quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O papel do PMDB na coalizão lulista

Leia abaixo o artigo de hoje do jornalista Alon Feuerwerker.

O PMDB e as apostas (25/08)
Alon Feuerwerker


O que fará o PMDB com seu belo cacife? A aposta dominante é que vai dilapidá-lo em pequenos lances, em joguetes por espaços orçamentários, em movimentos previsíveis da micropolítica brasiliense. Será?

O “momentum” da eleição está com a candidata do PT. A situação objetiva faz emergir um PMDB cioso de seu papel. Os últimos dias foram pródigos em notícias sobre as ambições peemedebistas na eventual futura administração, mas estes anos de Brasília convenceram-me de algumas coisas. Uma delas: o apetite do PMDB é grande, não maior entretanto que o dos demais. O PT incluído. Ou principalmente.

Talvez esteja passando despercebido certo detalhe na abordagem sobre o papel do PMDB num hipotético futuro governo Dilma.
O PMDB de 2010 é algo diferente em relação ao partido que se desmilinguiu no governo Sarney e entrou no corredor polonês com Fernando Collor e Itamar Franco, antes de pousar no limbo com Fernando Henrique Cardoso e com o Luiz Inácio Lula da Silva do primeiro mandato. De 2007 para cá, Lula reconstruiu e unificou o velho PMDB, para usá-lo como mecanismo de proteção do próprio poder. Proteção inclusive contra o PMDB.

Um bom amigo que sabe das coisas já observava anos atrás, com o conhecido humor. Se o PMDB dividido é uma dor de cabeça para qualquer governo, unido será um desafio maior ainda. Ainda mais se se tornar um fiador insubstituível.

Era o papel que o antigo PFL sonhava desempenhar no governo FHC, mas o plano não deu tão certo. O pefelismo saiu dos oito anos da aliança mais fraco do que entrara. A situação do PMDB agora é comparativamente melhor: se enfraquecer o PFL nos anos 1990 era chique para um segmento da opinião pública, por supostamente ajudar a “libertar” o PSDB do “atraso”, enfraquecer o PMDB num eventual governo Dilma resultará em mais força para o PT.

Coisa de que o pessoal chique não quer nem ouvir falar. Ainda mais quando vê os caminhos da política em alguns vizinhos.

O PMDB chega a este estágio da corrida eleitoral bastante confortável, com o candidato a vice, Michel Temer, dando-se ao luxo de descartar publicamente propostas da titular. Como a tal Constituinte exclusiva. Ou mandando avisar que aqui no Brasil ninguém vai bulir na liberdade de imprensa. Temer sabe bem para que público se dirige.

Sobre a Constituinte, o PMDB terá força maciça no Congresso. Por que abriria mão para ajudar a construir uma “dualidade de poder”? Para dar combustível a tentativas de ruptura? Não faz sentido.

De todos os jogadores que chegam a esta reta final da corrida pelo Palácio do Planalto, dois vêm em posição destacada: Lula e o PMDB. Com uma diferença. O presidente tem data marcada para ir embora, o PMDB, não.

Mas o que fará o PMDB com seu belo cacife? A aposta predominante é que vai dilapidá-lo em pequenos lances, em joguetes por espaços orçamentários, em movimentos previsíveis da micropolítica brasiliense. Será?

Se agir assim, o PMDB demonstrará pouca inteligência, o que é sempre possível. Mas considerando a história recente, talvez não seja o mais provável. Eu apostaria no contrário.

De todo modo, são apenas apostas.


De fora

O Brasil está à margem das negociações diretas entre Israel e Autoridade Palestina, previstas para começar em setembro. A diplomacia pátria movimentou-se bastante nos últimos tempos para nos inserir no imbróglio levantino, mas a ausência brasileira não deve ser vista como fracasso.

As negociações seguem o escopo da política do chamado quarteto: Estados Unidos, Rússia, Nações Unidas e União Europeia. Não inclui jogadores como o Irã, o Hezbollah e o Hamas. Já o Brasil esboçou uma posição distinta, ao trabalhar pela ampliação do escopo exatamente em direção a estes últimos.

A fragilidade da posição brasileira é conceitual. Para entrar numa conversa, é razoável que os participantes estejam de acordo ao menos num ponto: o direito de os demais saírem vivos ao fim das negociações. Daí a dificuldade de realizar o que o Brasil propõe, na amplitude.

Mas como no Oriente Médio é sempre boa a possibilidade de conversas acabarem mal, há uma chance razoável de no futuro o Brasil poder dizer “eu não disse?”.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (25) no Correio Braziliense.

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