Transcrevo abaixo trechos de um artigo de autoria de Umberto Eco. O texto foi publicado na edição de segunda-feira do CLARIN. A tradução das partes abaixo é de responsabilidade do EX-BLOG DO CÉSAR MAIA. Vale a pena conferir!
1. Já há algum tempo a ênfase na reputação cedeu lugar à ênfase na notoriedade. O que importa é ser “reconhecido” pelos outros. Não no sentido de estima ou de prêmios, mas no sentido mais banal de quando se é visto na rua podem dizer: “Olhem, é ele/a”. A chave está em ser visto por muita gente e a melhor forma de fazer isto é aparecer na TV.
2. Pelo menos na Itália esses primeiros heróis foram os “papagaios de pirata” que na noite seguinte num bar ouviam: Vi você na TV, ontem. Mas a fama não durava muito tempo. De forma que gradualmente foi aceito que para poder fazer aparições frequentes e proeminentes, era necessário fazer coisas que, em épocas passadas, teriam arruinado a reputação de uma pessoa.
3. Não é que não se aspire a ter uma boa reputação, mas é bastante difícil adquiri-la. É mais fácil converter-se em uma pessoa de interesse popular, especialmente, o que facilita, nas variedades mais mórbidas. Não estou brincando. Esses momentos de exposição e notoriedade bem valem até um tempinho na cadeia.
4. Esse desejo frenético de ser visto, e de obter notoriedade a qualquer preço, mesmo que signifique fazer algo que antes era considerado vergonhoso, é porque se vai perdendo o sentido da vergonha, pois, atualmente, é mais importante ser visto, ainda que isso signifique o risco de cair em desgraça.
5. É tanto o valor que se dá ser visto, e assim converter-se em tema nas conversas, que pessoas estão dispostas a abandonar, sem temores, o que antes era chamado de decência (e até a proteção da própria privacidade).
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
A injustiça no julgamento do mensalão
Confira aqui artigo de autoria do Professor Víctor Gabriel Rodríguez e publicado na edição de hoje do jornal VALOR ECONÔMICO.
O impacto do julgamento do mensalão nas eleições municipais
Qual será o impacto do julgamento do mensalão nas eleições municipais? Confira aqui a análise do cientista social Alberto Carlos Almeida e publicada na edição de hoje do VALOR ECONÔMICO.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Corações sujos
Você leu o livro de Fernando Moraes? Fantástico! Então, não deixe de ir ao cinema conferir o filme.
A saúde não é uma linha de montagem
Clique aqui e leia texto sobre a crise na saúde brasileira. Foi publicado na edição de hoje do sempre bom VALOR ECONÔMICO.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
O radicalismo acadêmico e suas fantasias
Não é raro encontramos professores, e, com mais frequência, estudantes que fundamentam as suas elaborações (para não dizer “visões de mundo”) nas opções políticas. Para eles, o que alicerça uma boa atividade acadêmica é o seu pertencimento (ou não) ao “lado certo”. O que geralmente significa o “lado” dos “setores populares” e das chamadas minorias.
Quando envolvidos por essa “epistemologia do lado certo”, os professores e estudantes deixam de levar em conta os dados de realidade e a falseabilidade das leituras desses dados para tomar como marco divisor do mundo o enquadramento (ou não) de cada autor nos cânones do aceitável. E o aceitável, não se tenha dúvidas, é apenas o mais radical e desconstrucionista possível.
Em um país no qual discutimos mais os autores do que as suas elaborações, esse tipo de postura leva a que se tome a radicalidade dos autores de referência dos trabalhos como principio de legitimação. Para aumentar o seu capital social, decisivo para a mobilização de recursos materiais e simbólicos, dentre os quais “acessar” editais de órgãos públicos subordinados aos ditames dos enunciadores das “boas políticas”, os radicais constroem clientelas que lhes fornecem audiência, alguns dados enviesados do mundo e uma base segura para trabalhos de “intervenção”.
O campo científico estreita-se, com o agigantamento desse mundo, dado que se subordina aos ditames do campo político. Por outro lado, e em consequência, a conquista de posições superiores no campo acadêmico passa a depender, mais e mais, do tamanho das clientelas formadas antes mesmo da publicação dos trabalhos desses autores/atores.
Quando as proposições acadêmicas derivam de posições definidas antes mesmo de alguma investida mais substancial na pesquisa, a pergunta que não quer calar é: para que, afinal de contas, deve-se pesquisar? E há mesmo quem, dominado por sinceridade, questione, sem pejo e em tom arrogante: “para quê pesquisar?” Quem já sabe o caminho certo não tem mesmo por que ficar perguntado (inquirindo através de custosas pesquisas) à realidade. Ora, bolas!
A saída mais fácil, no mundo do radicalismo acadêmico, é encontrar logo um autor reconhecido (e radical) que forneça legitimidade para as suas proposições. Nesse mundo, uma frase de Zizek vale mais do que mil questionários. Uma referência a David Harvey substitui qualquer análise demorada de dados demográficos.
Fechados em si mesmos, sem condições de participar do embate científico, os atores desse mundo produzem um simulacro de academia. Formam discípulos, não futuros pesquisadores. Estes, mesmo que concluam seus cursos, continuarão a reproduzir as relações de vassalagem.
Há algo de esquizofrênico na arquitetura desse mundo “crítico”, percebe-se logo. Para dar força à sua radicalidade, os “mestres críticos” são levados a dizer que nada muda. Ou, o que dá quase no mesmo, que as mudanças são sempre para pior. Tudo se passa como se o único mundo possível fosse aquele dos espaços para as performances acadêmicas.
O mundo lá fora, o mundo de "mesmo mesmo", é tenebroso demais para eles. Assentados em análises das limitações de percepções dos outros (que, oh, coitados!, estão subsumidos à ideologia, ao essencialismo, ao binarismo, ao sexismo e a todos os ismos à disposição nas prateleiras do politicamente correto), os radicais vivem o gozo e o desespero da “solidão das posições justas”. Não por acaso, sentem-se ccomo eternos incompreendidos...
É certo que os radicais acadêmicos produzem um mundo. Isso é palpável. E esse mundo vai engolindo as humanidades e tornando-as inaptas para o debate científico com campos que ficaram um tanto quanto imunes à lógica perversa do “radicalismo ”. Nesses dias, convidei uma colega que pesquisa antropologia evolutiva para uma qualificação de um aluno meu que pesquisava sobre desvios em uma empresa a partir da mobilização de um arsenal de jogos e simulações computacionais. Ela, uma brilhante professora de biologia, confessou que não consegue publicar (e nem dialogar) com ninguém das humanidades que pesquisa sobre a sua temática (o uso de alimentos em situação de extrema escassez). E por quê? Porque simplesmente, mesmo sem conhecer o seu referencial teórico, o pessoal o rejeita a priori...
Bom, mas o fato é que com a intensificação dos fluxos de bens e pessoas ao redor do mundo, o radicalismo acadêmico ganhou ares de uma Internacional Acadêmica. Criou-se um jet-set de intelectuais radicais. São os mercadores das últimas verdades desconstrucionistas...
O neoliberalismo, em não poucos momentos, assume a forma do adversário primeiro do radicalismo acadêmico. Mas, nem sempre. Quando a audiência debanda, o radicalismo acadêmico pode se aliar à velha ultraesquerda. É um casamento de interesses. O primeiro fornece verniz modernizante à segunda, o que garante a esta a incorporação em seus brancaleônicos exércitos de jovens rebeldes sem causa. Já a primeira, confirma o primeiro confirma a sua “conexão” com os “condenados da terra”.
Esse mundo exótico apenas nos divertiria se a sua existência não obnubilasse o investimento na pesquisa cuidadosa e na formação paciente das novas gerações. Não é um dano menor o fato de gerações e mais gerações se descuidem de uma boa formação quantitativa nas ciências sociais. Ou que modelos teóricos sofisticados, como aqueles da escolha racional ou da teoria dos jogos, sejam esnobados. Frequentemente, com presunçosa ignorância.
Quando envolvidos por essa “epistemologia do lado certo”, os professores e estudantes deixam de levar em conta os dados de realidade e a falseabilidade das leituras desses dados para tomar como marco divisor do mundo o enquadramento (ou não) de cada autor nos cânones do aceitável. E o aceitável, não se tenha dúvidas, é apenas o mais radical e desconstrucionista possível.
Em um país no qual discutimos mais os autores do que as suas elaborações, esse tipo de postura leva a que se tome a radicalidade dos autores de referência dos trabalhos como principio de legitimação. Para aumentar o seu capital social, decisivo para a mobilização de recursos materiais e simbólicos, dentre os quais “acessar” editais de órgãos públicos subordinados aos ditames dos enunciadores das “boas políticas”, os radicais constroem clientelas que lhes fornecem audiência, alguns dados enviesados do mundo e uma base segura para trabalhos de “intervenção”.
O campo científico estreita-se, com o agigantamento desse mundo, dado que se subordina aos ditames do campo político. Por outro lado, e em consequência, a conquista de posições superiores no campo acadêmico passa a depender, mais e mais, do tamanho das clientelas formadas antes mesmo da publicação dos trabalhos desses autores/atores.
Quando as proposições acadêmicas derivam de posições definidas antes mesmo de alguma investida mais substancial na pesquisa, a pergunta que não quer calar é: para que, afinal de contas, deve-se pesquisar? E há mesmo quem, dominado por sinceridade, questione, sem pejo e em tom arrogante: “para quê pesquisar?” Quem já sabe o caminho certo não tem mesmo por que ficar perguntado (inquirindo através de custosas pesquisas) à realidade. Ora, bolas!
A saída mais fácil, no mundo do radicalismo acadêmico, é encontrar logo um autor reconhecido (e radical) que forneça legitimidade para as suas proposições. Nesse mundo, uma frase de Zizek vale mais do que mil questionários. Uma referência a David Harvey substitui qualquer análise demorada de dados demográficos.
Fechados em si mesmos, sem condições de participar do embate científico, os atores desse mundo produzem um simulacro de academia. Formam discípulos, não futuros pesquisadores. Estes, mesmo que concluam seus cursos, continuarão a reproduzir as relações de vassalagem.
Há algo de esquizofrênico na arquitetura desse mundo “crítico”, percebe-se logo. Para dar força à sua radicalidade, os “mestres críticos” são levados a dizer que nada muda. Ou, o que dá quase no mesmo, que as mudanças são sempre para pior. Tudo se passa como se o único mundo possível fosse aquele dos espaços para as performances acadêmicas.
O mundo lá fora, o mundo de "mesmo mesmo", é tenebroso demais para eles. Assentados em análises das limitações de percepções dos outros (que, oh, coitados!, estão subsumidos à ideologia, ao essencialismo, ao binarismo, ao sexismo e a todos os ismos à disposição nas prateleiras do politicamente correto), os radicais vivem o gozo e o desespero da “solidão das posições justas”. Não por acaso, sentem-se ccomo eternos incompreendidos...
É certo que os radicais acadêmicos produzem um mundo. Isso é palpável. E esse mundo vai engolindo as humanidades e tornando-as inaptas para o debate científico com campos que ficaram um tanto quanto imunes à lógica perversa do “radicalismo ”. Nesses dias, convidei uma colega que pesquisa antropologia evolutiva para uma qualificação de um aluno meu que pesquisava sobre desvios em uma empresa a partir da mobilização de um arsenal de jogos e simulações computacionais. Ela, uma brilhante professora de biologia, confessou que não consegue publicar (e nem dialogar) com ninguém das humanidades que pesquisa sobre a sua temática (o uso de alimentos em situação de extrema escassez). E por quê? Porque simplesmente, mesmo sem conhecer o seu referencial teórico, o pessoal o rejeita a priori...
Bom, mas o fato é que com a intensificação dos fluxos de bens e pessoas ao redor do mundo, o radicalismo acadêmico ganhou ares de uma Internacional Acadêmica. Criou-se um jet-set de intelectuais radicais. São os mercadores das últimas verdades desconstrucionistas...
O neoliberalismo, em não poucos momentos, assume a forma do adversário primeiro do radicalismo acadêmico. Mas, nem sempre. Quando a audiência debanda, o radicalismo acadêmico pode se aliar à velha ultraesquerda. É um casamento de interesses. O primeiro fornece verniz modernizante à segunda, o que garante a esta a incorporação em seus brancaleônicos exércitos de jovens rebeldes sem causa. Já a primeira, confirma o primeiro confirma a sua “conexão” com os “condenados da terra”.
Esse mundo exótico apenas nos divertiria se a sua existência não obnubilasse o investimento na pesquisa cuidadosa e na formação paciente das novas gerações. Não é um dano menor o fato de gerações e mais gerações se descuidem de uma boa formação quantitativa nas ciências sociais. Ou que modelos teóricos sofisticados, como aqueles da escolha racional ou da teoria dos jogos, sejam esnobados. Frequentemente, com presunçosa ignorância.
A internet e os partidos políticos na visão de Castells
O cientista social Manuel Castells dispensa apresentações. Com certeza, você já leu algum livro, ou pelo menos um artigo, dele. Clique aqui e acesse uma ótima entrevista. O assunto é política e internet.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
O mensalão e a farsa
O vídeo abaixo, um comentário do jornalista Bob Fernandes a respeito do julgamento do mensalão, coloca os pingos nos devidos "is". O Bob é um jornalista da velha escola, embora seja um cara ainda novo. O "velha escola", diga-se de passagem, tem aqui um sentido claramente positivo.
Os negros e a cidadania
Uma leitura obrigatória para todos quantos nos dispomos a pensar/intervir sobre a ampliação da cidadania no Brasil. O artigo foi publicado no último número da revista LUA NOVA. Confira abaixo!
Cidadania e retóricas negras de inclusão social*
Citizenship and black rhetoric for social inclusion
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Professor do Departamento de Sociologia da USP
As sociedades modernas são herdeiras das revoluções dos séculos XVII, na Inglaterra, e XVIII, na França. Foram tais acontecimentos históricos que estabeleceram os padrões de sociabilidade e de civilização que se alastraram e ainda se alastram por todo o mundo pós-colonial, cujo pilar é o Estado de direito que protege indivíduos e cidadãos. T. H. Marshall (1977), em texto clássico, classificou a cidadania a partir dos direitos que a garantiam - civis, políticos e sociais -, e mostrou como eles foram conquistados progressivamente na Inglaterra. Em outros países, como ficou claro no debate das ideias seminais de Marshall (Turner, 1990; Carvalho, 2002), a história seguiu diversos outros cursos. Mas, se o desenvolvimento e conquista da cidadania não seguiram um padrão evolutivo ou uniforme em todos os Estados-nação, é incontestável que esses processos seguem em cada país uma certa periodização para a qual, para fins analíticos, a classificação sugerida por Marshall continua útil.
Para o caso das colônias europeias nas Américas, as revoluções modernas significaram, sobretudo, a formação de Estados independentes, como atestam a revolução norte-americana, no século XVIII, e as guerras de Independência das colônias espanholas e portuguesa, no século XIX. Tais Estados, entretanto, à diferença das metrópoles de que se separavam, não tinham a possibilidade de formarem-se como Estados-nação inclusivos para todos os seus habitantes, ou mesmo para todos os nativos de seus territórios. Ou seja, eram incapazes de estender o estatuto da cidadania moderna e o sentimento de pertencimento nacional, que lhe era atrelado, para todo o corpo social. A instituição da escravidão, assim como a reprodução de culturas e etnias variadas que serviam de base para a exploração de trabalho servil, impediram que se organizasse a unidade nacional e a igualdade de direitos. Mesmo o mais básico direito político - o voto -, no Brasil, foi restrito até recentemente - 1988 - por exigência legal da alfabetização (ou seja, o acesso à cultura letrada) como pré-requisito para a participação eleitoral.
Na verdade, se, na Europa, o nascimento num determinado território e o compartilhamento de certos traços culturais, como uma língua comum, foram condições de primeira hora para a generalização da cidadania no interior dos Estados-nação; nas Américas, as etnias e, posteriormente, a racionalização e percepção das mesmas como raças, passaram a ser justificativas para garantir a negação desses direitos de cidadania e permitir a continuidade da escravidão ou do servilismo como modo de produção e como relação de trabalho. Aqui, como desenvolvi em outro texto (Guimarães, 2011), a solidariedade social, ou seja, a promessa aberta de integração racial e étnica pela via da aculturação, substituiu o ideal de igualdade social para as massas, uma vez abolida a escravidão e instituída a República como forma de governo.
O processo de construção da cidadania nos países americanos passa, pois, necessariamente por duas etapas: primeiro, a abolição do escravidão; segundo, a construção de um sentimento nacional que inclua toda a sua população. Só assim os direitos civis, políticos e sociais podem ser generalizados para um corpo nacional, seja ele ou não multicultural.
LEIA O ARTIGO COMPLETO AQUI.
Cidadania e retóricas negras de inclusão social*
Citizenship and black rhetoric for social inclusion
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Professor do Departamento de Sociologia da USP
As sociedades modernas são herdeiras das revoluções dos séculos XVII, na Inglaterra, e XVIII, na França. Foram tais acontecimentos históricos que estabeleceram os padrões de sociabilidade e de civilização que se alastraram e ainda se alastram por todo o mundo pós-colonial, cujo pilar é o Estado de direito que protege indivíduos e cidadãos. T. H. Marshall (1977), em texto clássico, classificou a cidadania a partir dos direitos que a garantiam - civis, políticos e sociais -, e mostrou como eles foram conquistados progressivamente na Inglaterra. Em outros países, como ficou claro no debate das ideias seminais de Marshall (Turner, 1990; Carvalho, 2002), a história seguiu diversos outros cursos. Mas, se o desenvolvimento e conquista da cidadania não seguiram um padrão evolutivo ou uniforme em todos os Estados-nação, é incontestável que esses processos seguem em cada país uma certa periodização para a qual, para fins analíticos, a classificação sugerida por Marshall continua útil.
Para o caso das colônias europeias nas Américas, as revoluções modernas significaram, sobretudo, a formação de Estados independentes, como atestam a revolução norte-americana, no século XVIII, e as guerras de Independência das colônias espanholas e portuguesa, no século XIX. Tais Estados, entretanto, à diferença das metrópoles de que se separavam, não tinham a possibilidade de formarem-se como Estados-nação inclusivos para todos os seus habitantes, ou mesmo para todos os nativos de seus territórios. Ou seja, eram incapazes de estender o estatuto da cidadania moderna e o sentimento de pertencimento nacional, que lhe era atrelado, para todo o corpo social. A instituição da escravidão, assim como a reprodução de culturas e etnias variadas que serviam de base para a exploração de trabalho servil, impediram que se organizasse a unidade nacional e a igualdade de direitos. Mesmo o mais básico direito político - o voto -, no Brasil, foi restrito até recentemente - 1988 - por exigência legal da alfabetização (ou seja, o acesso à cultura letrada) como pré-requisito para a participação eleitoral.
Na verdade, se, na Europa, o nascimento num determinado território e o compartilhamento de certos traços culturais, como uma língua comum, foram condições de primeira hora para a generalização da cidadania no interior dos Estados-nação; nas Américas, as etnias e, posteriormente, a racionalização e percepção das mesmas como raças, passaram a ser justificativas para garantir a negação desses direitos de cidadania e permitir a continuidade da escravidão ou do servilismo como modo de produção e como relação de trabalho. Aqui, como desenvolvi em outro texto (Guimarães, 2011), a solidariedade social, ou seja, a promessa aberta de integração racial e étnica pela via da aculturação, substituiu o ideal de igualdade social para as massas, uma vez abolida a escravidão e instituída a República como forma de governo.
O processo de construção da cidadania nos países americanos passa, pois, necessariamente por duas etapas: primeiro, a abolição do escravidão; segundo, a construção de um sentimento nacional que inclua toda a sua população. Só assim os direitos civis, políticos e sociais podem ser generalizados para um corpo nacional, seja ele ou não multicultural.
LEIA O ARTIGO COMPLETO AQUI.
Carta Potiguar se posiciona: opta pela candidatura de Mineiro
Carta Potiguar, um site que é expressão de criatividade, ousadia e argúcia crítica, não ficou em cima do muro. Fez sua escolha. E a assumiu publicamente. Em Natal, optra pela candidatura de Mineiro para Prefeito. Leia abaixo a justificativa.
Por que vou votar em Fernando Mineiro
Daniel Menezes
A Carta Potiguar é uma realização de vida. Para nós, este veículo de comunicação é coisa séria. Gastamos o nosso tempo, o nosso dinheiro, perdemos fins de semana, construindo um espaço condizente com aquilo que a gente acredita.
Nos meus textos, sempre fui coerente com os pontos de vista que fazem sentido para mim. Nunca trai o meu olhar para agradar quem quer que seja, inclusive, aqueles que costumo, na maioria das situações, concordar. O diálogo aqui é sempre franco, objetivo e direto. Não há subterfúgios. Os princípios norteadores da opinião são explicitados.
Emprego essa perspectiva, com todas as minhas limitações, naquilo que publico na Carta Potiguar, nas análises que produzo sobre a política norte-riograndense. E para ser honesto com a postura esboçada acima, sem a pseudo-imparcialidade que ronda a imprensa local, vou expor em quem irei votar em Natal e explicar os fundamentos da minha posição. Antes, não posso deixar de ressaltar que fico muito a vontade para tomar tal decisão, já que não sou militante e muito menos filiado a qualquer tipo de organização política.
Vou votar em Fernando Mineiro porque acredito que ele apresenta um projeto de desenvolvimento inclusivo e um modo de fazer política, que tem como pilar fundamental a noção do diálogo.
Durante a sua atuação como vereador, e depois como deputado estadual, Fernando Mineiro atuou na defesa de bandeiras imprescindíveis para a cidade. Com conhecimento de causa, fomentou o debate em torno do plano diretor, da gestão da água, da defesa das minorias, de direitos. Fernando Mineiro é o que mais atende a minha concepção de democracia. É uma pessoa aberta a conversa e nunca toma uma decisão sem ouvir aqueles que representa.
Penso que Natal precisa de participação social. Não é possível mais consolidar políticas públicas, que ditam o presente e o futuro da cidade, sem chamar a sociedade para o debate, sem envolver os cidadãos, os principais interessados. Esta maneira de gerir a coisa pública tem de acabar.
Entendo que os natalenses estão cansados da política, que desconfiam do diferente em decorrência da fé depositada – e não correspondida – na mudança que Micarla de Sousa, em 2008, dizia encarnar. Porém, nada pode ser pior do que votar com medo. Democracia é coragem, esperança e Natal precisa se (re) inventar.
Há outros bons candidatos. Mas numa eleição a gente procura votar naquele que considera o melhor. Por isso escolhi Mineiro.
Por que vou votar em Fernando Mineiro
Daniel Menezes
A Carta Potiguar é uma realização de vida. Para nós, este veículo de comunicação é coisa séria. Gastamos o nosso tempo, o nosso dinheiro, perdemos fins de semana, construindo um espaço condizente com aquilo que a gente acredita.
Nos meus textos, sempre fui coerente com os pontos de vista que fazem sentido para mim. Nunca trai o meu olhar para agradar quem quer que seja, inclusive, aqueles que costumo, na maioria das situações, concordar. O diálogo aqui é sempre franco, objetivo e direto. Não há subterfúgios. Os princípios norteadores da opinião são explicitados.
Emprego essa perspectiva, com todas as minhas limitações, naquilo que publico na Carta Potiguar, nas análises que produzo sobre a política norte-riograndense. E para ser honesto com a postura esboçada acima, sem a pseudo-imparcialidade que ronda a imprensa local, vou expor em quem irei votar em Natal e explicar os fundamentos da minha posição. Antes, não posso deixar de ressaltar que fico muito a vontade para tomar tal decisão, já que não sou militante e muito menos filiado a qualquer tipo de organização política.
Vou votar em Fernando Mineiro porque acredito que ele apresenta um projeto de desenvolvimento inclusivo e um modo de fazer política, que tem como pilar fundamental a noção do diálogo.
Durante a sua atuação como vereador, e depois como deputado estadual, Fernando Mineiro atuou na defesa de bandeiras imprescindíveis para a cidade. Com conhecimento de causa, fomentou o debate em torno do plano diretor, da gestão da água, da defesa das minorias, de direitos. Fernando Mineiro é o que mais atende a minha concepção de democracia. É uma pessoa aberta a conversa e nunca toma uma decisão sem ouvir aqueles que representa.
Penso que Natal precisa de participação social. Não é possível mais consolidar políticas públicas, que ditam o presente e o futuro da cidade, sem chamar a sociedade para o debate, sem envolver os cidadãos, os principais interessados. Esta maneira de gerir a coisa pública tem de acabar.
Entendo que os natalenses estão cansados da política, que desconfiam do diferente em decorrência da fé depositada – e não correspondida – na mudança que Micarla de Sousa, em 2008, dizia encarnar. Porém, nada pode ser pior do que votar com medo. Democracia é coragem, esperança e Natal precisa se (re) inventar.
Há outros bons candidatos. Mas numa eleição a gente procura votar naquele que considera o melhor. Por isso escolhi Mineiro.
domingo, 19 de agosto de 2012
Os grevistas que não amavam os livros
O texto abaixo, da lavra de Alysson Freire, mestrando em Ciências Sociais da UFRN, merece leitura e discussão. Um alerta contra a boçalidade!
Meu medo é que os grevistas, para radicalizar, passem a queimar livros...
Greve UFRN: Fechar bibliotecas é ação política?
Alysson Freire
A justiça de uma causa não faz, por conseguinte, “justos” ou “corretos” os meios empregados para atingir essa causa. Nem a concordância ou apoio a um movimento, blinda-o de críticas e questionamentos. À bem da verdade, em muitas poucas situações valem os tais “fins justificam os meios” ou “por causa do santo, beija-se o altar”. A greve é, por exemplo, um instrumento vital à serviço dos trabalhadores e de suas reivindicações, assim como importantíssimo para o próprio desenvolvimento social de uma sociedade rumo a uma maior e melhor situação de igualdade e dignidade compartilhadas. Porém, é preciso não perder de vista, quanto a sua razoabilidade, a pertinência das modalidades de ação e protesto político de que, por vezes, se valem os movimentos como estratégia de repercussão e radicalização.
Se é verdade que, por um lado, professores e alunos precisam ouvir as razões dos grevistas para sua ação radicalizada, por outro, é verdadeiro, também, que estes precisam ouvir os que se opõem a esse tipo de ação. Dialogar e negociar. Que se feche, pra debater e divulgar, a biblioteca central por um par de horas ou turno, vá lá, mas prolongar por um dia inteiro ou mais não parece sensato nem produtivo para o próprio movimento.
Por mais que se defende o direito à greve e a legitimidade das reivindicações colocadas pelo movimento dos servidores técnico-administrativos da UFRN, fechar uma biblioteca, numa cidade já carente de espaços públicos como esses, é, no mínimo, uma atitude infeliz. Que se diga logo para aqueles que, por pressa ou malícia interpretativa, que criticar um aspecto do movimento não significa desqualificá-lo em sua totalidade. A esperança, aqui, sincera, pretensiosa ou iludida, à depender de quem a compre ou rejeite, consiste apenas em contribuir para a uma postura de reflexão sobre o que fazemos.
Não se trata de ponderar quais direitos ou questões estão acima de quais outros, ou o que é, de fato, prioridade: se o direito de greve ou direito à educação, se a luta dos trabalhadores por melhorias ou o acesso à cultura/conhecimento, se o interesse coletivo ou interesse individual. Aliás, enveredar por justificativas do tipo que pressupõe, para todos os casos e situações, a superioridade do coletivo sobre o individual é algo bastante perigoso, penso; é flertar de perto com o poder cego diante de toda espécie de coletivo, e esta é uma das condições essenciais da barbárie, tal qual Theodor Adorno a entende.
Além do mais, ao obstruir o acesso a biblioteca Zila Mamede não se estar, em nome de interesses mais dignos, sociais e urgentes, apenas impedindo que alunos individualistas estudem para obter seus diplomas, passar num concurso público ou realizarem suas pesquisas – interesses, todos, diga-se, legítimos – mas impedindo a própria razão de ser de uma instituição, criada e sustentada para o livre acesso e dedicação ao estudo, ao conhecimento e seus produtos – livros, aulas, palestras etc..
Não se trata de sustentar uma visão idealizada e romântica de livros e bibliotecas como coisas sagradas, improfanáveis, nem de afirmar que a educação restringe-se a uma questão de livros e leitura. Não, muito longe disso, pois o engajamento em movimentos políticos e sociais, a luta contra aquilo que se considera injusto, é, também, profundamente formador e emancipatório; muitas vezes bem mais do que uma dezena de livros lidos ou aulas. A questão não é essa, e a barbárie diz respeito a uma outra coisa, a um modo de agir irrefletido, insensato e insensível, que se fecha na própria identidade das ordens ou visão de mundo.
A luta dos servidores técnico-administrativos da UFRN é legítima, e a paralisação de suas atividades, além de pressionar o poder público no atendimento de suas reivindicações, produz debates e discussões que agitam as opiniões e as inteligências. É, por isso mesmo, uma experiência política educativa para os que a acompanham ou são por ela afetados de alguma forma, ainda que a contragosto. Seria leviano jogar todo o foco da crítica sobre grevistas, pois uma das raízes da greve e das ações radicalizadas é a intransigência do próprio governo que se nega a negociar. Por outro lado, seria igualmente equivocado retirar a parcela de responsabilidade que cabe aos grevistas no sentido da escolha por este tipo método de ação em vez de outro.
Portanto, quando este mesmo movimento age de modo irrefletido, automático, conduzido e movido por qualquer “razão”, “crença” ou “causa” que acredita estar acima do diferente, do contraditório, do divergente, e, por isso, sem se importar com as consequências de sua ação sobre aqueles, que por seus motivos ou indiferença, não enchem suas fileiras ou não compartilham de sua identidade, ele perde algo de essencial a toda ação política; a capacidade de autorreflexão, o agir ciente e sensível às próprias responsabilidades e consequências da ação. É nisso em que o movimento grevista, quer queira ou aceita ou não, ajuda a produzir a barbárie no seio do lugar onde se deveria, em tese, formar as principais armas contra esta.
Meu medo é que os grevistas, para radicalizar, passem a queimar livros...
Greve UFRN: Fechar bibliotecas é ação política?
Alysson Freire
A justiça de uma causa não faz, por conseguinte, “justos” ou “corretos” os meios empregados para atingir essa causa. Nem a concordância ou apoio a um movimento, blinda-o de críticas e questionamentos. À bem da verdade, em muitas poucas situações valem os tais “fins justificam os meios” ou “por causa do santo, beija-se o altar”. A greve é, por exemplo, um instrumento vital à serviço dos trabalhadores e de suas reivindicações, assim como importantíssimo para o próprio desenvolvimento social de uma sociedade rumo a uma maior e melhor situação de igualdade e dignidade compartilhadas. Porém, é preciso não perder de vista, quanto a sua razoabilidade, a pertinência das modalidades de ação e protesto político de que, por vezes, se valem os movimentos como estratégia de repercussão e radicalização.
Se é verdade que, por um lado, professores e alunos precisam ouvir as razões dos grevistas para sua ação radicalizada, por outro, é verdadeiro, também, que estes precisam ouvir os que se opõem a esse tipo de ação. Dialogar e negociar. Que se feche, pra debater e divulgar, a biblioteca central por um par de horas ou turno, vá lá, mas prolongar por um dia inteiro ou mais não parece sensato nem produtivo para o próprio movimento.
Por mais que se defende o direito à greve e a legitimidade das reivindicações colocadas pelo movimento dos servidores técnico-administrativos da UFRN, fechar uma biblioteca, numa cidade já carente de espaços públicos como esses, é, no mínimo, uma atitude infeliz. Que se diga logo para aqueles que, por pressa ou malícia interpretativa, que criticar um aspecto do movimento não significa desqualificá-lo em sua totalidade. A esperança, aqui, sincera, pretensiosa ou iludida, à depender de quem a compre ou rejeite, consiste apenas em contribuir para a uma postura de reflexão sobre o que fazemos.
Não se trata de ponderar quais direitos ou questões estão acima de quais outros, ou o que é, de fato, prioridade: se o direito de greve ou direito à educação, se a luta dos trabalhadores por melhorias ou o acesso à cultura/conhecimento, se o interesse coletivo ou interesse individual. Aliás, enveredar por justificativas do tipo que pressupõe, para todos os casos e situações, a superioridade do coletivo sobre o individual é algo bastante perigoso, penso; é flertar de perto com o poder cego diante de toda espécie de coletivo, e esta é uma das condições essenciais da barbárie, tal qual Theodor Adorno a entende.
Além do mais, ao obstruir o acesso a biblioteca Zila Mamede não se estar, em nome de interesses mais dignos, sociais e urgentes, apenas impedindo que alunos individualistas estudem para obter seus diplomas, passar num concurso público ou realizarem suas pesquisas – interesses, todos, diga-se, legítimos – mas impedindo a própria razão de ser de uma instituição, criada e sustentada para o livre acesso e dedicação ao estudo, ao conhecimento e seus produtos – livros, aulas, palestras etc..
Que isso aconteça por meio dum movimento interno e essencial à própria Universidade, numa instituição formada por trabalhadores à serviço da educação, torna a “estratégia radicalizada” ainda mais lamentável. Há outras estratégias de pressão mais eficazes e mais certeiras para atingir o verdadeiro alvo – o governo federal.Afinal, creio, não é contra a educação contra o que se está lutando, nem é a cultura o inimigo. Se a educação deve, como pensava Adorno, evitar a barbárie e buscar a emancipação humana, ao se fechar uma biblioteca se está, muito mais do que chamar a atenção para as causas ou esclarecendo, na prática, a importância da ação política, contribuindo para a barbárie.
Não se trata de sustentar uma visão idealizada e romântica de livros e bibliotecas como coisas sagradas, improfanáveis, nem de afirmar que a educação restringe-se a uma questão de livros e leitura. Não, muito longe disso, pois o engajamento em movimentos políticos e sociais, a luta contra aquilo que se considera injusto, é, também, profundamente formador e emancipatório; muitas vezes bem mais do que uma dezena de livros lidos ou aulas. A questão não é essa, e a barbárie diz respeito a uma outra coisa, a um modo de agir irrefletido, insensato e insensível, que se fecha na própria identidade das ordens ou visão de mundo.
A luta dos servidores técnico-administrativos da UFRN é legítima, e a paralisação de suas atividades, além de pressionar o poder público no atendimento de suas reivindicações, produz debates e discussões que agitam as opiniões e as inteligências. É, por isso mesmo, uma experiência política educativa para os que a acompanham ou são por ela afetados de alguma forma, ainda que a contragosto. Seria leviano jogar todo o foco da crítica sobre grevistas, pois uma das raízes da greve e das ações radicalizadas é a intransigência do próprio governo que se nega a negociar. Por outro lado, seria igualmente equivocado retirar a parcela de responsabilidade que cabe aos grevistas no sentido da escolha por este tipo método de ação em vez de outro.
Portanto, quando este mesmo movimento age de modo irrefletido, automático, conduzido e movido por qualquer “razão”, “crença” ou “causa” que acredita estar acima do diferente, do contraditório, do divergente, e, por isso, sem se importar com as consequências de sua ação sobre aqueles, que por seus motivos ou indiferença, não enchem suas fileiras ou não compartilham de sua identidade, ele perde algo de essencial a toda ação política; a capacidade de autorreflexão, o agir ciente e sensível às próprias responsabilidades e consequências da ação. É nisso em que o movimento grevista, quer queira ou aceita ou não, ajuda a produzir a barbárie no seio do lugar onde se deveria, em tese, formar as principais armas contra esta.
sábado, 18 de agosto de 2012
O segredo do sucesso de Fernando Mineiro
Mesmo pessoas distantes do PT, ou
não muito simpatizantes do partido, reconhecem em Fernando Mineiro o candidato a
prefeito que tem a melhor performance nos debates e sabatinas com os aspirantes
à prefeitura de Natal.
Esse desempenho não é algo ocasional, fruto de sacadas geniais
ditadas por algum marqueteiro. Na verdade, sói ocorrer o contrário. Mineiro se
dá bem nos debates e sabatinas porque é ele mesmo. Não cria para si um
personagem, como não poucos candidatos por aí afora nestas eleições
insossas.
Quando Mineiro expõe os seus diagnósticos sobre algumas das
questões urbanas centrais da Cidade do Sol, ou aponta saídas para alguns dos
nossos angustiantes problemas (saúde, educação, mobilidade urbana e segurança
pública, não exatamente nessa ordem), ele o faz com base na sua experiência de
mais de duas décadas dedicadas à intervenção propositiva na vida social e
política de Natal.
Na sabatina ocorrida no CTGás, na segunda-feira, dia 13, Mineiro
foi a estrela. Pena que o público tenha sido aquém daquele que se esperaria para
um evento dirigido à classe empresarial local. À parte isso, ouvi, de parte dos
presentes, comentários elogiosos diante das respostas dadas por Mineiro às
questões formuladas pela UFRN, pela FIERN e pela Fecomércio.
O desempenho positivo de Mineiro não é fortuito, nem gratuito.
Tampouco é a tradução de uma inspiração pessoal elevada. Não que o candidato
petista não tenha tino e sensibilidade para perceber o ambiente no qual
intervém. Ele tem isso de sobra, mas, convenhamos, essas são competências quase
obrigatórias para um parlamentar com mais de duas décadas de atuação destacada
na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa.
O "segredo de Mineiro", ou, se
quiserem, o "Diferencial Mineiro", advém de muito trabalho e dedicação. E de
estudo e capacidade de escuta. Isso não vem de um dia para o outro, sabemos
todos.
No CTGás, ouvi um candidato
dizendo, não sem certa presunção, que tinha feito o “dever de casa” e que havia
estudado por “dezesseis meses os problemas de Natal”. Sei! O que saiu desse
estudo? Um discurso livresco, cheio de estatísticas e indicações marqueteiras. O
que pode ser traduzido por muito palavrório e pouca substância.
A boa performance de Mineiro nos
debates e sabatinas tem um sentido educativo importante: se ele brilha é porque
as suas intervenções estão conectadas com o enfrentamento prático, e engajado,
com a vida da cidade.
E foi esse engajamento que o
permitiu construir uma visão política da administração municipal sintetizada com
elegância no CTGás: cabe ao prefeito de uma cidade como Natal assumir um papel
de coordenador de uma concertação governamental na qual os conflitos não são
escamoteados, mas concretamente explicitados. Explicitação que se traduz em
hierarquização. Nesta, os interesses da maioria e do acesso universal a serviços
e espaços se sobrepõem.
Mas, ao contrário de certa
esquerda que se nega a encarar os desafios do presente, talvez com medo de que o
abismo a engula junto com as suas certezas eternas, Mineiro tem como propor
formas de inclusão positiva do empresariado da cidade. Suas apostas no
ordenamento territorial, dando sentido e concretude à regulação estatal
municipal, mais do que limitadoras, são garantias de que, após décadas de
improvisações (que fornecem as bases para os "jeitinhos" a corrupção
desbragada), teremos, enfim!, um marco institucional municipal claro para o
setor imobiliário.
Claro! O discurso de Mineiro ganha força autorizativa pela feliz
escolha do PT do seu companheiro de chapa. Carlos Alberto, professor da UFRN e
empresário, aporta mais do que experiência à candidatura petista. O candidato a
vice reforça o discurso de gestão (com reconhecimento político) dos interesses
legítimos e conflitantes em torno das grandes questões urbanas de Natal.
Mineiro se sai bem nos debates? Sim! Mas isso não se deve a uma
qualidade intrínseca do candidato, como dizem alguns, mas, sim, porque é a
expressão de uma trajetória política que não começou ontem.
A desconstrução de Serra
José Serra, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, até bem recentemente tido como imbatível, perde apoios a cada dia que passa. Na última pesquisa eleitoral divulgada, o tucano está tecnicamente empatado com o Celso Russomano.
O Fernando Haddad parece se movimentar positivamente. Após o abraço mortal em Maluf, rodopiou nos seis por cento durante um tempo. Agora, quando o embate parte para os lances mais decisivos, o petismo parece sair das pasmaceira e se movimentar em defesa do ungido de Lula. Cresceu 3%. Não é muito, mas já é alguma coisa.
Mas o jogo está embolando e o cenário pode mudar. Logo, logo. Por quê? Porque parte do tucanato, vejam só!, decidiu apoiar o Gabriel Chalita, candidato do PMDB e amigo pessoal do Governador Geraldo Alckimim. A foto abaixo é expressiva dessa realidade:
O Fernando Haddad parece se movimentar positivamente. Após o abraço mortal em Maluf, rodopiou nos seis por cento durante um tempo. Agora, quando o embate parte para os lances mais decisivos, o petismo parece sair das pasmaceira e se movimentar em defesa do ungido de Lula. Cresceu 3%. Não é muito, mas já é alguma coisa.
Mas o jogo está embolando e o cenário pode mudar. Logo, logo. Por quê? Porque parte do tucanato, vejam só!, decidiu apoiar o Gabriel Chalita, candidato do PMDB e amigo pessoal do Governador Geraldo Alckimim. A foto abaixo é expressiva dessa realidade:
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Os efeitos perversos da criminalização das drogas
As drogas serão descriminalizadas, cedo ou tarde. Pode até demorar um pouco, mas isso vai acontecer. A legalização da maconha no Uruguai é um pequeno passo nessa direção. Agora, quem diria?, até o Chile pode seguir o mesmo caminho do país hermano.
O fato é que está ficando cada vez mais evidente a estupidez política e social da política de "Guerra às Drogas". E quem paga os efeitos perversos das apostas demagógicas e intolerantes são os jovens. É o que acontece com os consumidores do ecstasy.
Bom. E quem está comprovando o desastre? A Polícia Federal, através de um estudo científico sobre aquilo que é vendido como ecstasy no Brasil. Trata-se de algo aterrador, pode acreditar.
Quer saber mais? Leia aqui uma análise do estudo da PF escrita, com a competência de sempre, pela corajosa jornalista Fernanda Mena.
O fato é que está ficando cada vez mais evidente a estupidez política e social da política de "Guerra às Drogas". E quem paga os efeitos perversos das apostas demagógicas e intolerantes são os jovens. É o que acontece com os consumidores do ecstasy.
Bom. E quem está comprovando o desastre? A Polícia Federal, através de um estudo científico sobre aquilo que é vendido como ecstasy no Brasil. Trata-se de algo aterrador, pode acreditar.
Quer saber mais? Leia aqui uma análise do estudo da PF escrita, com a competência de sempre, pela corajosa jornalista Fernanda Mena.
domingo, 12 de agosto de 2012
O jogo perigoso dos grevistas das federais: uma análise de esquerda
O CARTA MAIOR, site insuspeito, pela auto-identificação com a esquerda, divulga uma posição crítica sobre a greve dos servidores federais. Dado o lugar de onde vem essa crítica, vale a pena reproduzi-la.
Os sucateiros do Estado apoiam o funcionalismo?
SAUL LEBLON
A greve de setores do funcionalismo público tem sido canibalizada com voragem por esferas do dispositivo midiático demotucano. Veículos e gargantas que se notabilizaram pelo aplauso esférico ao ciclo de privatizações promovido nos governos do PSDB, servindo como lubrificante ideológico ao desmonte do Estado, agora se esponjam no conflito entre as reivindicações dos grevistas e as respostas, inábeis, em certos casos, do governo.
Nesta sexta-feira, (10-08), o jornal Folha de São Paulo conseguiu desengavetar a palavra 'caos' trazendo-a de volta às manchetes em letras garrafais: ' Greve trava estradas e gera caos em Cumbica'. Isso para descrever uma operação padrão que atrasou vôos e gerou filas de caminhões em alfândegas. A soma de todos os engarrafamentos por certo equivale a um farelo do colapso permanente do trânsito em São Paulo, onde a competência tucana conseguiu o colosso de construir a média anual de 1,5 km de metrô em 17 anos de poder.
No sábado (11-08), o mesmo jornal que se notabilizou como sirene da retroescavadeira neoliberal carregou no tom desaforado e provocativo da chamada: 'Dilma diz a grevistas que tem outras prioridades'.
Disse mesmo?
Nas páginas internas, o editor matreiro já se despede da responsabilidade calça o exagero com outro título: 'Em meio a protesto, presidente diz querer serviço público de qualidade'. Na letra miúda do texto, lê-se o seguinte relato dos fatos: 'sem citar diretamente as greves a Presidenta disse que tem de olhar o que é mais importante no país (...) assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque pode e esteve, muitas vezes, desempregada'.
A Presidenta foi vaiada por um grupo de docentes, alunos e servidores de instituições federais de ensino, diz a Folha.Em seguida informa: eram 35.
A recomposição das carreiras, salários e quadros do serviço público é uma prioridade da agenda progressista brasileira. Atacada por uma campanha implacável durante os dois primeiros governos do PT, o resgate do serviço público ganhou margem de manobra ideológica com a crise, que escancarou o risco de se entregar a sociedade aos desígnios dos mercados, sem o contrapeso de um contraponto estatal eficiente e transparente.
Reduzir a despesa rentista com os juros, como tem feito o governo, é um passo importante para gerar folga orçamentária, capaz de beneficiar a educação, a saúde e a infraestrutura pública. Nada disso será feito sem uma atenção gêmea com carreiras, salários e servidores qualificados, capazes de colocar planos e projetos de pé.
Não se trata de 'ideologismo estatizante'.
O país vive uma situação kafkiana:'sobram' recursos públicos em algumas áreas sem que planos de investimentos consigam migrar das intenções para os canteiros de obras.
Será difícil reordenar a macroeconomia do desenvolvimento brasileiro sem
novas empresas públicas que funcionem como espelho e alavanca. O exemplo vem dos bancos estatais.Em seus segmentos eles tem conseguido induzir o mercado a trabalhar pela sociedade, como evidencia a queda nos juros do financiamento imobiliário.
O governo Dilma, o PT e a CUT precisam estabelecer uma convergencia estratégica sobre esse ponto preliminar: a porta entreaberta pela desordem neoliberal exige ousadia para não ser desperdiçada. O mito da eficiência dos livres mercados trincou; sepultá-lo exige instituições, recursos, pactos e desassombro que subordinem os interesses a ele associados. Sem isso a porta se fechará; o passado continuará a asfixiar o futuro, como se comprova na agonia européia, sob tacão ortodoxo.
Faltam recursos? Sempre. Para isso existe a política, por definição uma disputa entre prioridades de classes divergentes. Ademais, recorde-se que a elite nativa que inaugura 'impostômetros' e enche a boca para denunciar a 'carga' ocupa o 4º lugar no pódium dos maiores sonegadores do planeta. Tem US$ 520 bilhões acantonados em paraísos fiscais. Como esse dinheiro chegou lá? Não chegaria sem a inestimável colaboração de bancos e instituições do mercado cujos chefes de departamento de 'análise econômica' inundam os jornais com alertas sobre o 'desequilíbrio fiscal' e oferecem o antídoto:'as reformas', cujo cerne é o escalpo de direitos, de serviços públicos e de folhas de servidores do Estado.
O jornalismo engajado no apoio à greve dos servidores é filho dessa mesma cepa. Tem sido um porta-voz militante contra 'a gastança', incluindo-se aí o custo da 'corrupção', 'inerente', como se sabe, à 'companheirada sindical-petista', conforme a mesma mídia tenta induzir o STF a sentenciar.
Demonização e desqualificação do servidor constituem uma das armas desse arsenal sistêmico anti-estatal e socialmente regressivo.
O conjunto carrega a inoxidável determinação de jogar a classe média contra tudo o que remeta ao interesse público, como se fosse possível pavimentar a convivência compartilhada sem solidariedade fiscal. Habilidosamente, alimenta-se a esquizofrenia que torna o imaginário social receptivo ao discurso dos Demóstenes de plantão: exige-se cortes de gastos nas páginas de economia; denuncia-se a insegurança pública na cobertura policial.
Foi assim também que se deformou o discernimento do país para legitimar o corte de R$ 40 bilhões no orçamento da saúde pública, com a extinção do CPMF, em 2007. Ato contínuo, a mídia 'isenta' discorria sobre o 'caos' nos corredores lotados de macas da rede pública de saúde.
Programas sociais nucleados em torno do Bolsa Família padecem de identico tratamento. Com apenas 0,47% do PIB eles fornecem um piso de renda a 25% da população, expandindo o mercado interno em plena crise mundial. Mas a atenção prioritária do dispositivo midiático é com os 'desvios' dos benefícios, pinçados com lupa para comprovar o 'descontrole da máquina pública'.
Governos e grevistas não podem menosprezar esse pano de fundo histórico sobre o qual se trava a atual campanha salarial. Sem um denomidador comum feito de compromissos políticos em relação ao país e ao futuro, o risco é se perderem numa dízima de porcentagens, oferecendo combustível desagregador a quem sempre esteve do outro lado da mesa.
As entidades dos servidores públicos e a CUT devem se perguntar, objetivamente: na atual relação de forças quem pode liderar o caminho (que não é curto) na construção de um serviço público suficiente, bem remunerado, digno e de qualidade? O governo Dilma , por sua vez, deve saber a essa alura da crise que não existe hipótese de atravessar o Rubicão para o desenvolvimento sustentável sem Estado indutor; isso não se faz com um funcionalismo descontente, professorado sem ânimo e base sindical estilhaçada.
O Instituto Teotônio Vilela, insuspeito think tank tucano, repõe em um texto recente a verdade dessa correlação de forças ao elencar os dados e a posição do conservadorismo sobre fatos hipocritamente dissimulados na cobertura da greve atual. Com a palavra, o PSDB:
"Em 2010, o gasto da União com pessoal atingiu R$ 183,3 bilhões. Isso equivale a mais de R$ 500 milhões por dia. Em 2002, havia sido de R$ 75 bilhões, em valores correntes. O salto registrado ao longo do governo petista foi astronômico", acusa o instituto tucano: "em termos nominais, isto é, sem considerar a inflação, as despesas cresceram 144%. Em valores reais, o ganho do funcionalismo foi de 56%, ou seja, muito acima da elevação do custo de vida no período. Não há quem seja contra um Estado que preste melhores serviços à população. Para tanto, é importante remunerar bem o servidor, motivá-lo e preservá-lo nas carreiras públicas. Mas a questão é saber se a sociedade está disposta a arcar com os custos desta política, uma vez que ao crescimento da folha sempre corresponde a cobrança de mais tributos".(ITV- nCARTAS DE CONJUNTURA ITV – Nº 74 – ABRIL/2011)
Os sucateiros do Estado apoiam o funcionalismo?
SAUL LEBLON
A greve de setores do funcionalismo público tem sido canibalizada com voragem por esferas do dispositivo midiático demotucano. Veículos e gargantas que se notabilizaram pelo aplauso esférico ao ciclo de privatizações promovido nos governos do PSDB, servindo como lubrificante ideológico ao desmonte do Estado, agora se esponjam no conflito entre as reivindicações dos grevistas e as respostas, inábeis, em certos casos, do governo.
Nesta sexta-feira, (10-08), o jornal Folha de São Paulo conseguiu desengavetar a palavra 'caos' trazendo-a de volta às manchetes em letras garrafais: ' Greve trava estradas e gera caos em Cumbica'. Isso para descrever uma operação padrão que atrasou vôos e gerou filas de caminhões em alfândegas. A soma de todos os engarrafamentos por certo equivale a um farelo do colapso permanente do trânsito em São Paulo, onde a competência tucana conseguiu o colosso de construir a média anual de 1,5 km de metrô em 17 anos de poder.
No sábado (11-08), o mesmo jornal que se notabilizou como sirene da retroescavadeira neoliberal carregou no tom desaforado e provocativo da chamada: 'Dilma diz a grevistas que tem outras prioridades'.
Disse mesmo?
Nas páginas internas, o editor matreiro já se despede da responsabilidade calça o exagero com outro título: 'Em meio a protesto, presidente diz querer serviço público de qualidade'. Na letra miúda do texto, lê-se o seguinte relato dos fatos: 'sem citar diretamente as greves a Presidenta disse que tem de olhar o que é mais importante no país (...) assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque pode e esteve, muitas vezes, desempregada'.
A Presidenta foi vaiada por um grupo de docentes, alunos e servidores de instituições federais de ensino, diz a Folha.Em seguida informa: eram 35.
A recomposição das carreiras, salários e quadros do serviço público é uma prioridade da agenda progressista brasileira. Atacada por uma campanha implacável durante os dois primeiros governos do PT, o resgate do serviço público ganhou margem de manobra ideológica com a crise, que escancarou o risco de se entregar a sociedade aos desígnios dos mercados, sem o contrapeso de um contraponto estatal eficiente e transparente.
Reduzir a despesa rentista com os juros, como tem feito o governo, é um passo importante para gerar folga orçamentária, capaz de beneficiar a educação, a saúde e a infraestrutura pública. Nada disso será feito sem uma atenção gêmea com carreiras, salários e servidores qualificados, capazes de colocar planos e projetos de pé.
Não se trata de 'ideologismo estatizante'.
O país vive uma situação kafkiana:'sobram' recursos públicos em algumas áreas sem que planos de investimentos consigam migrar das intenções para os canteiros de obras.
Será difícil reordenar a macroeconomia do desenvolvimento brasileiro sem
novas empresas públicas que funcionem como espelho e alavanca. O exemplo vem dos bancos estatais.Em seus segmentos eles tem conseguido induzir o mercado a trabalhar pela sociedade, como evidencia a queda nos juros do financiamento imobiliário.
O governo Dilma, o PT e a CUT precisam estabelecer uma convergencia estratégica sobre esse ponto preliminar: a porta entreaberta pela desordem neoliberal exige ousadia para não ser desperdiçada. O mito da eficiência dos livres mercados trincou; sepultá-lo exige instituições, recursos, pactos e desassombro que subordinem os interesses a ele associados. Sem isso a porta se fechará; o passado continuará a asfixiar o futuro, como se comprova na agonia européia, sob tacão ortodoxo.
Faltam recursos? Sempre. Para isso existe a política, por definição uma disputa entre prioridades de classes divergentes. Ademais, recorde-se que a elite nativa que inaugura 'impostômetros' e enche a boca para denunciar a 'carga' ocupa o 4º lugar no pódium dos maiores sonegadores do planeta. Tem US$ 520 bilhões acantonados em paraísos fiscais. Como esse dinheiro chegou lá? Não chegaria sem a inestimável colaboração de bancos e instituições do mercado cujos chefes de departamento de 'análise econômica' inundam os jornais com alertas sobre o 'desequilíbrio fiscal' e oferecem o antídoto:'as reformas', cujo cerne é o escalpo de direitos, de serviços públicos e de folhas de servidores do Estado.
O jornalismo engajado no apoio à greve dos servidores é filho dessa mesma cepa. Tem sido um porta-voz militante contra 'a gastança', incluindo-se aí o custo da 'corrupção', 'inerente', como se sabe, à 'companheirada sindical-petista', conforme a mesma mídia tenta induzir o STF a sentenciar.
Demonização e desqualificação do servidor constituem uma das armas desse arsenal sistêmico anti-estatal e socialmente regressivo.
O conjunto carrega a inoxidável determinação de jogar a classe média contra tudo o que remeta ao interesse público, como se fosse possível pavimentar a convivência compartilhada sem solidariedade fiscal. Habilidosamente, alimenta-se a esquizofrenia que torna o imaginário social receptivo ao discurso dos Demóstenes de plantão: exige-se cortes de gastos nas páginas de economia; denuncia-se a insegurança pública na cobertura policial.
Foi assim também que se deformou o discernimento do país para legitimar o corte de R$ 40 bilhões no orçamento da saúde pública, com a extinção do CPMF, em 2007. Ato contínuo, a mídia 'isenta' discorria sobre o 'caos' nos corredores lotados de macas da rede pública de saúde.
Programas sociais nucleados em torno do Bolsa Família padecem de identico tratamento. Com apenas 0,47% do PIB eles fornecem um piso de renda a 25% da população, expandindo o mercado interno em plena crise mundial. Mas a atenção prioritária do dispositivo midiático é com os 'desvios' dos benefícios, pinçados com lupa para comprovar o 'descontrole da máquina pública'.
Governos e grevistas não podem menosprezar esse pano de fundo histórico sobre o qual se trava a atual campanha salarial. Sem um denomidador comum feito de compromissos políticos em relação ao país e ao futuro, o risco é se perderem numa dízima de porcentagens, oferecendo combustível desagregador a quem sempre esteve do outro lado da mesa.
As entidades dos servidores públicos e a CUT devem se perguntar, objetivamente: na atual relação de forças quem pode liderar o caminho (que não é curto) na construção de um serviço público suficiente, bem remunerado, digno e de qualidade? O governo Dilma , por sua vez, deve saber a essa alura da crise que não existe hipótese de atravessar o Rubicão para o desenvolvimento sustentável sem Estado indutor; isso não se faz com um funcionalismo descontente, professorado sem ânimo e base sindical estilhaçada.
O Instituto Teotônio Vilela, insuspeito think tank tucano, repõe em um texto recente a verdade dessa correlação de forças ao elencar os dados e a posição do conservadorismo sobre fatos hipocritamente dissimulados na cobertura da greve atual. Com a palavra, o PSDB:
"Em 2010, o gasto da União com pessoal atingiu R$ 183,3 bilhões. Isso equivale a mais de R$ 500 milhões por dia. Em 2002, havia sido de R$ 75 bilhões, em valores correntes. O salto registrado ao longo do governo petista foi astronômico", acusa o instituto tucano: "em termos nominais, isto é, sem considerar a inflação, as despesas cresceram 144%. Em valores reais, o ganho do funcionalismo foi de 56%, ou seja, muito acima da elevação do custo de vida no período. Não há quem seja contra um Estado que preste melhores serviços à população. Para tanto, é importante remunerar bem o servidor, motivá-lo e preservá-lo nas carreiras públicas. Mas a questão é saber se a sociedade está disposta a arcar com os custos desta política, uma vez que ao crescimento da folha sempre corresponde a cobrança de mais tributos".(ITV- nCARTAS DE CONJUNTURA ITV – Nº 74 – ABRIL/2011)
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
A positiva objeção de consciência dos médicos na Espanha
O Governo Rajoy, de marcha batida para dar um tom cada vez mais excludente às suas políticas, fez promulgar uma lei que impede o atendimento médico de imigrantes que estejam de forma irregular em terras de espanholas.
Agora, em reação, mais de médicos assinaram documento afirmando que, por uma questão de respeito à ética médica, farão objeção de consciência à medida e atenderão as pessoas independentemente de sua condição legal.
Essa é uma daquelas notícias que alegram a alma, não é? E, deixem-me ser um pouquinho desmancha-prazeres, também dá uma inveja danada. Especialmente para quem vive abaixo da linha do Equador, em terras onde o ofício médico foi colonizado quase por completo pela lógica de mercado.
Agora, em reação, mais de médicos assinaram documento afirmando que, por uma questão de respeito à ética médica, farão objeção de consciência à medida e atenderão as pessoas independentemente de sua condição legal.
Essa é uma daquelas notícias que alegram a alma, não é? E, deixem-me ser um pouquinho desmancha-prazeres, também dá uma inveja danada. Especialmente para quem vive abaixo da linha do Equador, em terras onde o ofício médico foi colonizado quase por completo pela lógica de mercado.
Uma análise criativa sobre a desigualdade social na Amérca Latina
A revista NUEVA SOCIEDAD, uma das mais importantes publicações dedicadas à análise social latino-americana, traz, em seu último número, um dossiê sobre a desigualdade social no nosso continente.
Os artigos abordam desde as causas estruturais da nossa desigualdade até as políticas sociais desenvolvidas na décadas passadas e direcionadas à diminuição de nossas mazelas.
Dentre os artigos, destaco aquele de autoria de Hans-Jürgen Burchardt. Trata-se de uma interessante aposta na mobilização do arsenal teórico de Norbert Elias para entender os nossos dilemas. Especialmente daqueles enraizados nosso hermano mais ao sul, a Argentina. Vale a pena conferir! Leia Por qué América Latina es tan desigual? Tentativas de explicación desde una perspectiva inusual e tenha contato com uma abordagem fora do lugar-comum.
Em tempo: a perspectiva esposada pelo autor tem interessantes pontos de contato com a empresa teórica desenvolvida por Jessé Souza.
Os artigos abordam desde as causas estruturais da nossa desigualdade até as políticas sociais desenvolvidas na décadas passadas e direcionadas à diminuição de nossas mazelas.
Dentre os artigos, destaco aquele de autoria de Hans-Jürgen Burchardt. Trata-se de uma interessante aposta na mobilização do arsenal teórico de Norbert Elias para entender os nossos dilemas. Especialmente daqueles enraizados nosso hermano mais ao sul, a Argentina. Vale a pena conferir! Leia Por qué América Latina es tan desigual? Tentativas de explicación desde una perspectiva inusual e tenha contato com uma abordagem fora do lugar-comum.
Em tempo: a perspectiva esposada pelo autor tem interessantes pontos de contato com a empresa teórica desenvolvida por Jessé Souza.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Ainda o artigo do Avritzer: um comentário do Roberto Grün
Postei aqui um artigo do Professor Leonardo Avritzer analisando as razões do embate na presente greve dos professores das federais. O Professor Roberto Grün, amigo docente da UFScar, fez um comentário e eu faço questão de retirá-lo lá do cantinho escondido onde estava e destacá-lo. Caso você não tenha lido o texto do Avritzer, clique aqui.
Roberto Gründisse...
Olha Edmilson, nessa história do Avritzer generaliza a partir de um espaço restrito e tem problemas evidentes. P.ex., no meu depto e em várias outras especialidades da engenharia, se não contratamos jovens mestres ou mesmo mestrandos, não teremos professores para disciplinas essenciais na formação do engenheiro. Esses novos ingressantes terão um longo período à frente até (e se) virarem doutores. Eqto isso têm de ficar ganhando MUITO menos do q ganhariam no mercado. E isso tb acontece em várias áreas, nas artes, p.ex. A proposta proifes é muito ruim para eles (no meu depto são 6 em 40. Acho q essa proporção deve ser a mesma na civil, elétrica e outras.
Esse pessoal está mobilizado e muito crítico em relação ao proifes. Mas como poderiam não estar??
Vc sabe q estou longe de defender a Andes, mas foi ela q acordou o governo e a proposta dela, por mais maluca q seja no geral (concordo, é claro, com a questão da progressão por mérito e abomino esses pseudocomunitarismos dos caras)acabaria dando um refresco para a base de q estou falando.
Acho q essa greve é trágica para a Universidade pq muito provavelmente vai desfazer a boa vontade de todos com o MEC, q é vital para a continuidade da expansão dos últimos anos. E essa, já te disse, foi a melhor coisa q aconteceu para a educação superior brasileira nos últimos 40 anos (desde q passei no vestibular kkk).
Em suma, aos meus olhos o jogo não é simplesmente a racionalidade do proifes contra a maluquice da andes.É bem mais complexo e passa, dói dizer, tb por mais racionalidade do governo federal, q parece ter adormecido em berço esplêndido e se esqueceu de auscultar suas próprias bases.
Abs
Roberto Gründisse...
Esse pessoal está mobilizado e muito crítico em relação ao proifes. Mas como poderiam não estar??
Vc sabe q estou longe de defender a Andes, mas foi ela q acordou o governo e a proposta dela, por mais maluca q seja no geral (concordo, é claro, com a questão da progressão por mérito e abomino esses pseudocomunitarismos dos caras)acabaria dando um refresco para a base de q estou falando.
Acho q essa greve é trágica para a Universidade pq muito provavelmente vai desfazer a boa vontade de todos com o MEC, q é vital para a continuidade da expansão dos últimos anos. E essa, já te disse, foi a melhor coisa q aconteceu para a educação superior brasileira nos últimos 40 anos (desde q passei no vestibular kkk).
Em suma, aos meus olhos o jogo não é simplesmente a racionalidade do proifes contra a maluquice da andes.É bem mais complexo e passa, dói dizer, tb por mais racionalidade do governo federal, q parece ter adormecido em berço esplêndido e se esqueceu de auscultar suas próprias bases.
Abs
Qual o sentido da ascensão do Partido Pirata?
É realmente uma boa novidade política a recente ascensão do Partido Pirata em continente europeu? O que há por trás da entrada em cena desse ator? O texto abaixo toca nessas e em outras questões que merecem um cadinho de nossa atenção. Vale a pena conferir!
¿Quién le teme a los piratas? Una competencia poco ortodoxa para los partidos europeos
En una democracia, debería resultarle difícil ganar espacio político a un partido que no tiene una posición clara en asuntos nacionales relevantes, y cuyos principales candidatos dan respuestas equivocadas a preguntas concretas por falta de conocimiento. Sin embargo, en Alemania ocurre lo contrario. Una pequeña agrupación política con fuerte presencia en Internet está alterandor el sistema alemán de partidos. Justamente, su ignorancia no disimulada y la convicción de que sus ideas no se basan en una ideología, tienen un eco positivo en muchos electores jóvenes y en aquellos desilusionados de los partidos políticos establecidos. Por ello, en este momento, el Partido Pirata es muy cotizado entre los votantes alemanes.
Los Piratas nacieron en Suecia (1), donde un grupo de activistas de Internet, descontentos con la concepción política de la red por parte de los partidos establecidos, fundó su propio partido en 2006. El tema principal de los piratas es, precisamente, el uso libre de Internet. Esto se refiere tanto a la protección de los datos y a los derechos individuales como el libre intercambio de bienes en Internet, e implica cambios importantes en el derecho de autor, el derecho de patentes y la protección de marcas.
En las elecciones nacionales, el Partido Pirata sueco quedó muy por debajo del 1% de los votos. Sin embargo, en las elecciones europeas de 2009 sorprendió con un resultado electoral de 7,1%, que le permitió enviar una representante al Parlamento Europeo. (...) Clique aqui e leia o restante do texto.
¿Quién le teme a los piratas? Una competencia poco ortodoxa para los partidos europeos
Por Jan-Niklas Engels
En una democracia, debería resultarle difícil ganar espacio político a un partido que no tiene una posición clara en asuntos nacionales relevantes, y cuyos principales candidatos dan respuestas equivocadas a preguntas concretas por falta de conocimiento. Sin embargo, en Alemania ocurre lo contrario. Una pequeña agrupación política con fuerte presencia en Internet está alterandor el sistema alemán de partidos. Justamente, su ignorancia no disimulada y la convicción de que sus ideas no se basan en una ideología, tienen un eco positivo en muchos electores jóvenes y en aquellos desilusionados de los partidos políticos establecidos. Por ello, en este momento, el Partido Pirata es muy cotizado entre los votantes alemanes.
Los Piratas nacieron en Suecia (1), donde un grupo de activistas de Internet, descontentos con la concepción política de la red por parte de los partidos establecidos, fundó su propio partido en 2006. El tema principal de los piratas es, precisamente, el uso libre de Internet. Esto se refiere tanto a la protección de los datos y a los derechos individuales como el libre intercambio de bienes en Internet, e implica cambios importantes en el derecho de autor, el derecho de patentes y la protección de marcas.
En las elecciones nacionales, el Partido Pirata sueco quedó muy por debajo del 1% de los votos. Sin embargo, en las elecciones europeas de 2009 sorprendió con un resultado electoral de 7,1%, que le permitió enviar una representante al Parlamento Europeo. (...) Clique aqui e leia o restante do texto.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Grevistas das federais nas ruas...de Paris e de Buenos Aires
Um colega, professor de uma Universidade Federal em greve há dois meses, fez uma pesquisa no Facebook e descobriu que os coleguinhas estão nas ruas. Não em passeatas, claro. Mas, oh vida dura!, batendo pernas em Paris ou Buenos Aires.
A população, que paga a conta, já que os grevistas recebem normalmente os salários no final de cada mês, recebe, em troca, hospitais universitários funcionando com dificuldades, rodovias fechadas e seus filhos impedidos de estudar.
A população, que paga a conta, já que os grevistas recebem normalmente os salários no final de cada mês, recebe, em troca, hospitais universitários funcionando com dificuldades, rodovias fechadas e seus filhos impedidos de estudar.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Comentários no twitter
Siga-me no twitter! Lá, estarei comentando (e me divertindo) com o debate com os candidatos à prefeitura de Natal. Me divertindo? Sim, claro! Depois de uma batida no carro, tenho que espairecer, não é?
Debate com os candidatos a prefeito de Natal
Está começando o debate entre os candidatos a prefeito de Natal. As regras estão sendo expostas. O mesmo engessamento de sempre. Será que alguém conseguirá assistir ao programa até o fim.
Na bancada, estão Carlos Eduardo Alves (PSB), Fernando Mineiro (PT), Hermano Morais (PMDB), Robério Paulino (Psol) e Rogério Marinho (PSDB).
Na bancada, estão Carlos Eduardo Alves (PSB), Fernando Mineiro (PT), Hermano Morais (PMDB), Robério Paulino (Psol) e Rogério Marinho (PSDB).
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