Não tenho complexo de vira-lata e nem costumo praticar esse esporte pátrio que é passar a vida a falar mal das coisas e das pessoas destas plagas. Muito antes pelo contrário. Se não me ufano em demasia deste país, 5º lugar mundial em homicídios, também não se pode dizer que eu não cultive, em canteiros pequenos é certo, alguns referentes de esperança.
Bueno, mas algumas vezes, não tão raras assim, quando paro e analiso a produção das ciências sociais brasileiras, dou-me conta do nosso atraso. Especialmente, quando comparo o que fazemos com o que é feito no mundo anglo-saxônico.
Veja o caso dos distúrbios ocorridos há pouco mais de um mês em algumas das principais cidades inglesas. Fosse aqui, ainda estaríamos devorando artigos carregados de achismos. Ou, o que não refrescaria, elaborações prenhes de referências àquelas, como direi?, “ferramentas conceituais” que Bourdieu, com uma boa dose de ironia, uma vez denominou de “sociologia mole”. Nesta, abundam referências a um tal de “imaginário”...
E o que fizeram os cientistas ingleses diante do caos que tomou conta de suas grandes cidades? Foram fazer ensaios obscuros? Longe disso! Foram pesquisar! Montaram rapidamente baterias de questionários e saíram à campo, no calor dos acontecimentos, para auscultar a, como é que se diz nestas bandas?, “voz rouca” das ruas.
O resultado é um baita projeto de estudos, que ainda vai dar muito o que falar.
Bom, os caras de lá também não encontram as nossas barreiras burocráticas, é bom que fique claro. Nem bem o rolo começou e os caras logo conseguiram com que duas fundações (Joseph Rowntree Foundation e Open Society Foundations) apoiassem o seu projeto de pesquisa. Pragmáticos, eles não foram inventar a roda. Que é isso? Não! Os caras pegaram um modelo e o utilizaram. Qual modelo? Um survey aplicado quando dos distúrbios de Detroit em 1967.
O projeto de pesquisa incorporou técnicas qualitativas e quantitativas. O Guadian, um grande jornal inglês, entrou no projeto e facilitou o acesso a um banco de dados do cacete: informações substanciais sobre 1.100 pessoas que compareceram diante das autoridades judiciais como vítimas de ocorrências no período.
O mesmo jornal, em tempo recorde, organizou ainda uma base de dados com as mensagens postadas nas chamadas redes sociais.
Logo, logo, os caras vão estar produzindo baitas estudos sobre distúrbios.
Diga aí: não é para ter inveja?
terça-feira, 6 de setembro de 2011
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Um comentário:
É meu Caro Edmilson!!!
Só de imaginar já dá água na boca...
Na semana passada postei no meu blog (jbsbrown.blogspot.com) a saga dos especialista, especialmente, quando se trata de segurança pública. Aparecem aos montes e de todas as áreas, com as mais quadradinhas teorias (na verdade achismos travestidos!!!).
Então, já está mais do que na hora dos cientista sociais arregaçarem as mangas e produzirem, realmente proposições com bases substanciais, saindo da mesmice do "aqui e agora", que parece estar não apenas nos aparelhos midiáticos, mas em toda tessitura social e, principalmente na esfera pública, donde deveriam sair políticas sérias de enfrentamento desses males que corroem a sociedade brasileira..
Adsumus!!
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