No BLOG DO ALON, uma análise arguta (o que não é novidade, não é?) sobre a conjuntura política brasileira. Confira abaixo!
Com que humor?
Alon Feuerwerker
Apesar das condições potencialmente favoráveis na economia para ações políticas que desgastem o governo, este vai navegando mares bem tranquilos. Mas as eleições vêm aí
A economia brasileira desacelera, o curto e o médio prazos projetam crescimento medíocre do PIB, ainda que a inflação mostre exuberância resistente.
O governo decidiu afrouxar a política monetária para evitar mergulho na recessão -providência elogiável- mas a firmeza de convicções exibida pelo presidente do Banco Central não tem sido suficiente para liderar a manada das projeções de mercado.
Ainda que continue sendo mais prudente apostar no BC do que no mercado.
O Executivo ofereceu à autoridade monetária gestos de disciplina fiscal, para anabolizar o cacife do Copom na corajosa redução de juros. A austeridade tem custo político e social.
No Parlamento ela estimula a insatisfação e portanto a instabilidade. No serviço público é combustível para mobilizações sindicais. O governo diz que deu bastante em anos anteriores e acredita estar com crédito, mas não parece sensibilizar a turma.
Um bom exemplo é o Judiciário, que se vê com legitimidade para autodefinir reajuste pela inflação acrescido da recuperação de perdas. Mas o governo sente-se forte para dar de ombros.
Uma ingerência como nunca antes neste país.
São na teoria vetores de desgaste, que deveriam preocupar o governo e animar a oposição. Mas não se vê nem uma coisa nem outra. O governo tem gordura política para queimar, e a oposição parece contida.
A primeira variável se alimenta da segunda.
Entre as razões da contenção oposicionista há duas mais óbvias.
Há o constrangimento pelo fato de que, no governo, provavelmente a atual oposição faria coisas parecidas.
E há o velho problema do necessário e conveniente bom relacionamento administrativo entre a União e os estados. O PSDB é forte regionalmente e as consequências aparecem em Brasília.
Quando estava na oposição o PT tinha mais liberdade de movimentos, pois era relativamente fraco no plano local. E podia portanto ser mais aguerrido na capital federal.
A distinção entre a tendência acomodatícia de governadores e prefeitos e a combatividade das bancadas federais é bonita na teoria. Na prática são variáveis dependentes.
Há também outro detalhe. O governo Dilma Rousseff está solidamente fincado no centro. Nem é suficientemente “mercadista” para despertar a ira dos nacional-desenvolvimentistas nem é tão “progressista” que justifique um levante do lado oposto.
Isso na economia, mas vale em todas as áreas, ou quase.
A Comissão da Verdade vai sair, mas de um jeito que não agrada completamente a ninguém, tampouco desagrada. No tema da liberdade de imprensa, o governo não dá sinais de seguir com a regulamentação desejada pelo PT, tampouco afasta completamente.
O Executivo pendula com leveza em torno de um centro, que é sua referência real. Quando promove heterodoxia mais pronunciada, como na guinada protecionista, cuida de agir apenas depois de haver massa crítica social.
Sem falar no enigma paralisante. Se ajudar a enfraquecer Dilma, a oposição pode estar preparando a volta de Luiz Inácio Lula da Silva. Coisa de que algumas fontes sociais relevantes da oposição não querem ouvir falar.
Então, apesar das condições potencialmente favoráveis na economia para ações políticas que desgastem o governo, este vai navegando mares bem tranquilos.
Mas 2011 está no fim e vêm aí eleições municipais. Até aqui o governo Dilma parece bem posicionado. Na capital de São Paulo, por exemplo, os vários fragmentos da oposição federal parecem mais empenhados em derrotar uns aos outros.
O que não é, para a presidente, garantia de nada. Pois o estado de espírito do eleitor costuma guardar boa autonomia em relação à dança da política institucional e à cobertura que a imprensa faz desta.
Bom mesmo será ficar de olho na economia para saber com que humor o eleitor vai estar daqui a um ano.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
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