quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Semana complicada

Muita coisa rolando. É isso mesmo! Uma semana daquelas, deu prá entender? Aí, meu caro, minha cara, fica díficil, se não impossível, blogar como eu gosto. Mas, acreditem!, logo voltarei com todo ó gás.

sábado, 17 de setembro de 2011

Amor e dinheiro: um artigo de Gláucia Russo

Gláucia Russo é Professora da UERN e doutora em Ciências Sociais. Uma pesquisadora talentosa e promissora, além de ser uma pessoa humana das melhores. Confira abaixo trechos de um artigo de sua lavra publicado na importante revista CADERNO CRH.



Amor e dinheiro: uma relação possível?
Glaucia Russo

Doutora em Ciências Sociais. Professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Av. Prof. Antonio Campos, s/n. Costa e Silva. Cep: 59625-620. Mossoro - Rio Grande do Norte - Brasil. Caixa-Postal 70. ghar@ibest.com.br

Sob o signo da economia do dinheiro, tudo é transformado, até mesmo os sentimentos, o amor e a forma de vivenciar as relações afetivas. Neste artigo, tentarei compreender em que aspectos a economia monetária modifica ou influencia o amor na modernidade,1 sem perder de vista que tais relações se inserem em um contexto onde domina o individualismo e as relações mercantis, mas também relações humanas com toda a sua complexidade, contradições e surpresas.

Amor e dinheiro aparecem em nossa sociedade como polos ao redor dos quais a vida gira e se, à primeira vista, são representados como elementos antagônicos, ou pelo menos de forma absolutamente separada, de outro ângulo, são desejos que se complementam e, portanto, garantem a felicidade pessoal. Aqui, por meio do diálogo com Georg Simmel, em sua discussão sobre dinheiro e a sociedade moderna, e autores, como Tönnies, Giddens e Lázaro, problematizamos alguns dentre os variados aspectos presentes nesse debate.

Tomo como pressuposto que a ideia e a vivência concreta do amor se modificam sob o signo da economia do dinheiro, predominando fortes traços do individualismo moderno, sem o qual, por mais paradoxal que possa parecer, o amor, tal qual nós o percebemos e vivenciamos, não seria possível em nosso tempo e espaço.

O consumo do amor é uma nova forma de integração do indivíduo no sistema produtivo. Dito de outra forma, o elemento monetário modifica as relações e, na sociedade do dinheiro, ele tem forte influência sobre o comportamento das pessoas, incluindo-se aí a vivência do amor. Mas é preciso também considerar que esse processo é de mão dupla, pois todos os polos se tocam e se influenciam mutuamente. Assim, o dinheiro está sujeito aos valores, humores e reações de homens e mulheres em um determinado tempo, e não lhes é completamente indiferente, embora o seja em grande medida.

O ser humano, como ser cultural, contamina o dinheiro com seus sentimentos, transforma-o em um objeto animado, ama-o, odeia-o, deseja-o, mas, acima de tudo, dá-lhe significados que estão além da sua mera presença material. Homens e mulheres transformam-no em um símbolo da nossa época, com significados e conteúdos diferenciados, tornando inócua qualquer investigação sociológica que não leve em consideração seus aspectos simbólicos, o que significa que nenhuma relação é meramente econômica, pois, se há contato entre seres humanos, uma gama de outros elementos está em jogo.

O sistema capitalista, com o fortalecimento da economia monetária, transformou o homem em força de trabalho e, consequentemente, em mercadoria. Ele passou a ser um objeto comercializável, pois está à venda: sua sobrevivência depende disso. Ao transformar a força de trabalho humana em objeto sujeito a leis mercadológicas, esse sistema reforçou a importância do dinheiro em detrimento do ser humano. Em todos os cantos e recantos da sociedade, as pessoas trocam suas ideias, ideais, força física e mesmo seus corpos por dinheiro.

Estamos diante de uma sociedade dominada nos seus mais diversos aspectos pelo dinheiro, que transforma seres humanos em mercadoria e relações, outrora marcadas pela irracionalidade, e relacionamentos pessoais, em encontros racionais, mas que apostam nos sentimentos, dentre eles especialmente o amor, como forma de resgatar sua humanidade.

O dinheiro não é apenas deus, mas também demônio do nosso tempo. Por ele valores morais são deixados de lado, e o próprio amor, que aparece como uma forma de romper com a frieza e a indiferença que caracterizaria as relações pessoais modernas, especialmente aquelas engendradas na metrópole, é transformada. Vivemos a época de um amor fabricado, interessado, que não se sustenta sem a base do dinheiro.

Em nosso tempo e espaço, vive-se o amor como uma experiência egoísta, individual, que não se sustenta se as pessoas a ele conectadas não tiverem condições cotidianas de sobrevivência, o que, na modernidade, só parece possível pela posse do dinheiro.

Sob o signo do dinheiro, o amor aparece como a grande solução de que dispomos para enfrentar o isolamento, o racionalismo, o egoísmo, a competitividade e o individualismo exacerbado experimentado na era moderna. No entanto, ele mesmo já foi contaminado por sua lógica e realidade própria, demonstrando que, em sociedade, nenhum terreno escapa ao domínio do dinheiro, mas que ele também não está imune às vivências, necessidades, tensões e relações erigidas pelos seres humanos.


LEIA MAIS AQUI.

Artigo de Paulo Linhares

Abaixo, o artigo da semana de Paulo Linhares. Vale a pena conferir!

CRÔNICA DE UMA ESTUPIDEZ ANUNCIADA

Paulo Afonso Linhares

Depois de uma (pouco sentida) ausência de meses, tive que resolver algo no Centro Administrativo onde funcionam os principais órgãos do governo do Estado do Rio Grande do Norte. Foi uma enorme ginástica para encontrar a entrada, vez que o enorme tapume que agasalha o Estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado (Machadão) e o Ginásio Esportivo Humberto Nesi ( indevidamente chamado de "Machadinho"...), tornou difícil o acesso ao Centro Administrativo. Pude admirar, mais uma vez, a bela obra de cimento e aço nascida da imaginação do arquiteto Moacir Gomes da Costa, capaz de abrigar 42 mil espectadores, cuja estrutura desigual das arquibancadas fora projetada como as ondas deste oceano esmeraldino que ilumina Natal...

Inaugurado em 04 de junho de 1972, o Machadão foi considerado pelo então governador José Cortez Pereira de Araújo, que presidiu a solenidade ao lado do prefeito Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, como sendo um belo "poema de concreto". E de fato era e ainda efetivamente o é, como se dizia em tempos idos. Uma edificação magnífica que se incorporou não apenas na paisagem do Bairro da Lagoa Nova, mas, à cultura potiguar, mormente de seus desportistas das nações americanas, abecedistas ou alecrinenses, que ali extravasaram suas paixões nestas quase quatro décadas. Cascudo, o gênio da raça comedora de camarão, deveria ter escrito algo belo e definitivo sobre o poema de concreto dito "Machadão", algo como um amuleto que o preservasse para todo o sempre, que o afastasse da sanha devoradora dos inconfessáveis interesses da poderosa Fédération Internacionale de Football Association - FIFA e de seus tantos aliados daqui.
Certo é que o Machadão está embrulhado para morrer, apesar dos 17 milhões do dinheiro público utilizado para reformá-lo há menos de quatro anos. Os defensores da sua demolição, para dar lugar ao Estádio "Arena das Dunas", para acolher os jogos de uma das chaves da Copa do Mundo de 2014, lhe jogam os mais absurdos defeitos, para transformá-lo num horrendo anátema. O que mudou no "poema de concreto", nesse meio tempo? Nada ou quase nada. Seus "versos" e "estrofes", apesar da ação do tempo e, sobretudo, do enorme descaso das autoridades municipais de Natal, continuam firmes e plasticamente belos. Nada contra o novo rebento de concreto que vai tomar-lhe o lugar - o Arena das Dunas -, tampouco contra a Copa do Mundo de 2014: é um absurdo destruir majestosas edificações plenamente servíveis e que são patrimônios materiais e espirituais de um povo. Será que em Natal não haveria um terreno que pudesse fazer o novo estádio sem molestar o Machadão e o Ginásio Humberto Nesi? Claro que há, mas a opção mesmo foi por demoli-los. Assim quis a FIFA, assim hão de fazer as autoridades de governo da Cidade de Natal e do Estado. Tudo como se o povo potiguar fosse riquíssimo e pudesse bancar essa farra toda. Não precisava derrubar o "Machadão". Que o novo estádio fosse construído noutro local. A questão não é de saudosismo porra nenhuma, mas de singela lógica e economia primária.

Em breve tempo os "versos" do poema de concreto do talentoso Moacir serão desfolhados, um a um, até que somente restem os escombros e o silêncio da enorme ausência. A sua morte está anunciada. Dentro do tapume metálico, operários e máquinas pesadas ensaiam a dança da morte. Esse leite, sim, será derramado, o que representa uma enorme estupidez, além de desapreço ao patrimônio de um povo pobre de tudo, menos de esperança. As várias centenas de milhões de reais, posto que não fartem a cobiça de tantos, forrar-lhes-á os bolsos sempre solícitos e gulosos. "Para os quintos dos infernos, com Machadão e Machadinho!", decerto pensam. A despeito do novo amor que virá sob belas formas de concreto e ação - o Estádio Arena das Dunas - na memória de cada torcedor restará as lembranças dos risos que riu quando seu time ganhou ou das lágrimas sentidas da derrota no verde tapete gramado do velho "Machadão".




quinta-feira, 15 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A imprensa e o PT

Minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE, modéstia às favas, repercutiu na grande rede. Não costumo transcrevê-la aqui. Mas, excepcionalmente hoje, vou fazer isso. Confira aí abaixo.

O jornalismo, a corrupção e o PT
Edmilson Lopes Júnior
De Natal (RN)


Uma narrativa recorrente em certos ambientes, e reproduzida à exaustão em não poucos veículos de comunicação, aponta a ascensão do Partido dos Trabalhadores a cargos de mando no país como o ponto inicial da corrupção no país. Tudo se passa como se tivéssemos vivido, até 2002, em uma ilha de administradores probos e políticos campeões da moralidade pública.

O estabelecimento de uma relação direta entre a ascensão do PT a postos de governos e a entronização da corrupção como pauta primeira da preocupação nacional é mais do que uma embromação histórica. E é também algo mais do que mera luta política, como apreendem, equivocadamente, os petistas. No curto prazo, é a única forma de garantir visibilidade pública para quem já não tem como garanti-la através da elaboração de alternativas políticas e econômicas para o país. Mas, e aí tocamos no que é fundamental: o apelo moralista contra a corrupção supostamente desencadeada pelo petismo (antes, por suposto, essa era uma prática inexistente no país) é a trilha mais fácil a ser seguida por setores jornalísticos que perderam a condição de mediadores culturais privilegiados no país.

O jornal Folha de São Paulo é a melhor expressão dessa derrocada cultural da imprensa brasileira. Antes, ponto de apoio para um jornalismo que expressava uma reflexão criativa e criativa da vida política nacional, o jornal paulista foi se deixando encurralar nesse triste e patético lugar social de um jornalismo que, sob a decoração modernosa, não se diferencia muito das "críticas" moralistas proferidas em programas popularescos de TV. Não fossem as referências esparsas a um ou outro pensador legitimado no mundo acadêmico, que distância existiria entre alguns dos textos produzidos pelos colunistas do jornal e os discursos do Pastor Malafaia?

Ora, não é o petismo o responsável pela sua ascensão da corrupção ao topo da pauta do jornalismo pátrio. Uma de suas causas está na própria configuração atual da atividade política. Dado que a midiatização da atividade é a via quase única para o resgate de alguma legitimidade, os políticos se tornaram prisioneiros da "imprensa". Tanto é assim que não poucos dentre eles atuam e se pensam como celebridades. Que todos os principais legislativos tenham criado as suas próprias emissoras de rádio e tv, essa outra expressão da irresistível força da visibilidade midiática sobre a atividade política.

Paradoxalmente, maior visibilidade e pouca diferenciação no que diz respeito a propostas substantivas contribuíram para que a busca da distinção tivesse como referentes quase exclusivos a moral e a estética. Some-se a isso o cansaço geral para com as tarefas necessárias para o fermento da esfera pública e o que emerge? Uma forma de se "fazer política" (e jornalismo diário) que tem na denúncia do governo de plantão a sua única razão de ser.

Se um ator com veleidades de patrocinador de reformas sociais e econômicas ocupa um posto de governo, aí então estão dadas as condições para o cerco moralista ao "poder". Não há muita novidade nisso, é bom que se frise. Repete-se no Brasil nestes últimos anos, com todas as tinturas de mais uma farsa tropical, o que ocorreu na Espanha na segunda metade da década de 1980. Quando da primeira ascensão do PSOE ao governo. Naquele tempo, determinado jornal espanhol conseguiu pespegar no partido do então Primeiro-Ministro Felipe Gonzalez a marca da corrupção. Com isso, pavimentou o caminho para a ascensão do direitista PP. Lá, como cá, a direita encontrou no moralismo a forma de aparecer na vida política. Que setores supostamente críticos tenham incorporado essa pauta nestas plagas, eis aí uma confirmação da assertiva definitiva de Lévi-Strauss: "os trópicos são menos exóticos do que démodés".

Exemplar do que apontei mais acima é uma coluna de autoria do jornalista Fernando Barros e Silva, publicada no sábado passado no jornal Folha de São Paulo. Encimada pelo título "Toninho do PT, 10 anos depois", a coluna consegue ser surpreendente, mas não exatamente pela argúcia analítica. Poucas vezes se leu em um grande jornal algo tão irresponsável e leviano. Tendo o assassinato de Toninho, então Prefeito de Campinas pelo PT, em 2001, como mote do texto, o jornalista lança insinuações sobre quem seria o verdadeiro responsável pela morte do saudoso político campineiro. E conclui atirando no seu alvo preferido: "Não sabemos ainda a resposta. Mas sabemos quem matou a honestidade quando chegou no poder em Campinas, em Santo André, no país".

Parafraseemos o colunista. Qual o futuro de um jornalismo que, desacreditado no seu papel de mediador cultural, vai se reduzindo à condição de pregador moralista? Também não sabemos a resposta. Mas sabemos quem matou a objetividade analítica no jornalismo paulista.



Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro e o fim do fim da história

O texto abaixo, de autoria do jornalista Alon Feuerwerker, sobre o 11 de setembro, merece leitura e reflexão.


Estado natural (11/09)
Alon Feuerwerker


O suposto fim da História trouxe um mundo cada vez mais parecido com os tempos em que a História dava as cartas e jogava de mão. Um mundo de potências principais, acessórias, satélites, nacionalismos, protecionismos, guerras.

Dez anos depois do 11 de setembro de 2001, Osama Bin Laden está morto, a Al Qaeda em frangalhos, os Estados Unidos em crise econômica com cara de longa, os potentados árabes e muçulmanos sentindo o chão faltar sob os pés.

Mas até o momento em que esta coluna era escrita os americanos vinham prevenindo um novo ataque terrorista em seu território.

Algumas coisas têm a ver entre si, outras não. Ou umas se relacionam mais e outras menos.

O fortíssimo impacto semiótico do atentado às torres gêmeas, combinado à originalidade e à ousadia da ação, faz proliferar fantasias sobre a centralidade daquele 11 de setembro.

Mesmo sem a queda do World Trade Center os Estados Unidos precisariam enfrentar um dia a realidade dos gigantescos déficits financeiros.

Quando ambos os prédios ainda pareciam inexpugnáveis, o mundo já perguntava até onde a superpotência caminharia com as pernas dos outros antes de começar a cambalear.

A missão de ser o chefe e corpo policial único da humanidade mostrou-se pesada para Washington, mas não isoladamente. Foi no contexto de uma sociedade incapaz de poupar e produzir para sustentar seu nível de consumo.

Os gastos militares não foram decisivos para colocar os americanos na dependência extrema de poupança alheia.

Ao contrário, as encomendas bélicas ajudam não apenas a manter ali um raro setor industrial dinâmico e globalmente competitivo, mas são essenciais para inocular na economia um vetor estratégico de inovação.

Anestesia, antibióticos, internet. Os saltos na ciência dançam sincronizados com a necessidade de grandes esforços militares. Isso para não falar no domínio sobre a tecnologia nuclear e nos empreendimentos espaciais.

A ação de Bin Laden teve objetivo claro. Não apenas minar a ideia da inviolabilidade da superpotência mas também quebrantar sua vontade. Força-lá a capitular sem guerrear.

Foi o que aconteceu, por exemplo, na Espanha. Onde o terrorismo da Al Qaeda combinou-se a circunstâncias políticas internas para fazer a maioria de espanhóis concluir que era melhor tentar ficar fora da confusão. Um derrotismo chique.

O problema, para a Al Qaeda, para o Taleban e para Saddam Hussein, é que superpotências, quando confrontadas, não podem se dar ao luxo de recuar sem luta. Em milhares de anos de civilização nunca aconteceu.

Mas, e para os outros, é possível ficar fora da confusão? Difícil, qualquer que seja a visão sobre o campo de batalha.

Uns olham o fundamentalismo como aliado na missão de enfraquecer o chamado ocidente. A delirante aliança objetiva com o alqaedismo seria uma necessidade na caminhada para superar a hegemonia americano-europeia.

Exatamente para quê, ninguém diz, desde que as sociedades produzidas naquela base não servem como parâmetro de avanço humano, econômico, social.

Do outro lado, a reação exacerba a rejeição ao multiculturalismo e a busca de raízes tribais-nacionais, exatamente para resistir à dissolução nacional e cultural. Essa face silenciosa da dissolução política.

Daí também que a ilusão de sistemas planetários em disputa ceda espaço, progressivamente, à refragmentação dos blocos em que a humanidade parecia organizada desde o fim da Guerra Fria.

E o "outro mundo possível" vai tomando ares de colagem fantasmagórica.

O suposto fim da História nos trouxe um planeta cada vez mais parecido com os tempos em que a História dava as cartas e jogava de mão.

Um mundo de potências principais, acessórias, satélites, nacionalismos, protecionismos, guerras e a preparação para elas.

Há os otimistas, para quem a progressiva organização estatal dos fragmentos recolocará os conflitos num terreno razoável, em que entes estatais ficarão a cargo de decidir se e quando guerrear.

E há os pessimistas, para quem a democratização da informação e a facilidade de acesso a tecnologias acelerará a dissolução do Estado, mas não como previu a utopia igualitarista.

Ao contrário, no rumo do caos tribalista. De uma guerra sem fim. Que talvez, pensando bem, seja o estado natural da humanidade.

Você escolhe no que prefere acreditar.

sábado, 10 de setembro de 2011

Imprensa e política

Leia, abaixo, o artigo da semana de Paulo Linhares. Vale a pena conferir!

A OBSESSÃO DA VEJA
Paulo Afonso Linhares

Recentemente, alguém alertou que a Veja, revista semanal da família Civita, trazia uma matéria em que desancava o ex-ministro José Dirceu, um verdadeiro tiro de misericórdia. Anos após de ter abandonado a leitura desse faccioso hebdomadário, justo em razão da extremada parcialidade de como tratava certos temas da política nacional. Uma mocinha bem simpática até ligou oferecendo alguns meses de assinatura dessa revista gratuitamente. Ainda assim não foi aceita. Jornalismo amarelo nunca mais. Todavia, aquela informação sobre o massacre de Dirceu que a revista fazia, açulou-me a curiosidade. Até mesmo para medir o grau de sandice nestes tempos em que os redatores, colunistas e repórteres da Veja não poupam elogios à presidente Dilma Rousseff.

De fato, já na capa a imagem de José Dirceu lembrava essa gente da Cosa Nostra e a chamada prometia incríveis revelações sobre suas estrepolias nas cercanias do Palácio do Planalto. Depois de muitas páginas enfadonhas com publicidade de carros de luxo, chega-se à matéria tão bombasticamente anunciada. Um factóide da pior estirpe. Parafraseando o poeta Horácio, a montanha (dos Civita) rugiu e pariu um ridículo rato. Uma atitude estúpida capaz de fazer corar o velho Keith Rupert Murdoch, dono de um balaio de tablóides sensacionalistas: os repórteres de Veja coletaram horas de filmagem de uma câmera montada em frente ao apartamento que o líder petista ocupa em hotel brasiliense e a partir daí descreveram todas as visitas recebidas por ele, ademais de fazer (dasautorizadas) ilações acerca do que esses políticos e ocupantes de cargos relevantes no governo federal tratavam com Dirceu, terminando por afirmar genericamente que ali se conspirava contra o governo Dilma Rousseff. Claro, tiveram dificuldades de explicar porque algumas lideranças políticas de outras extrações, inclusive membros importantes do PSDB, visitavam o político petista. Mesmo espezinhado como tem sido, Dirceu tem direito à incolumidade de sua vida privada.

Entrevistados, os visitantes, em sua maioria, disseram que eram amigos de Dirceu; outros, após constatar que Dirceu é um dos mais articulados quadros políticos da República – coisa que sua cassação nem o processo do “Mensalão” puderam tirar – afirmaram que gostavam de ouvir suas opiniões sobre o momento político brasileiro. E daí? Seriam crimes a amizade e a admiração que devotam àquele político que, a despeito de tudo que se disse, até agora nada se provou contra ele? Que crime praticou José Dirceu para merecer esse tipo de assédio moral que lhe impõe a revista Veja? Quando usou uma câmera para bisbilhotar a entrada do quarto de hotel onde se hospeda Dirceu, a Veja criou o fato jornalístico sobre o qual se assenta a matéria publicada, atropelando ética jornalística. Ao jornalista não cabe produzir fatos, mas, divulgá-los e sobre eles produzir reflexões.

Ressalte-se que em favor de José Dirceu milita o princípio da presunção de inocência, de raiz constitucional, segundo o qual até prova em contrário presume-se inocente o acusado de delito. Assim, os duros epítetos contra o petista, largamente disseminados no texto, são descabidos, pois até presente momento nenhuma condenação lhe foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal, eis que pende de julgamento o processo do “Mensalão”. Até que venha a lume uma decisão dessa Corte, José Dirceu deve ser tratado de um modo bem diverso daquele como a Veja o tratou. Como um malfeitor que porta doença tão contagiosa que o distancia do contato com os mortais comuns, mesmo que sejam seus amigos e admiradores. Pelo que demonstra a matéria jornalística antes referida, além de todas as reprimendas e infortúnios impostos à pessoa de Dirceu, certamente mereceria que sua casa fosse derrubada, derramado sal sobre os escombros, e seus descendentes declarados infames até a quinta geração, como dito na sentença de D. Maria I, a Louca, que condenou o alferes Tiradentes. Ou, se preferir, a revista dos Civitas poderia parafrasear aquele conhecido bordão gritado diariamente por Catão, o Antigo, no Senado romano, e jogar no frontispício de todas as capas de sua edição semanal, para demarcar sua intolerância e obsessão: José Dirceu delenda est! (“José Dirceu deve ser destruído!”). Com a rica e bela Cartago até que deu certo...