quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Existir é ser visto?

Transcrevo abaixo trechos de um artigo de autoria de Umberto Eco. O texto foi publicado na edição de segunda-feira do CLARIN. A tradução das partes abaixo é de responsabilidade do EX-BLOG DO CÉSAR MAIA. Vale a pena conferir!

1. Já há algum tempo a ênfase na reputação cedeu lugar à ênfase na notoriedade. O que importa é ser “reconhecido” pelos outros. Não no sentido de estima ou de prêmios, mas no sentido mais banal de quando se é visto na rua podem dizer: “Olhem, é ele/a”. A chave está em ser visto por muita gente e a melhor forma de fazer isto é aparecer na TV.

2. Pelo menos na Itália esses primeiros heróis foram os “papagaios de pirata” que na noite seguinte num bar ouviam: Vi você na TV, ontem. Mas a fama não durava muito tempo. De forma que gradualmente foi aceito que para poder fazer aparições frequentes e proeminentes, era necessário fazer coisas que, em épocas passadas, teriam arruinado a reputação de uma pessoa.

3. Não é que não se aspire a ter uma boa reputação, mas é bastante difícil adquiri-la. É mais fácil converter-se em uma pessoa de interesse popular, especialmente, o que facilita, nas variedades mais mórbidas. Não estou brincando. Esses momentos de exposição e notoriedade bem valem até um tempinho na cadeia.

4. Esse desejo frenético de ser visto, e de obter notoriedade a qualquer preço, mesmo que signifique fazer algo que antes era considerado vergonhoso, é porque se vai perdendo o sentido da vergonha, pois, atualmente, é mais importante ser visto, ainda que isso signifique o risco de cair em desgraça.

5. É tanto o valor que se dá ser visto, e assim converter-se em tema nas conversas, que pessoas estão dispostas a abandonar, sem temores, o que antes era chamado de decência (e até a proteção da própria privacidade).

Um comentário:

Rodrigo Aguiar disse...

Embora cada vez mais iluminados por holofotes e câmeras fotográficas, estamos vivendo em tempos cada vez mais obscuros...