terça-feira, 15 de setembro de 2009
Palestra imperdível
No próximo dia 21 de setembro, segunda-feira, no horário das 14 horas, no Auditório do Laboratório de Filosofia da Psicologia da UFRN, o Professor Daniel Durante, do Departamento de Filosofia (também da UFRN), proferirá uma palestra intitulada "O conceito de paradigma: a filosofia da ciência de Thomas Kuhn".
Palavra e democracia
Reprouzo mais abaixo artigo de autoria do jornalista Marcos Rolim. Ex-deputado federal pelo PT do RS, Rolim atualmente se dedica a uma ativa militância em defesa dos direitos humanos e ao trabalho de consultor na área de segurança pública. Sua verve crítica e a sua crítica rigorosa ao empobrecimento da vida política nacional transparecem no pequeno texto que disponibilizo. Boa leitura!
PALAVRA E DEMOCRACIA
Marcos Rolim
Jornalista
Em um sentido aristotélico, “retórica” era a virtude da persuasão. Uma capacidade essencial para a democracia ateniense, onde as decisões dependiam do encantamento produzido pelo discurso. Platão se tornou um crítico da retórica, porque a identificou com a manipulação da verdade pelos sofistas; mas nunca a abandonou, chegando a sonhar com uma arte da argumentação capaz de convencer os deuses; ou seja, uma virtude comunicativa que, para além de toda demagogia, pudesse convencer a audiência mais exigente.
Devemos em grande parte ao filósofo polonês Chaim Perelman a revalorização moderna da retórica, após longo período de aniquilamento positivista. Como arte da argumentação, a retórica é um recurso da democracia, porque necessária à persuasão, única forma de superar conflitos que não estão dispostos pela ordem da verdade. Sem a palavra bem disposta, afinal, não há como produzir acordo sobre o justo, ou o bom; nem como decidir diante de antagonistas com interesses legítimos.
Por isso, quando a palavra perde seu valor, é a democracia que adoece. Quando a palavra é pouco mais que um gesto avulso; quando o discurso é só artifício; quando o que foi dito ontem já não vale; quando minha palavra é “ética” a depender da rua por onde ando, então não há acordo possível e duas portas se abrem: a do cinismo e a da violência.
A democracia que temos já não tem política. Nela, o futuro se ausentou porque as palavras não autorizam expectativas. Será preciso reinventá-la, entretanto, antes de desesperar. Porque o desespero é só silêncio e o melhor do humano é a palavra.
PALAVRA E DEMOCRACIA
Marcos Rolim
Jornalista
Em um sentido aristotélico, “retórica” era a virtude da persuasão. Uma capacidade essencial para a democracia ateniense, onde as decisões dependiam do encantamento produzido pelo discurso. Platão se tornou um crítico da retórica, porque a identificou com a manipulação da verdade pelos sofistas; mas nunca a abandonou, chegando a sonhar com uma arte da argumentação capaz de convencer os deuses; ou seja, uma virtude comunicativa que, para além de toda demagogia, pudesse convencer a audiência mais exigente.
Devemos em grande parte ao filósofo polonês Chaim Perelman a revalorização moderna da retórica, após longo período de aniquilamento positivista. Como arte da argumentação, a retórica é um recurso da democracia, porque necessária à persuasão, única forma de superar conflitos que não estão dispostos pela ordem da verdade. Sem a palavra bem disposta, afinal, não há como produzir acordo sobre o justo, ou o bom; nem como decidir diante de antagonistas com interesses legítimos.
Por isso, quando a palavra perde seu valor, é a democracia que adoece. Quando a palavra é pouco mais que um gesto avulso; quando o discurso é só artifício; quando o que foi dito ontem já não vale; quando minha palavra é “ética” a depender da rua por onde ando, então não há acordo possível e duas portas se abrem: a do cinismo e a da violência.
A democracia que temos já não tem política. Nela, o futuro se ausentou porque as palavras não autorizam expectativas. Será preciso reinventá-la, entretanto, antes de desesperar. Porque o desespero é só silêncio e o melhor do humano é a palavra.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
A academia em foco
Leia abaixo artigo publicado no jornal Folha de São Paulo. Leitura obrigatória!
LUIZ FELIPE PONDÉ
Um relatório para a Academia
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Cálculos para garantia do emprego ocupam o tempo da classe acadêmica
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CLÓVIS ROSSI pergunta em sua coluna do dia 8 de setembro, página A2, se no Brasil vivemos algo como o que acontece na vida universitária da Espanha hoje: desinteresse dos alunos e asfixia burocrática dos professores. Sim, há semelhanças.
Nos anos 50, o filósofo norte-americano Russel Kirk descrevia um fenômeno interessante nas universidades americanas.
A partir do momento em que a vida acadêmica se tornou objetivo da "classe média", gente sem posses, a vida universitária entrou em agonia porque a proletarização dos acadêmicos se tornou inevitável.
Dar aula numa universidade passou a ter algum significado de ascensão social. A partir de então o carreirismo necessariamente assolaria a academia, assim como assola qualquer emprego.
Cálculos estratégicos para garantia do emprego passaram a ocupar o tempo da classe acadêmica. E muita gente que vai dar aulas na universidade não é tão brilhante assim ou tão interessada em conhecimento.
O cálculo estratégico hoje passa pelo número de alunos que implica uma redução ou não de aulas e orientações de teses.
Ou mesmo nas públicas, onde você está mais protegido da proletarização imediata, uma verba maior ou menor para seu projeto e mais ou menos discípulos causarão impacto na renda final e na imagem pública.
Daí o desenvolvimento em nós de um espírito selvagem: o corporativismo em detrimento do ensino ou o ethos de gangues em meio à retórica da qualidade.
Muitas pessoas (alunos e professores) buscam a universidade não para "conhecer" o mundo, mas sim "para transformá-lo" ou ascender socialmente.
E aqui, revolucionários ("criando o mundo que eles acham melhor") e burgueses (interessados em aprender informática para "melhorarem de vida") se dão as mãos.
Este pode ser mais individualista do que o outro, mas ambos fazem da universidade uma tenda de utilidades.
Para mim não faz muita diferença, para a banalização da universidade, se você quer formar gestores de negócios ou gestores de favelas. Nenhum dos dois está interessado em "conhecer" o mundo, mas sim "transformá-lo".
É claro que nos gestores de favelas o espírito selvagem pode funcionar tão bem quanto entre os gestores de negócios. A obrigação da universidade em produzir "conhecimento de impacto social" é tão instrumental quanto produzir especialistas na última versão do Windows.
O utilitarismo quase sempre ama a mediocridade intelectual. Falemos a verdade: a mediocridade funciona.
Ela gera lealdades, produz resultados em massa, convive bem com a estatística, evita grandes ideias. Enfim, caminha bem entre pessoas acuadas pela demanda de sobreviver.
A instrumentalização é quase sempre outro nome para utilitarismo. Isso não quer dizer que devamos excluir da universidade as almas que querem ser gestores de negócios ou gestores de favelas -elas é que excluem todo o resto.
Precisamos dos dois tipos de almas, e cá entre nós, acho que os gestores de favelas são moralmente mais perigosos do que os gestores de negócios. Como todos nós, ambos irão para o inferno, a diferença é que os gestores de favelas acham que não.
E a asfixia burocrática? Ahhh, a asfixia burocrática! Esta contamina tudo e em nome da democratização da produção e da produtividade da produção.
A burocracia na universidade nasce, como toda burocracia, da necessidade de organização, controle, avaliação.
Não é um sintoma externo a busca de aperfeiçoamento do sistema, é parte intrínseca ao sistema. A pressão pela produtividade proletariza tanto quanto a pressão pela carreira.
Soa absurdo, caro leitor? Quer mais?
Em nome da transparência da produção, atolamos esses indivíduos de classe média na burocracia da transparência e do acesso à produção universitária.
Enfim, a "produção" asfixia a universidade em nome de uma "universidade mais produtiva, democrática e transparente em sua produtividade". Estamos sim falando da passagem da universidade a banal categoria de indústria de conhecimento aplicado, e sob as palmas bobas de quem quer "fazer o mundo melhor". Tudo bem que queira, mas reconheça sua participação na comédia.
Kafka, em seu conto "Um Relatório para a Academia", já colocava um ex-macaco, recém-homem, fazendo um relatório para os acadêmicos.
Ali ele já suspeitava que a academia continha algo de circo ou show de variedades. Hoje sabemos que isto já aconteceu.
LUIZ FELIPE PONDÉ
Um relatório para a Academia
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Cálculos para garantia do emprego ocupam o tempo da classe acadêmica
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CLÓVIS ROSSI pergunta em sua coluna do dia 8 de setembro, página A2, se no Brasil vivemos algo como o que acontece na vida universitária da Espanha hoje: desinteresse dos alunos e asfixia burocrática dos professores. Sim, há semelhanças.
Nos anos 50, o filósofo norte-americano Russel Kirk descrevia um fenômeno interessante nas universidades americanas.
A partir do momento em que a vida acadêmica se tornou objetivo da "classe média", gente sem posses, a vida universitária entrou em agonia porque a proletarização dos acadêmicos se tornou inevitável.
Dar aula numa universidade passou a ter algum significado de ascensão social. A partir de então o carreirismo necessariamente assolaria a academia, assim como assola qualquer emprego.
Cálculos estratégicos para garantia do emprego passaram a ocupar o tempo da classe acadêmica. E muita gente que vai dar aulas na universidade não é tão brilhante assim ou tão interessada em conhecimento.
O cálculo estratégico hoje passa pelo número de alunos que implica uma redução ou não de aulas e orientações de teses.
Ou mesmo nas públicas, onde você está mais protegido da proletarização imediata, uma verba maior ou menor para seu projeto e mais ou menos discípulos causarão impacto na renda final e na imagem pública.
Daí o desenvolvimento em nós de um espírito selvagem: o corporativismo em detrimento do ensino ou o ethos de gangues em meio à retórica da qualidade.
Muitas pessoas (alunos e professores) buscam a universidade não para "conhecer" o mundo, mas sim "para transformá-lo" ou ascender socialmente.
E aqui, revolucionários ("criando o mundo que eles acham melhor") e burgueses (interessados em aprender informática para "melhorarem de vida") se dão as mãos.
Este pode ser mais individualista do que o outro, mas ambos fazem da universidade uma tenda de utilidades.
Para mim não faz muita diferença, para a banalização da universidade, se você quer formar gestores de negócios ou gestores de favelas. Nenhum dos dois está interessado em "conhecer" o mundo, mas sim "transformá-lo".
É claro que nos gestores de favelas o espírito selvagem pode funcionar tão bem quanto entre os gestores de negócios. A obrigação da universidade em produzir "conhecimento de impacto social" é tão instrumental quanto produzir especialistas na última versão do Windows.
O utilitarismo quase sempre ama a mediocridade intelectual. Falemos a verdade: a mediocridade funciona.
Ela gera lealdades, produz resultados em massa, convive bem com a estatística, evita grandes ideias. Enfim, caminha bem entre pessoas acuadas pela demanda de sobreviver.
A instrumentalização é quase sempre outro nome para utilitarismo. Isso não quer dizer que devamos excluir da universidade as almas que querem ser gestores de negócios ou gestores de favelas -elas é que excluem todo o resto.
Precisamos dos dois tipos de almas, e cá entre nós, acho que os gestores de favelas são moralmente mais perigosos do que os gestores de negócios. Como todos nós, ambos irão para o inferno, a diferença é que os gestores de favelas acham que não.
E a asfixia burocrática? Ahhh, a asfixia burocrática! Esta contamina tudo e em nome da democratização da produção e da produtividade da produção.
A burocracia na universidade nasce, como toda burocracia, da necessidade de organização, controle, avaliação.
Não é um sintoma externo a busca de aperfeiçoamento do sistema, é parte intrínseca ao sistema. A pressão pela produtividade proletariza tanto quanto a pressão pela carreira.
Soa absurdo, caro leitor? Quer mais?
Em nome da transparência da produção, atolamos esses indivíduos de classe média na burocracia da transparência e do acesso à produção universitária.
Enfim, a "produção" asfixia a universidade em nome de uma "universidade mais produtiva, democrática e transparente em sua produtividade". Estamos sim falando da passagem da universidade a banal categoria de indústria de conhecimento aplicado, e sob as palmas bobas de quem quer "fazer o mundo melhor". Tudo bem que queira, mas reconheça sua participação na comédia.
Kafka, em seu conto "Um Relatório para a Academia", já colocava um ex-macaco, recém-homem, fazendo um relatório para os acadêmicos.
Ali ele já suspeitava que a academia continha algo de circo ou show de variedades. Hoje sabemos que isto já aconteceu.
Sociologia da criança
Reproduzo mais abaixo matéria publicada no site A página sobre a sociologia da criança. Vale a pena conferir!
Criança tem voz própria
(Pelo menos para a Sociologia da Infância)
Ideia chave que ressalta da entrevista à professora Manuela Ferreira da FPCE da Universidade do Porto
Professora auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade do Porto, Manuela Ferreira inicia o seu percurso profissional como educadora de infância, trabalhando em jardins da rede pública. Posteriormente licencia-se em Ciências da Educação na FPCE-UP, onde, desde então, tem leccionado as disciplinas de Ciências Sociais e Sociologia da Educação. Tem desenvolvido investigação na área da Sociologia da Infância - tema da entrevista que se segue - e dos Estudos de Género.
A Sociologia da Infância é uma área das ciências sociais com uma implantação relativamente recente no universo académico. Em que contexto surge?
A preocupação em estudar a criança do ponto de vista da Sociologia não é propriamente recente, basta pensar no conceito de socialização. O que é novo, é uma inversão do olhar que, ao assumir a autonomia conceptual das crianças e da infância, advoga que as suas culturas e relações sociais são dignas de serem estudadas em si mesmas, no presente e não no seu futuro como adultas, a partir da sua própria voz e não apenas através daquilo que os adultos dizem delas. Trata-se de colocar as crianças em equidade conceptual relativamente a outros grupos ou categorias sociais, uma vez que se considera que elas são seres activos na construção e determinação das suas vidas e dos que as rodeiam, adultos e outras crianças. Ora, é fundamentalmente a partir dos anos oitenta, que ganha visibilidade no mundo anglo-saxónico um conjunto de estudos de diversas áreas, desde a História Social, à Antropologia, Economia e Sociologia, que têm em comum a criança como unidade de observação. Claro que esta deslocação do foco para a acção da criança e a sua consideração como actor social não pode ser compreendida se não se entrar em linha de conta com as transformações que ocorreram dentro do próprio campo sociológico, nomeadamente dos debates entre as perspectivas mais estruturalistas e as que põem a tónica na acção social.
De que forma caracterizaria o campo de acção da Sociologia da Infância?
Como já referi, a Sociologia da Infância procura tomar as crianças como o seu centro de interesse, a partir de si próprias e não da sua dedução dos quadros instituídos de que estão dependentes. Essa preocupação tem-se traduzido em modos diferentes de construir sociologicamente a infância, tanto do ponto de vista teórico como metodológico. Há perspectivas que têm tido como preocupação mostrar que a infância não é uma realidade finita com uma forma única mas antes uma pluralidade de concepções que co-existem e são produto de uma construção social e histórica. Outras, procuram mostrar que mesmo que a infância varie historicamente e os seus membros mudem continuamente, a infância é uma categoria estrutural distinta e permanente das sociedades humanas. Aqui, a tónica é sobretudo colocada nas características sociais mais uniformes que permitem defini-la como grupo social constitutivo da sociedade, à semelhança de outras categorias estruturais como o género ou a classe social. Outras ainda, procuram enfatizar as crianças como actores sociais competentes, ou seja; com poder de acção e tomada de iniciativa, valorizando a sua capacidade de produção simbólica e a constituição das suas práticas, representações, crenças e valores em sistemas organizados social e culturalmente. Ou seja, as crianças serem reconhecidas como uma estrutura e um grupo social próprio... Exactamente. Não pode haver sociedades sem infância, por isso ela é uma categoria estrutural permanente. Para pensar a infância como categoria estrutural distinta de outras categorias como a classe social, o género ou etnia, a idade torna-se uma variável importante porque singulariza as crianças de acordo com as suas características mais comuns, sejam elas físicas, psicológicas, morais, afectivas, sociais. Isso permite uma maior compreensão da sua situação estrutural por referência ao adultos de quem estão ou são vistas como dependentes e perante quem têm menos poder e uma maior evidência de que também elas estão sujeitas às mesmas possibilidades e constrangimentos que são colocados pelos sistemas e estruturas sociais, geracionais e genderizados. Neste sentido, as crianças são vistas como uma categoria universal, um grupo social, que emerge dos constrangimentos que as estruturas sociais, económicas e determinadas políticas lhes colocam e que sistematicamente as excluem daquelas esferas sociais. De outro ângulo, uma vez que é nas instituições e nas acções sociais que aí desenvolvem que a infância é socialmente construída tanto pelas próprias crianças como pelos adultos, também se pode compreender melhor como é que no quotidiano, quando ali se encontram, jogam e negoceiam as suas diferentes e desiguais posições sociais de classe social, idade, género, estatuto, poder, elas se constituem como grupo social. Refere, em texto recente, que a Sociologia da Infância, abordando a criança como uma construção social, "procura suspender significados tidos como certos, evidentes e inquestionáveis".
A que significados se refere?
Refiro-me fundamentalmente às concepções tradicionais dominantes acerca das crianças e da infância que as definem como um ser irresponsável, imaturo, incompetente, irracional, amoral, a-social, a-cultural, seres em défice, simples objectos passivos e meros receptáculos de uma acção de socialização. Refiro-me também à própria concepção de socialização como um processo singular, progressivo, concertado, unívoco e vertical, reduzido às relações com os adultos que o encimam, localizado numa instituição com objectivos claramente definidos e em prol da reprodução social. Refiro-me à concepção do brincar como uma acção meramente natural e espontânea das crianças, uma espécie de credo e emblema único das actividades da infância que esgota a multiplicidade das suas acções e torna opacos os modos como criam realidade social. Refiro-me à concepção de grupo de pares como forma relação e de organização assente na homogeneidade e de onde estão ausentes relações sociais desiguais e a presença de relações estratégicas, de poder e contra-poder.
Contributos para uma cidadania da infância
Que contributos pode trazer a Sociologia da Infância para a redefinição, entre outras, da prática pedagógica dos educadores?
Quando uma das principais preocupações da sociologia da infância é, por um lado, mostrar que o modo como nós, adultos, vemos e pensamos as crianças interfere no modo como nos relacionamos com elas e, por outro, que as crianças são actores sociais dotados de pensamento reflexivo e crítico, daí que a relevância que se pretende atribuir às suas acções como prova de si e do que são como seres inteligentes, socialmente competentes e com capacidades de realização, dotados de emoções e sentimentos à luz das suas próprias evidências, parece-me que estão dadas as grandes coordenadas. A concretização desta segunda coordenada requer do adulto-educador uma outra atenção além da observação que se preocupe com a escuta das crianças, por forma a tornar-se um intérprete e tradutor competente das crianças, a partir dos pontos de vista delas e dos vários sentidos que estão envolvidos na situação, e isso não é possível sem estar disposto a deixar-se surpreender pelas crianças e a seguir atrás delas para aceder aos seus mundos. Sem esta aceitação de uma inversão das suas posições e papéis tradicionais, o que implica uma reflexão acerca das desiguais relações de poder entre adultos e crianças, não é possível promover a participação das crianças na tomada de decisão e gestão das suas actividades e, muito menos, no planeamento do quotidiano do jardim de infância.
Ou seja, levar a sério o actor social que ela de facto representa e reconhecer o seu direito à palavra...
Sim. Só que não basta reconhecer o direito à palavra das crianças. É preciso ter consciência de que essa palavra é dominada, dita e manipulada diversa e desigualmente pelas diferentes crianças. Se pensarmos, por exemplo, que os momentos de reunião colectiva no jardim de infãncia são um encontro público em que as crianças têm oportunidade de exprimir as suas opiniões, interesses, conhecimentos, etc, e que o seu modo privilegiado é a palavra oral, não é difícil imaginar do ponto de vista sócio-cultural quem serão as crianças que, muito provavelmente e em grande parte do tempo, ocuparão e dominarão esse espaço! O mesmo acontece quando as crianças brincam e desenvolvem acções comuns entre elas: não é a mesma coisa ser-se menino ou menina, ser da classe média ou de um grupo social com parcos recursos económicos, ser mais velho ou mais novo, veterano ou novato!… Isto para dizer que o contributo da Sociologia da Infância para pensar a redefinição da prática pedagógica dos educadores passa, sobretudo pelo desenvolvimento de uma sensibilidade aos processos sociais que impregnam o quotidiano do jardim de infância, tanto nas relações entre as crianças como entre adultos e crianças e pelo exercício do espírito crítico e da reflexividade como instrumentos para uma intervenção pedagógica avisada, capaz de desconstruir as subtilezas de que se revestem as relações de poder e dominação.
A Sociologia da Infância é apenas mais um contributo para o estudo da criança ou assume-se como uma dimensão inovadora nesse campo?
A Sociologia da Infância com os seus estudos das crianças deseja contribuir para o alargamento do campo das Ciências da Educação e das Ciências Sociais, não tanto por via do seu espartilhar com o acréscimo de mais uma disciplina e de um objecto, mas antes pelo participar na sua recomposição, uma vez que se considera que a sua inclusão obriga ao exercício crítico da própria sociologia, em particular, da sociologia da educação. Por exemplo: a inclusão das crianças e do seu ponto de vista no seio das problemáticas da sociologia da educação convida à ruptura com as concepções sociológicas tradicionais e normativas que, ao tomarem a escola ou o jardim de infância como os seus objectos de estudo, deduziram as crianças mais dos quadros instituídos do que das suas acções; a consideração das crianças como unidade de observação pode contribuir para pôr em diálogo áreas da sociologia como a educação, família ou lazer, por exemplo, e assim dar conta dos meandros nos quais se movem as crianças e de qual é o seu papel dentro e entre elas. O mesmo, em relação à articulação de diferentes disciplinas das Ciências Sociais. Trata-se de indagar a teoria disponível a partir dos problemas particulares colocados por este objecto/sujeito e de mobilizar uma heterogeneidade de olhares para compreender os fenómenos, de combinar várias abordagens teóricas, recorrer a conceitos provenientes de escolas de pensamento diferentes… Trata-se também de realizar estudos não apenas sobre as crianças, de como é que os adultos disseram as crianças, mas agora, com crianças para descobrir o actor-criança e a sua agência "escondida", dando-lhes voz, isto é: reconhecê-las como produtoras de sentido, com o direito de se apresentarem como sujeitos de conhecimento e assumir como legítimas as suas formas de comunicação e relação. Claro que para isso é necessário o recurso a metodologias interpretativas e etnográficas que convocam os adultos a desafiarem as barreiras do seu próprio adultocentrismo.
Como tem sido aceite esta área de investigação no meio académico?
O meio académico, incluindo a própria sociologia, não é impermeável às concepções dominantes da sociedade e, portanto, não é indiferente o desigual conhecimento e reconhecimento das diferentes idades de vida como realidades humanas e sociais relevantes, dos que contam ou não como seres sociais e da sua importância no quadro da hierarquização das categorias sociais: o adulto, o jovem, a criança e os idosos. O lugar marginal e o desinteresse a que têm sido remetidas as crianças, tanto maiores quanto menores são as suas idades, é sintomático disso. Também não é por acaso que mesmo tendo mantido um crescimento sustentado ao longo das últimas três décadas, a Sociologia da Infância tenha sido apenas reconhecida pela Associação Internacional de Sociologia em 1990. De facto, entre um discurso dos direitos da criança e as dificuldades no reconhecimento da sua cidadania epistemológica - o reconhecimento das crianças como protagonistas e repórteres competentes das suas experiências de vida -, aquilo que se sabe acerca dos seus mundos sociais é quase nada… mas é inegável que desde então os progressos vão sendo cada vez mais visíveis.
Criança tem voz própria
(Pelo menos para a Sociologia da Infância)
Ideia chave que ressalta da entrevista à professora Manuela Ferreira da FPCE da Universidade do Porto
Professora auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade do Porto, Manuela Ferreira inicia o seu percurso profissional como educadora de infância, trabalhando em jardins da rede pública. Posteriormente licencia-se em Ciências da Educação na FPCE-UP, onde, desde então, tem leccionado as disciplinas de Ciências Sociais e Sociologia da Educação. Tem desenvolvido investigação na área da Sociologia da Infância - tema da entrevista que se segue - e dos Estudos de Género.
A Sociologia da Infância é uma área das ciências sociais com uma implantação relativamente recente no universo académico. Em que contexto surge?
A preocupação em estudar a criança do ponto de vista da Sociologia não é propriamente recente, basta pensar no conceito de socialização. O que é novo, é uma inversão do olhar que, ao assumir a autonomia conceptual das crianças e da infância, advoga que as suas culturas e relações sociais são dignas de serem estudadas em si mesmas, no presente e não no seu futuro como adultas, a partir da sua própria voz e não apenas através daquilo que os adultos dizem delas. Trata-se de colocar as crianças em equidade conceptual relativamente a outros grupos ou categorias sociais, uma vez que se considera que elas são seres activos na construção e determinação das suas vidas e dos que as rodeiam, adultos e outras crianças. Ora, é fundamentalmente a partir dos anos oitenta, que ganha visibilidade no mundo anglo-saxónico um conjunto de estudos de diversas áreas, desde a História Social, à Antropologia, Economia e Sociologia, que têm em comum a criança como unidade de observação. Claro que esta deslocação do foco para a acção da criança e a sua consideração como actor social não pode ser compreendida se não se entrar em linha de conta com as transformações que ocorreram dentro do próprio campo sociológico, nomeadamente dos debates entre as perspectivas mais estruturalistas e as que põem a tónica na acção social.
De que forma caracterizaria o campo de acção da Sociologia da Infância?
Como já referi, a Sociologia da Infância procura tomar as crianças como o seu centro de interesse, a partir de si próprias e não da sua dedução dos quadros instituídos de que estão dependentes. Essa preocupação tem-se traduzido em modos diferentes de construir sociologicamente a infância, tanto do ponto de vista teórico como metodológico. Há perspectivas que têm tido como preocupação mostrar que a infância não é uma realidade finita com uma forma única mas antes uma pluralidade de concepções que co-existem e são produto de uma construção social e histórica. Outras, procuram mostrar que mesmo que a infância varie historicamente e os seus membros mudem continuamente, a infância é uma categoria estrutural distinta e permanente das sociedades humanas. Aqui, a tónica é sobretudo colocada nas características sociais mais uniformes que permitem defini-la como grupo social constitutivo da sociedade, à semelhança de outras categorias estruturais como o género ou a classe social. Outras ainda, procuram enfatizar as crianças como actores sociais competentes, ou seja; com poder de acção e tomada de iniciativa, valorizando a sua capacidade de produção simbólica e a constituição das suas práticas, representações, crenças e valores em sistemas organizados social e culturalmente. Ou seja, as crianças serem reconhecidas como uma estrutura e um grupo social próprio... Exactamente. Não pode haver sociedades sem infância, por isso ela é uma categoria estrutural permanente. Para pensar a infância como categoria estrutural distinta de outras categorias como a classe social, o género ou etnia, a idade torna-se uma variável importante porque singulariza as crianças de acordo com as suas características mais comuns, sejam elas físicas, psicológicas, morais, afectivas, sociais. Isso permite uma maior compreensão da sua situação estrutural por referência ao adultos de quem estão ou são vistas como dependentes e perante quem têm menos poder e uma maior evidência de que também elas estão sujeitas às mesmas possibilidades e constrangimentos que são colocados pelos sistemas e estruturas sociais, geracionais e genderizados. Neste sentido, as crianças são vistas como uma categoria universal, um grupo social, que emerge dos constrangimentos que as estruturas sociais, económicas e determinadas políticas lhes colocam e que sistematicamente as excluem daquelas esferas sociais. De outro ângulo, uma vez que é nas instituições e nas acções sociais que aí desenvolvem que a infância é socialmente construída tanto pelas próprias crianças como pelos adultos, também se pode compreender melhor como é que no quotidiano, quando ali se encontram, jogam e negoceiam as suas diferentes e desiguais posições sociais de classe social, idade, género, estatuto, poder, elas se constituem como grupo social. Refere, em texto recente, que a Sociologia da Infância, abordando a criança como uma construção social, "procura suspender significados tidos como certos, evidentes e inquestionáveis".
A que significados se refere?
Refiro-me fundamentalmente às concepções tradicionais dominantes acerca das crianças e da infância que as definem como um ser irresponsável, imaturo, incompetente, irracional, amoral, a-social, a-cultural, seres em défice, simples objectos passivos e meros receptáculos de uma acção de socialização. Refiro-me também à própria concepção de socialização como um processo singular, progressivo, concertado, unívoco e vertical, reduzido às relações com os adultos que o encimam, localizado numa instituição com objectivos claramente definidos e em prol da reprodução social. Refiro-me à concepção do brincar como uma acção meramente natural e espontânea das crianças, uma espécie de credo e emblema único das actividades da infância que esgota a multiplicidade das suas acções e torna opacos os modos como criam realidade social. Refiro-me à concepção de grupo de pares como forma relação e de organização assente na homogeneidade e de onde estão ausentes relações sociais desiguais e a presença de relações estratégicas, de poder e contra-poder.
Contributos para uma cidadania da infância
Que contributos pode trazer a Sociologia da Infância para a redefinição, entre outras, da prática pedagógica dos educadores?
Quando uma das principais preocupações da sociologia da infância é, por um lado, mostrar que o modo como nós, adultos, vemos e pensamos as crianças interfere no modo como nos relacionamos com elas e, por outro, que as crianças são actores sociais dotados de pensamento reflexivo e crítico, daí que a relevância que se pretende atribuir às suas acções como prova de si e do que são como seres inteligentes, socialmente competentes e com capacidades de realização, dotados de emoções e sentimentos à luz das suas próprias evidências, parece-me que estão dadas as grandes coordenadas. A concretização desta segunda coordenada requer do adulto-educador uma outra atenção além da observação que se preocupe com a escuta das crianças, por forma a tornar-se um intérprete e tradutor competente das crianças, a partir dos pontos de vista delas e dos vários sentidos que estão envolvidos na situação, e isso não é possível sem estar disposto a deixar-se surpreender pelas crianças e a seguir atrás delas para aceder aos seus mundos. Sem esta aceitação de uma inversão das suas posições e papéis tradicionais, o que implica uma reflexão acerca das desiguais relações de poder entre adultos e crianças, não é possível promover a participação das crianças na tomada de decisão e gestão das suas actividades e, muito menos, no planeamento do quotidiano do jardim de infância.
Ou seja, levar a sério o actor social que ela de facto representa e reconhecer o seu direito à palavra...
Sim. Só que não basta reconhecer o direito à palavra das crianças. É preciso ter consciência de que essa palavra é dominada, dita e manipulada diversa e desigualmente pelas diferentes crianças. Se pensarmos, por exemplo, que os momentos de reunião colectiva no jardim de infãncia são um encontro público em que as crianças têm oportunidade de exprimir as suas opiniões, interesses, conhecimentos, etc, e que o seu modo privilegiado é a palavra oral, não é difícil imaginar do ponto de vista sócio-cultural quem serão as crianças que, muito provavelmente e em grande parte do tempo, ocuparão e dominarão esse espaço! O mesmo acontece quando as crianças brincam e desenvolvem acções comuns entre elas: não é a mesma coisa ser-se menino ou menina, ser da classe média ou de um grupo social com parcos recursos económicos, ser mais velho ou mais novo, veterano ou novato!… Isto para dizer que o contributo da Sociologia da Infância para pensar a redefinição da prática pedagógica dos educadores passa, sobretudo pelo desenvolvimento de uma sensibilidade aos processos sociais que impregnam o quotidiano do jardim de infância, tanto nas relações entre as crianças como entre adultos e crianças e pelo exercício do espírito crítico e da reflexividade como instrumentos para uma intervenção pedagógica avisada, capaz de desconstruir as subtilezas de que se revestem as relações de poder e dominação.
A Sociologia da Infância é apenas mais um contributo para o estudo da criança ou assume-se como uma dimensão inovadora nesse campo?
A Sociologia da Infância com os seus estudos das crianças deseja contribuir para o alargamento do campo das Ciências da Educação e das Ciências Sociais, não tanto por via do seu espartilhar com o acréscimo de mais uma disciplina e de um objecto, mas antes pelo participar na sua recomposição, uma vez que se considera que a sua inclusão obriga ao exercício crítico da própria sociologia, em particular, da sociologia da educação. Por exemplo: a inclusão das crianças e do seu ponto de vista no seio das problemáticas da sociologia da educação convida à ruptura com as concepções sociológicas tradicionais e normativas que, ao tomarem a escola ou o jardim de infância como os seus objectos de estudo, deduziram as crianças mais dos quadros instituídos do que das suas acções; a consideração das crianças como unidade de observação pode contribuir para pôr em diálogo áreas da sociologia como a educação, família ou lazer, por exemplo, e assim dar conta dos meandros nos quais se movem as crianças e de qual é o seu papel dentro e entre elas. O mesmo, em relação à articulação de diferentes disciplinas das Ciências Sociais. Trata-se de indagar a teoria disponível a partir dos problemas particulares colocados por este objecto/sujeito e de mobilizar uma heterogeneidade de olhares para compreender os fenómenos, de combinar várias abordagens teóricas, recorrer a conceitos provenientes de escolas de pensamento diferentes… Trata-se também de realizar estudos não apenas sobre as crianças, de como é que os adultos disseram as crianças, mas agora, com crianças para descobrir o actor-criança e a sua agência "escondida", dando-lhes voz, isto é: reconhecê-las como produtoras de sentido, com o direito de se apresentarem como sujeitos de conhecimento e assumir como legítimas as suas formas de comunicação e relação. Claro que para isso é necessário o recurso a metodologias interpretativas e etnográficas que convocam os adultos a desafiarem as barreiras do seu próprio adultocentrismo.
Como tem sido aceite esta área de investigação no meio académico?
O meio académico, incluindo a própria sociologia, não é impermeável às concepções dominantes da sociedade e, portanto, não é indiferente o desigual conhecimento e reconhecimento das diferentes idades de vida como realidades humanas e sociais relevantes, dos que contam ou não como seres sociais e da sua importância no quadro da hierarquização das categorias sociais: o adulto, o jovem, a criança e os idosos. O lugar marginal e o desinteresse a que têm sido remetidas as crianças, tanto maiores quanto menores são as suas idades, é sintomático disso. Também não é por acaso que mesmo tendo mantido um crescimento sustentado ao longo das últimas três décadas, a Sociologia da Infância tenha sido apenas reconhecida pela Associação Internacional de Sociologia em 1990. De facto, entre um discurso dos direitos da criança e as dificuldades no reconhecimento da sua cidadania epistemológica - o reconhecimento das crianças como protagonistas e repórteres competentes das suas experiências de vida -, aquilo que se sabe acerca dos seus mundos sociais é quase nada… mas é inegável que desde então os progressos vão sendo cada vez mais visíveis.
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quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Não rias da Argentina
Esta deve ser uma das poucas postagens sobre futebol neste blog. Isso ocorre não porque eu não goste do nobre esporte bretão, mas porque, devo confessar, sinto-me incompetente para analisar o rico e complexo mundo desse que é o esporte (ainda) preferido dos brasileiros. Mas, diante das últimas partidas da seleção argentina, não consegui me furtar à tentação de um comentário.
Eu sempre gostei da garra dos jogadores argentinos. Claro, claro, de vez em quando eles botavam prá fora umas coisas horrorosas, como certas demonstrações racistas, mas, no geral, eram, pelo menos prá mim, a expressão da boa valentia que se deve ter em campo. Em algumas das copas das décadas de oitenta e noventa, a Argentina salvava o futebol latino-americano, essa é que é a verdade.
Mas, desde sábado, a equipe argentina desce a ladeira e arrasta consigo esse quase-mito que é Maradona. É um espetáculo triste de se ver! Não, eu não gosto de patriotada. Tento, portanto, não misturar futebol com amor à pátria. Eu amo o futebol. O bom futebol. E quem quer que seja que jogue, pode apostar, tem o meu respeito e a minha admiração. Portanto, quando um time com tradição torna-se um ator tacanho, fico com a sensação de que estou perdendo algo.
A derrota de ontem, para o Paraguai, ameça tirar a Argentina da próxima copa. Isso não é nenhum motivo de comemoração. Uma Copa do Mundo sem Argentina será uma copa menor, pequena. Fico aqui torcendo para que o time dirigido por Maradona se encontre e dê a volta por cima. Pelo bem do futebol.
Eu sempre gostei da garra dos jogadores argentinos. Claro, claro, de vez em quando eles botavam prá fora umas coisas horrorosas, como certas demonstrações racistas, mas, no geral, eram, pelo menos prá mim, a expressão da boa valentia que se deve ter em campo. Em algumas das copas das décadas de oitenta e noventa, a Argentina salvava o futebol latino-americano, essa é que é a verdade.
Mas, desde sábado, a equipe argentina desce a ladeira e arrasta consigo esse quase-mito que é Maradona. É um espetáculo triste de se ver! Não, eu não gosto de patriotada. Tento, portanto, não misturar futebol com amor à pátria. Eu amo o futebol. O bom futebol. E quem quer que seja que jogue, pode apostar, tem o meu respeito e a minha admiração. Portanto, quando um time com tradição torna-se um ator tacanho, fico com a sensação de que estou perdendo algo.
A derrota de ontem, para o Paraguai, ameça tirar a Argentina da próxima copa. Isso não é nenhum motivo de comemoração. Uma Copa do Mundo sem Argentina será uma copa menor, pequena. Fico aqui torcendo para que o time dirigido por Maradona se encontre e dê a volta por cima. Pelo bem do futebol.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Identidade e mercado
Confira, na última edição online da sempre ótima revista Mana, o artigo "Imagem social ou luta política e cultural pelo controle do mercado". De autoria do pesquisador Gilles Laferté, o artigo é uma interessante análise da relação entre mercado e identidade. Leia abaixo o resumo:
"A partir de uma história dos usos da noção de identidade, na França, pode-se isolar uma compreensão essencialista própria ao senso comum e a alguns trabalhos de ciências sociais e uma outra, construtivista, que se impôs amplamente nas ciências sociais contra a noção de cultura, consagrando a fórmula hoje corriqueira da construção de identidades. Parece-nos que os ganhos heurísticos trazidos pela fórmula estão atualmente esgotados, já que tendem a privilegiar a análise de discursos em detrimento daquela das práticas, conferindo uma visão excessivamente plástica ao social. Desejando reintroduzir as instituições e as estruturas sociais diretamente na análise, propomos um vocabulário alternativo, em torno das identificações, imagens sociais e pertencimento. Desenvolvemos, então, o caso da construção de uma imagem social, aquela da Borgonha na III República, para dar a justa medida do conjunto das evoluções estruturais e institucionais indispensáveis ao êxito de uma mudança discursiva sobre os territórios.
Palavras-chave: Construção de identidades, Imagem social, Mercado de vinhos, França, Entre guerras"
"A partir de uma história dos usos da noção de identidade, na França, pode-se isolar uma compreensão essencialista própria ao senso comum e a alguns trabalhos de ciências sociais e uma outra, construtivista, que se impôs amplamente nas ciências sociais contra a noção de cultura, consagrando a fórmula hoje corriqueira da construção de identidades. Parece-nos que os ganhos heurísticos trazidos pela fórmula estão atualmente esgotados, já que tendem a privilegiar a análise de discursos em detrimento daquela das práticas, conferindo uma visão excessivamente plástica ao social. Desejando reintroduzir as instituições e as estruturas sociais diretamente na análise, propomos um vocabulário alternativo, em torno das identificações, imagens sociais e pertencimento. Desenvolvemos, então, o caso da construção de uma imagem social, aquela da Borgonha na III República, para dar a justa medida do conjunto das evoluções estruturais e institucionais indispensáveis ao êxito de uma mudança discursiva sobre os territórios.
Palavras-chave: Construção de identidades, Imagem social, Mercado de vinhos, França, Entre guerras"
A situação de pobreza nas regiões metropolitanas após a eclosão da crise
Uma interessante análise a respeito dos indicadores de pobreza nas regiões durante após a eclosão da recente crise. Acesse aqui. Trata-se de material produzido pelo IPEA, de autoria do Márcio Pochmann.
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