domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um ótimo artigo de Giannotti sobre o conflito na Faixa de Gaza. Na Folha de São Paulo.

José Arthur Giannotti, um dos maiores intelecuais brasileiros, é um polemista qualificado. Versátil, o filósofo está distante daquele modelo de "intelectual" acadêmico monotemático e politicamente insosso. Assim posições e se engaja. No jornal Folha de São Paulo, você encontrará um ótimo artigo sobre as conseqüências políticas do conflito na Faixa de Gaza. Não precisa dizer, mas não custa nada fazê-lo: o artigo é imperdível. Leia-o. Infelizmente, está disponível apenas para assinantes UOL. Caso você seja assinante, acesse o artigo aqui.

Quem paga o pato pela crise? As vítimas de sempre...

Reproduzo abaixo matéria da Folha Online. É a confirmação de que as vítimas da crise que se desdobra serão os mesmos. Leia abaixo ou acesse o site aqui.

Corte de vagas afeta mais mulheres, jovens e negros

Nas grandes metrópoles do Brasil, em tempos de crise, os maiores prejudicados com o desemprego são do sexo feminino, pretos ou pardos, jovens e com pelo menos o ensino médio completo, segundo dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) levantados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por solicitação da Folha. A informação é do repórter Pedro Soares, em reportagem disponível para assinantes do jornal e do UOL.
As mulheres representaram, na média de 2008, 58,1% dos desocupados. O percentual em dezembro, quando a crise já havia se instalado, era de 58,4%. Em 2003, ficara em 54,6%. Elas ganhavam cerca de 70% do salário dos homens.
Considerando a escolaridade, cresce a cada ano a parcela de desempregados com mais de 11 anos de estudo. Era de 39,9% em 2003. Em dezembro passado, o percentual era de 53,6%.
Já os pretos e pardos desempregados, segundo o IBGE, eram a maioria ao final de 2008 --52,4% do 1,606 milhão de desocupados nas seis principais regiões metropolitanas em dezembro de 2008.
Comércio e serviços
O diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio,
afirmou à Folha Online que o desemprego no Brasil deve se intensificar no primeiro trimestre de 2009, de maneira generalizada pelas regiões metropolitanas, e atingir outros setores como o comércio e os serviços.
O início do ano é um período, tradicionalmente, de menor atividade da economia e a taxa de desemprego aumenta em relação ao fechamento do ano anterior. A crise econômica, no entanto, deve elevar o patamar no primeiro trimestre deste ano.
A redução do nível do emprego, que já chegou à indústria no final do ano passado, também deve atingir os setores de serviço e comércio, que garantiu o bom desempenho do mercado de trabalho em dezembro.
"O desemprego no primeiro trimestre tem caráter sazonal [pelas influências típicas do período]. É esperado que o setor de comércio e serviço tenham, assim como a indústria já apresentou, aumento do desemprego".
No último mês de 2008, o comércio aumentou em 100 mil o número de postos de trabalho (variação de 3,6% em relação a novembro) e a construção civil, em 28 mil (alta de 2,8%). O setor de serviços teve leve recuo de 0,4% (38 mil postos a menos) e a indústria, queda de 1,1% (31 mil a menos).

A crise mundial no FSM

O jornalistra Bernardo Kucinsky, do site Carta Maior, narra, em ótimo texto, o debate sobre a crise mundial no Fórum Social Mundial. Vale a pena ler. Acesse aqui.

Mostra de arte sobre o Oriente Médio

No UOL, você encontra um link para fotos da exposição "Unveiled: New Art from the Middle East" ("Revelada: A Nova Arte do Oriente Médio"), inaugurada na última sexta-feira, em Londres, na Galeria Saatchi. Acesse aqui.

sábado, 31 de janeiro de 2009

De volta!

Como você já percebeu, estou de volta. Com todo o gás, como sempre.

A Análise de Alon sobre a disputa para a presidência do Senado

Leia abaixo a análise de Alon Feurwerker sobre a disputa pela presidência do Senado. Eu sei que você está de férias e o tema não é lá muito empolgante, mas faça uma forcinha e se ligue um pouco. Essa eleição terá impactos sobre as disputas políticas de 2009, especialmente na arrigimentação de forças com vistas a 2010.





De frente para a esfinge (30/01)

Sarney anda desconfiado do que ele considera uma propensão petista ao monopólio do poder. E Lula sabe dissoA esta altura, só uma zebra tira do senador José Sarney (PMDB-AP) a prerrogativa de sentar nos próximos dois anos na cadeira de presidente da Casa. Dando a lógica, a segunda-feira anoitecerá com Sarney a caminho da mansão no Lago Sul e Tião Viana (PT) passando a cuidar exclusivamente da sua favoritíssima candidatura a governador do Acre. Qual seria o significado de um triunfo do petista? Talvez a renovação de certos costumes políticos no Senado. Talvez uma maior transparência da instituição. É verdade que as posições de Viana sobre isso só foram ficando mais explícitas à medida que suas chances de vitória minguavam, mas não importa: interessa mesmo é que ele se coloca a favor de um Senado mais próximo do povo. Eleição se perde e se ganha. O que não se deve perder são as convicções. E a possível vitória de Sarney, representará o quê? Nos corredores do Senado, especialmente nas zonas de sombra, festeja-se antecipadamente o triunfo do establishment. Melhor dizendo, o establishment comemora por antecipação, convencido de que pouco vai mudar. Certo de que o uso dos gordos e belos recursos públicos colocados à disposição da Casa permanecerá protegido, blindado contra a fiscalização e a crítica dos que, afinal, pagam os impostos para que o Senado possa gastar o dinheiro. Mas, quem sabe?, e lá vou eu no meu eterno otimismo, o establishment não possa vir a ter uma surpresa? Errar na análise política é humano, mas o analista subestimar Sarney seria burrice. A história do senador não autoriza que o subestimem. Sarney saiu da presidência do então PDS para a vice de Tancredo Neves na disputa presidencial de 1985. Teve que assumir na morte do titular e conseguiu promover uma transição política eficaz. Tão eficaz que ele próprio sobreviveu a ela. De todos os políticos que participaram da base de sustentação do regime militar, Sarney talvez tenha sido o que mais vezes e mais bem conseguiu se reinventar. A ponto de fazer Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, do alto de seus 80% de popularidade, ter que aceitar agora a frustração de não poder fazer muito pelo seu candidato preferido. É improvável que Sarney, com seu mais de meio século de vitoriosa sobrevivência política, após uma bem operada transição da UDN e da Arena para a base de apoio de um governo do PT, caia na armadilha e seja tragado por um turbilhão nascido de interesses alheios. Mas vamos esperar para ver. Que o próprio José Sarney, a partir da terça-feira, se conseguir mesmo a vitória, diga a que veio desta vez. Pensando prospectivamente, algo que o senador poderia fazer, desde que de fato chegue à cadeira, seria ajudar a resolver um problema criado por ele mesmo lá atrás. Quando presidente da República, lutou e conseguiu que a Constituinte mantivesse a figura do decreto-lei, com o nome novo de medida provisória. Hoje, a medida provisória é o pelourinho do Legislativo, sistematicamente acorrentado e chicoteado pelo Executivo. A reforma da execução orçamentária é outro avanço institucional que Sarney talvez devesse estimular. Ainda agora, o governo vem de congelar todos os investimentos inseridos pelo Congresso no Orçamento de 2009. E manteve intocados todos os investimentos de iniciativa do Executivo. Não poderia haver sinal mais nítido de desprestígio do Legislativo. O senador Antonio Carlos Magalhães morreu sem ver realizado seu sonho de um orçamento impositivo. Quem sabe Sarney não destranca essa pauta? Agora, dor de cabeça mesmo com José Sarney presidente do Senado quem pode ter é Hugo Chávez. O senador pelo Amapá vem sendo o mais duro opositor do líder venezuelano entre os seus pares. Basta pesquisar os discursos. E o problema não é só retórico. A absorção da Venezuela no Mercosul já passou pela Câmara dos Deputados e espera um lugarzinho na agenda do Senado, onde vai enfrentar resistência cerrada da oposição. E de Sarney. Bem, vamos esperar para ver. E também, claro, aguardar a eleição, antes da qual um artigo como este não passa de especulação. Assim como há muita especulação sobre o que um eventual José Sarney presidente do Senado faria na sucessão presidencial. Lula prefere Tião Viana também por acreditar que o pai de Roseana pode eventualmente caminhar separado de Dilma Rousseff daqui a dois anos. Lula tem seus muitos defeitos, mas falta de olfato político certamente não é um deles. Sarney anda desconfiado do que ele considera uma propensão petista ao monopólio do poder. E Lula sabe disso.

Petrobrás na contramão. Ainda bem!

Transcrevo abaixo matéria publicada no Estadão sobre o plano de investimentos da Petrobrás para o próximo período. Como você pode verificar, a estatal está na contramão do que apregoam os conselheiros econômicos. Cá do meu canto, confesso a vocês, dei um suspiro de alívio. Caso queira, acesse diretamente o site do jornal aqui.

O otimismo da Petrobras


Com atraso de quatro meses, a Petrobrás anunciou investimentos de US$ 174,4 bilhões no quinquênio 2009-2013, 55% mais do que os US$ 112,4 bilhões projetados para 2008-2012, o que exigirá decisivo apoio do governo, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Este ano, para investir US$ 28,6 bilhões, a Petrobrás empregará US$ 10,5 bilhões de recursos próprios e terá de tomar, no mercado, US$ 18,1 bilhões, dos quais o BNDES responderá por quase dois terços, ou US$ 11,9 bilhões. Mais de US$ 5 bilhões virão de um pool de bancos privados. Para 2010, quando a empresa terá de ir ao mercado para obter US$ 18,9 bilhões, o BNDES deverá comparecer com até US$ 10 bilhões, se faltarem fontes alternativas - afirma o seu diretor-financeiro, Almir Barbassa.

A estatal terá prazo de 30 anos para pagar ao banco. Apenas em 2009 o BNDES destinará à Petrobrás mais de 25% de toda a verba adicional de R$ 100 bilhões recentemente anunciada pelo governo. E, se tiver que atender às necessidades da estatal até 2010, comprometerá metade dos seus novos recursos.

O especialista em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), considerou o plano 2009-2013 um exercício acadêmico. "Politicamente, o governo deve cumprir o papel de anunciar à sociedade que a crise não afetou a Petrobrás", disse ele. Outro analista, Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe, da UFRJ, enfatizou que o governo federal quer transmitir à sociedade, "por meio da estatal, que o momento é de investir mais".

Os investimentos da Petrobrás em exploração e produção - de US$ 104,6 bilhões - representam 60,7% mais do que os US$ 65,1 bilhões do plano anterior. Neste item, os dois grandes destaques são os investimentos no pré-sal, de US$ 28 bilhões, e em gás natural, que passam de US$ 6,7 bilhões para US$ 11,8 bilhões (+76,1%), evidenciando que o Brasil pretende se tornar autossuficiente. Para o abastecimento - que inclui as refinarias de Pernambuco e do Maranhão e o complexo petroquímico Comperj - estão previstos US$ 43,4 bilhões, 46,6% mais do que os US$ 29,6 bilhões do quinquênio anterior.

Os planos da Petrobrás preveem uma produção de 2,68 milhões de barris de petróleo por dia em 2013, passando a 3,34 milhões em 2015 e a 3,92 milhões em 2020. Do pré-sal virão 219 mil barris/dia, em 2013, e 518 mil barris/dia, em 2015, chegando a 1,81 milhão de barris/dia, em 2020.

O plano foi debatido pelos diretores da Petrobrás com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, na presença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A sua motivação política é evidente.

Os diretores da Petrobrás justificam a visão otimista que nele transparece com o fato de que são investimentos de longo prazo, que não devem levar em conta dados de conjuntura, como a queda dos preços do petróleo e a escassez de crédito no mercado internacional.

O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, procurou ser ainda mais otimista, afirmando que houve uma desaceleração geral dos custos na área do petróleo - por exemplo, do transporte da commodity - e que a estatal pretende se beneficiar disso, pagando menos pelos insumos que comprará.

Em seus planos, a Petrobrás trabalhou com um preço do petróleo tipo Brent de US$ 40 o barril em 2010, muito próximo do preço corrente. Neste caso, a estatal foi prudente, pois é provável que os preços se recuperem quando a economia mundial retomar o crescimento - mas não há prazo para isto.

Um analista, Eduardo Roche, do Modal Asset, observou que a Petrobrás "está indo na contramão das empresas do setor de commodities, que estão reduzindo seus investimentos". O aspecto mais negativo da política da Petrobrás é que ela só pode ser executada com o apoio indireto do Tesouro, que venderá títulos para capitalizar o BNDES, que só assim terá recursos, em 2009 e 2010, para emprestar à Petrobrás. E, se o BNDES cobrar da estatal um juro inferior ao que o Tesouro paga para colocar seus títulos, haverá um custo a mais para os contribuintes.