sábado, 29 de junho de 2013

Dilma, a pesquisa Datafolha e o jogo

Não pouca gente, especialmente no PT, achava que o jogo seria fácil e que a fatura estava liquidada no que se refere às eleições de 2014. Em conversas com amigos, vez ou outra, procurava demovê-los dessas ilusões. Mas quem quer ouvir algo que conspira contra suas certezas?

As pesquisas Datafolha de hoje, sobre a avaliação do governo, e, mais especialmente a de amanhã, sobre a corrida presidencial, caíram como uma bomba no arraial petista. Não vou repetir os números aqui; eles estão em reproduzidos em todos os quadrantes da rede. O que eu queria chamar a atenção é para o seguinte: se antes, não se teve sensibilidade para perceber a dureza do jogo, agora, quando isso fica evidente, não dá para cair no desespero e buscar "saídas mágicas".

Em primeiro lugar, a queda expressiva de Dilma e a ascensão de Marina (forte), Aécio (menos forte) e Eduardo (menos forte ainda) não podem ser tomados como dados definitivos. Lembrem-se das pesquisas eleitorais de todas as eleições presidenciais de 1994 para cá e vocês terão elementos para tomar cuidado com ascensões e quedas de intenções de votos momentâneas.

Em segundo lugar, Dilma está naquele que é o patamar do eleitorado mais marcadamente petista. Dilma precisará mais do que nunca do PT, essa a mensagem da pesquisa. Por isso mesmo, o resultado das eleições internas do partido passarão a ser acompanhadas com lupa pelo Planalto.

O Governo Dilma, para o bem e para o mal, não construiu uma boa relação com a base petista. Pro bem e pro mal, pois, sei bem, algumas das demandas dessa base não são nem razoáveis e nem politicamente aceitáveis (cerceamento dos meios de comunicação, por exemplo).

Em terceiro, gostem ou não os petistas e seus intelectuais mais descolados, Dilma necessita reconstruir a sua relação com os evangélicos. Ela se deixou levar pela onda criada pela aguerrida militância gay (que, no fundo, não é tão simpática à presidenta e nunca estará satisfeita com as suas ações em prol dos direitos civis dos GLBTs) em torno do Deputado Feliciano. O seu distanciamento não foi tão grande. E a bancada petista ajudou a criar tensões e reproduzir preconceitos.

Quarto, e voltando à pesquisa Datafolha, o PT e a militância petista não têm feito política de verdade sob o governo Dilma. Fizeram, e bem, no Governo Lula. Essa militância, com boa irradiação nos movimentos sociais, foi fundamental para neutralizar os efeitos maléficos do Mensalão sobre o Governo Lula e o próprio processo eleitoral de 2006. Lembremos ainda que a blogosfera petista foi fundamental na desconstrução das proposta de Geraldo Alckmim. Tem até estudos acadêmicos sobre isso. O mesmo, sejamos francos, não ocorrer no Governo Dilma.

Por que não ocorrer? Por várias razões. Muitas delas alicerçadas nas melhores das intenções. Mas, como dizem, de boas intenções o inferno está cheio. E desde que um certo florentino resolveu dar algumas dicas ao seu Príncipe, e isso faz alguns séculos, não dá para analisar (e, talvez, nem fazer) política alicerçado apenas em boas intenções. Mas, voltando à questão, o fato é que essa relação entrou em crise. O estilo de governo Dilma, centralizador e gerencialista, não potencializou o tratamento político de questões candentes como o patinar da economia e a pouca agilidade na entrega de obras públicas estratégicas (na área da infraestrutura).

Resumo da ópera: é cedo, muito cedo, para construir afirmações peremptórias sobre o processo eleitoral. Não estou, longe disso!, minimizando os efeitos corrosivos da antipolítica sobre a disputa que se aproxima. Nem tenho ilusões a respeito de quem é o/a principal beneficiário: Marina Silva.

Os petistas não podem sair de um jogo no qual, de verdade, eles tem atuado com muita pouca vontade. A economia é fundamental? Claro! E eu vou logo fazer um post sobre essa dimensão, digamos, para relembrar antigas crenças, infraestrutural. Mas é no terreno da política, da disputa de valores e elementos culturais, que está se desenhando o embate. Aí, meus caros, quem não joga direito, não planeja cada lance cuidadosamente, quem acredita na genialidade inata do seu futebol-arte, cava a sua própria derrota.

Por isso, não é sem sentido avisar: a pesquisa Datafolha é apenas um momento do jogo e ele ainda não está nem na metade do primeiro tempo. Calma aí, pessoal!

5 comentários:

Anônimo disse...

Professor, Dilma, com aquela história de faxina e pose de gerentona, alimentou discurso antipolítica. É uma (auto) crítica que merece ser feita. Pelos jornais nacionais, me parece que ela já entendeu o recado. Parabéns pelo texto. Abs. daniel.

Edmilson Lopes Júnior disse...

Caro Daniel,

tê-lo como leitor é uma grande conquista deste blog. O seu comentário, como sempre, é assertivo.

Um abraço,

Edmilson Lopes

Unknown disse...

Amigo estou lhe desconhecendo, retomar aliança com o conservadorismo evangélico é demais! Aione

Edmilson Lopes Júnior disse...

Cara Aione,

em primeiro lugar, muitíssimo obrigado pela leitura e pelo comentário. Pois é, acho que é necessário dialogar com a população evangélica. O que não significa submeter-se à uma pauta específica. O que advogo, na verdade, é uma relação mais respeitosa com as demandas por reconhecimento expressas pelos evangélicos, que são quase 30% da população brasileira.

Big abraço,

Edmilson Lopes

Vera disse...

Amigo, Edmilson, estou conhecendo seu blog e estou realmente feliz. Sei que seus comentários vai ajudar a entender o atual momento político deste país. Um abraço forte.