As dores d’alma são carnívoras,
acho que li isso em algum lugar. Em alguns momentos, momentos esparsos, mas
intensos, somos devorados por uma sensação de desamparo sem fim. E aí, nessas
quadras da vida, essas dores devoradoras acercam-se da gente. É o que ocorre
quando perdemos pessoas muito queridas.
Hoje, quando minha irmã Maroni
telefonou-me para comunicar que minha sobrinha Paula havia falecido, senti-me
sendo devorado na alma. Tudo passa tão de repente, nessas horas. Todas as
alegrias compartilhadas. Preocupações e angústias também. É lugar-comum, eu
sei, mas o filme da vida do (a) outro(a) ou da parte dela na qual nos
reconhecemos como partícipe, passa diante da gente.
No caso de Paula, a dor é imensa,
profunda... Antes de tudo porque a gente nunca espera que os mais novos, nossos
filhos ou os filhos de nossos irmãos e amigos, partam antes da gente. Mesmo
quando eles ou elas travaram lutas pela vida, como é o caso de Paula, por
sofridos três anos. Três anos de quimioterapia e de seus terríveis efeitos
colaterais. Três anos até esse momento final em que os parentes já não têm mais
esperanças a cultivar, quando a continuação da vida parece tão terrível quanto
a morte.
Mas Paula, minha sobrinha
Paulinha, se foi. E com ela uma parte de mim, do meu mundo. As lembranças serão
cultivadas, mas, mesmo elas, virão sempre acompanhadas de torrentes dolorosas.
Ela já não dividirá o seu sorriso contagiante e nem espalhará a sua alegria
incontida em todas as situações.
Nesses três anos, dolorosos, de
idas e vindas a clínicas para as quimioterapias, Paulinha teve o acompanhamento
dedicado, extremado, de Mavi, seu marido. Uma dedicação tão grande que não
media sacrifícios. Por ela, ou para fazer com que ela lutasse pela vida, ele
transferiu o emprego para Brasília, com a esperança de que lá, no Sírio
Libanês, a luta contra o câncer tivesse sucesso.
A vida vai retomar o seu ritmo,
eu sei, mas o peso dessa perda sobre os meus ombros não diminuirá tão cedo.
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