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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mudanças climáticas

Leia o artigo do jornalista Marcelo Leite, um dos poucos profissionais da imprensa brasileira com bagagem e competência para tratar de assuntos científocs mais complexos, a respeito das mudanças climáticas. Está disponível no site da Folha (acesso livre).

2005, o ano mais quente da história?
Marcelo Leite

A esperteza --para não dizer coisa pior-- dos "céticos" ou "negacionistas" da mudança do clima não tem limites. O negócio deles é semear a dúvida, lançar suspeitas e espalhar desinformação, mesmo que isso implique destruir a confiança na própria ciência.

Um de seus argumentos é que o aquecimento global estaria virando desaquecimento global. Afinal, a temperatura média da troposfera (a camada mais baixa da atmosfera) não aumentou desde 1998, o ano mais quente no registro histórico. E se 2010 bater o recorde de 1998?

Nada mudará na estratégia provocadora dos negacionistas. Como sempre fazem, ignorarão o dado que lhes seja desfavorável.

Clique aqui e leia o restante do artigo.



domingo, 29 de novembro de 2009

Mudança climática e flexibilidade ética

Em artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o jornalista Marcelo Leite, um dos mais competentes analistas do mundo da ciência na nossa imprensa, aborda o mundinho pouco ético da prática cientíica. Vale a pena conferir!

+Marcelo Leite

Climagate

E-mails roubados por hackers revelam que cientistas não são santos

A uma semana da conferência sobre mudança do clima em Copenhague, os "céticos" do aquecimento global marcaram um tento. Conseguiram meter uma cunha na credibilidade dos que defendem que ele é uma realidade e que a ação do homem ("antropogênica") é decisiva para agravar o efeito estufa.O caso já ganhou apelido: "climagate". Hackers não identificados puseram na rede cerca de mil mensagens de e-mail e uns 3.000 documentos surrupiados de um servidor da Unidade de Pesquisa do Clima (CRU, em inglês) da Universidade de East Anglia, Reino Unido.

Alguns deles realmente são, ou soam, comprometedores. Os documentos que vieram à tona, até agora, não parecem comprovar nenhuma conspiração para passar por verdadeiros dados falsos sobre o aquecimento global antropogênico. Mas mostram que alguns adversários dos céticos não são santos. A suspeita inicial mais grave era de manipulação de dados. Concentrava-se numa frase de Phil Jones, do CRU: "Acabei de finalizar o truque de Mike [Michael Mann] na [revista] "Nature" de acrescentar as temperaturas reais a cada série para os últimos 20 anos (isto é, de 1981 em diante) e desde 1961 para as de Keith [Briffa] a fim de esconder o declínio". Que soa como manipulação de dados, soa. Mas as explicações sobre o contexto da frase também soam plausíveis. O blog de climatologistas pró-aquecimento RealClimate diz que se trata de compatibilizar dados de diferentes fontes (geleiras, densidade de anéis de crescimento de árvores, medidas reais etc.). As estimativas de temperatura obtidas indiretamente por Briffa a partir das árvores divergem do registro de temperaturas reais medidas nas décadas recentes, e por isso o próprio autor recomenda que não sejam usadas. O "truque" seria só um ajuste, alegam seus defensores no RealClimate, embora sua composição com o verbo "esconder" seja para lá de suspeita. É preciso ser ingênuo, ou ignorante de como a pesquisa científica de fato funciona, para enxergar aí um pecado mortal. Em todas as áreas de investigação pesquisadores escolhem e apresentam os dados mais favoráveis para sua tese. Criminoso seria só se escondessem medidas e informações capazes de contradizer sua conclusão (e os dados de Briffa foram publicados). Outras mensagens indicam que os adversários dos céticos se organizavam para fechar-lhes as portas dos periódicos científicos, ao mesmo tempo em que acusavam o inimigo de não conseguir publicar artigos nas revistas reconhecidas. Feio, não é? Ninguém consegue enganar todo mundo o tempo todo, porém. Bons estudos sempre acabam editados, mesmo que contrários ao paradigma dominante. Em especial se vierem lastreados em medidas e explicações sólidas. E está aí a internet para não deixar ninguém órfão. De todo modo, é bom seguir o conselho da economista Megan McArdle em seu blog no sítio da revista "The Atlantic": tomar com um grão a mais de sal, de ora em diante, o argumento "ausência de publicações". Bem mais grave é outra suposta mensagem de Jones pedindo a Mann que apagasse e-mails objeto de um pedido formal de divulgação dos céticos, por meio da legislação britânica de acesso a informação. Não está claro ainda se as mensagens foram de fato deletadas, o que seria crime. O simples fato de alguém se sentir à vontade para fazer um pedido desses por escrito sugere que os envolvidos de fato têm algo a esconder. Como, de resto, todos aqueles que acreditamos em sigilo de correspondência.


MARCELO LEITE é autor de "Darwin" (série Folha Explica, Publifolha, 2009) e "Ciência - Use com Cuidado" (Editora da Unicamp, 2008). Blog: Ciência em Dia ( cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br ). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E a discussão sobre o clima no Brasil?

Reproduzo abaixo artigo de autoria do jornalista Washington Novaes. Publicado no Estadão de hoje, o artigo trata de uma questão crucial: a insignificância do debate (e das ações)do governo brasileiro em relação às mudanças climáticas. Vale a pena conferir!

Quando se discutirá o clima por aqui?
Washington Novaes

Quem houver passado os olhos pelo noticiário dos últimos dias terá lido sobre a série de reuniões internacionais em que se discutem, com números dramáticos e declarações candentes, as mudanças climáticas no mundo. Certamente também terá lido e visto o que está acontecendo de "eventos extremos" no Brasil, do Norte e Nordeste ao Sul do País. E provavelmente terá concluído que, se o panorama é esse, o Brasil está devendo muito em matéria de uma política adequada para essa grande questão - ainda que esta ou aquela personalidade diga que o governo brasileiro já aceita (mas não há declaração oficial e categórica) discutir compromissos obrigatórios de redução de emissões, pois estamos entre os maiores emissores do planeta.

Pode-se considerar a atenuante lembrada pelo diplomata Luiz Alberto Figueiredo - que tem sido negociador brasileiro na Convenção do Clima - de que "nem todas as cartas estão na mesa" e só o estarão em dezembro, na reunião de Copenhague (Agência Brasil, 20/5), última esperança de um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que chega ao seu término. Mas nos próximos dias começa em Bonn, na Alemanha, a penúltima reunião preparatória da negociação final. E ainda continuamos perdidos em discussões sobre nossa matriz energética, planejando 68 usinas termoelétricas movidas a combustíveis fósseis (inclusive carvão mineral), altamente poluidoras, deslembrando nosso extraordinário potencial em energias "limpas" e renováveis. Também não nos lembramos do que foi dito há poucos dias ao jornalista Cláudio Ângelo pelo respeitado economista indiano Vinod Thomas: o Brasil pode "dar um salto" no desenvolvimento se aproveitar gastos públicos para investir em alguns setores, entre eles "preservação ambiental"; nossa situação em matéria de recursos naturais (terra, recursos hídricos, recursos florestais) é absolutamente privilegiada no mundo, disse ele. Mas seguimos fazendo de conta que não é importante.

Enquanto isso, sucedem-se as discussões no mais alto nível mundial. O primeiro "rascunho" da ONU para Copenhague chega a cogitar da eliminação das emissões pelos EUA e pelo Japão até 2050 (Bloomberg, 21/5), enquanto propõe reduções de 25% para China, Brasil e Índia (é um dos textos segundo o qual o Brasil "aceita negociar"; a China, não). Mas o documento trata de muitas outras questões: créditos florestais, comércio de emissões, tecnologia de captura e armazenamento de carbono, recuperação de áreas úmidas, manejo do solo na agricultura, setores com "emissões móveis" (aviões e navios), energia nuclear. Os países industrializados, nesse documento, deveriam contemplar a hipótese de baixar suas emissões em 45% (sobre os níveis de 1990) até 2022. Um dos maiores obstáculos está na China, que garante chegar a uma redução só com programas de eficiência energética, que reduziriam em 4% a cada ano seu consumo por unidade do PIB, embora 80% de sua energia provenha de usinas a carvão (que dobraram em uma década).

"Estamos num momento dramático da história humana", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. "Nosso planeta está se aquecendo a níveis perigosos." E "só temos 200 dias até Copenhague para resolver". Talvez premido pela circunstância, o Comitê de Comércio e Energia do Congresso norte-americano decidiu apoiar as propostas do presidente Barack Obama para o setor: corte de 17% nas emissões (sobre o nível de 2005) até 2020 e de 83% até 2050, além da elevação das energias renováveis (eólica e solar) para 15% do total. Mas a votação no plenário só ocorrerá em agosto e os republicanos mantêm forte oposição, com apoio de vários setores econômicos. Obama também anunciou metas para redução de 30% no uso de combustíveis, que aumentarão a eficiência dos veículos em 40% até 2016. Segundo o presidente, isso equivalerá a retirar 177 milhões de carros das ruas e estradas em seis anos e meio.

Mais complicado para o Brasil é o que informa a correspondente Patrícia Campos Mello (Estado, 19/5): o Congresso dos EUA estuda criar uma "tarifa verde" sobre produtos importados de países que não limitem suas emissões de poluentes. Talvez haja controvérsia no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), embora esta admita medidas que protejam recursos naturais. Mas se for adiante poderá atingir nossas áreas de carnes (emissão de metano), grãos (desmatamento e uso do solo), madeiras e outras.

Também preocupante para o Brasil é o alerta de relatório da ONU sobre o "crescimento galopante de favelas" no mundo e as vulnerabilidades diante de "eventos extremos" decorrentes das mudanças do clima. Essas áreas, onde moram 900 milhões de pessoas no mundo (mais 25 milhões por ano), são uma parte cada vez mais destacada nas emissões (66% do total dos gases é emitido nas cidades) e nos grandes desastres, principalmente na Ásia.

Não são as únicas ameaças. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) manifestou (Estado, 20/5) preocupação com seus cálculos de que o aumento da temperatura no planeta pode chegar a 5,2 graus Celsius até 2100. Outros cientistas endossam as preocupações com o crescimento das emissões de metano no Ártico.

Com tantas ameaças, afinal o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas decidiu mapear a vulnerabilidade das dez maiores cidades brasileiras, "para direcionar políticas públicas de adaptação às mudanças" (disseminação de doenças, influência sobre recursos hídricos, agravamento de inundações e secas, mudanças em zonas costeiras). Para que se veja nosso retardamento nessa matéria, a resolução de mapas que permitam avaliar elevações no nível do mar é hoje de 50 centímetros, quando precisaria captar a partir de 1 a 2 centímetros.

É preciso muito mais. O governo federal continua devendo à comunidade científica e à sociedade uma discussão franca e corajosa sobre nossa política - ou sua falta - na área do clima.

Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sobre mudança climática

Tenho transcrito aqui muitos dos artigos publicados pelo jornalista Washington Novaes. Lúcido e corajoso, o articulista é uma das poucas penas com espaço na grande imprensa a tratar com profundidade temáticas relacionadas à questão ambiental. Leia, mais abaixo, artigo sobre as mudanças climáticas globais. Vale a pena!




Clima vai exigir muito mais pressão

Washington Novaes

Há quantas décadas os cientistas advertem que não se devem desmatar encostas e topos de morros, nem ocupá-los com construções, porque se corre o risco de deslizamentos e mortes? Há quantas décadas a legislação proíbe essa ocupação? Há quanto tempo a ciência mostra os riscos de ocupar a planície natural de inundação de rios, que periodicamente ali produzem enchentes mais fortes, com vítimas e perdas materiais, ainda mais se canalizados, retificados, obstruídos por barragens? Não são conhecidos há muito tempo os riscos de impermeabilizar todo o solo das cidades com asfalto e não deixar espaço para a infiltração de água - agravando o risco de inundações? Há quantas décadas o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para a maior freqüência e o agravamento dos chamados "eventos extremos" do clima, principalmente chuvas intensas em curto espaço de tempo?

Quem acompanhou nas últimas semanas o noticiário sobre as chuvas e inundações em Santa Catarina viu todos os fenômenos indesejáveis acontecerem em poucos dias, nos quais morreu mais de uma centena de pessoas, mais de 100 mil foram desalojadas (principalmente moradores de encostas, topos de morros e adjacências), cidades se inundaram, rodovias, gasodutos e portos foram danificados, o turismo teve prejuízos imensos. Numa das cidades choveu mais de 850 milímetros (850 litros de água por m2 de solo) em 36 horas, quando menos de um quarto disso estava previsto para todo o mês. Sofreu-se com a falta de políticas públicas adequadas aos conhecimentos científicos, falta de ações administrativas conseqüentes, falta de informação, de organização da sociedade. Não se tratou apenas de fatalidade.

Pode-se transpor agora o tema para o plano universal. Há pelo menos 20 anos o IPCC vem advertindo para o aumento da temperatura do planeta em conseqüência da emissão de gases poluentes, que intensificam o efeito estufa e agravam os eventos climáticos extremos. Ao longo desse tempo, a Organização Meteorológica Mundial vem mostrando que a cada ano aumentam os milhões de vítimas desses eventos, assim como os prejuízos financeiros, já na casa das centenas de bilhões de dólares anuais. O IPCC alerta que as emissões precisam cair em pelo menos 80% até 2050, para evitar que a temperatura suba mais que 2 graus Celsius (já subiu 0,8 grau) e os problemas sejam ainda mais graves. A Agência Internacional de Energia advertiu em outubro que mesmo com a redução de 80% a elevação da temperatura será de 3 graus. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nos seus cenários para o Brasil, prevê que a temperatura na Amazônia poderá subir até 6 graus, na tendência atual, e 3 a 4 graus no Centro-Oeste (com a contribuição da perda anual de 22 mil km2 no Cerrado) - e tudo isso influenciará o clima em todo o País, principalmente no Semi-Árido, que poderá perder 20% de seus recursos hídricos. Para completar, o estudo do ex-economista-chefe do Banco Mundial sir Nicholas Stern diz que temos menos de uma década para enfrentar todas essas questões, aplicando anualmente de 2% a 3% do produto bruto mundial (de US$ 1,2 trilhão a US$ 1,8 trilhão) - se não quisermos ter a mais grave recessão econômica da história.

Nada disso foi suficiente para levar os 192 países da Convenção do Clima a chegar, na Polônia, na reunião encerrada no dia 13, a um acordo para reduzir as emissões. A Grã-Bretanha anunciou-se disposta a cortar as suas em 40% até 2030 e 80% até 2050. A União Européia enfrenta resistência de alguns de seus países membros para reduzir 20% até 2020. Os EUA dizem que até 2020 podem cortar 17% sobre as emissões de 2000. E fica-se por aí, sem decisão conjunta, à espera de novas reuniões. Os países "em desenvolvimento" pediam que os industrializados destinassem US$ 20 bilhões por ano para o repasse de tecnologias que os ajudassem a enfrentar o problema; conseguiram míseros US$ 80 milhões. Os países detentores de florestas tropicais queriam que se criasse um mecanismo internacional para custear a redução de desmatamento, queimadas e mudanças no uso do solo em florestas tropicais; só conseguiram a aprovação teórica do sistema (REDD), mas não o caminho concreto para a mobilização e destinação do dinheiro.

O mundo continuará à espera. E o Brasil não sabe como fará para obter os US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões anuais em financiamentos internacionais que o Ministério do Meio Ambiente diz serem necessários para atingir sua meta (sem compromisso na convenção) de baixar o desmatamento na Amazônia em 70% até 2018 - o que significaria chegar a esse ano desmatando 7,5 mil km2 por ano e até lá ainda perder 70 mil km2 de florestas no bioma. Mas quem financiará o mecanismo, sem poder descontar a redução em seu balanço de emissões?

Enquanto isso, diz a ONU (Estado, 6/12) que este ano os dramas do clima já atingem 18 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe. Diz o Banco Mundial que o produto bruto dessas mesmas regiões pode cair mais de 11% até 2080. E diz o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que a crise financeira não deve ser desculpa para a inação. Mas o secretário da Convenção do Clima, Yvo de Boer, admitiu na Polônia que de lá saía com "alguma amargura". Que provavelmente terá aumentado nesta semana com um relatório da minoria republicana no Senado norte-americano enumerando as divergências de centenas de cientistas com relação às conclusões do IPCC.

Nada disso autoriza ou justifica o desânimo. Ao contrário. Reforça a necessidade de mais informação, mais organização social, mais pressão política, mais urgência, para que seja feito o indispensável: programas de redução de emissões, programas de adaptação às mudanças, criação de sistemas de defesa civil em cada município. E sistemas sofisticados de previsão de eventos. Não há alternativa.


Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br