiro corrente.

Em nossa visão, a nota posiciona equivocadamente o PT em relação a um conflito de notável complexidade, devido, em síntese, aos seguintes pontos:
i. ignora a posição histórica do Partido, que sempre se pautou pela defesa da coexistência pacífica dos povos;
ii. banaliza e distorce o fenômeno histórico do nazismo;
iii. não registra a necessária condenação ao terrorismo;
iv. não afirma o reconhecimento do direito de existência de Israel negado pelo Hamas;
v. não se coaduna com a posição equilibrada assumida pelo governo brasileiro sobre a questão; e
vi. queima, ao invés de construir, pontes para o entendimento.

Estamos convictos de que o Brasil, conforme propõe o Governo Lula e com base na convivência exemplar das duas comunidades em sua sociedade, pode contribuir para o engajamento das partes na busca de uma paz duradoura, baseada na coexistência pacífica de um Estado Palestino viável e próspero e de um Estado de Israel definitivamente seguro.

Nosso partido pode desempenhar um papel importante no aprofundamento do debate e na defesa, junto às partes e à sociedade brasileira, do caminho do cessar-fogo imediato e do desbloqueio da entrada de ajuda humanitária.

Alberto Kleiman

Alexandre Padilha

Alfredo Schechtman

Aloizio Mercadante

Ana Copat Mindrisz

Carlos Minc Baumfeld

Clara Ant

Denise Rosa Lobato

Diogo de Sant’Ana

Edna Cassimiro

Esther Bemerguy de Albuquerque

Fernando Haddad

Fernando Kleiman

Itajaí Oliveira de Albuquerque

Ivo Bucaresky

Ivone de Santana

Jaques Wagner

José Genoino

Luciano Pereira da Silva

Marcelo Behar

Marcelo Zero

Marcos Damasceno

Maria Luíza Falcão

Marta Suplicy

Mauricio Mindrisz

Nadia Somekh

Paul Israel Singer

Paulo Moura

Paulo Vannuchi

Pedro Vieira Abramovay

Rômulo Paes de Sousa

Sergio Gusmão Suchodolski

Suzanne Serruya

Tarso Genro

Thiago Melamed de Menezes

Vitor Sarno

Um comentário:

Roberto Torres disse...

É lugar comum acusar de anti-semita toda crítica feita ao Estado de Israel. Primeiro por misturar a crítica ao Estado Sionista e seu projeto estratégico (algo que curiosamente se pode fazer ao EUA, a CHINA, ao Brasil mas nao à Israel) de expansao com a negacao de humanidade de uma coletividade (anti-semitismo). Segundo porque, no contexto do genocídio empreendido por Israel, se preocupar desse jeito em lembrar que Israel tem o direito de existir enquanto Estado no mesmo tom que deve denunciar o negacao do direito de existir do palestinos significa dizer que a negacao retórica do direito de existir de Isreal feita pelo Hamas merece ser combatida com a mesma seriedade que a negacao efetiva feita por Israel. No fundo se exige neutralidade quando se fala que o PT nao ressaltou esse direito de Israel.