sábado, 12 de novembro de 2011

Natal no limite

Ontem, sexta-feira, no início da noite, tentei me deslocar do Campus da UFRN em direção à Avenida Engenheiro Roberto Freire. Demorei nada menos que 50 minutos para fazer um percurso, em automóvel, de menos de três quilômetros. No Conjunto dos Professores, filas triplas e na contramão, transformavam a entrada na principal avenida da Zona Sul de Natal algo assim como uma corrida de morte. O motivo? Um simples sinal quebrado.

Um acontecimento trivial, enfrentado cotidianamente por muitos aqui na esquina no Atlântico Sul, mas, sem dúvida, revelador do quão a tal da “mobilidade urbana” é uma questão central para a gestão urbana em Natal.

Guru coloca as coisas no seu devido lugar

Grande Guru! O cara vai na mosca, sempre (ou quase sempre, vá lá!). No comentário do post sobre o curso de Ciências Sociais, mais abaixo, o cara acerta o ponto. Tá certo, Guru, há algo de histérico nessa busca narcisista de sentido para o curso.

O blog da Raquel Rolnik

Raquel Rolnik é uma criteriosa e criativa estudiosa do urbano. Você já deve ter lido alguns de seus artigos, não? Pois bem, não é que a mestra também é blogueira? É, sim! Bueno, então clique aqui e confira as suas postagens.

O mala do Malafaia e a homofobia

O texto abaixo é impagável.

O pastor e o poste

Por Michel Blanco . 11.11.11 - 19h04


O pastor Silas Malafaia cometeu o que se pode chamar de “ato fálico”. Em novo episódio de sua longa cruzada contra militantes da causa gay, o líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo prometeu “fornicar”, “arrombar” e “arrebentar” Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Significa? Ronnie Von que o diga.

As ameaças foram feitas em entrevista à “Época”. A reportagem faz o resumo da história. Mas o discurso agressivo contra gays não é novidade na retórica de Malafaia. A internet abriga um amplo acervo de suas pregações raivosas. Esse ódio todo não é exclusividade dele e nem de grupos evangélicos em si, claro. Sobram católicos na mesma toada. Ainda bem que são uma parcela dos fiéis de cada lado.

Mas por quê essa turma é tão obcecada com o fiofó alheio? Difícil entender essa fissura. É preciso mesmo criar um inimigo para manter ou arregimentar fiéis? Não falta “o mal” num país de desigualdade socioeconômica assombrosa. Conheço pouco das escrituras (fico satisfeito com o “Gênesis” de Robert Crumb), mas até onde sei Jesus é um exemplo de humanismo e compreensão. Pelo visto, até hoje o cara estaria à frente de nosso tempo. Talvez achasse graça do iconoclasta Jesus Manero.

Há uma proliferação de grupos religiosos ultraconservadores no Congresso Nacional, dispostos a ditar regras em temas caros a todos os brasileiros e que não lhes dizem respeito especificamente, como saúde pública e segurança. Mas é fundamental para o exercício da democracia que os diversos segmentos da sociedade, inclusive religiosos, sejam representados no Legislativo. O que não se pode aceitar, para o bem de todos em um Estado laico como o Brasil, é que esses grupos afrontem a consolidação de direitos civis básicos, como na questão da união homoafetiva. Cidadania plena não vale também para os gays?

A monotonia do discurso de quem busca a “salvação” alheia a todo custo até dá para encarar. Mas pregar cacetada em gay sob a justificativa de liberdade religiosa ou defesa da palavra de Deus não está no jogo, irmão. Não no Brasil.

Além disso, alimentar tanto rancor no coração não deve fazer bem ao espírito. Fica então uma dica para Silas Malafaia: acrescente um pouco de ternura em sua fala. Talvez possa seguir o exemplo de um usuário do YouTube, MrPhatLips, e subir no poste pela glória do Senhor (vídeo abaixo). Quem sabe atinja a elevação necessária para superar tanto ódio contra os gays.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Qual o sentido de um curso de Ciências Sociais?

Um debate começa tomar conta do curso de Ciências Sociais da UFRN: qual o seu sentido? A insatisfação de alunos e professores com o andar da carruagem começa a produzir algo mais do que meros desabafos emocionais. Isso é muito bom. Certamente, outros cursos passam pela mesma crise identitária, mas ainda não se deram conta da grandeza do desafio... Ainda envolvido em mensagens anônimas, o debate começa pipocar. Espero que, ao invés de procurarmos bruxas para caçá-las, tenhamos competência para um debate mais profundo sobre os elementos instituidores do cenário com o qual nos defrontamos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dilma e a crise

Carlos Lessa dispensa apresentações, não é? Então, leia-o com atenção aí abaixo. Vale a pena!

A presidente sabe
Autor(es): Carlos Lessa
Valor Econômico - 09/11/2011

A presidente é economista, com sólida formação e ampla informação. Foi ministra do vetor-chave do desenvolvimento: a energia. Conviveu e teve assessoria pessoal de Maria da Conceição Tavares, uma das mais brilhantes inteligências do Brasil.

A presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões comportamentais.

A presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da história ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicitar e desdobrar um projeto nacional. Cabe ao governante atuar no âmbito da manobra com o olhar firme, coordenar os atores sociais a atuar em direção ao sonho de um Brasil justo e próspero.

A presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da "preferência pela liquidez", que desvia as empresas da realização de investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar por aplicações financeiras. As organizações bancárias e do mercado de capitais tendem a restringir empréstimos e a optar por ampliar suas reservas de uso imediato. Ao fazê-lo, "empoçam" recursos, e aprofundam a tendência à fase depressiva da economia. O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de boiada que corre para o precipício.

A presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano. Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia; estão cautelosos no crédito, prosseguem com a execução de hipotecas imobiliárias e paralisam a atividade da construção civil. A família americana, sem planos de previdência contratuais, hoje vê o futuro com angústia e decidiu pela contenção do consumo, que aprofunda o processo depressivo. Os indicadores macroeconômicos dos EUA são inquietantes.

A presidente sabe que os bancos da zona do euro não conseguem coordenar suas políticas nacionais, e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza persistência e aprofundamento da crise. Os bancos da zona do euro estão "empoçando" e a Suíça, com medo de uma corrida pelos francos, alinhou sua moeda com o euro.

A presidente sabe que tanto os EUA quanto a comunidade europeia estão reduzindo importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais (para evitar a queda das Bolsas chinesas, o governo está recomprando ações de seus bancos dos acionistas privados minoritários).

A presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços relativos de alimentos, de algumas matérias primas e do petróleo. Há uma preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, porém o sinal pode mudar.

A presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve "botar suas barbas de molho". Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da manada (Lula teve que trocar o presidente do BB para forçar nosso maior banco a expandir crédito).

A presidente sabe que o Bradesco já anunciou a criação de um fundo de R$ 1 bilhão para ter "liquidez preventiva" em relação à inadimplência privada. A presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e expandir o crédito e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer estimular a construção civil em um programa de habitação popular. Obviamente, para a geração de emprego e renda, essa é a política social anticrise por excelência, porém sabe que tem que reduzir a gula dos empreiteiros. Manter a demanda interna ampliando o endividamento familiar com compra de veículos automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é patrimonialmente equivocada em relação à família brasileira. Talvez seja esse o sentido profundo da enigmática recomendação presidencial: "o brasileiro deve consumir com moderação".

Uma economista competente não diria essa frase (que parece aplicável a bebida) se não estivesse pensando em desviar as famílias da armadilha da compra de duráveis, orientando-as para a ativação da construção civil. Acho inteligente reforçar os fundos imobiliários com aplicações financeiras da previdência complementar, porém é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o investimento na infraestrutura urbana.

A presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que voltar a ser controlado. O Brasil não deve estimular empresas brasileiras a investirem no exterior (recentemente, duas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul anunciaram que vão deslocar suas operações para a Nicarágua em busca de mão de obra barata e menor intervenção do Estado). O sistema bancário oficial deve retirar qualquer apoio a essa atitude anti-nacional. O fomento público deve ser preferencial a empresas de brasileiros. As filiais de multi, na crise, tendem a ampliar remessas para as matrizes. Há um espaço para a empresa de brasileiros crescer, orientada para o mercado interno. As filiais terão que reduzir remessas para manter suas posições de mercado.

Presidente, a desvalorização do real aumenta a rentabilidade das exportações primárias mas encarecem itens básicos da alimentação popular. É indispensável a recriação do imposto de exportação, se houver a desvalorização previsível. Devemos selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos industriais clássicos, e adotar uma política pública de "comprar o produto brasileiro".

A presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser ridicularizadas: as associações americanas de indústrias de confecção e calçados protestaram contra a adoção, pelo Brasil, de medidas defensivas desses ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes interessadas em que suas filiais na China ampliem a avalanche de exportações para o Brasil. No Japão, surgiram resmungos quanto aos obstáculos para importações de veículos pelo Brasil.

Somente critico a presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul-americana, que vem adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma reeleição consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; escreve mensalmente às quartas-feiras.

A energia nuclear e o futuro

Para sair do convencional, um pouco de discussão sobre uma temática mais do que importante, especialmente agora que, como diz uma querida amiga, estamos chegando no "pé da China": a energia. Leia abaixo uma entrevista muito da interessante.



'Não vejo o futuro sem energia nuclear'
O Estado de S. Paulo - 09/11/2011

David Cahen defende as usinas nucleares e a taxação de carros poluentes para reduzir as emissões de gases-estufa no mundo. Ele é um dos palestrantes do Fórum Global de Sustentabilidade do festival de música SWU, em Paulínia (SP). A seguir, trechos da entrevista.

O que pode ser feito para reduzir o uso de energia?

Hoje, o melhor é cortar o consumo de energia nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não há dúvidas de que muitas pessoas de classe média e média alta na China, no Brasil e na Índia podem contribuir para os esforços de conservação, que devem começar primeiro em países como Islândia, Noruega, Finlândia, EUA e Canadá. O consumo de energia em países como a Islândia chega a ser quase dez vezes maior que o do Brasil.

Por causa do frio?

Claramente em parte é por causa do clima. Mas também porque a energia usada no país é muito barata, a geotérmica (obtida a partir do calor proveniente da Terra). A segunda coisa que podemos fazer é tirar das ruas carros a gasolina, promover insolação térmica apropriada nas casas e garantir que elas usem ao máximo a luz natural.

O carro elétrico é a solução?

Pode ser parte da solução. Queremos carros elétricos que possam responder à necessidade de quem precisa dirigir muitos quilômetros sem estação de recarregamento. Podemos também tentar taxar aqueles que consomem muita gasolina e que possuem motores pouco eficientes. E para isso não precisamos de novas tecnologias.

Qual é a dificuldade de aplicar novas tecnologias?

Se eu descobrir algo fantástico hoje, é muito improvável que isso esteja no mercado em menos de 15 ou 20 anos.

O que acha de alguns países, como a Alemanha, abandonarem a energia nuclear depois do acidente de Fukushima?

Eu não vejo como o mundo pode se virar no futuro próximo sem a energia nuclear. Não sou fã de nuclear, e fico feliz que Israel não tenha uma usina nuclear. Mas não vejo como os países em desenvolvimento serão capazes de viver sem ela. Mas o Brasil tem sorte, pode não precisar. Já a China e o Japão não têm escolha.

E a segurança?

Acredito que teremos de desligar os reatores antigos, isso custa, mas deve ser feito. Os reatores modernos são muito mais seguros. Mas existe um elemento-chave para a energia nuclear no futuro que se chama thorium e fica próximo do urânio na tabela periódica. A Índia tem perseguido esse elemento, mas ainda estamos longe disso.

As energias eólica e solar ainda são mais caras que a energia fóssil.

A comparação é injusta, pois não estamos taxando o carvão, o gás e o petróleo de acordo com o peso que eles trazem para a humanidade. Prevejo que o preço da energia eólica continuará a baixar, assim como o da energia solar. Porém, nunca serão tão baixos quanto a energia fóssil porque nós não pagamos o preço real pela energia de uma usina a carvão.