Na
guerra, a primeira vítima é sempre a verdade. Os fatos sempre são construídos a
partir das óticas das partes em conflito. No Brasil, a esquerda fecha sempre com
um lado. Nem sempre com uma visão muito crítica das posturas e dos pressupostos
desse lado. Daí, a importância de levarmos em conta outros atores. Por isso,
abaixo, a visão de alguém ligada a esquerda europeia. Trata-se de artigo originalmente
publicado no EL PAÍS e traduzido pelo EX-BLOG DO CÉSAR MAIA. 
(Sami 
Nair - El País, 16)  1. Mais uma vez, os palestinos e os israelenses se tornam 
reféns e vítimas das políticas desastrosas de seus líderes. Mais mortos, 
feridos, tragédias humanas. Por que desta vez? Há várias razões: por parte de 
Israel, a preparação das eleições legislativas que o primeiro-ministro, Benjamin 
Netanyahu, quer ganhar à custa da “extrema” direita que faz parte de seu governo 
de coalizão. Neste caso, nada melhor do que um confronto com os palestinos para 
mostrar que é ele quem pode "defender" melhor os israelenses. Para isso, 
assassina o líder militar do Hamas, causando a reação imediata deste movimento 
com o lançamento de foguetes contra Israel.
        
2. Os 
israelenses também anunciaram claramente a sua intenção de bombardear a 
Autoridade Palestina, caso essa continue buscando a proclamação de um Estado 
palestino na Assembleia Geral da ONU. Em 24 de outubro, o ministro das Relações 
Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, político de extrema-direita, disse em 
uma conversa com a representante da União Europeia, Catherine Ashton, que, no 
caso da demanda palestina prosperar, não haveria escolha senão "derrubar" Abbas 
e destruir a Autoridade Nacional Palestina. Talvez os bombardeios sobre Gaza 
sejam o primeiro passo dessa vontade.
       
3. Na mesma 
linha, a estratégia de Israel de assassinatos "planejados", colocada em ação com 
total impunidade por mais de 15 anos, permite reviver o conflito cada vez que 
surge uma centelha de solução política. Este direito de matar e derrubar 
governos, juntamente com a suspeita de que os serviços de segurança de Israel 
envenenaram Yasser Arafat, dá uma noção de até onde pode chegar o Estado judeu. 
Finalmente, também é muito provável que os líderes israelenses, de acordo com 
alguns setores do governo norte americano, busquem, em caso de conflito com os 
palestinos, testar a reação da Irmandade Muçulmana, que atualmente está no poder 
no Egito.
        
4. Por outro 
lado, a Autoridade Palestina e o Hamas também estão em uma corrida eleitoral. O 
Hamas tem interesse em radicalizar o confronto militar com os ocupantes 
israelenses, e a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, precisa de 
algo para enfrentar seus adversários religiosos, pois é claro que a eleição da 
paz negociada com a comunidade internacional fracassou. Um Estado palestino ao 
lado de Israel parece cada vez mais uma quimera, por outro lado, a "coabitação" 
armada e sangrenta entre os dois povos está se tornando um destino 
implacável.
         
5. Na verdade, estamos diante de uma guerra 
dos cem anos, que com a disseminação de armas de destruição em massa, acabará em 
uma conflagração destrutiva, não somente para os dois adversários, mas para toda 
a região. Não é uma ameaça distante. A balcanização a que estamos assistindo, 
com a provável destruição do Estado-nação sírio depois do Iraque; o auge dos 
movimentos radicais religiosos, agora diretamente apoiados pelas potências 
ocidentais; a possibilidade de um bombardeio israelense ao Irã; a inevitável 
reação deste país diretamente sobre Israel e sobre os países pró-americanos do 
Golfo, na verdade aliados de Israel (especialmente a Arábia Saudita); além da 
intervenção inevitável do Hezbollah no sul do Líbano, são os ingredientes que 
estão fazendo a região entrar em ebulição.
6. Para 
definir este tipo de situação, o filósofo Francis Herbert Bradley dizia amarga e 
ironicamente: "Quando tudo vai mal, não deve ser tão mal provar o pior". Dessa 
forma os apóstolos da guerra podem prosperar livremente no Oriente 
Médio.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
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2 comentários:
Foi a melhor sintese que ví até agora na net sobre o conflito. Agradeço a postagem por esse blog. Sabemos o quanto o conflito no oriente médio é cheio de história, manobras políticas, interesses de lideranças mundiais. Parece que é inevitavel a descarga da grande tensão que vem assolando aquela região à milhares de anos. Mesmo que um acordo de paz aconteça sabemos que será temporário, porque as matanças que foram feitas não apaziguarão os corações que estão cheios de ódio daqueles que perderam seus entes queridos e seu chão para existir. Manobrados ou não os povos por grupos, paises, ideologias, religião, interesses pessoais ou tradições o fato é que depois da matança e confusão armada e, sem vasão ou transformação do ódio ficará dificial uma era de paz. O perigo autentico que sai da área restrita de conflito é que hoje as armas são de destruição em massa e o resto do mundo não vai ficar ileso a uma investida nuclear. Israel está jurada de destruição e seu grande aliado EUA é um país odiado e na mira de seus inimigos. Ao mesmo tempo a Europa está afundando. O mundo está em crise e rumando para seu apogeu. Toda crise é uma oportunidade de transformação, só não sabemos o preço a se pagar por ela. Estou torcendo aqui para que haja discernimento aos líderes envolvidos e os demais do mundo também, para que essa mudança de consciência não seja tão dolorosa.
É verdade, o mundo está em crise e isso me lembra Hegel, segundo ele, as contradições (antítese) fazem parte da trajetória que humanidade tem a percorrer. E é através das contradições que essa trajetória progride levando a humanidade ao reconhecimento de si mesma, a sua realização.
Perturba-me o fato de que muitos ainda serão sacrificados para que o mundo atinja seu apogeu.
Perturba-me mais ainda, o fato de que o povo fique a mercê de lideranças mundiais, das manobras políticas, da disseminação do ódio, da intolerância religiosa...
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