terça-feira, 20 de novembro de 2012

O conflito Israel e palestinos

Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade. Os fatos sempre são construídos a partir das óticas das partes em conflito. No Brasil, a esquerda fecha sempre com um lado. Nem sempre com uma visão muito crítica das posturas e dos pressupostos desse lado. Daí, a importância de levarmos em conta outros atores. Por isso, abaixo, a visão de alguém ligada a esquerda europeia. Trata-se de artigo originalmente publicado no EL PAÍS e traduzido pelo EX-BLOG DO CÉSAR MAIA.



(Sami Nair - El País, 16) 1. Mais uma vez, os palestinos e os israelenses se tornam reféns e vítimas das políticas desastrosas de seus líderes. Mais mortos, feridos, tragédias humanas. Por que desta vez? Há várias razões: por parte de Israel, a preparação das eleições legislativas que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, quer ganhar à custa da “extrema” direita que faz parte de seu governo de coalizão. Neste caso, nada melhor do que um confronto com os palestinos para mostrar que é ele quem pode "defender" melhor os israelenses. Para isso, assassina o líder militar do Hamas, causando a reação imediata deste movimento com o lançamento de foguetes contra Israel.


2. Os israelenses também anunciaram claramente a sua intenção de bombardear a Autoridade Palestina, caso essa continue buscando a proclamação de um Estado palestino na Assembleia Geral da ONU. Em 24 de outubro, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, político de extrema-direita, disse em uma conversa com a representante da União Europeia, Catherine Ashton, que, no caso da demanda palestina prosperar, não haveria escolha senão "derrubar" Abbas e destruir a Autoridade Nacional Palestina. Talvez os bombardeios sobre Gaza sejam o primeiro passo dessa vontade.


3. Na mesma linha, a estratégia de Israel de assassinatos "planejados", colocada em ação com total impunidade por mais de 15 anos, permite reviver o conflito cada vez que surge uma centelha de solução política. Este direito de matar e derrubar governos, juntamente com a suspeita de que os serviços de segurança de Israel envenenaram Yasser Arafat, dá uma noção de até onde pode chegar o Estado judeu. Finalmente, também é muito provável que os líderes israelenses, de acordo com alguns setores do governo norte americano, busquem, em caso de conflito com os palestinos, testar a reação da Irmandade Muçulmana, que atualmente está no poder no Egito.


4. Por outro lado, a Autoridade Palestina e o Hamas também estão em uma corrida eleitoral. O Hamas tem interesse em radicalizar o confronto militar com os ocupantes israelenses, e a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, precisa de algo para enfrentar seus adversários religiosos, pois é claro que a eleição da paz negociada com a comunidade internacional fracassou. Um Estado palestino ao lado de Israel parece cada vez mais uma quimera, por outro lado, a "coabitação" armada e sangrenta entre os dois povos está se tornando um destino implacável.


5. Na verdade, estamos diante de uma guerra dos cem anos, que com a disseminação de armas de destruição em massa, acabará em uma conflagração destrutiva, não somente para os dois adversários, mas para toda a região. Não é uma ameaça distante. A balcanização a que estamos assistindo, com a provável destruição do Estado-nação sírio depois do Iraque; o auge dos movimentos radicais religiosos, agora diretamente apoiados pelas potências ocidentais; a possibilidade de um bombardeio israelense ao Irã; a inevitável reação deste país diretamente sobre Israel e sobre os países pró-americanos do Golfo, na verdade aliados de Israel (especialmente a Arábia Saudita); além da intervenção inevitável do Hezbollah no sul do Líbano, são os ingredientes que estão fazendo a região entrar em ebulição.

6. Para definir este tipo de situação, o filósofo Francis Herbert Bradley dizia amarga e ironicamente: "Quando tudo vai mal, não deve ser tão mal provar o pior". Dessa forma os apóstolos da guerra podem prosperar livremente no Oriente Médio.

2 comentários:

Monica disse...

Foi a melhor sintese que ví até agora na net sobre o conflito. Agradeço a postagem por esse blog. Sabemos o quanto o conflito no oriente médio é cheio de história, manobras políticas, interesses de lideranças mundiais. Parece que é inevitavel a descarga da grande tensão que vem assolando aquela região à milhares de anos. Mesmo que um acordo de paz aconteça sabemos que será temporário, porque as matanças que foram feitas não apaziguarão os corações que estão cheios de ódio daqueles que perderam seus entes queridos e seu chão para existir. Manobrados ou não os povos por grupos, paises, ideologias, religião, interesses pessoais ou tradições o fato é que depois da matança e confusão armada e, sem vasão ou transformação do ódio ficará dificial uma era de paz. O perigo autentico que sai da área restrita de conflito é que hoje as armas são de destruição em massa e o resto do mundo não vai ficar ileso a uma investida nuclear. Israel está jurada de destruição e seu grande aliado EUA é um país odiado e na mira de seus inimigos. Ao mesmo tempo a Europa está afundando. O mundo está em crise e rumando para seu apogeu. Toda crise é uma oportunidade de transformação, só não sabemos o preço a se pagar por ela. Estou torcendo aqui para que haja discernimento aos líderes envolvidos e os demais do mundo também, para que essa mudança de consciência não seja tão dolorosa.

Anônimo disse...

É verdade, o mundo está em crise e isso me lembra Hegel, segundo ele, as contradições (antítese) fazem parte da trajetória que humanidade tem a percorrer. E é através das contradições que essa trajetória progride levando a humanidade ao reconhecimento de si mesma, a sua realização.
Perturba-me o fato de que muitos ainda serão sacrificados para que o mundo atinja seu apogeu.
Perturba-me mais ainda, o fato de que o povo fique a mercê de lideranças mundiais, das manobras políticas, da disseminação do ódio, da intolerância religiosa...