Estou de partida, no aeroporto. Uma nuvem começou a se formar no final da tarde, aqui no Planalto. Aí, eu pensei: "ufa!, vem chuva..." O motorista do taxi que me trazia, junto com colegas, para o aeroporto, esperançoso, comentou: "acho que vai ser hoje...". O clima aqui está simplesmente insuportável e a chuva é esperada com ansiedade. Mas a chuva não veio... ainda.
Mas eu quero falar de outro clima, do político. Roriz, o canastrão adorado pelos candangos, que disputava com o petista Agnelo Queroz o governo do DF, renunciou à candidatura, temendo ser defenestrado pela justiça. No seu lugar, indicou a mulher como candidata. Com isso, o clima político daqui fica pior do que o outro.
No mundinho em que eu estava trabalhando, lá na Capes, a casadinha é Marina para presidente e Agnelo para governador. Impressiona a penetração de Marina nos servidores públicos de Brasília. Também a seguem, com entusiasmo, os evangélicos brasilienses. Foi o que eu constatei nas conversas com o pessoal terceirizado da Capes.
Lí, em algum lugar, que, no Rio, Marina, que estava em empate técnico com o Serra, já teria abiscoitado o segundo lugar. Essa subida de Marina, consistente entre os eleitores mais escolarizados e de melhor renda, pode levar a disputa na eleição presidencial para o segundo turno. Há, no ar, essa expectativa.
Se o segundo turno realmente vier a ocorrer, com o aumento da desidratação da candidatura da Dilma, o clima de confronto que está se desenhando será mais atiçado ainda. Petistas farão tudo para jogar a conta da derrota (não vencer no primeiro turno terá, para Dilma e o PT, o significado de uma grande derrota) na imprensa. Nenhuma autocrítica se ouvirá, podem ter certeza.
Confesso que me decepciona um pouco ver o Lula ocupando esse papel de atiçador da patuléia contra a imprensa. Ele não precisava disso. Tem uma biografia de democrata...
Mas, são coisas da política brasileira. Os nossos atores gostam de representar a comédia que encenam com esmerada canastrice como se tragédia fosse. Lula descontruiu um pouco o Lula, em nome da disputa eleitoral. Ficou menor.
Bom. Acho que ainda dá tempo para uma cerveja... Fui!
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Postagens prá você
Mais abaixo, você encontra as postagens de hoje. Fiquei sem passar por aqui uns dois dias, mas, agora, volto com tudo.
Aproveito para te oferecer a música abaixo. Escute-a enquanto passeia pelo blog. Obrigado por ter vindo. A casa é sempre sua.
Aproveito para te oferecer a música abaixo. Escute-a enquanto passeia pelo blog. Obrigado por ter vindo. A casa é sempre sua.
Irineu Jaburu: a falta que faz um marqueteiro
Meu amigo Osimar me escreveu para avisar que o Irineu Jaburu, além dos qualificativos anunciados no guia eleitoral (faz cura, conhece ervas e faz garradas), também é pescador. Ele pegou essa informação no site do PCB. Acho que o candidato devia destacar mais esse dado biográfico. Concordo contigo Osimar: feita essa divulgação, com certeza, mais votos cairiam na rede do pajé. Ué, não dizem que os pescadores fazem o maior sucesso com as mulheres? Especialmente com as nossas visitantes oriundas de terras mais ao Sul (ou bem mais ao Norte).
Falta um marqueteiro para o Jaburu. Agora, infelizmente, não há mais tempo para a elaboração de um "plano de mídia" para o candidato. Se o pessoal do PCB tivesse se antenado antes, poderia ter chamado a Soninha, ex-PT, que agora assumiu a mídia internética do Serra, e está acusando o PT de ter sabotado o metrô em Sampa. A Soninha ia levar o Jaburu direto para a Câmara dos Deputados...
Outra coisa: o Irineu parece esnobar a Universidade. Ainda não aparece nestas plagas, não é? Eu, que bato cartão na UFRN, ainda não o avistei pelas alamedas do Campus. Gente, ele precisa aparecer por aqui, fazer uma campanha ali no pátio da ADURN...
E mais: coloquem coisas sobre ele na "Ciranda". Como que ninguém pensou nisso? Ele vai bombar...
Falta um marqueteiro para o Jaburu. Agora, infelizmente, não há mais tempo para a elaboração de um "plano de mídia" para o candidato. Se o pessoal do PCB tivesse se antenado antes, poderia ter chamado a Soninha, ex-PT, que agora assumiu a mídia internética do Serra, e está acusando o PT de ter sabotado o metrô em Sampa. A Soninha ia levar o Jaburu direto para a Câmara dos Deputados...
Outra coisa: o Irineu parece esnobar a Universidade. Ainda não aparece nestas plagas, não é? Eu, que bato cartão na UFRN, ainda não o avistei pelas alamedas do Campus. Gente, ele precisa aparecer por aqui, fazer uma campanha ali no pátio da ADURN...
E mais: coloquem coisas sobre ele na "Ciranda". Como que ninguém pensou nisso? Ele vai bombar...
Blogueiro 4.8
Hummm! Fiquei meio encabulado, mas, fazer o quê? Vou tiranizá-los com a minha intimidade, ok? Segunda-feira passada, dia 20, completei 48 anos. Como o tempo passa rápido, não? Parece que foi ontem que eu estava andando pela Várzea do Rio Apodi, no sertão potiguar, indo para a escola... Ou ainda, foi nesta madrugada, que sonhei que estaria concluindo o meu "segundo grau"... Tudo passa tão rápido... Caraca!
Logo, logo, passarei dos cinqüenta (bato na madeira três vezes para que eu passe dos cem...), então, dedico a mim mesmo o poema de Marina Colassanti, abaixo transcrito.
Passando dos cinquenta
Marina Colasanti
Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.
Logo, logo, passarei dos cinqüenta (bato na madeira três vezes para que eu passe dos cem...), então, dedico a mim mesmo o poema de Marina Colassanti, abaixo transcrito.
Passando dos cinquenta
Marina Colasanti
Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.
Mentiras, coisas não tão belas e fantasia organizada: a copa em Natal
Há quem, na disputa eleitoral em curso, apresente-se como patrocinador da proposta vencedora de Natal como sede da Copa do Mundo. É uma beleza... Tudo é divino, tudo é maravilhoso... Mas, por sob a capa da copa, o caos espreita... E este não será coisa de pouca monta, pode acreditar.
Natal ainda tem como principal suporte viário a estrutura legada pela presença norte-americana na década de 1940! Um caminhão bate na traseira de outro, aí pelas 7h00 de qualquer dia da semana na Br-101 na altura de Emaus, e a entrada da cidade fica bloqueada. Ninguem entra e sai.
Aqui temos orgulho de tudo, não é? Afinal, como dizia aquela música que embalava a venda da cidade aos turistas, "viver aqui é sonhar". Pois pode estar começando a virar pesadelo...
Quando as obras do Machadão forem realmente iniciadas, os congestionamentos bloquearão as principais avenidas da cidade. Uma ambulância (deixem-me ser trágico) poderá demorar umas boas duas horas para fazer o percurso Neópolis-Hospital Walfredo Gurgel.
Em uma cidade onde o transporte público é precário, essa situação vai aumentar o estresse cotidiano.
Mas, agora, quem liga prá isso? Comemore-se a Copa, e deixemos o resto prá depois. Essa a mensagem quase explícita que os poderes públicos locais emitem.
Plano de Mobilidade Urbana Sustentável? Quem se preocupa em elaborar um? Improvisando, dá certo... Essa a nossa saída mágica.
Há uma máxima, meio vagabunda, vá lá, mas que tem muita força, de que não existe almoço grátis. A conta para que Natal venha a ser uma das sedes da copa será bem salgada. Mas, como entre nós, dinheiro público parece nascer em árvore, ninguém também está nem aí prá isso. E, quando questionados, os defensores da fantasia, de pronto, saem com essa; "não, mas a parceria com a iniciativa privada..." Piada, não é? Você acha, no fundo, bem no fundinho, que o empresariado local vai meter a mão no bolso e se arriscar nessa aventura? Se o BNDES entrar na jogada, como já está fazendo no Rio, aí, sim, a coisa funcionará. Às mil maravilhas. Afinal, no Brasil, todo mundo adora falar mal do Estado, mas ninguém sobrevive sem uma chupetinha ligada na pobre da viuva...
E quem está preparado para enfrentar o que vem por aí? A Prefeitura de Natal, pelo visto, demitiu-se do planejamento. O governo do Estado, se se confirmar a vitória de Rosalba, terá pelos menos uns dez meses de boa justificativa ("arrumando a casa").
Era necessário que entidades da sociedade civil, pesquisadores, universidades e pessoas que defendem e amam Natal, que são muitas, viabilizassem um espaço para trocar idéias, discutir a situação e municiar com informações rigorosas a cidadania da esquina do Atlântico. Porque, sem querer encarnar o papel de desmancha-prazeres, essa fantasia, dentro em breve, será pesadelo. E, quando isso ocorrer, precisamos de algo mais do que simples exercício de retórica.
Natal ainda tem como principal suporte viário a estrutura legada pela presença norte-americana na década de 1940! Um caminhão bate na traseira de outro, aí pelas 7h00 de qualquer dia da semana na Br-101 na altura de Emaus, e a entrada da cidade fica bloqueada. Ninguem entra e sai.
Aqui temos orgulho de tudo, não é? Afinal, como dizia aquela música que embalava a venda da cidade aos turistas, "viver aqui é sonhar". Pois pode estar começando a virar pesadelo...
Quando as obras do Machadão forem realmente iniciadas, os congestionamentos bloquearão as principais avenidas da cidade. Uma ambulância (deixem-me ser trágico) poderá demorar umas boas duas horas para fazer o percurso Neópolis-Hospital Walfredo Gurgel.
Em uma cidade onde o transporte público é precário, essa situação vai aumentar o estresse cotidiano.
Mas, agora, quem liga prá isso? Comemore-se a Copa, e deixemos o resto prá depois. Essa a mensagem quase explícita que os poderes públicos locais emitem.
Plano de Mobilidade Urbana Sustentável? Quem se preocupa em elaborar um? Improvisando, dá certo... Essa a nossa saída mágica.
Há uma máxima, meio vagabunda, vá lá, mas que tem muita força, de que não existe almoço grátis. A conta para que Natal venha a ser uma das sedes da copa será bem salgada. Mas, como entre nós, dinheiro público parece nascer em árvore, ninguém também está nem aí prá isso. E, quando questionados, os defensores da fantasia, de pronto, saem com essa; "não, mas a parceria com a iniciativa privada..." Piada, não é? Você acha, no fundo, bem no fundinho, que o empresariado local vai meter a mão no bolso e se arriscar nessa aventura? Se o BNDES entrar na jogada, como já está fazendo no Rio, aí, sim, a coisa funcionará. Às mil maravilhas. Afinal, no Brasil, todo mundo adora falar mal do Estado, mas ninguém sobrevive sem uma chupetinha ligada na pobre da viuva...
E quem está preparado para enfrentar o que vem por aí? A Prefeitura de Natal, pelo visto, demitiu-se do planejamento. O governo do Estado, se se confirmar a vitória de Rosalba, terá pelos menos uns dez meses de boa justificativa ("arrumando a casa").
Era necessário que entidades da sociedade civil, pesquisadores, universidades e pessoas que defendem e amam Natal, que são muitas, viabilizassem um espaço para trocar idéias, discutir a situação e municiar com informações rigorosas a cidadania da esquina do Atlântico. Porque, sem querer encarnar o papel de desmancha-prazeres, essa fantasia, dentro em breve, será pesadelo. E, quando isso ocorrer, precisamos de algo mais do que simples exercício de retórica.
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Lula e a imprensa: até onde vai o jogo?
A análise do jornalista Alon Feuerwerker aponta a necessidade de um certo distanciamento crítico em relação à essa "guerra de mundos", que, ao que parece, o PT está embarcando. Para gáudio dos adversários, diga-se de passagem.
Sem hora de parar (23/09)
Alon Feuerwerker
Este governo tem sido bom ao dobrar apostas. Por enquanto as fichas acumulam-se a cada rodada na frente do jogador. É a típica situação na qual ninguém consegue convencer o sortudo de que chegou a hora de interromper o jogo
Qual é o problema nos protestos de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e de aliados contra a imprensa? Não são as reclamações em si. A imprensa possui o direito de publicar/veicular o que bem entende, e também os críticos da atividade jornalística têm a prerrogativa de dar opinião a respeito. É um direito universal.
Justamente empenhada na defesa da própria liberdade, não é razoável a imprensa ficar com não me toques quando se exerce a liberdade alheia. Se o jornalista ou a empresa jornalística avaliam que foram atingidos na sua honra, que recorram à Justiça. O Código Penal está aí. O mesmo vale para os políticos, do governo ou da oposição: o Judiciário é o caminho para a busca de reparação.
Já há um controle social formal da atividade jornalística. Ele é feito pelos juízes, a posteriori. Mas não só. A emergência de meios materiais para o cidadão comum, com a internet, romper a unidirecionalidade na comunicação estabeleceu formas adicionais de controle social do jornalismo. Quem sempre esteve acostumado a falar hoje precisa estar cada vez mais disposto a ouvir. E põe disposto nisso!
Há entretanto, no poder, a tentação permanente de introduzir na lei controles a priori sobre o trabalho dos profissionais e empresas. Mas controles assim são proibidos pela Constituição. Em pelo menos dois julgamentos nos últimos anos o Supremo Tribunal Federal deixou claro, por boas maiorias, o entendimento claríssimo sobre o tema.
Qualquer controle a priori representaria cerceamento da liberdade de expressão garantida pelo texto constitucional. Seria censura, que a Carta proíbe.
Mesmo que iniciativas para tal pareçam prosperar no Congresso, irão morrer na corte suprema, mantida a composição atual do STF. E mesmo no Legislativo o terreno não está tão propício. O presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB, e candidato a vice na chapa do PT, Michel Temer, diz que nada assim tem futuro no Parlamento. Se ele está certo só o tempo dirá, mas parece razoável.
É duvidoso que os partidos e políticos mais centristas tomem como sua uma pendenga alheia. E o Congresso Nacional está coalhado de gente ligada a atividades de comunicação.
A relação de forças pode sempre mudar, mas não é realista projetar agora um cenário permeável à introdução de novos parâmetros legais cerceadores da atividade jornalística. Pelo menos não parâmetros capazes de sobreviver à via crucis no Congresso e no STF.
Valeria a pena a nova administração, em caso de vitória do PT, meter-se numa disputa sem luz no fim do túnel, apenas para estabelecer um clima permanente de confronto? A lógica simples diz que não. Mas a lógica do núcleo dirigente deste governo (e que espera permanecer) é mais complexa. Investe-se no conflito retórico e na polarização permanente como fonte de poder político. Por enquanto está funcionando.
Agitar o fantasma do “controle social da mídia” é duplamente útil. Alimenta-se retoricamente uma base social radicalizada, mas num item de materialização bem improvável. Ou seja, a ameaça existe, mas sempre será possível argumentar, para os públicos certos, que ela não se realizará. E está dado o recado.
Se o governo desejasse, se sentisse necessidade, faria aos veículos de comunicação o gesto que oito anos atrás fez ao mercado financeiro. Uma “carta aos brasileiros” para reafirmar o compromisso com certas prerrogativas democráticas. Não o faz porque acha que não precisa, entende que pode atravessar a eleição e ganhar sem isso. Alguns acham que podem até governar sem isso.
É uma aposta. Este governo tem sido bom ao dobrar apostas. Por enquanto as fichas acumulam-se a cada rodada na frente do jogador. É a típica situação na qual ninguém consegue convencer o sortudo de que chegou a hora de parar de apostar.
Hora de decidir
O STF informa que continua hoje a votação sobre se o Ficha Limpa vale ou não para esta eleição. Na boa, está na hora de acabar com a novela.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (23) no Correio Braziliense.
Sem hora de parar (23/09)
Alon Feuerwerker
Este governo tem sido bom ao dobrar apostas. Por enquanto as fichas acumulam-se a cada rodada na frente do jogador. É a típica situação na qual ninguém consegue convencer o sortudo de que chegou a hora de interromper o jogo
Qual é o problema nos protestos de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e de aliados contra a imprensa? Não são as reclamações em si. A imprensa possui o direito de publicar/veicular o que bem entende, e também os críticos da atividade jornalística têm a prerrogativa de dar opinião a respeito. É um direito universal.
Justamente empenhada na defesa da própria liberdade, não é razoável a imprensa ficar com não me toques quando se exerce a liberdade alheia. Se o jornalista ou a empresa jornalística avaliam que foram atingidos na sua honra, que recorram à Justiça. O Código Penal está aí. O mesmo vale para os políticos, do governo ou da oposição: o Judiciário é o caminho para a busca de reparação.
Já há um controle social formal da atividade jornalística. Ele é feito pelos juízes, a posteriori. Mas não só. A emergência de meios materiais para o cidadão comum, com a internet, romper a unidirecionalidade na comunicação estabeleceu formas adicionais de controle social do jornalismo. Quem sempre esteve acostumado a falar hoje precisa estar cada vez mais disposto a ouvir. E põe disposto nisso!
Há entretanto, no poder, a tentação permanente de introduzir na lei controles a priori sobre o trabalho dos profissionais e empresas. Mas controles assim são proibidos pela Constituição. Em pelo menos dois julgamentos nos últimos anos o Supremo Tribunal Federal deixou claro, por boas maiorias, o entendimento claríssimo sobre o tema.
Qualquer controle a priori representaria cerceamento da liberdade de expressão garantida pelo texto constitucional. Seria censura, que a Carta proíbe.
Mesmo que iniciativas para tal pareçam prosperar no Congresso, irão morrer na corte suprema, mantida a composição atual do STF. E mesmo no Legislativo o terreno não está tão propício. O presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB, e candidato a vice na chapa do PT, Michel Temer, diz que nada assim tem futuro no Parlamento. Se ele está certo só o tempo dirá, mas parece razoável.
É duvidoso que os partidos e políticos mais centristas tomem como sua uma pendenga alheia. E o Congresso Nacional está coalhado de gente ligada a atividades de comunicação.
A relação de forças pode sempre mudar, mas não é realista projetar agora um cenário permeável à introdução de novos parâmetros legais cerceadores da atividade jornalística. Pelo menos não parâmetros capazes de sobreviver à via crucis no Congresso e no STF.
Valeria a pena a nova administração, em caso de vitória do PT, meter-se numa disputa sem luz no fim do túnel, apenas para estabelecer um clima permanente de confronto? A lógica simples diz que não. Mas a lógica do núcleo dirigente deste governo (e que espera permanecer) é mais complexa. Investe-se no conflito retórico e na polarização permanente como fonte de poder político. Por enquanto está funcionando.
Agitar o fantasma do “controle social da mídia” é duplamente útil. Alimenta-se retoricamente uma base social radicalizada, mas num item de materialização bem improvável. Ou seja, a ameaça existe, mas sempre será possível argumentar, para os públicos certos, que ela não se realizará. E está dado o recado.
Se o governo desejasse, se sentisse necessidade, faria aos veículos de comunicação o gesto que oito anos atrás fez ao mercado financeiro. Uma “carta aos brasileiros” para reafirmar o compromisso com certas prerrogativas democráticas. Não o faz porque acha que não precisa, entende que pode atravessar a eleição e ganhar sem isso. Alguns acham que podem até governar sem isso.
É uma aposta. Este governo tem sido bom ao dobrar apostas. Por enquanto as fichas acumulam-se a cada rodada na frente do jogador. É a típica situação na qual ninguém consegue convencer o sortudo de que chegou a hora de parar de apostar.
Hora de decidir
O STF informa que continua hoje a votação sobre se o Ficha Limpa vale ou não para esta eleição. Na boa, está na hora de acabar com a novela.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (23) no Correio Braziliense.
Propaganda eleitoral de Serra está bem melhor
O conteúdo não interessa nesta análise. Aliás, é irresponsabilidade populista da mais descarada. O que importa ressaltar é o fato de que o Serra está bem melhor no vídeo, expressando confiança e quase entrando na sala de estar da família. Depois de tantas idas e vindas, a campanha tucana parece estar encontrando o eixo.
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