quarta-feira, 26 de junho de 2013

A iniciativa de Dilma e os efeitos perversos

Uma das lições da melhor sociologia é que a análise dos fenômenos sociais não pode ser empreendida tendo-se como referência predominantemente as vontades e intenções dos atores envolvidos. Não porque eles não sejam sinceros (embora nem sempre eles o sejam), mas, sim, porque ao atuar em direção os atores produzem resultados diferentes (ou até antagônicos) aos seus interesses iniciais.

Isso acontece na política, isso acontece na vida. Na sua e na minha. O problema é que estamos sempre muito prisioneiros das análises causais, e, por isso, temos dificuldades de apreender os fatos sociais como composição de resultados não intencionados pelos atores. Até porque, sejamos francos, estes tendem a racionalizar a posteriori os resultados obtidos. E, frequentemente, incorporam-nos como desejados desde o começo. Quando criança, você queria ser astronauta, mas, quando a meia idade chegou, você se descobriu professor de sociologia...

E aí, meu caro? O que isso quer dizer? Já ouço você reclamando aí. Bom, se chegou até aqui, acho que foi movido pelo título lá em cima, não foi? Batata! Vamos lá, então.

Olha, Dilma tomou a iniciativa. Meio atabalhoadamente, é certo. Mas saiu do canto do ringue, não é? Basta você lembrar aí a reação de Aécio e Agripino... Puramente defensivas. Mas, como eu ia dizendo, essa iniciativa foi atabalhoada. Por quê? Porque faltou combinar com parte do seu time. E este, como vimos nas intervenções de Michel Temer e Henrique Alves, não está achou graça nenhuma da ideia de constituinte exclusiva. A Presidenta fez o quê? O que não podia deixar de fazer: recuar.

Mas há algo pior no horizonte. A iniciativa foi boa, mas pode abrir uma caixa de pandora. E aí, lembremos, coisas como voto distrital poderão emplacar. E isso seria um desastre, especialmente para a esquerda. É assim no mundo todo.

Ou seja, até o momento, Dilma vai indo bem. Mas os resultados de sua movimentação política, meio errática inegavelmente, podem não ser tão bons assim.

PS: Este post foi inspirado em comentário feito pelo meu amigo Beto na postagem abaixo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes, acho que o melhor é nem mexer. Só, no máximo, nesse negócio de coligação, que impede responsividade vertical, enfraquece os partidos, super-representa os menores e subrepresenta as agremiações mais consistentes e distancia o eleitor do eleito (depois vem aquele moralismo de culpar o eleitor, dizendo que ele esqueceu do seu voto e não sabe escolher e tal).
E tens razão - o voto distrital perde espaço em tudo que é canto por quebrar um dos pilares fundamentais de uma eleição democrática - a possibilidade de estabelecer uma competição minimamente justa.
Agora, não raro, leio gente arguindo em favor do voto misto - distrital e proporcional.
Não sei aonde vi que também seria problemático, pois aonde foi implementado, criou dois deputados, o vitalício, pela insolúvel relação a com a clientela que o distrito promove, e o que tinha maior rotatividade.
No final, acho que Alan Lacerda tem razão quando enfatiza os altos custos de incerteza envolvidos. Diante disso, os atores recuam, o que minimiza a possibilidade de ocorrer grandes mudanças.
Abs. Daniel Menezes...

Beto disse...

Pois é isto aí, Edmilson. Se algum marciano desavisado desse uma sobrevoada por aqui, acharia que quem estiver propondo plebiscito para fazer a reforma política tem, entre seus objetivos, pelo menos duas coisas:
1 - Fim da reeleição para cargos executivos.
2 - Voto distrital mixto, com liberou geral para candidaturas avulsas.

Será o Lula lá again? Vôte, como diriam os tucanos nordestinos...

Beto disse...

Ops, no ponto 2 do meu comentário quis dizer voto distrital puro, com liberou geral para candidaturas avulsas e não voto distrital misto.