Em momentos díficeis, naquelas quadras em que os dias ficam mais longos e cansativos, os livros são meus amigos inseparáveis. Os romances, em particular.
Em outros momentos, a gente precisa fugir da fantasia e as experiências com o real são o melhor antídoto contra as dores d'alma. Por isso, já estou buscando a minha próxima leitura.
Pelo que li no EL PAÍS, o melhor jornal disponível na grande rede, pode acreditar!, o livro LA REVOLUCION SENTIMENTAL, de autoria da jornalista Beatriz Lecumberri, merece uma leitura.
Pelo que andei sondando, trata-se de um retrato consistente desse longo período no qual o Presidente Chavez está a frente do governo venezuelano.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
A partida de Paula e as dores carnívoras
As dores d’alma são carnívoras,
acho que li isso em algum lugar. Em alguns momentos, momentos esparsos, mas
intensos, somos devorados por uma sensação de desamparo sem fim. E aí, nessas
quadras da vida, essas dores devoradoras acercam-se da gente. É o que ocorre
quando perdemos pessoas muito queridas.
Hoje, quando minha irmã Maroni
telefonou-me para comunicar que minha sobrinha Paula havia falecido, senti-me
sendo devorado na alma. Tudo passa tão de repente, nessas horas. Todas as
alegrias compartilhadas. Preocupações e angústias também. É lugar-comum, eu
sei, mas o filme da vida do (a) outro(a) ou da parte dela na qual nos
reconhecemos como partícipe, passa diante da gente.
No caso de Paula, a dor é imensa,
profunda... Antes de tudo porque a gente nunca espera que os mais novos, nossos
filhos ou os filhos de nossos irmãos e amigos, partam antes da gente. Mesmo
quando eles ou elas travaram lutas pela vida, como é o caso de Paula, por
sofridos três anos. Três anos de quimioterapia e de seus terríveis efeitos
colaterais. Três anos até esse momento final em que os parentes já não têm mais
esperanças a cultivar, quando a continuação da vida parece tão terrível quanto
a morte.
Mas Paula, minha sobrinha
Paulinha, se foi. E com ela uma parte de mim, do meu mundo. As lembranças serão
cultivadas, mas, mesmo elas, virão sempre acompanhadas de torrentes dolorosas.
Ela já não dividirá o seu sorriso contagiante e nem espalhará a sua alegria
incontida em todas as situações.
Nesses três anos, dolorosos, de
idas e vindas a clínicas para as quimioterapias, Paulinha teve o acompanhamento
dedicado, extremado, de Mavi, seu marido. Uma dedicação tão grande que não
media sacrifícios. Por ela, ou para fazer com que ela lutasse pela vida, ele
transferiu o emprego para Brasília, com a esperança de que lá, no Sírio
Libanês, a luta contra o câncer tivesse sucesso.
A vida vai retomar o seu ritmo,
eu sei, mas o peso dessa perda sobre os meus ombros não diminuirá tão cedo.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
A menina genial e as bestas do Sul
A tradição do ramo do entretenimento cinematográfico no
Brasil é traduzir, com certa, digamos, originalidade, os títulos originais de
filmes estrangeiros. Especialmente dos norte-americanos. O marketing, não
raramente, inventa títulos brasileiros que pervertem claramente o sentido mesmo
de toda uma obra. Esse o caso do filme Indomável Sonhadora. Eu, cá no meu
canto, preferiria que o título aqui fosse o mesmo que a obra teve em Portugal:
Bestas do Sul Selvagem.
Não vou comentar o filme, vocês merecem um crítico de
verdade fazendo isso. E, convenhamos, a espécie é acrescida por novos
indivíduos a cada minuto. Direi apenas que o filme é uma grande obra e que
merece ser visto. E discutido depois.
Claro! Você quer saber mais, não é? Se é esse o seu caso,
clique aqui e leia no Wikipedia as informações básicas sobre a película (gostou
de película?).
Este post tem o sentido apenas de ressaltar que, embora
ache que, das candidatas ao prêmio de melhor atriz, a veterana Emanuelle Riva
(Amor) é quem o merecia, penso que não seria algo despropositada se a Quvenzhané Wallis levasse a estatueta. Não deu! Mas a menina genial
merece todo o destaque que está tendo pela mídia produtora e devoradora de
celebridades.
A minha torcida, desde esse recanto da província, é para que
a criança, como outras tantas envolvidas pela indústria do entretenimento, não
venha a ser triturada pela máquina de fantasias.
Amor, o filme.
O filme Amor (Amour), com merecimento, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Trata-se de uma obra magistral, dirigida com a competência de sempre pelo austríaco Michael Haneke.
Sem pieguice, o filme aborda uma questão cada vez mais importante na pauta de discussões públicas das sociedades ocidentais: o envelhecimento. E, de quebra, a morte e a rejeição consciente do tratamento em hospitais. Assistir ao filme, especialmente se você, como eu, já está do outro lado dos 50, é uma experiência dura, mas necessária.
A trama gira em torno de um casal de idosos, ex-professores de música, cuja vida é redefinida quando a esposa (a genial Emanuelle Riva, que, do alto dos seus 86 anos, faz uma interpretação soberba) sofre um AVC. O casal vive em um confortável apartamento em Paris e recebe, de vez em quando, a visita da filha, também envolvida com a música e casado com um músico.
A doença e a desumanização da pessoa, especialmente quando vítima de doenças que envolvem o cérebro, é temática pouco recomendável para o cinema. Mas Michale Haneke, com a mesma firmeza com que fez os memoráveis e vigorosos A fita branca e A professora de piano, consegue prender o expectador até o final. E, o que é melhor, deixar em aberto o final para interpretações.
Claro! Você certamente se lembra de que Michael Haneke também perpetrou o violento e perturbador Funny Games (1997), filme que, no Brasil, mereceu o título (bem apropriado) de “Violência gratuita”. A temática de Amor é diferente, mas como nas demais obras desse genial direto, os sentimentos humanos e as instituições que os moldam são confrontados com radicalidade.
Isso! Amor é um filme radical. Lida com questões que, como sociedade, escamoteamos, pois, quem sabe?, temos um imenso medo delas.
Sem pieguice, o filme aborda uma questão cada vez mais importante na pauta de discussões públicas das sociedades ocidentais: o envelhecimento. E, de quebra, a morte e a rejeição consciente do tratamento em hospitais. Assistir ao filme, especialmente se você, como eu, já está do outro lado dos 50, é uma experiência dura, mas necessária.
A trama gira em torno de um casal de idosos, ex-professores de música, cuja vida é redefinida quando a esposa (a genial Emanuelle Riva, que, do alto dos seus 86 anos, faz uma interpretação soberba) sofre um AVC. O casal vive em um confortável apartamento em Paris e recebe, de vez em quando, a visita da filha, também envolvida com a música e casado com um músico.
A doença e a desumanização da pessoa, especialmente quando vítima de doenças que envolvem o cérebro, é temática pouco recomendável para o cinema. Mas Michale Haneke, com a mesma firmeza com que fez os memoráveis e vigorosos A fita branca e A professora de piano, consegue prender o expectador até o final. E, o que é melhor, deixar em aberto o final para interpretações.
Claro! Você certamente se lembra de que Michael Haneke também perpetrou o violento e perturbador Funny Games (1997), filme que, no Brasil, mereceu o título (bem apropriado) de “Violência gratuita”. A temática de Amor é diferente, mas como nas demais obras desse genial direto, os sentimentos humanos e as instituições que os moldam são confrontados com radicalidade.
Isso! Amor é um filme radical. Lida com questões que, como sociedade, escamoteamos, pois, quem sabe?, temos um imenso medo delas.
A elite como objeto sociológico
Estudo sobre os pobres abundam nas ciências sociais. Essa
escolha de objeto revela tanto opção política e ideológica quanto os obstáculos
metodológicos de se tomar os de cima como alvos de investigação social. Até
porque, sabemos bem, os dados a respeito dos atores e das práticas sociais das
elites de todos os quadrantes são pouco confiáveis. E, assim sendo, temos
referentes pouco seguros para análises mais robustas.
Pensemos, por exemplo, na dimensão demográfica das elites
(falo no plural, pois, não me refiro apenas ao caso brasileiro, e, mesmo se
tomarmos o caso nacional, como baliza analítica, ainda assim, o uso do plural é
mais do que necessário). Os censos realizados pelos organismos estatais
geralmente se traduzem em dados pouco substanciais a respeito do mundo dos
ricos.
Antes que algum acaciano passe a me admoestar, adianto que
não confundo “ricos” com “elite”, muito embora entenda que os recursos escassos
controlados pelas elites (sejam esses recursos tão intangíveis quanto o “reconhecimento”
ou tão palpáveis quanto uma, sei lá!, Ferrari) têm o dinheiro com o seu
conversor universal.
Bom. Se, nem sempre, a conversão em dinheiro é o que
hierarquiza socialmente tais recursos não deixa de ser uma coisa um tanto óbvia
a constatação de que, sem nenhuma possibilidade (ou potencialidade) de
conversão naquele, o recurso geralmente não é tão escasso assim... Situação na
qual, quem o detém não é tão de elite assim. Não por acaso, a classe média, que
se pensa elite, reclama tanto quando os de baixo começam a ter acesso a bens e
recursos que, antes, eram objetos de distinção social.
As digressões acima devem ser tomadas como um introito para
a conversa realmente que me interessa: quais os impactos da globalização e,
mais particularmente, da financeirização da economia no formato das elites?
Parte das anotações abaixo derivam da leitura do ótimo texto
de revisão de literatura sobre o tema escrito pelo Professor Shamus Rahman
Khan, professor do Departamento de Sociologia da Columbia University.
Intitulado prosaicamente “The Sociology of Elites”, o texto foi publicado nesse
periódico que é tão bom quanto uma cerveja gelada no calor de Petrolina (PE):
Annual Review of Sociology.
Khan assume uma definição simples, elegante e sintética de
elite: esta é constituída por aqueles e aquelas que ocupam uma posição social
que lhes possibilita o acesso e o controle de recursos que potencializam vantagens
aos seus detentores. Um complemento a essa definição, e aqui a digressão já é
responsabilidade minha, é sua conversibilidade não apenas em recursos
monetários, mas em recursos monetários facilmente deslocáveis para qualquer
parte do mundo.
O suporte da proposição é fornecido pelas noções de campo e
de capital, que emergem dos estudos empíricos desenvolvidos exemplarmente por
Pierre Bourdieu nas suas investigações sobre áreas tão distintas (e exóticas,
aparentemente) quanto a alta costura, o mercado de casamento entre os
camponeses ou o mundo acadêmico das instituições formadoras da elite francesa.
Voltemos ao texto do Professor Khan. Não esqueçamos o título
do periódico no qual foi publicado e nem da intenção do autor: trata-se de um
paper de revisão, de apresentação de um “estado da arte”, não de formulação de
uma nova senda teórica. Sim, mas voltado ao texto, o que me parece mais
interessante é a indicação de que devemos (os sociólogos interessados no estudo
da elite) dedicar um cadinho de tempo ao estudo das formas (e das marcas
nacionais, eu acrescentaria) de conversibilidade dos recursos detidos pela
elite.
Essa direção nos levaria a pensar, dentre outras questões,
nos regimes de argumentação (aí a proposição é minha) que legitimam (ou buscam
legitimar) as diversas taxas de conversão entre os capitais (o acadêmico, por
exemplo, em econômico). Esse tipo de objeto somente pode despertar algum
interesse quando alicerçado em referentes empíricos substantivos. Ou seja, em
um cansativo e longo processo de escavação de dados. Algo difícil de ser
realizado por quem se subordine à lógica do publish or perish e à necessidade
de justificar, a cada ano, a inserção no seu programa de pós.
As elites, na verdade “super-elites”, estão engajadas fortemente no setor de
finanças. Ao bater nessa tecla, o Professor Khan nos diz uma velha novidade.
Não é fortuita, portanto, a sua referência a um autor que, para discutir elites
no mundo globalizado, leve em conta as elaborações de ninguém menos do Vladimir
Lenin a respeito do capital financeiro...
Por que super-elites? Porque as elites nacionais, na grande
maioria dos países, estão imersas em circuitos de transações e de formação de
coalizões e posturas políticas e culturais que, há muito, deixaram de ter como
referentes os limites territoriais nacionais.
Esse revisar de velhas questões é interessante, mas não é o
mais interessante do artigo do Professor Khan. O que me parece mais importante
sociologicamente é a ideia, que não é dele, mas retirada por ele de um artigo
intitulado “Women, Wealth and mobility”, de Edlund & Kopcuk (2009), de que
a riqueza (e, acréscimo meu, o lugar na super-elite) é cada vez menos dinástico
e menos vinculado a uma grande riqueza familiar (como aqueles indivíduos
pertencentes àquelas épicas famílias de banqueiros da primeira metade do século
XX).
Larry Page e Graça Foster, dois jogadores globais, espécimes
exemplares dessa super-elite representam bem essa remodelação sociológica. O
primeiro, embora seja filho de professores bem situados no universo acadêmico
(Pai e mãe acadêmicos destacados de uma univesidade da Ivy League), não se pode
dizer que o fato de ele ser hoje bilionário e influente na vida social tenha
alguma relação com riqueza familiar. Se o fundador do Google não se enquadra no
velho figurino, o que dizer da Presidente da Petrobrás? Além de não pertencer a
uma “dinastia”, é mulher. Pois é, o
recorte de gênero é fundamental para entender a super-elite. Esta é hoje, como
nunca antes na história (peguei o bordão!), marcada pela presença de mulheres e
por uma abertura étnica. Pessoas brancas e do sexo masculino deixam de ser os
únicos membros do clube. Essa reconfiguração é irrelevante do ponto de vista
sociológico? Acredito que não!
Bom. O post ficou maior do que eu queria. Para não
cansá-los, eu fico por aqui. E vou voltar, puxando outros fios da meada do
artigo do Professor Khan.
Eu voltei!!!!
Voltei, gente. Agora, podem apostar!, estarei aqui, faça chuva ou faça sol nesta Cidade do Sol. O blog, como eu, está ficando mais velho, mas teima em não se enquadrar nas correntes do bom senso. E em não representar coletividade alguma. Por favor, vocês, quatro ou cinco que me lêem, voltem para casa. Terão guarida.
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