domingo, 29 de julho de 2012

Plebiscito da ADURN sobre a proposta do governo para os professores das federais

Os professores da UFRN, como todos sabem, não aderiram à Greve das Federais. Uma decisão difícil, já que para muitos não era fácil resistir aos apelos passionais em defesa da paralização. Foi o certo, creio. Não por motivos conjunturais, como diversos colegas apontaram, mas, sim, por uma posição de princípio, que venho assumindo com firmeza desde 2002, quando era professor da UEL, em Londrina: a greve de professores em uma Universidade Pública contribui para erodir a base de legitimação social da instituição e, por isso, é um desserviço à própria Universidade. Os ganhos materiais dessas greves não compensam as perdas simbólicas das instituições e dos próprios professores.


Agora, quando o Governo, após idas e vindas, apresentou uma proposta concreta para a categoria, que atende a todas as indicações feitas por uma das entidades representativas dos docentes brasileiras, o PROIFES, os professores estão sendo convocados pela ADURN para uma tomada de posição. Neste momento, não existe espaço para tergiversação: ou se vota SIM, e se aceita a proposta do Governo, ou se vota NÃO e aposta-se em uma greve geral dos servidores públicos federais com resultados práticos e políticos imprevisíveis. Imprevisíveis? Até certo ponto, pois, certamente, redundarão em grandes prejuízos para todos quantos apostamos na Universidade Pública como uma das instituições fundamentais para a inclusão social e para a criação de uma base sustentável para o desenvolvimento nacional.

No conjunto, a proposta do Governo é boa. É bem melhor do que todos nós esperávamos aí pelo início de junho, diga-se de passagem. Há, entretanto, um equivoco gigantesco na última versão apresentada pelo MPOG: o recuo governamental na cobrança da obrigatoriedade de 12 horas/aulas semanais. Para quem conhece o cotidiano de uma IES pública, especialmente alguém que já tenha coordenado um programa de pós ou exercido a chefia de departamento, essa cobrança era mais do que razoável; era um meio de combater o, como direi sem agredir?, absenteísmo de muitos colegas. O Governo recuou, pior para a Universidade; bem melhor, para quem tem DE, mas faz da Universidade um “bico”...

O outro equívoco de grande monta do Governo é aceitar a equiparação dos vencimentos dos professores da ativa com os aposentados. É engraçado como muita gente boa, alguns que aprenderam a fazer bons cálculos matemáticos, ainda não se deu conta de algo dessa obviedade: “não existe almoço grátis”. Alguém sempre paga a conta. Para não perder o foco, retomo aqui argumento esgrimido, com eloquência, pelo colega Leonardo Avritzer, da UFMG:

“A terceira reivindicação é a equiparação de vencimento da carreira dos professores da ativa com os aposentados. Este é um ponto completamente equivocado seja do ponto de vista de uma política de aposentadoria, seja do ponto de vista de uma política de carreira. O Brasil já tem uma das políticas de aposentadoria mais generosas do mundo. Nenhum país da OCDE tem uma política de aposentadoria integral aos 60 anos como o Brasil tem. Vale lembrar que a maior parte dos aposentados progrediu na carreira no momento da aposentadoria e goza de um valor superior aquele que auferia quando estava na ativa. Não existe nenhum motivo para os aposentados serem contemplados por uma reestruturação da carreira. Pelo contrário, o desejável é a esterilização progressiva de alguns pontos na carreira que oneram o governo sem criar benefícios para os professores universitários da ativa. Neste sentido, uma possível solução para o impasse entre governo e professores universitários seria a diminuição de um ou dois níveis na classe de professor adjunto de maneira a propiciar uma progressão mais rápida dos professores para a classe de professor associado. Esta sim deveria se beneficiar de aumentos reais, desde que condicionados a índices claros de produtividade.” (AVRITZER, Leonardo. A raiz do enfrentamento. Disponível no site: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-raiz-do-enfrentamento/#.UBRU4Mf8ano.facebook)

Bom, como eu ia dizendo, a ADURN nos convoca para votarmos em um Plebiscito. Somos condenados a fazer escolhas. E a conviver com as suas consequências. Em que pese o equívoco da proposta governamental acima apontado, e de outros penduricalhos inaceitáveis (concessões talvez desesperadas para eliminar o vírus grevista do serviço público federal), entendo que a sua aceitação é opção correta. Por isso, no plebiscito, apesar de restrições, certamente opostas àquelas formuladas por muitos colegas, votarei SIM.

Um comentário:

Beto disse...

Caro Edmilson e demais, dois pontos:
1 - 12 horas-aula para professores com DE que apenas dão aula me parece até de menos, Devia ser mais. Contudo, 12 horas-aula indiscriminadamente, tanto para quem não faz mais nada além de dar aula, como para quem carrega o piano da pós e da pesquisa e/ou tem uma contribuição relevante na extensão e na administração me parece se originar de uma visão tecnocrática centrada na prevalência do processo de expansão de vagas, em detrimento dos desafios colocados para a pesquisa, pela extensão e pela pós. Ressalte-se, isto se coloca no sentido de harmonizar o desejado processo de expansão de vagas das IFES, ora em curso com as demandas de pesquisa e extensão, igualmente importantes. Daí que me parece sensato jogar esta questão para um grupo de trabalho ampliado com a ANDIFES, ao invés de embaralhar esta questão delicada com as demais nesta etapa de negociação da carreira.
2 - Outra coisa que me parecerá um erro se assim resultar no GT a ser criado, é dispensar uma limitação no número de vagas para acesso a titular, tipo os 20% na primeira proposta do governo. INFELIZMENTE, esta me parece ser a única verdadeira garantia na direção de induzir alguma "honra ao mèrito" no acesso ao ápice da carreira nesta nossa "democracia corporativa" interna às IFES, tão típica, em nossa escala, deste nosso Estado Brasileiro de Raimundo Faoro.
Para não falar no provável e infeliz desestímulo a aposentadoria de tanta gente que já estava mesmo na hora de se aposentar, caso prevaleça a possibilidade de cada IFES
definir autonomamente seus critérios de ascenção a titular, sem limites de vagas, dada a nossa tradicional "democracia corporativa" de que falei antes.
Prepare-se para um tirinete "memorialista" de duvidoso gosto/qualidade + picaretagens a todo vapor, neste caso...
a[]s