domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro e o fim do fim da história

O texto abaixo, de autoria do jornalista Alon Feuerwerker, sobre o 11 de setembro, merece leitura e reflexão.


Estado natural (11/09)
Alon Feuerwerker


O suposto fim da História trouxe um mundo cada vez mais parecido com os tempos em que a História dava as cartas e jogava de mão. Um mundo de potências principais, acessórias, satélites, nacionalismos, protecionismos, guerras.

Dez anos depois do 11 de setembro de 2001, Osama Bin Laden está morto, a Al Qaeda em frangalhos, os Estados Unidos em crise econômica com cara de longa, os potentados árabes e muçulmanos sentindo o chão faltar sob os pés.

Mas até o momento em que esta coluna era escrita os americanos vinham prevenindo um novo ataque terrorista em seu território.

Algumas coisas têm a ver entre si, outras não. Ou umas se relacionam mais e outras menos.

O fortíssimo impacto semiótico do atentado às torres gêmeas, combinado à originalidade e à ousadia da ação, faz proliferar fantasias sobre a centralidade daquele 11 de setembro.

Mesmo sem a queda do World Trade Center os Estados Unidos precisariam enfrentar um dia a realidade dos gigantescos déficits financeiros.

Quando ambos os prédios ainda pareciam inexpugnáveis, o mundo já perguntava até onde a superpotência caminharia com as pernas dos outros antes de começar a cambalear.

A missão de ser o chefe e corpo policial único da humanidade mostrou-se pesada para Washington, mas não isoladamente. Foi no contexto de uma sociedade incapaz de poupar e produzir para sustentar seu nível de consumo.

Os gastos militares não foram decisivos para colocar os americanos na dependência extrema de poupança alheia.

Ao contrário, as encomendas bélicas ajudam não apenas a manter ali um raro setor industrial dinâmico e globalmente competitivo, mas são essenciais para inocular na economia um vetor estratégico de inovação.

Anestesia, antibióticos, internet. Os saltos na ciência dançam sincronizados com a necessidade de grandes esforços militares. Isso para não falar no domínio sobre a tecnologia nuclear e nos empreendimentos espaciais.

A ação de Bin Laden teve objetivo claro. Não apenas minar a ideia da inviolabilidade da superpotência mas também quebrantar sua vontade. Força-lá a capitular sem guerrear.

Foi o que aconteceu, por exemplo, na Espanha. Onde o terrorismo da Al Qaeda combinou-se a circunstâncias políticas internas para fazer a maioria de espanhóis concluir que era melhor tentar ficar fora da confusão. Um derrotismo chique.

O problema, para a Al Qaeda, para o Taleban e para Saddam Hussein, é que superpotências, quando confrontadas, não podem se dar ao luxo de recuar sem luta. Em milhares de anos de civilização nunca aconteceu.

Mas, e para os outros, é possível ficar fora da confusão? Difícil, qualquer que seja a visão sobre o campo de batalha.

Uns olham o fundamentalismo como aliado na missão de enfraquecer o chamado ocidente. A delirante aliança objetiva com o alqaedismo seria uma necessidade na caminhada para superar a hegemonia americano-europeia.

Exatamente para quê, ninguém diz, desde que as sociedades produzidas naquela base não servem como parâmetro de avanço humano, econômico, social.

Do outro lado, a reação exacerba a rejeição ao multiculturalismo e a busca de raízes tribais-nacionais, exatamente para resistir à dissolução nacional e cultural. Essa face silenciosa da dissolução política.

Daí também que a ilusão de sistemas planetários em disputa ceda espaço, progressivamente, à refragmentação dos blocos em que a humanidade parecia organizada desde o fim da Guerra Fria.

E o "outro mundo possível" vai tomando ares de colagem fantasmagórica.

O suposto fim da História nos trouxe um planeta cada vez mais parecido com os tempos em que a História dava as cartas e jogava de mão.

Um mundo de potências principais, acessórias, satélites, nacionalismos, protecionismos, guerras e a preparação para elas.

Há os otimistas, para quem a progressiva organização estatal dos fragmentos recolocará os conflitos num terreno razoável, em que entes estatais ficarão a cargo de decidir se e quando guerrear.

E há os pessimistas, para quem a democratização da informação e a facilidade de acesso a tecnologias acelerará a dissolução do Estado, mas não como previu a utopia igualitarista.

Ao contrário, no rumo do caos tribalista. De uma guerra sem fim. Que talvez, pensando bem, seja o estado natural da humanidade.

Você escolhe no que prefere acreditar.

Nenhum comentário: